Início APECSP Saberes e Competências do Pai com Preparação para o Parto durante o...

Saberes e Competências do Pai com Preparação para o Parto durante o Trabalho de Parto e Parto

188
0
Associação Portuguesa de Enfermeiros de Cuidados de Saúde Primários

A Organização Mundial de Saúde refere que os cuidados pré-natais e no pós-parto devem ser dirigidos à família e centrados nas necessidades da mulher, filho e companheiro

SABERES E COMPETÊNCIAS DO PAI, COM PREPARAÇÃO PARA O PARTO, DURANTE O TRABALHO DE PARTO E PARTO: CONTRIBUTOS PARA A PRÁTICA DE ENFERMAGEM

Olga Maria Telo Pousa,

Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica, Mestre em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica,

ACES Porto Ocidental – USF Garcia de Orta,

Presidente da APECSP

RESUMO:

A preparação para o parto oferece ao casal momentos de partilha de experiências e a possibilidade de um maior envolvimento do pai no nascimento. Neste estudo foi utilizada uma metodologia qualitativa de cariz exploratório e a amostra, selecionada por conveniência, é constituída por 10 pais que participaram nas aulas de preparação para o parto. O objectivo é perceber quais são os Saberes e Competências do Pai com Preparação para o Parto durante o Trabalho de Parto e Parto. Para tal foram aplicadas entrevistas semiestruturadas e para a sua interpretação recorreu-se à análise de conteúdo, tendo por base de referência Bardin (2009). Os resultados obtidos revelam que os pais procuraram obter informação e apoio por parte dos profissionais de saúde e que consideraram as sessões de preparação para o parto muito importantes, tendo nelas obtido saberes e competências que lhes permitiram ajudar as suas mulheres. Em alguns casos referiram sentir-se melhor preparados e menos ansiosos para o momento do trabalho de parto e parto. Este estudo revelou também que os profissionais de saúde estão cada vez mais despertos para a participação do pai e que estes consideraram que o local que lhes foi destinado é o ideal, não se tendo sentindo limitados para ajudar as suas mulheres.

Palavras chave: pai, preparação para o parto, saberes, competências.

ABSTRACT:

The childbirth preparation offers the couple moments of sharing experiences and the possibility of greater involvement of the father at birth. This study used a qualitative methodology exploratory and the sample, selected by convenience, consists of 10 fathers who participated in the classes of preparation for childbirth. The objective is to understand what are the Knowledge and Skills of the Father with Childbirth Preparation for Labor and Delivery. To this end, we applied semi-structured interviews and their interpretation appealed to the content analysis, based on reference Bardin (2009). The results show that parents sought information and support from health professionals and found the sessions to prepare for childbirth very important, having obtained them knowledge and skills that enabled them to help their women. In some cases reported feeling better prepared and less anxious for the time of labor and delivery. This study also revealed that health professionals are increasingly awake to parent involvement and that they considered that the site they have been allotted is ideal, not having feeling limited to aid their wives.

Key words: father, childbirth preparation, knowledge, skills.

INTRODUÇÃO:

Nos dias de hoje, a gravidez não é vivida apenas pela mulher, é um período do casal, de vivência conjunta de muitas emoções e expectativas, e que será recordado, por estes, como um momento único nas suas vidas.

Mas esta nova visão de englobar o pai e atribuir-lhe um papel cada vez mais ativo em todo o processo de gravidez, trabalho de parto e nascimento, não é inovadora. Como refere Couto (p. 45, 2002), “em certas culturas, como as africanas, o pai tem um papel tanto ou mais importante que a própria parturiente, no entanto, noutras, o pai não tem qualquer função no nascimento do seu filho.” O mesmo autor refere, ainda, que em Portugal se verificam as duas situações, devendo-se este facto às infra-estruturas das nossas unidades hospitalares. No entanto, tem-se comprovado um melhoramento significativo dessas infra-estruturas com o intuito de proporcionar um ambiente mais acolhedor e uma prestação de cuidados mais adequada aos casais.

Por outro lado, Frydman (cit. por Camus, 2002) refere que nunca se deve obrigar o futuro pai a estar presente ao lado da sua companheira, este deve poder entrar na sala de partos, sair e regressar com toda a flexibilidade. Refere, ainda, que, caso tenha participado nas sessões de preparação para a parentalidade, e se for esse o seu desejo, deve poder acompanhar a mulher/companheira nos períodos de esforço e de descanso, participar nos ritmos de respiração, assegurando assim um papel de apoio ativo e tornando este um momento de cumplicidade e reconforto insubstituíveis. Para o homem, a sua participação no trabalho de parto será o culminar de todo o seu investimento emocional ao longo da gravidez, absorvendo todos os sentimentos descritos pela companheira, observando o feto em crescimento pelas ecografias, ouvindo-o pela auscultação dos ruídos cardíacos fetais e sentindo-o quando toca no ventre materno.

A Organização Mundial de Saúde refere que os cuidados pré-natais e no pós-parto devem ser dirigidos à família e centrados nas necessidades da mulher, filho e companheiro.

Nesse sentido, as aulas de preparação para o parto não podem nem devem ser dirigidas apenas à mulher. É uma prioridade envolver os pais, que assim o queiram, e permitir que estes adquiram competências para que a sua presença na sala de partos seja cada vez mais ativa e gratificante. Assim, é muito importante conhecer as opiniões, expectativas e competências do pai durante o trabalho de parto e parto para que os profissionais de saúde possam direcionar da melhor forma a sua intervenção, procurando sempre o bem-estar do casal num momento tão importante das suas vidas.

Deste modo surge a presente investigação, cujo objeto de estudo se centra nos “Saberes e Competências do Pai com Preparação para o Parto durante o Trabalho de Parto e Nascimento”.

Com esta investigação pretende-se saber como é que os pais que realizam sessões educativas de preparação para o parto junto com as suas mulheres/companheiras mobilizam posteriormente os saberes adquiridos para as ajudar durante o trabalho de parto e nascimento. Pretende-se, também, aferir se os saberes adquiridos correspondem não só às suas expectativas anteriores como também à experiência vivida no momento do trabalho de parto e se as sessões formativas de preparação para o parto se adequam às suas reais necessidades.

METODOLOGIA:

Para a realização deste estudo foi utilizada uma metodologia qualitativa, de cariz exploratório. A amostragem selecionada por conveniência é constituída por 10 pais que participaram nas aulas de preparação para o parto, na USF Garcia de Orta e no Centro Português de Preparação para o Parto – In Útero, e que posteriormente assistiram ao trabalho de parto e parto das suas companheiras. Os dados foram obtidos através da aplicação de entrevistas semiestruturadas e para a sua interpretação recorreu-se à análise de conteúdo, tendo por base de referência Bardin (2009).

RESULTADOS:

Da análise dos dados, emergiram seis categorias principais: expectativas, valorização da preparação para o parto, sentimentos vivenciados durante o trabalho de parto e parto, saberes adquiridos, ambiente e atitude do pai.

Nas entrevistas realizadas, relativamente à importância atribuída pelos pais à preparação para o parto, foram identificadas duas categorias, designadas por: expectativas e valorização da preparação para o parto. A estas foram ainda atribuídas subcategorias que estão descritas na tabela abaixo citada.

Tabela 1: Importância da preparação para o parto

Importância da preparação para o parto

Da análise dos depoimentos constatou-se que as principais expectativas que os pais têm relativamente às aulas de preparação para o parto é a obtenção de informação/conhecimento e o apoio dos profissionais no sentido de os ajudarem a perceber qual a sua função e de como poderiam ajudar a mulher durante o trabalho de parto e parto. Assim, as principais subcategorias que emergem são: informação, conhecimento e apoio.

Relativamente à categoria valorização da preparação para o parto emergem como subcategorias “vontade em participar” e “importância das sessões informativas”. Através da análise dos depoimentos, podemos verificar que, tal como nos refere May (cit. por Lis et al., 2004), temos três estilos paternos, relativamente ao seu envolvimento na gravidez: o pai observador, que frequenta as aulas mas um pouco contrariado e achando que é mais direcionado para a mulher. O pai expressivo que, embora seja a mulher a procurar informações sobre o curso revela vontade em participar. E o pai instrumental que revela uma vontade e responsabilidade em participar e acompanhar a mulher em tudo que se relacione com a gravidez e a preparação para o parto.

Apesar das diferenças de estilo parental, já referidas, todos os participantes mencionaram que tinha sido bastante importante terem participado nas aulas de preparação para o parto, tendo-se revelado fundamental para o seu desempenho na altura do trabalho de parto e parto.

Os pais têm grandes expectativas e curiosidade em relação ao trabalho de parto e parto. No entanto, este acontecimento único nas suas vidas causa uma complexidade de sentimentos, tanto positivos como negativos tal como podemos constatar no nosso estudo. Neste sentido surgem as subcategorias a seguir descritas.

Tabela 2: Pai durante o trabalho de parto e nascimento

Pai durante o trabalho de parto e nascimento

Em alguns depoimentos podemos verificar, tal como nos referem Lowdermilk e Perry (2008), que os sentimentos de um homem que é pai pela primeira vez vão-se alterando ao longo do trabalho de parto. Apesar de no início aparentar estar calmo, sentimentos de medo e impotência começam a dominá-lo à medida que o trabalho de parto se torna mais ativo e, por vezes, acontecem coisas que não imaginava ou não estava à espera.

Tendo por base os saberes de Malglaive (1995) emergiram as subcategorias abaixo descritas.

Tabela 3: Saberes e competências do pai com preparação para o parto

Saberes e competências do pai com preparação para o parto

Através dos depoimentos recolhidos verificamos que a aquisição dos saberes teóricos foi unânime, considerando-se estes como os conhecimentos necessários para ajudarem a mulher.

No entanto, alguns dos entrevistados, para além de terem adquirido os saberes teóricos, conseguiram colocar esses conhecimentos em prática, passando a demonstrar a aquisição de saberes processuais e no desenvolvimento das ações revelaram também terem conseguido adquirir os saberes práticos.

Para que os pais consigam colocar em prática os conhecimentos adquiridos é necessário que as instituições estejam preparadas e os profissionais despertos e motivados para os englobar nos cuidados prestados.

Assim, com o intuito de percebermos como é que os pais se sentiram, tanto a nível de espaço físico como a nível de apoio profissional, surgiram as categorias e subcategorias descritas na tabela abaixo citada.

Tabela 4: Mobilização dos saberes e competências adquiridos nas aulas de preparação para o parto

Mobilização dos saberes e competências adquiridos nas aulas de preparação para o parto

Relativamente à estrutura física do serviço, os entrevistados referem que o local existente para o pai, no bloco de partos, era o mais adequado. No entanto, em alguns depoimentos, verificamos que os pais consideraram importante serem questionados acerca do seu bem-estar.

Na subcategoria “atitude os profissionais”, alguns depoimentos revelaram uma grande abertura por parte dos profissionais, procurando envolver o pai nos cuidados, favorecendo a liberdade de movimentos e mostrando uma atitude de empatia com os casais.

Relativamente à subcategoria “atitude do pai”, foi, também, possível verificar os diferentes papéis desempenhados pelos pais, ao longo do trabalho de parto, referidos por Chapman (cit. por Bobak et al., 1999). Temos então três papéis que o homem pode adotar durante o trabalho de parto e parto: o de orientador, como membro da equipa e de observador. Como orientador, mostra uma grande necessidade de se controlar e de controlar o trabalho de parto; neste a mulher mostra um grande desejo de que o pai esteja fisicamente envolvido no trabalho de parto.

Como membro da equipa o pai ajuda a mulher durante o trabalho de parto e parto através do apoio físico e emocional de ambos; neste a mulher exprime um grande desejo de ter o pai presente a ajudá-la de qualquer maneira.
No papel de observador este atua como companheiro fornecendo apoio emocional e moral; no entanto, não tem qualquer outro tipo de participação mais ativa, podendo até se ausentar por longos períodos. Neste tipo de papel o pai acha que tem pouco para fazer, observando apenas o que está a acontecer e as mulheres também não esperam mais do que a sua presença.

CONCLUSÃO:

Através desta investigação foi possível concluir que a preparação para o parto surge como forma de adquirir saberes e competências e embora os pais revelem diferentes formas de envolvimento na gravidez, na sua maioria, consideraram muito importante a participação nas aulas. Durante o trabalho de parto e parto houve uma grande variedade de sentimentos. Revelaram a aquisição de saberes teóricos, revelando na prática a aquisição de saberes processuais e consideraram o local adequado para colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo das aulas.

Sentiram necessidade de apoio por parte dos profissionais, o qual nem sempre foi o mais adequado e através das suas formas de atuação no bloco de partos foi possível identificar os diferentes tipos de papéis referidos por Chapman.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARDIN, L. – Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.
BOBAK, I. [et al.] – Enfermagem na Maternidade. Quarta edição. Loures: Lusociência, 1999.
BRANDÃO, S. – Envolvimento Emocional do Pai com o Bebé: Impacto da Experiência de Parto. Porto: Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, 2009. Dissertação de Mestrado em Ciências de Enfermagem.
CAMUS, J. – O Verdadeiro Papel do Pai. Porto: Ambar, 2002.
CARVALHO, M. – Participação dos pais no nascimento em maternidade pública: dificuldades institucionais e motivações dos casais. Caderno de Saúde Pública, vol. 19, nº 2, p. 389-398, 2003.
COUTO, G. – Preparação para o Parto, Representações Mentais de um Grupo de Grávidas de uma Área Urbana e de uma Área Rural. Porto: Universidade do Porto, 2002. Dissertação de Mestrado.
DELLMAN, T. – “The best moment of my life”: A literature review of Fathers’ experience of childbirth. Australian Midwifery, vol. 17, nº 3, p. 20-26, 2004.
LIS, A. [et al.] – Parental styles in prospective fathers: A research carried out using a semistructured interview during pregnancy. Infant Mental Health Journal, vol. 25, nº 2, p. 149-162, 2004.
LOWDERMILK, D. e PERRY, L. – Enfermagem na Maternidade. 7ª edição. Loures: Lusodidacta, 2008.
MALGLAIVE, G. – Ensinar Adultos 16: Coleção Ciências da Educação. Porto: Porto Editora, 1995.
PICCININI, C. [et al.] – O Envolvimento Paterno durante a Gestação. Psicologia: Reflexão e Crítica, vol. 17, nº 3, p. 303-314, 2004.
PIRES, A. – Aprendizagem de adultos: contextos e processos de desenvolvimento e reconhecimento de competências. Seminário Novos Públicos no IPS. 21 Maio Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Setúbal, 2008.