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X Congresso GAIF: uma década de investigação e formação

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X Congresso GAIF: uma década de investigação e formação

O diagnóstico de infecção de uma ferida é clínico e baseado em sinais e sintomas de infecção ou nos resultados das culturas das feridas.

Ano após ano, o empenho do Grupo Associativo de Investigação em Feridas – GAIF, na formação dos profissionais de saúde, tem sido indispensável para o desenvolvimento do conhecimento no âmbito do tratamento de feridas.

Nos passados dias 19 e 20 de Maio, decorreu na Feira Internacional de Lisboa o “X Congresso GAIF: uma década de investigação e formação”. Nós, como participantes e formandos, vamos tentar partilhar alguma da imensa informação apreendida das palestras, que esperamos que vos seja útil.

     19 de Maio de 2011

     Projecto de Qualidade em Portugal

     Dr. Alexandre Diniz e Dr.ª Cristina Costa (D.G.S.)

No dia 19 de Maio, a Direcção-Geral de Saúde publicou a “Orientação nº 017/2011 – Escala de Braden: Versão Adulto e Pediátrica (Braden Q)”, na qual é apresentada a norma de aplicação da Escala de Braden, em todos os serviços de Internamento Hospitalares, Serviços de Urgência, Unidades de Cuidados Intensivos, Cuidados Domiciliários e Unidades de Cuidados Continuados e Paliativos, sendo esta uma acção integrada no Projecto de Qualidade em Portugal. De acordo com a Direcção-Geral de Saúde1:

     “As úlceras de pressão são um problema de saúde pública e um indicador da qualidade dos cuidados prestados. Causam sofrimento e diminuição da qualidade de vida dos doentes e seus cuidadores (…) Estima-se que cerca de 95% das úlceras de pressão são evitáveis através da identificação precoce do grau de risco. (…) A avaliação do risco de desenvolvimento de úlceras de pressão é fundamental no planeamento e implementação de medidas para a sua prevenção e tratamento.”

     Worshop – Queimados

     Enf.ª  Liliana Teniz (Unidade de Queimados do H. São José)

O tratamento de um queimado é muito específico e complexo, pois, para além de uma adequada realização de pensos, numa fase inicial, o mais importante é a estabilização do doente e numa fase posterior não nos podemos esquecer da manutenção estética/prevenção de cicatrizes e/ou da manutenção da funcionalidade. A Enf.ª Liliana Teniz veio partilhar o seu conhecimento e experiência nesta área, apresentar o seu serviço e um projecto desenvolvido pelo mesmo.

Numa fase inicial, importa no tratamento de um queimado: a estabilização dos sinais vitais (abordagem segundo ABCDE), avaliação da Superfície Corporal Total Queimada (Escala de Lund & Browder2,3) e grau das queimaduras, avaliação da função respiratória (escala de Clark & Al), remoção de detritos da ferida e encerramento da mesma.

O tratamento de um grande queimado divide-se em três fases:

  • Fase de reanimação / hipovolémica (0 – 48 h) – caracterizada por hipovolémia, vasodilatação, hemoconcentração, edema, oligúria, hipoproteinémia, hipercaliémia e aumento da permeabilidade capilar/hemorragia;
  • Fase pós-reanimação / diurética (48 – 72 h) – caracterizada por hemodiluição, aumento da diurese, aumento do metabolismo, diminuição do sódio, do potássio e de proteínas, desidratação e sobrecarga cardíaca;
  • Fase de inflamação / infecção (após a 72 h) – caracterizada pelo risco de infecção e/ou sépsis.

Na fase de reanimação / hipovolémica, para compensar a perda de líquidos, administram-se soros, sendo a quantidade calculada segundo a Fórmula de Parkland modificada (3ml X KG X % SCTQ). Esta permite adequar a administração de fluidos de acordo com a % de área corporal queimada, a idade e o peso. Os fluidos são divididos por dois, sendo que a primeira metade dos líquidos é administrada nas primeiras 8 horas após a queimadura, e o restante nas próximas 8 a 16 horas. Após as primeiras 8 horas, também se poderá administrar Albumina Humana, 100 ml de 8/8horas, para reposição das proteínas perdidas.

Na unidade de queimados, é dado banho ao doente com betadine, transferido para um campo/lençol esterilizado e realizado penso (com clorohexidina ou sulfadiazina de prata ou cério) sob analgesia ou até mesmo sob anestesia. Ao se realizar o penso, o posicionamento da área queimada é de extrema importância para a manutenção da funcionalidade da área afectada. Para tal, dever-se-á manter o máximo de extensão da região articular afectada, como por exemplo, na região cervical – usar colar cervical rígido ou feito com compressas para prevenção da retracção e promover a hiperextensão, sendo contra-indicado o uso da almofada ou então esta tem de estar sobre as omoplatas. No caso da mão e/ou pé, onde existe o risco de desenvolvimento do síndrome do compartimento ou diminuição da sensibilidade e/ou mobilidade, dever-se-á individualizar todos os dedos e manter a posição funcional, ou seja, neste caso não é a extensão total mas uma ligeira flexão interfalangiana.

Outras áreas queimadas necessitam de cuidados especiais tais como:

  • Períneo – pelo risco acrescido de infecção, dever-se-á proceder à algaliação e/ou à colocação de um dispositivo de recolha de fezes;
  • Face – ter especial atenção aos olhos, fazer a tricotomia das sobrancelhas e pestanas.
  • Queimadura posterior – usar o colchão de sílica (Clinitron®).

O site Queimados.com.pt4 é:

     “ (…) um projecto cuja principal finalidade é informar os doentes, família, profissionais de saúde, estudantes e público em geral sobre questões relacionadas com as queimaduras. Com a informação disponível pretende-se que este seja um espaço de apoio e de discussão, de partilha de sentimentos e de preocupações.

Criar este projecto foi uma ideia que surgiu de uma necessidade identificada junto dos doentes queimados, internados e sobretudo por aqueles que já tiveram alta hospitalar e sentiram algum défice de informação, questionando: onde possa encontrar esta informação, onde possa esclarecer estas dúvidas? Também a paixão por esta área, a dedicação e motivação para trabalhar com o doente queimado contribuíram para o desejo de concretização deste projecto.

Assim, como enfermeiras, com um importante papel na prevenção, tratamento e reabilitação do doente queimado, tanto em ambiente hospitalar como na sua transição para o domicílio e após a alta, tornámos possível este espaço. A troca de informação e esclarecimentos entre profissionais de saúde é também um dos objectivos deste projecto, pelo que fica o convite a todos os interessados a intervir com conhecimentos, dúvidas, sugestões e críticas.”

     Mesa Redonda – Infecção (Moderadora: Dr.ª Elaine Pina)

     Diagnóstico Microbiológico – Dr. Luís Lito (Médico microbiologista do H. Santa Maria)

Quando falamos de diagnóstico microbiológico, devemos definir à priori alguns termos que comummente são confundidos:

  • Contaminação – presença de microrganismos em tecido normalmente estéril, sem indução de resposta inflamatória;
  • Colonização – presença de microrganismo em tecido normalmente estéril, com mecanismo de reprodução e proliferação dependentes do hospedeiro, mas que não existem em número suficiente para induzir resposta inflamatória;
  • Infecção – presença de microrganismos em tecido normalmente estéril, com indução de resposta inflamatória local ou de resposta imunológica pela formação de anticorpos.

As bactérias que mais frequentemente são encontradas nas feridas crónicas são: staphylococcus aureus, pseudomonas aeruginosa, streptococcus β-hemolítico (alta virulência) e anaeróbios. Factores como a hipoxia, a temperatura e a humidade elevadas existentes numa ferida crónica são predisponentes do sinergismo bacteriano e consequente aumento da contaminação. Se atraso na cicatrização, tecido friável, dor, mau cheiro e perda de tecido viável (“wound breakdown”) são sinais de infecção, por outro lado, o eritema, a descoloração do tecido de granulação e exsudado esverdeado não são dados fiáveis para o diagnóstico de infecção.

O diagnóstico de infecção de uma ferida é clínico e baseado em sinais e sintomas de infecção ou nos resultados das culturas das feridas. Os procedimentos laboratoriais para a análise bacteriológica de amostras da ferida da ferida permitem a identificação dos microrganismos (identifica a susceptibilidade antimicrobiana) ou, poderá, também, fazer a sua quantificação. O biofilme, sendo um conjunto de microrganismos impermeáveis aos mecanismos de defesa do hospedeiro e protegidos da acção antiséptica e antimicrobiana, torna difícil a análise microbiológica.

Dito isto, surge a questão: “Quando se deve realizar a colheita de uma amostra da ferida para análise bacteriológica?” Quando existirem sinais clínicos de infecção, dificuldade na cicatrização e/ou deterioração macroscópica da ferida. A técnica mais correcta e mais usada para a recolha de uma amostra da ferida da ferida para análise bacteriológica é a Técnica de Levine. Para esta técnica reflectir correctamente a carga bacteriana, dever-se-á limpar a ferida com um soluto estéril não antimicrobiano e remover o tecido desvitalizado. No caso de ser possível, poder-se-á, também, colher exsudado com uma seringa, do local mais profundo da ferida. A acompanhar as amostras deverá, sempre, ir informação clínica sobre o tipo de ferida, sinais de infecção e penso realizado até à data.

Técnica de Levine5 – Rodar uma zaragatoa sobre 1 cm2 da área com pressão suficiente para expelir fluido a partir do tecido da ferida. A área da amostra deverá incidir sobre tecido viável.

     Terapêutica Antibiótica, o que o futuro nos reserva – Dr.ª Teresa Garcia (H. St. Marta)

O uso inapropriado dos antibióticos e o não cumprimento das regras de higienização adequadas tem vindo a causar o aumento da resistência dos microganismos.

Têm vindo a ser desenvolvidos estudos e projectos para travar esta tendência, nomeadamente no que diz respeito ao tratamento das úlceras por pressão / feridas crónicas, pois não existe evidência que o uso generalizado de antibiótico sistémico no tratamento das úlceras por pressão / feridas crónicas reduz o risco de infecção ou a carga viral. A escolha do tratamento adequado depende: do estado de saúde global do doente, etiologia da ferida e probabilidade de existência de uma população microbiana mista (anaeróbios e aeróbios).

A EWMA6 publicou vários documentos de orientação para o tratamento de feridas, entre eles, o Position document: Identifying criteria for wound infeccion7, onde são esclarecidos e identificados um conjunto de critérios para a determinação de infecção numa ferida. Nesse documento, é referido que apenas caso haja sinais claros de infecção local e sistémica é que se deverá instituir antibioterapia sistémica. Sendo assim, o tratamento de uma ferida crónica infectada implica:

O C.D.C. – Centers for Disease Control and Prevention8 lançou uma campanha de prevenção da resistência antimicrobiana – Campaign to prevent antimicrobial resistance9,10,11, cujo objectivo é optimizar o uso de agentes antimicrobianos nos serviços de saúde, centrando-se sobre as estratégias e/ou critérios de administração / uso de antibióticos.

     Abordagem da Dor, apenas uma escada? – Dr. J. Manuel Caseiro

     (Unidade de Tratamento da Dor do H. Lusíadas)

A dor, uma experiência partilhada por todos, mas experienciada individualmente e particular de cada um, é algo muito complexo e com diversas variantes:

  • Relativamente ao tempo:
    • Aguda – duração inferior a 6 meses e reverte se retirada a causa;
    • Crónica – duração superior a 6 meses e permanece, mesmo após a causa ser retirada;
  • Relativamente à fisiopatologia:
    • Nociceptiva – estímulos transmitidos pelos nociceptores. Considerada a “dor normal”, na qual há um estímulo externo (ex.: corte), que segue as vias ascendentes até ao encéfalo, onde é interpretado como dor. Dor associada à dor aguda;
    • Neuropática – dor derivada a lesão, a qualquer nível, do sistema nervoso central. Dor associada à dor crónica;
    • Psicogénica – dor derivada à alteração dos sistemas psicológicos (ex.: depressão; dor fantasma). Associada à dor referida;
  • Relativamente à topografia:
    • Focal – dor bem localizada e definida na intensidade, qualidade e local;
    • Radicular – dor originada por lesão radicular, manifestando-se por dermátomos;
    • Central – dor originada na interpretação errada ou desajustada (alodínea) dos estímulos dolorosos. A origem é encefálica;
    • Referida – dor sem causa física aparente, mas é referida pelo doente como estando presente.

A dificuldade que existe no controlo da dor deve-se, entre outras coisas, a uma avaliação inadequada. Uma avaliação adequada da dor deverá ser sistémica, ter uma ferramenta de medida e ser feita de acordo com uma abordagem holística (tendo em conta a vertente psicológica, como por exemplo a depressão, o controlo da ansiedade e perturbações do sono). Uma vez que a dor é um sinal vital, tal como avaliamos a temperatura corporal arterial antes e após administrar um antipirético, deveremos avaliar a dor antes e após a nossa actuação, pois de que forma saberemos se a mesma foi eficaz ou não?

O tratamento da dor nas feridas deverá ser adequado ao tipo de ferida, ou seja, tecidos envolvidos, profundidade, localização, etc. O tratamento deverá começar pelo uso do penso mais apropriado que consiga gerir bem o exsudado, proporcionando assim um efeito analgésico de modo tópico. De forma a tratar a dor incidental dever-se-á proceder à administração de analgesia / anestesia tópica ou, quando isso não é possível, sistémica por antecipação.

O tratamento sistémico da dor nas feridas deverá ser feito por equipa multidisciplinar (sendo a tríade essencial: o médico, o psicólogo e o enfermeiro) e com estratégias multifocais. A analgesia multimodal ou balanceada consiste na adopção de atitudes anti-álgicas diferentes com utilização de grupos de fármacos distintos que interfiram em diferentes processos de nocicepção, contudo:

  • Deve-se evitar associações de fármacos do mesmo grupo;
  • Nunca associar AINE’s entre si, pois não aumenta a sua eficácia mas aumenta a ocorrência de efeitos secundários;
  • Entre grupos, todas as associações são permitidas;
  • O paracetamol combina praticamente com todos, reforça a modulação descendente e induz a poupança de opióides (sparing-effect). Não é muito eficaz como tratamento pontual mas é óptimo como terapêutica de base.
  • Quando dor neuropática, os anticonvulsivantes e antidepressivos são praticamente obrigatórios.

A analgesia multimodal implica associações, regimes regulares (em horas regulares e não pequeno-almoço, almoço e jantar) e suplementos de resgate (os SOS; de biodisponibilidade imediata e nunca retard). Contudo, deve-se ter sempre em conta a compatibilidade com outra medicação que o utente já faça (anticoagulantes, antidiabéticos, etc.)

Esta palestra terminou com o seguinte pensamento: “Só há um tipo de dor que todos suportamos, a dor dos outros”.

     SIMPOSIUM

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     Tratamento de úlceras por pressão: o impacto humano e económico – Enf. Joan

Actualmente, quando a maior parte dos países enfrenta uma crise económica, torna-se de extrema importância a preocupação pelo impacto que as úlceras por pressão e outras feridas têm nos utentes e consequentemente no sistema de saúde.

Olhando para o que o futuro nos reserva, teremos:

  • Uma população envelhecida devido ao aumento da longevidade e diminuição da natalidade, contudo haverá um acréscimo de doenças crónicas, de úlceras e, consequentemente, um acréscimo da incapacidade laboral;
  • Diminuição dos recursos do Serviço Nacional de Saúde;
  • Diminuição do número de camas nos hospitais e aumento de utentes na comunidade; internamentos mais curtos e recuperação / convalescença no domicílio ou outras instituições;
  • Uma melhor qualidade assistencial, como consequência da investigação e evolução tecnológica e humana.

Sendo assim, que impacto terá o tratamento de úlceras por pressão?

Sendo que a maior parte das úlceras por pressão são evitáveis, como se poderá reduzir o seu impacto? Melhorando a prevenção e o tratamento, ou seja, pretende-se a diminuição do tempo, do material e da troca de pensos, nunca esquecendo que tratar uma úlcera por pressão é tratar a dor, a pele perilesional e gerir o exsudado.

A Smith&Nephew apresentou o seu projecto de soluções integradas para a prevenção de úlceras por pressão e das lesões por incontinência e seu impacto humano e económico – o projecto Prevencare. Para mais esclarecimentos consulte o site: http://www.prevencare.org/home.html

     Terapêutica de feridas por pressão negativa

O tratamento de feridas por aplicação de pressão negativa (75-125 mmHg) é cada vez mais utilizado pelos benefícios que tem na cicatrização, tais como: aumento da perfusão sanguínea local e, consequente, aumento da oxigenação dos tecidos e do aporte de factores de crescimento, glóbulos brancos e fibroblastos à ferida; redução do edema e do exsudado, uma vez que, o gradiente de pressão causa a deslocação de fluidos, promovendo a drenagem linfática e venosa; remove os resíduos da ferida e fluidos contaminados (gestão da carga bacteriana); o estiramento mecânico, promove a proliferação de células endoteliais e fibroblastos, bem como a aproximação dos bordos (pelo aumento da contracção); e diminui o desconforto e necessidade de troca de penso.

A terapia de pressão negativa é um tratamento adjuvante, que não deve substituir os procedimentos cirúrgicos ou outro tipo de cuidados convencionais, estando recomendada para tratamento: de feridas crónicas que não progridam na cicatrização, de feridas complicadas em que se prevê um tratamento de longa duração, de feridas profundas e/ou com muito exsudado cujo uso meramente do tratamento convencional não é eficaz, de preparação do leito da ferida para enxertos ou substitutos cutâneos e adjuvante à cirurgia para enxertos ou retalhos. Ou seja, a terapia de pressão negativa pode ser usada: em feridas pós-cirúrgicas, drenagem e gestão de fístulas exploradas, em feridas traumáticas, em retalhos e enxertos, em úlceras de pressão, neuropáticas e venosas.

A terapia de pressão negativa pode ser usada com especial atenção em:

  • Terapia anticoagulante;
  • Feridas hemorrágicas;
  • Doente não colaborante;
  • Doente desnutrido.

     E está contra-indicada em:

  • Osteomielite não tratada;
  • Presença de tecido necrosado;
  • Exposição de órgãos e/ou vasos sanguíneos;
  • Feridas malignas (excepto em cuidados paliativos);
  • Fístulas não exploradas.

Num estudo efectuado, em feridas cirúrgicas, no Hospital de Santa Maria da Feira, a eficácia do uso de terapia por pressão negativa como adjuvante ao tratamento habitualmente utilizado reproduziu-se: numa diminuição do tempo de internamento, diminuição dos dias de tratamento (cerca de 8 vezes menos), diminuição do custo por tratamento (cerca de 2.6 vezes menos) e um processo cicatricial mais rápido (cerca de 3 vezes mais). Pode-se, então, concluir que o uso da terapia por pressão negativa como adjuvante ao tratamento de feridas contribui para a redução do impacto humano e o custo económico do tratamento de feridas.

     Mesa Redonda – Úlcera de perna e Linfedema (Moderadora: Dr.ª Pedro Pacheco)

     Úlcera de perna – Consenso CONUEI – Prof. José Verdú Soriano (Univ. Alicante)

A Conferência de Consenso Nacional sobre Úlceras de la Extremidade Inferior (CONUEI) foi fundada em 2006 por delegados da Sociedade Espanhola de Angiologia e Cirurgia Vascular (SEACV), o Grupo Nacional para o Estudo e Avaliação de úlceras de pressão As feridas crônicas (GNEAUPP) da Associação Espanhola de Enfermagem Vascular (AEEV) e o Capítulo espanhol de Flebologia do SEACV. O documento de consenso12 foi publicado em 2008, dando por terminado o trabalho para o qual havia sido foi criado.

A necessidade de construção do consenso surgiu como forma de promover uma melhor assistência às pessoas que sofrem de úlceras de perna, pois apesar de ser uma doença de baixa prevalência (julga-se), afecta gravemente a qualidade de vida das pessoas que dela padecem (“não mata mas mortifica”) e deve ser foco de atenção dos profissionais de saúde; devido à grande variabilidade de diagnóstico e tratamento e promoção da coordenação da equipa multidisciplinar.

No entanto, o sucesso desta iniciativa incitou outros projectos, tanto para melhorar o estudo das úlceras de membros inferiores, como para difundir o dito consenso. Neste sentido, foi construída e publicada a revista “TodoHeridas” 13 para servir de meio de comunicação entre os membros do CONUEI e todos os profissionais de saúde. Actualmente, a CONUEI em colaboração com o Grupo Associativo de Investigação em Feridas (GAIF), a Associação Portuguesa de Tratamento de Feridas (APTF), A Sociedade de Feridas (ELCOS) e a Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular (SPACV) encontram-se a desenvolver o Registo de Úlceras da Extremidade Inferior (RUEI). O RUEI14,15,16 é um projecto multidisciplinar, que teve inicio em 2009, com o objectivo de obter um registo de dados de pacientes com úlceras nas extremidades inferiores, reunindo assim um maior número de dados objectivos relativamente à abordagem terapêutica destes pacientes e poder contribuir, através da consulta e do estudo desses dados, para o seu melhor tratamento. Consultando a base de dados poderá obter-se informação de muitos pacientes semelhantes, que tratamento receberam, a sua evolução, etc., o que poderá ajudar outros profissionais a tomar as decisões terapêuticas mais indicadas.

O RUEI encontra-se na internet, de modo a ser acessível, a todos os profissionais, em qualquer lado, e, que após registo no site, a empresa Systagenix Wound Management fornece um código de acesso, permitindo assim o registo e consulta de dados.

     Linfedema e úlcera de perna – Fisioterapeuta Madalena Monteiro (H. St. Maria)

Após uma abordagem geral de definição, localização, classificação e fisiopatologia de linfedema, foi cursado o impacto que esta patologia tem na vida do doente (incapacidade ou diminuição funcional, alteração estética e, consequente, diminuição da auto-estima, dor), bem como os diferentes tipos de tratamento.

A terapia linfática descongestiva aplicada pela palestrante, como forma de tratamento do linfedema, pode ter a sua base em várias escolas (Leduc, Vodder, Foldi e Casley-Smith). A terapia linfática descongestiva numa primeira fase tem como objectivo a redução, sendo fundamental a aplicação de bandas em multicamadas. Numa segunda fase, o que se pretende é a manutenção, uma vez que o linfedema tem tratamento mas não tem cura, usando-se contenção elástica por medida e drenagem linfática manual periódica.

     ILegx – uma realidade em Portugal – Dr. Pedro Pacheco

O número de amputações de membros inferiores de etiologia vascular continua a aumentar. Em contraste, o número de amputações de membros de etiologia não-vascular permanece estagnado em valores ainda elevados, apesar das inovações na avaliação e no tratamento, do desenvolvimento de novos materiais de tratamento de ferida e dos avanços tecnológicos na compressão. O aumento de amputações de membros inferiores deve-se em parte ao envelhecimento da população e ao aumento de doenças crónicas concomitantes como diabetes, obesidade e hipertensão.

A amputação é uma das complicações mais temidas nas úlceras de perna e que tem um impacto tremendo na qualidade de vida e sobrevivência dos doentes (taxa de mortalidade após 2 anos de 50%). Sendo assim, urge reduzir as taxas de amputação, que variam consideravelmente a nível global e nacional. Julga-se que outra das causas para o elevado número de amputações de membros inferiores é a falta de informação, difícil articulação da equipe multidisciplinar, falha no acompanhamento do doente e encaminhamento e/ou tratamento tardio.

Com o intuito de simplificando o diagnóstico de alta complexidade e de gestão definitiva de perda de tecido da perna / pé (criação de um consenso), e reduzir o número de amputações de perna surgiu o projecto ILegx17,18 (Interdisciplinary Leg Iniciative). O encaminhamento e intervenção precoces implicam um correcto diagnóstico. O ILegx dá uma visão geral sobre a melhor forma de diagnosticar a perda de tecido da perna/pé seguindo o método tradicional da história, exame físico e investigações especiais. Uma vez tendo o diagnóstico correcto basta definir a roda para o respectivo nexo de causalidade / fatia, e a roda ILegx fornece uma indicação precisa de como gerir este caso específico de perna / perda de tecido do pé, bem como os intervenientes da equipa interdisciplinar.

Em conclusão, esta ferramenta demonstra a urgência de um diagnóstico precoce da etiologia das feridas, da importância de uma abordagem por equipas multidisciplinares e do controlo da infecção, de modo a se prestar um melhor cuidado às úlceras de perna / pé.

     20 de Maio de 2011

     SIMPOSIUM

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     Novos desafios no Tratamento de Feridas: Aplicação dos pensos com Tecnologia Safetac® – Sofia Esteves (Mölnycke Heath Care) e Alejandro Blanco (Clinical Manager Tecnologia Safetac®)

Existem vários critérios a ter em conta na escolha do penso mais adequado para o tratamento de uma ferida. O acto de trocar o penso, é, para muitos doentes, um processo extremamente traumático, quer para a ferida, quer para o mesmo que dela padece, pelo traumatismo do tecido viável subjacente e pela dor e stress que acarreta. Estudos demonstram que a realização de penso está muitas vezes associada a uma experiência dolorosa e stressante por parte do doente, podendo aumentar os seus níveis de ansiedade e depressão, que por sua vez pode influenciar negativamente a sua percepção dos cuidados prestados (“se dói é porque não está a ser bem feito”) e levá-lo a evitar o tratamento, por outro lado o stress atrasa a cicatrização, devido à consequente liberação de elevados níveis de cortisona e suprimindo, assim, a resposta inflamatória, o que atrasa e por em causa a viabilidade de cicatrização.

A empresa Mölnycke Heath Care desenvolveu a tecnologia Safetac® 19 (exclusiva e patenteada), que consiste numa película/rede de silicone que tem como objectivo a redução da dor e traumatismo da ferida na troca de pensos. A película tem como características:

  • Não adesão ao leito da ferida (não arranca o tecido de granulação);
  • Adesão à pele circundante;
  • Adaptação aos contornos e às irregularidades da pele;

Este material funciona como uma película protectora à semelhança da gaze gorda, que protege o leito da ferida do traumatismo de remoção do penso secundário. É poroso, permitindo a passagem do exsudado. Pode ser lavado e reutilizado, isto é, enquanto durar o tratamento, ao se efectuar a lavagem da ferida, efectua-se a lavagem da película podendo ser reaplicada (boa relação custo-eficácia).

     SIMPOSIUM

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     Controlo da infecção e do odor – Enf.ª Cristina Miguéns

A falha/atraso na cicatrização implica uma série de anomalias como resposta do organismo ao dano tecidular. Existem vários factores, locais e sistémicos, que afectam a cicatrização, entre os quais a infecção. Por sua vez, também existem factores, locais e sistémicos que aumentam o risco de infecção. De entre os factores de risco de infecção locais, podemos destacar: grande área, grande profundidade, grau de cronicidade, localização anatómica, presença de corpo estranho, presença de tecido necrótico, mecanismo de traumatismo, grau de contaminação pós-ferida e diminuição da perfusão sanguínea.

Como se pode detectar se uma ferida crónica se encontra superficialmente infectada ou não? Quais os sinais e/ou sintomas? Se surgir dor ou se esta se alterar e/ou aumentar, se existir atraso ou paragem na cicatrização, se existir edema e endurecimento peri-úlcera, se existir tecido de granulação friável ou sangrante, se existir mau odor ou alteração do odor, se existir descoloração do leito da ferida, se existir aumento ou alteração do exsudado, se existir formação de bolsas. Se se detectar um ou mais destes sinais e/ou sintomas dever-se-á aplicar um anti-séptico tópico. Se a ferida agravar e/ou surgir um rubor alargado que parte da ferida dever-se-á suspeitar de infecção profunda, estando aconselhado o uso de antibioterapia sistémica e anti-sépticos tópicos de acção continuada.

As toxinas bacterianas provocam necrose tecidular, aumento da inflamação e diminuição de colagénio pelos fibroblastos, o que causa o atraso, estagnação ou deterioração da cicatrização. Sendo assim, urge prevenir a infecção e detectar a contaminação bacteriana de imediato. Deste modo, que penso se deve escolher? O penso ideal para a infecção deve remover o tecido necrótico e fibrinoso, promover a limpeza da ferida a cada mudança de penso, controlar o exsudado, controlar o odor e diminuir a frequência de mudança de penso.

Os pensos com prata são uma das melhores opções, estando comprovado por estudos que diminuem os custos do tratamento (pela diminuição da troca de pensos) e diminuem a carga bacteriana nas feridas crónicas sem sinais de infecção (diminuindo assim o risco de infecção).

Os pensos de carvão activado com prata são ideais para o controlo do odor, uma vez que ao filtrarem o exsudado, adsorvem os microrganismos e os odores.

Bibliografia a consultar / consultada:

  1. Direcção Geral de Sáude (2011). Orientação nº 017/2011 – Escala de Braden: Versão Adulto e Pediátrica (Braden Q)[em linha]. Publicado a 19 de Maio de 2011 [Acedido a22 de Junho de 2011] Disponível em <URL: http://www.dgs.pt/pagina.aspx?screenwidth=1600&mlkid=s1no0ovvhfftv3454kd40ae2&cr=20377&utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter >
  2. Tabela de Lund-Browder para determinação da superfície corpórea queimada. [em linha] [Acedido a22 de Junho de 2011] Disponível em <URL: http://www.emv.fmb.unesp.br/aulas_on_line/plastica/Queimados1/Tabela%20Lund-Browder.pdf >
  3. CHAMANIA, Shobha [et al.] Primary Surgery Vol.2 – Trauma [em linha] 2008. [Acedido a22 de Junho de 2011]. Burns : How much fluid does a shocked patient need . Disponível em <URL: http://www.primary-surgery.org/ps/vol2/html/sect0105.html >
  4. Teniz, Liliana; Pereira, Diana – Queimados.com.pt [em linha] [Acedido a22 de Junho de 2011] Disponível em <URL: http://www.queimados.com.pt/ >
  5. BARANOSKI, Sharon; AYELLO, Elizabeth – O essencial sobre o tratamento de feridas: princípios práticos, [s.l.]: Lusodidacta, 2005, p.448. ISBN: 9789728930035
  6. EWMA. Position documents. [em linha] [Acedido a22 de Junho de 2011] Disponível em <URL: http://ewma.org/english/position-documents/all-documents.html#c500
  7. EWMA. Position document: Identifying criteria for wound infeccion [em linha]. 2005. [Acedido a22 de Junho de 2011] Disponível em <URL: http://ewma.org/fileadmin/user_upload/EWMA/pdf/Position_Documents/2005__Wound_Infection_/English_pos_doc_final.pdf >
  8. CDC. Get smart for healthcare [em linha] [Acedido a22 de Junho de 2011] Disponível em <URL: http://www.cdc.gov/getsmart/healthcare/ >
  9. CDC. Campaign to prevent antimicrobial resistance . Slideshow [em linha] [Acedido a22 de Junho de 2011] Disponível em <URL: http://www.slideshare.net/guest3008cc/campaign-to-prevent-antimicrobial-resistance >
  10. CDC. Campaign to prevent antimicrobial resistance in healthcare settings: 12 steps to prevent antimicrobial resistance among hospitalized adults. [em linha] [Acedido a22 de Junho de 2011] Disponível em <URL: http://www.kliinikum.ee/infektsioonikontrolliteenistus/doc/oppematerjalid/adults.pdf >
  11. CDC. Overview of CDC’s Campaign to Prevent Antimicrobial Resistance in Healthcare Settings. [em linha] [Acedido a22 de Junho de 2011] Disponível em <URL: http://www.esrdnet5.org/Education/Staff/scm_pres/resistance.pdf >
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