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Terapias Integrativas e Complementares: uma evolução eminente na saúde. Entrevista a Ricardo Rodeia

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Tem vasta experiência como formador na área das Terapias Integrativas e é gestor pedagógico FORAMPLUS para a área das Terapias Integrativas, vamos conhecer o desta área de intervenção, no panorama nacional e internacional.

Para a maioria dos profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros , subsiste ainda muita confusão sobre a área de saúde referida com Terapias Integrativas e Complementares. O que é e em que consiste concretamente?

Terapias Integrativas e Complementares (TIC) são termos que definem um conceito e ao mesmo tempo uma nova visão e paradigma sobre o Modelo Assistencial em Saúde.

As TIC incluem todas as práticas que promovem e melhoram a saúde e o bem-estar do individuo, tratando e potenciando a sua recuperação em situação de doença, e que não estão incluídas nas abordagens convencionais que o SNS oferece à generalidade da população.

O conceito de Terapias Integrativas e Complementares tem vindo a sofrer mudanças evolutivas com base no próprio conceito que a define.

Diferentes métodos e técnicas de Massagem, Toque Terapêutico, Aromaterapia, Auriculoterapia, Bandas Neuromusculares, Hipnoterapia, Kinesiologia holística Integrativa, Arteterapia, Musicoterapia, etc., têm vindo a merecer lugar de destaque pelo seu desenvolvimento enquanto Terapias Integrativas e Complementares, ao longo dos últimos anos. Todavia este percurso ainda não é sinónimo de integração e complementaridade na maioria dos casos.

Existem Terapêuticas, que para além de poderem ser incluídas como Terapias Integrativas e Complementares, devido ao seu vasto corpo de conhecimento filosófico, ciêntifico e técnico são atualmente consagradas como Profissão de Saúde. É o caso da Medicina Tradicional Chinesa, Acupuntura, Homeopatia, Osteopatia, Naturopatia, Fitoterapia e Quiropraxia. Encontram-se regulamentadas e em fase de instalação (Lei 71/2013 de 2 de Setembro).

As Terapias Integrativas e Complementares apresentam uma base filosófica diferente da medicina convencional, e recorrem a diferentes métodos e técnicas de tratamento e diagnóstico.

Foram, num primeiro momento, frequentemente descredibilizadas pela comunidade médica que criticava os diferentes fundamentos como sendo não científicos e por tal não comprováveis, misturando aleatoriamente todas as vertentes terapêuticas que conheciam, com diferentes abordagens tomadas pela medicina popular ou ciências esotéricas, ocultas, não diferenciando áreas especificas como acupuntura, homeopatia, osteopatia, aromaterapia, Reiki, Reflexologia, etc., de outras áreas como o Tarô, Astrologia, ou algum tipo de ciência oculta.

Para a maior parte das TIC, a visão de doença/heteropatia pressupõe desequilíbrio/desarmonia das atividades energéticas percursoras das alterações funcionais ou orgânicas, retratadas, definidas e diagnosticadas como condição de doença.

Pressupõe, igualmente a abordagem do indivíduo de um modo holístico, i.e., a soma das partes é diferente do todo. A intervenção é, como tal, primariamente energética e psico-emocional, na medida em que a doença é, na maioria das situações, consequência de um desequilíbrio energético, antes de se manifestar como um desequilíbrio bioquímico, com manifestações patológicas funcionais e estruturais. No caso das terapias que incluem massagem o benefício é igualmente energético mas também biomecânico, intervindo quer no aparelho musculosquelético, mas também e ainda mais importante, no circuito bioenergético que incluem Meridianos e Centros de Energia. Os resultados destas intervenções têm repercussões ao nível metabólico, orgânico e visceral, sistema neuro-vegetativo, hormonal e imunológico.

Têm havido mudanças políticas neste âmbito?

Sim. Quer no panorama nacional, quer a nível internacional.

Ao longo dos últimos anos tem-se assistido a uma verdadeira revolução nos cuidados de saúde, pelas diferentes abordagens e formas diferenciadas de atender a inúmeras situações de doença a que a população recorre.

Na década de 90 e nos primeiros anos de 2000, abriram Escolas e Institutos com reconhecimento formativo pelo IEFP – cursos de Formação Profissional, consagrando a sua área de formação a disciplinas como Medicina Tradicional Chinesa, Acupuntura, Massagem Terapêutica, Reflexologia, Osteopatia, Homeopatia, etc. Mais tarde, surgiram Pós Graduações e Mestrados nestas áreas por diferentes instituições de Ensino Politécnico e Universitário.

Inicialmente, começou-se a falar de uma forma mais séria, sobre diferentes metodologias e técnicas. De um modo gradual foram sendo intituladas ora “Terapias Naturais”, procurando enfatizar a sua ligação e relação com a natureza e contrapondo a artificialização e manipulação bioquímica a que as metodologias interventivas da Medicina Convencional se tinham rendido.

Num segundo momento, falou-se de “Terapias Alternativas”, sobretudo pelos media, como que clivando a diferença com a Medicina Convencional ou Alopática e afirmando-se como uma alternativa às ofertas terapêuticas ao estabelecido pelo Sistema de saúde. Mais tarde surgiu o conceito de “Terapias Complementares”, como que a querer demonstrar que muitas destas práticas complementavam os métodos convencionais.

Á medida que tudo isto acontecia, surge em 2003 a primeira legislação – Lei 45/2003 de 22 de agosto, que regulamentava como profissões de Saúde as áreas que exigiam um corpo de conhecimento técnico e científico mais abrangente. Por incúria dos legisladores, esta lei não foi terminada, o que originou a presente lei – Lei 45/2013 de 2 de Setembro, ainda em implementação.

No caso das Terapias Integrativas e complementares, e ao contrário do que habitualmente acontece, não têm sido as políticas em saúde a propor à sociedade, novos métodos e abordagens na promoção da saúde, mas sim, a própria sociedade.

Este fenómeno tem vindo a acontecer, como causa direta da procura cada vez maior que a população em geral, tem vindo a reclamar, no sentido de encontrar soluções mais simples e naturais, menos invasivas e com frequência mais eficazes para os mais diversos problemas de saúde com que se confrontam.

No momento presente, já existem diferentes enquadramentos legais, em grande parte dos países do mundo ocidental, face às evidências demonstradas, continuando a existir uma forte tendência para o desenvolvimento de leis e políticas que reconheçam e integrem estas práticas.

Esta revolução difere de país para país, em virtude da legislação vigente ser diferente, fruto do seu maior ou menor desenvolvimento e implementação.

A busca de soluções de saúde conjugadas, para enfrentar as mais variadas situações de doença têm aproximado, como objetivo ultimo, as Terapias Integrativas e Complementares da prática convencional.

Que mudanças têm ocorrido no resto do mundo?

As novas terapias, ora integradas numa forma de Medicina Tradicional, ora apresentando um corpo filosófico e de conhecimento próprio, têm sido fruto de reflexão e análise muito profunda por parte da comunidade cientifica internacional, sendo provas irrefutáveis, as várias publicações que a OMS tem dedicado e realizado nas últimas décadas como é o caso das Guidelines for Clinical Research on Acupunture, 1995, General Guidelines for Methodologies on Research Clinical Research and Evaluation on Tradicional Medicine, 2000, WHO Tradicional Medicine Strategy 2002-2005, entre outros documentos, e culminando com WHO Tradicional Medicine Strategy 2014-2023.

Com este aprofundar de laços, tem-se vindo a assistir uma revolução no pensamento em saúde, com o crescimento de um movimento internacional de promoção integrada – Medicina e Terapias Integrativas, com diferentes políticas de saúde a serem criados em vários países, com serviços a nascer um pouco por todo o mundo ocidental, em hospitais, clínicas e centros de saúde.

Esta adesão massiva às Terapias Integrativas e Complementares, que, em anos recentes tem sucedido um pouco por todo o mundo apenas reforçam que as Terapias Integrativas comprovadamente otimizam muito os resultados no tratamento e recuperação de doentes em diferentes áreas de especialidade médica.

Se nalguns países, as Terapias Integrativas já são prática comum e corrente, haverão outros que continuam a desenvolver o seu modelo de intervenção.

No panorama internacional, destacam-se os países da Europa Central e do Norte. O Brasil também desenvolveu a aproximação com estas novas práticas, com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde desde 2006. Os países anglo-saxónicos, como os EUA e a Grã Bretanha desenvolvem os seus planos de Terapias Integrativas de forma autónoma e coordenada, como é o caso dos Hospitais Hartford Hospital (EUA), Longmont United Hospital (EUA), Royal London Hospital for Integrative Medicine (GB), Boston Children´s Hospital (EUA), Memorial Sloan Kettering Cancer Center (EUA), Winchester Hospital (EUA), Northshore University Heallth System (incluiu quatro hospitais – EUA), Mayo Clinic, Duke University Medical Center (EUA), apenas para referir alguns exemplos.

Muitos estudos científicos têm sido publicados em anos recentes, comprovando a eficácia de resultados, sobretudo dentro de áreas como a Medicina Tradicional Chinesa, incluindo vertentes como a massagem, reflexologia, fitoterapia, auriculoterapia, mas também outras áreas como Reiki, Toque Terapêutico, Hipnoterapia, Aromaterapia, etc., com especial destaque de intervenção sobre a “Dor” , factores de risco (Stress, HTA, obesidade, dislipidémia…) e recuperação geral do estado de saúde.

As Terapias Integrativas e Complementares, no caso português também tem vindo a evoluir, demonstrando e afirmando um lugar de maior exposição e importância.

Como referido anteriormente, estas terapias incluem as já reconhecidas como profissões de saúde pela Lei das Terapêuticas Não Convencionais (Lei 71/2013 de 2 de Setembro), atualmente em fase de implementação, e outras áreas que merecem maior reflexão, desenvolvimento e especialização.

Atualmente, já é relativamente comum encontrar a Acupuntura, Toque terapêutico ou Reiki em muitos centros hospitalares por todo o país, sobretudo integrados em Consultas da Dor. Mais raros serão os casos em que estas terapias complementam de forma integrada o trabalho dentro dos serviços de internamento de diferentes especialidades. Não estão incluídas do SNS e apenas alguns Seguros privados de saúde incluem comparticipação.

O Foramplus tem um curso de formação profissional de Terapias Integrativas e Complementares para Profissionais de Saúde. Em que consiste e quais são as áreas de formação a que de propõem?

O Curso de Terapias Integrativas e Complementares do Foramplus, foi concebido e desenvolvido para profissionais de saúde das mais diferentes áreas, desde médicos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas, etc., assim como terapeutas das novas profissões de saúde, as Terapêuticas Não Convencionais. Tem por objetivo, fornecer novas ferramentas terapêuticas que podem ser conjugadas nas variadas práticas profissionais, acrescentando ganhos em saúde, formando de um modo integrativo, numa óptica de inclusão e integração de “o melhor dos dois mundos, para um mundo melhor”.

O Curso Terapias Integrativas e Complementares tenta responder à crescente procura que diferentes terapias têm tido nos últimos anos e ao mesmo tempo que colmata uma lacuna no panorama formativo nacional.

O Curso de Terapias Integrativas e Complementares responder às necessidades crescentes que orientam uma boa parte da população, e que já encontram novas respostas e soluções que atendem à promoção da saúde e ‘melhoria de determinadas condições de doença.

Apostamos em formadores com experiência clínica e formativa dentro das profissões de saúde convencionais, mas com igual experiência nas áreas clínicas complementares e integrativas, por considerarmos ser de vital e extrema importância um profundo conhecimento sobre as possibilidades de conjugação e acréscimo futuro destes novos campos do saber em saúde com vista à interoperabilidade e integração. Com uma vertente iminentemente prática, não descura dos seus princípios teóricos basilares que guiam a compreensão, no sentido da excelência do desempenho prático de que resulta a eficácia dos resultados.

O curso de Terapias Integrativas e Complementares – Base 1, é ministrado maioritariamente aos fins de semana e contempla a Massagem Tui Nà, Auriculoterapia, Toque Terapêutico e Aromaterapia.

As áreas de Massagem Tui Nà, um tipo de massagem com relação ao circuito bioenergético integrado na filosofia chinesa associada aos meridianos ou canais de energia, fornece um conjunto de conhecimentos que visam melhorar em muitas situações, a condição de saúde da pessoa, desde condições de dor crónica viscerais e músculo-esqueléticas, assim como melhorar e promover a saúde.

A Auriculoterapia clínica tem também uma origem chinesa com maior desenvolvimento recente em França. Popularizou-se há poucos anos como método de intervenção para a desabituação tabágica. No entanto, a sua aplicação é muito mais abrangente. Mostra-se como um microssistema reflexo em que se estimula mecanicamente o pavilhão auricular, ou seja a orelha, com o objetivo de equilibrar a relação entre os diferentes órgãos, sistemas e estruturas, assim como a área do Sistema Nervoso.

O Toque Terapêutico, foi desenvolvido nos Estados Unidos e Canadá nos anos 70. Visa harmonizar o Campo Eletromagnético do individuo e potenciar o equilíbrio geral, pressupondo as interferências que o meio ambiente e os desafios quotidianos têm sobre o corpo, a mente e o espírito.

Finalmente, a Aromaterapia visa promover a saúde e resolver situações de desequilíbrio físico e emocional com recurso a óleos essenciais. É verdadeiramente uma terapia com cheiro (risos).

Estou convicto que estes instrumentos terapêuticos, ajudarão a desenvolver melhor qualquer área profissional em saúde, complementando estratégias de acção, com vista a uma melhoria de resultados, ampliando indubitavelmente as opções e recursos de atuação numa filosofia de acréscimo de competências em saúde.

Está também programado um Curso de Terapias Integrativas e Complementares – Base 2 para o segundo Semestre deste ano, com novas áreas de intervenção: Reflexologia Clínica, Shiatsu, Bandas Neuromusculares e Kinesiologia Holística integrativa aplicada à prevenção da doença e ao Equilibrio Corpo-Mente .

Ricardo Rodeia é enfermeiro há 18 anos. Trabalhou no Hospital de Gaia (CHVNG-Espinho, E.P.E). até Agosto do ano passado, dedicando-se atualmente ao ensino clínico, formação e intervenção clínica dentro da Acupuntura, Medicina Tradicional Chinesa e Terapias Integrativas e Complementares.
É docente no Instituto Português de Naturologia e dá consultas de Medicina Tradicional Chinesa/ Acupunctura.
Em 2003 participou como autor do Capítulo “Acupuntura, Moxabustão e Ventosas” do livro Terapias Naturais na Prática da Enfermagem, Edições Sinais Vitais.,um tendo constituído essa obra, um ponto de viragem na visão, de mudança no paradigma de Enfermagem. Escreveu diversos artigos técnico-científicos para várias revistas da especialidade.

Em 2008 concluiu a Pós-Graduação em MTC, no ICBAS-Universidade do Porto e em 2010, o Curso de Mestrado de Especialização em Medicina Tradicional Chinesa na mesma instituição.

Em 2013 participou na discussão pública sobre a Proposta de Lei para as Terapêuticas Não Convencionais (alteração da Lei 45/2003 de 22 de Agosto para a atual Lei nº71/2013 de 2 de Setembro), na qualidade de perito indigitado pela Ordem dos Enfermeiros (OE), numa audição da Comissão de Saúde.