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Terapias Integrativas: Entrevista a Ricardo Rodeia

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Tem vasta experiência como formador na área das Terapias Integrativas e é gestor pedagógico FORAMPLUS para a área das Terapias Integrativas, vamos conhecer o seu percurso e seu pensamento quanto ao desenvolvimento desta área de intervenção.

Ricardo Rodeia é enfermeiro há 17 anos no Hospital de Gaia (CHVNG-Espinho, E.P.E). Nos primeiros anos em Pneumologia e nos últimos onze anos no Serviço de Internamento em Saúde Mental e Psiquiatria.
É docente no Instituto Português de Naturologia e dá consultas de Medicina Tradicional Chinesa/ Acupunctura.
Em 2003 participou como autor do Capítulo “Acupuntura, Moxabustão e Ventosas” do livro Terapias Naturais na Prática da Enfermagem, Edições Sinais Vitais.,um tendo constituído essa obra, um ponto de viragem na visão, de mudança no paradigma de Enfermagem. Escreveu diversos artigos técnico-científicos para várias revistas da especialidade. Em 2008 concluiu a Pós-Graduação em MTC, no ICBAS-Universidade do Porto, assente no modelo de pensamento e intervenção de Heidelberg. Posteriormente, concluiu o Curso de Mestrado em Medicina tradicional chinesa na mesma instituição… Uma interpretação clássica nas suas origens, mas que se quer afirmar como cientifica e objectiva no seu modus operandi. Foi nessa altura enquanto estudante no Instituto Abel Salazar, que se começou a falar pela primeira vez em Medicina Integrada ou Integrativa, em vez de Natural, Complementar, Alternativa ou Não Convencional, como até então se tem apelidado globalmente estas áreas do conhecimento em saúde.
Em 2013 participou na discussão pública sobre a Proposta de Lei para as Terapêuticas Não Convencionais (alteração da Lei 45/2003 de 22 de Agosto para a atual Lei nº71/2013 de 2 de Setembro), na qualidade de perito indigitado pela Ordem dos Enfermeiros (OE), numa audição da Comissão de Saúde.

Ricardo, como se descreveria?

Sou uma pessoa como qualquer outra. Tenho os meus desejos, mas também os meus medos, paixões, sonhos, ansiedades e preocupações. Procuro superar os meus defeitos melhorando as minhas qualidades e virtudes, e correcção quotidiana dos erros, numa perspectiva de crescimento pessoal, com as humanas forças que possuo, enraizadas pela vontade em fazer melhor.
Nasci e cresci com o desejo de querer ajudar a transformar o mundo num lugar melhor (assim se quer a utopia…). Esse sonho tem persistido, apesar dos altos e baixos, das dificuldades que por vezes querem levar a melhor… mas se o sonho se mantém, a vontade supera os obstáculos.
Sou eclético por natureza e é difícil deixar-me tomar apenas por uma ocupação e uma rotina. Os dias devem ser desafiantes, embora por vezes se tornem extenuantes.

Porquê enfermeiro?

Poderia dizer que ter-me tornado enfermeiro, foi, por um lado, fruto de certos acasos, mas também, porque sempre existiu a vontade inerente em querer ajudar e cuidar de quem precisa, promovendo a recuperação e autonomia, acompanhando os diferentes ciclos de vida. Foi esse sentido diligente que de certo modo moldou a minha personalidade até hoje.
Agradeço aos meus pais por isso.

Porquê o interesse pela área da Acupuntura?

Corria o ano de 1999, trabalhava há quase dois anos enquanto enfermeiro, quando senti necessidade em ampliar os meus conhecimentos na área da saúde em geral e não necessariamente numa especialidade tradicional dentro da enfermagem. Qualquer coisa que pudesse ser uma mais-valia de futuro e que simultaneamente me despertasse o interesse desde o primeiro momento. Foi graças a um colega amigo, que tive conhecimento do 1º Curso em Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e Acupunctura a iniciar no Porto. Nessa altura, muito pouca gente falava em acupunctura e muito menos MTC. Com excepção da figura mediática do Pedro Choy, parecia que ninguém mais conhecia ou se dedicava a esta área, o que não era de todo verdade. Isto apenas acontecia, porque os meios e acesso à informação eram muito mais limitados do que hoje o são. Assim decidi inscrever-me no 1º Curso do recém fundado Instituto Português de Naturologia (IPN), que conta agora com 15 anos de existência. Os professores eram maioritariamente espanhois… Embora a barreira linguística pudesse parecer um entrave, a verdade é que, quer pela riqueza dos conteúdos, quer pelo conhecimento que transmitiam, a motivação e o interesse mantiveram-se e foi crescendo. Assim continua a ser, 15 anos volvidos… … e ainda hoje me considero “eterno aprendiz”.

O que destacaria mais no seu percurso profissional nas Terapias Integrativas?

O desenvolvimento da experiência clínica profissional por um lado, e o ensino e formação dentro da área de Medicina Tradicional Chinesa, por outro. Estes últimos 12 anos, têm sido muito ricos em trabalhos e experiências.
O público, colaboradores e alunos são os que mais me deixam marca, pela receptividade e abertura com que se envolvem.
Todos os amigos e personalidades, tanto a nível nacional como internacional com quem tenho privado no trabalho e ensino da acupuntura, têm deixado a sua marca e influência. Essa troca e partilha de experiências, durante estes anos, têm contribuído de forma inegável para o meu crescimento e experiência nas mais diferentes dimensões que a MTC e acupuntura abarcam. A aprendizagem faz-se pela partilha.
Em 2002, ainda enquanto estudante finalista do 1º Curso de MTC do IPNaturologia, participei como prelector convidado no Simpósio de Enfermagem “Terapias Complementares e Alternativas – Contributos para a Prática de Enfermagem” realizado no Auditório da Fundação Engº. António de Almeida no Porto. Este Simpósio reuniu naquela altura, largas centenas de enfermeiros de todo o país com grande interesse em desenvolver conhecimentos dentro das áreas que na altura eram conhecidas por terapias naturais, complementares e alternativas. Contou com dois dias preenchidos de workshops, debates e palestras vocacionados para áreas que começavam a dar os primeiros passos dentro do mundo globalizado e massificado: Medicina Tradicional Chinesa, Acupunctura, Shiatsu, Reflexoterapia, Naturopatia, Reiki, Toque terapêutico, entre outras. Foi extremamente importante e revelador do que poderia ser num futuro, aquilo, que hoje, em 2014 está mais próximo: Uma revolução nos cuidados de saúde em geral.

Essa revolução de que fala foi consubstanciada na Lei 71/2013 de 2 de Setembro?

Tive oportunidade de expor na Comissão de Saúde os meus argumentos sobre o que pensava da referida proposta de Lei, entretanto aprovada. Embora a actual lei apresente, quanto a mim, alguns defeitos, o seu corpo geral e disposição é muito mais aberta e vanguardista do que a maioria dos países do mundo que apresentam regulamentações dentro desta área. A disposição geral da lei apazigua a guerra entre lobbies profissionais, mas não as extingue totalmente. A lei salvaguarda a autonomia técnica e deontológica nas 7 Terapeuticas Não Convencionais a que se refere (Acupuntura, Fitoterapia, Homeopatia, Medicina tradicional chinesa, Naturopatia, Osteopatia e Quiropráxia), não tutelando essa autonomia para nenhum lóbi da saúde, mas considerando ser transversal às áreas tradicionais do conhecimento cientifico em saúde, e como tal, “terra de ninguém”, no que concerne às profissões em saúde já existentes. Passam a ser Terapêuticas reconhecidas como Licenciatura e os atuais profissionais terão de apresentar o seu curriculum de ensino, formação e experiência profissional, nos próximos anos (período de transição – art, 19 e Portaria nº 181/2014) para serem acreditados e lhes ser concedida a Carteira profissional.

Qual o é a pertinência de um curso de formação profissional de Acupunctura para Enfermeiros neste cenário?

Muitas vezes os enfermeiros enquanto profissionais de saúde, têm a curiosidade em buscar novas metodologias e técnicas de intervenção. Nesta procura, é importante conhecer um pouco desses tão diferentes e diversos mundos que se vislumbram, sem no entanto, ter que escolher obrigatoriamente determinada área com um corpo demasiado extenso, quer na duração, quer nos custos financeiros que essa escolha possa representar.
O tratamento acupunctural surge a partir da interpretação diagnóstica e o sucesso, advém da escolha criteriosa de acupontos a estimular e técnica a usar. Um enfermeiro que queira investir no conhecimento e no tratamento da Dor e ou patologias Músculoesqueléticas, terá todo o interesse em frequentar este curso, num âmbito de formação contínua especializada e complementar a sua formação.
O FORAMPLUS celebrou um Protocolo de Cooperação com o Instituto Português de Naturologia (IPN) no âmbito das Terapias Integrativas. Com o Curso de Acupuntura para Enfermeiros, o formando fica habilitado a empreender técnicas na área da acupuntura (também moxabustão, vácuoterapia e massagem), recorrendo aos acupontos, como forma de intervenção autónoma (com o respectivo acréscimo de competência) em situações de Dor e Patologias Músculo-esqueléticas. No final do Curso, consegue diferenciar situações e estabelecer um diagnóstico parcial dentro do pensamento e orientação definida pelos fundamentos teóricos basilares da MTC. Como calcula, isto só pode ser desenvolvido com uma formação consistente e sistematizada para ser reconhecida caso o formando queira prosseguir estudos. Cursos que decorrem num fim de semana não possibilitam esse desenvolvimento e defraudam as expectativas dos interessados. O nosso curso tem atualmente 80 horas de carga letiva com o desenvolvimento de actividades não lectivas geridas pelos formandos.

Os enfermeiros que concluam o nosso curso e pretendam seguir a Acupunctura como uma carreira paralela e simultaneamente transversal à profissão, poderá inscrever-se no IPN, após terminada a formação, gozando da vantagem de ter equivalências em três disciplinas do curso de MTC e desconto na inscrição e propina de 1º Ano

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De referir que o Curso de MTC do IPN, tem um Programa Curricular que já obedece às exigências da nova Lei das Terapêuticas Não Convencionais, no que diz respeito ao numero de horas. Já não se insere em contexto de Formação Contínua, mas sim de Formação Profissional que intenta adaptar à Lei do Ensino Superior no período Transitório referido na Lei das TNC´s (Lei 71/2013 de 2 de Setembro – art.19).
No FORAMPLUS o curso Acupuntura para Enfermeiros já está dotado de ferramentas extremamente eficazes, no objectivo a que se propõe e com este protocolo, permite projectar outras ambições para quem assim o desejar. Ocorre-me dizer, com as devidas reticências, “melhor é impossível!”.

Que outras atividades o realizam?

A fotografia e a escrita.
A paixão pela fotografia vem desde criança. É uma infecção herdada do meu pai (risos). Desde 1999 que participo em concursos e exposições coletivas. Em 2011, tive a minha primeira exposição individual.
A escrita também vem desde pequeno. Mas só se consegue partilhar à escala editorial com muito querer, algum talento e desprovido de intenção de lucrativa. Escreve-se porque se precisa, porque constitui uma forma essencial de expressão para quem o faz. Publiquei em 2010 (“As Pedras e os Buracos…”) e em 2011 (“Apontamentos de Vida”), pela Corpos/WAF, poesia e fotografia. No passado ano publiquei um livro infantil, e dediquei-o ao meu filho de 5 anos, que diz que eu sou um excelente escritor (risos) . Outros projetos estão na gaveta, para quando for velhinho (risos).

Uma frase para nos inspirar?

Como eclético que sou tenho dificuldade em me deixar apenas por uma frase: Por mais simples e popular que possa parecer, sempre gostei e creio no que estas duas frases encerram:

“ O essencial é invisível aos olhos” Saint-Éxupery ;
“o objectivo da vida é uma vida com objectivos” – provérbio tibetano; Deixo então um poema da minha autoria:

Chamamento surdo

«Nós somos, o que fomos, somos e seremos »
A via do meio,
Feita a catarse,
As coisas acontecem desde que o tempo é tempo,
Se no princípio havia o Verbo,
Depois…
As coisas acontecem,
Sucedem como o Vento,
Ganham um indesmentível e certo alento.
Augúrios de chamamento.
As coisas acontecem,
Sob o auspicioso Sentimento.