Em Portugal, o Trauma é a patologia que causa mais mortes, por acidente de viação. Cerca de 30% desta mortalidade poderá ser evitada se estas vitimas receberem assistência especializada nas primeiras horas.
Albino Gomes
Enfermeiro Pós Graduado em Ciências Criminais
Mestrando em Medicina Legal e Ciências Forenses
Palavra-chave: Resgate; triagem; catástrofe; desastre; evacuação de feridos
Resumo
Em Portugal, o Trauma é a patologia que causa mais mortes, por acidente de viação. Cerca de 30% desta mortalidade poderá ser evitada se estas vitimas receberem assistência especializada nas primeiras horas. Assim sendo, é muito importante dispor de um sistema de socorro e triagem para assistência a situações de múltiplas vítimas. Em geral, para realizarem o transporte de um doente, a equipa de saúde deve estabelecer as condições mínimas de transporte para o doente, determinando: via aérea permeável, mecânica respiratória adequada; pressão arterial média estável, imobilização cervical, dorso-lombar e pélvica, e, controlo da dor e agitação psicomotora.
Factores a analisar num socorro:
- Tempo de transporte
- Comunicações
- Triagem
- Tipo de doentes
- Carências hospitalares
- Organização intersectorial e interinstitucional
TRIAGEM EXTRA E INTRAHOSPITALAR
Desastre
Define-se como uma situação súbita em que os recursos existentes para a assistência dos doentes é insuficiente face às necessidades imediatas. Do ponto de vista médico, corresponde a todo o evento que provoca um número total de vítimas que superam a capacidade de assistência médica habitual de uma localidade. O mais importante perante esta situação que, em geral ocorre de uma forma imprevista, grave e imediata, é que se responda eficientemente através de uma boa planificação e organização.
Classificação
Os desastres podem classificar-se de acordo com a natureza que os provoca, podendo distinguir-se da seguinte forma:
Naturais
- Tectónicos (erupções, tempestades)
- Meteorológicos (inundações, furacões)
- Topológicos (avalanches, desabamentos)
Provocados pelo Homem
- Contaminações químicas
Intoxicações maciças (gases, explosões)
- Incêndios
- Acidentes
- Vítimas de violência social
- Explosões
A experiência dá conta que os erros que se cometem quando não existe uma planificação para enfrentar os desastres, origina a realização e actualização de planos de emergência, bem como a realização de simulacros. A finalidade de um plano de emergência consiste em providenciar ao maior número de vítimas possíveis, assistência médica que reduza ao mínimo a morbilidade e mortalidade. Isto pode conseguir-se através de:
- Estabelecimento de um posto de comando
- Rápida avaliação da magnitude do desastre (número de vítimas, localização)
- Avaliação da necessidade urgente de recursos (dinheiro, técnicos e tecnologias)
- Selecção de uma área de triagem, que vai corresponder ao primeiro nível de assistência
- Administração dos primeiros socorros imediatos
Comunicações expeditas (uma via única) Todas estas acções podem ser prejudicadas e dificultadas por vários factores, sendo o mais importante quando: os elementos que prestam assistência não estão preparados, por falta de organização e coordenação, originando assim anarquia e confusão.
Posto de Comando
O posto de comando organiza e coordena todas as acções que se vão desenvolver. Este posto deve ser formado pelo seguinte pessoal:
- 1 Representante da polícia (ordem e segurança)
- 1 Representante dos bombeiros (resgate e transporte de vítimas)
- 1 Coordenador médico (assistência médica)
- 1 Representante da Cruz Vermelha Portuguesa
- 1 Representante da Protecção Civil (administração)
Todo o grupo deve estar identificado da mesma forma, para serem reconhecidos por todas as pessoas que se encontram a prestar colaboração. Esta identificação poderá ser por exemplo uma pulseira da mesma cor. As funções do posto de comando podem-se resumir da seguinte forma:
- Avaliação da magnitude do desastre e qual a sua natureza (número de vítimas; local e vias de acesso);
- Coordenação das diferentes acções na área do desastre;
- Delimitação da zona afectada;
- Estabelecimento de medidas de segurança;
- Manutenção de um sistema de comunicação eficaz;
- Manutenção de um posto de informação pública;
Coordenador médico
Está encarregado de levar a cabo toda a gestão das equipas médicas. Geralmente está a cargo de um médico com experiência em catástrofe, mas na sua ausência, poderá ser representado por um enfermeiro com as mesmas características. As funções do coordenador médico podem resumir-se da seguinte forma:
- Organizar e coordenar a assistência médica de emergência;
- Coordenar a mobilização e transporte de vítimas;
- Distribuir funções ao pessoal da equipa médica;
- Designar um responsável pela triagem.
ORGANIZAÇÃO IDEAL DO CENÁRIO DE CATASTROFE
O ideal é existirem áreas que permitam uma adequada abordagem das pessoas que rodeiam a situação: familiares, comunicação social, equipas de socorro. Assim, deve designar-se uma área de triagem, que se subdivide em 4 sub áreas, designadas por cores: cor vermelha (vítimas com prioridade de assistência e transporte), cor amarela (segunda prioridade), cor verde (terceira prioridade), e cor preta (sub área onde de colocam as vítimas cadáveres). Deve designar-se ainda uma área para o posto de comando, uma outra área para o depósito de recursos materiais e por fim, uma área para prestar informações à comunicação social.
AVALIAÇÃO DAS VÍTIMAS DE CATASTROFE -TRIAGEM EXTRAHOSPITALAR
Para avaliar as vítimas de um desastre existe um único procedimento que permite dar o máximo de benefício à maioria das vítimas, o qual é conhecido por triagem. Triagem é um termo francês que significa “classificação e selecção de feridos de guerra ou de um desastre, para determinar prioridade de necessidades e um lugar adequado de tratamento”. O objectivo da triagem é classificar rapidamente os feridos, em função do benefício que os mesmos obtenham na assistência médica. Não se considera exclusivamente a gravidade das lesões para determinar a prioridade da assistência. Podemos portanto deduzir que, a prioridade maior é concedida às vítimas que são assistidas, porque as suas lesões podem modificar drasticamente o seu prognóstico vital. Por outro lado, as vítimas que se encontram em fase mórbida e que o seu prognóstico é muito reservado, são aquelas que apresentam prioridade baixa. O responsável pela triagem dispõe de 60 segundos, por cada vítima, para realizar uma avaliação que lhe permita definir as prioridades de assistência e transporte de cada vítima.
Área de Triagem
Corresponde à área física onde se recebem as vítimas, depois de terem sido resgatadas. Neste lugar vai ser efectuado um exame físico para atribuir prioridades de tratamento e transporte para os hospitais de referência. Esta área está a cargo da equipa médica (médicos, enfermeiros e tripulantes). Como já foi referido anteriormente, esta área está subdividida em quatro sub áreas, cada uma delas designadas com bandeiras de cor vermelha, amarela, verde e preto, onde vão sendo distribuídos os doentes de acordo com a prioridade atribuída.
Procedimento de Triagem
A primeira ordem que se deve dar é pedir às vítimas conscientes que se levantem e caminhem. Os que poderem fazê-lo, por meios próprios, destinam-se à zona verde. Em seguida, deve dar-se início à triagem. Esta categorização vai realizar-se tendo em conta três parâmetros: ventilação, perfusão e estado de consciência.
Ventilação – avalia-se se a vítima respira ou não, e atribui-se a prioridade, de acordo com o seguinte:
- Se não respira: vítima morta
- Mais de 30 ciclos respiratórios por minuto: prioridade máxima
- Menos de 30 ciclos respiratórios por minuto: prioridade baixa
Perfusão – avalia-se o pulso radial (por palpação). Deve ter-se em conta o ponto anterior (ventilação): é mais importante para atribuir uma prioridade através deste ponto. Tem que se considerar que existe uma respiração adequada. Atribui-se a prioridade da seguinte forma:
- Pulso radial presente: prioridade baixa
- Pulso radial ausente: prioridade imediata
Consciência – avalia-se em terceiro lugar e da seguinte forma:
- Responde a ordens simples: prioridade baixa
- Não responde a ordens simples: prioridade imediata
Quando se fazem este tipo de avaliações, devem-se identificar as vítimas com um cartão. Estes cartões usam cores para identificar as prioridades de cada vítima, de tal maneira que o vermelho utiliza-se para identificar as vítimas que apresentam prioridade imediata; amarelo, 2ª prioridade; verde, 3ª prioridade e preto indica as vítimas cadáveres.
Cada cartão deve conter os seguintes dados:
- Nome da vítima
- Idade e sexo
- Assinalar num diagrama as zonas do corpo afectadas
- Apontar a terapêutica administrada (via e hora)
Colocar o nome da pessoa que realizou a triagem Este método é de fácil visibilidade, permitindo a identificação rápida dos dados da vítima, natureza da lesão e a prioridade atribuída para tratamento e transporte. Os feridos dispõem – se em ordem, em cada área de triagem, assinalada com a bandeira correspondente. A decisão de iniciar a assistência médica aos feridos, no local de desastre, dependerá do número de vítimas, da gravidade das lesões, do tempo de espera para a ajuda e da capacidade do pessoal e material disponível. Em geral, a assistência médica é dirigida para a prestação de socorro, que permita a sobrevivência da vítima.
CLASSIFICAÇÃO DE VÍTIMAS DE ACORDO COM A O.M.S.
Utilizando o código de cores que revemos anteriormente, este organismo (O.M.S.) categorizou certas patologias, dentro de cada grupo, para orientação no momento da avalização e atribuição da prioridade da vítima.
Desta forma, vamos distinguir os quatro grupos mencionados:
Código Vermelho (1ª Prioridade)
- Problemas respiratórios não tratados no local
- PCR (quando presenciada no momento)
- Hemorragia (1 litro de sangue)
- Perda de consciência
- Perfurações torácicas ou feridas abdominais penetrantes
- Algumas fracturas graves (pélvis, tórax, vértebras
- Queimaduras complicadas por compromisso da via aérea
Código Amarelo (2ª Prioridade)
Requerem cuidados, mas as lesões não são de tanta gravidade, que possam colocar a sua vida em perigo.
- Queimaduras tipo AB, com mais de 30% de superfície corporal comprometida
- Queimaduras tipo B, com mais de 10% de superfície corporal comprometida
- Queimaduras tipo B que envolvam áreas críticas, como mãos, pés e face, sem comprometimento da via aérea
- Queimaduras complicadas de fracturas
- Hemorragia com perda de sangue moderada (500cc)
- Lesões dorsais, com ou sem lesão da coluna vertebral
- Doentes conscientes com traumatismo craneoencefálico (confusão mental, hematoma subdural)
Os doentes que apresentam TCE, podem apresentar a seguinte sintomatologia:
- Saída de liquor pelo nariz ou ouvidos
- Aumento rápido da pressão sistólica
- Vómitos biliosos
- Pulso inferior a 60 bpm
- Anisocória
- Máscara equimótica
Código Verde (3ª Prioridade)
Nesta categoria incluem-se as lesões menores e lesões mortais. Incluem-se estas últimas nesta categoria, porque a possibilidade de sobrevida é baixa.
Lesões menores – não implicam risco de vida
Fracturas menores
Abrasões, contusões
Queimaduras menores
Queimaduras tipo AB, com menos de 25% da superfície corporal comprometida
Queimaduras tipo B, com menos de 2% da superfície corporal comprometida
Queimaduras tipo A, com menos de 20% da superfície corporal comprometida
Lesões mortais – poucas possibilidades de sobrevida
Queimaduras tipo AB e B, com mais de 40% da superfície corporal comprometida
Queimaduras tipo AB e B, com mais de 40% da superfície corporal comprometida,associadas a lesões craneoencefálicas ou torácicas
Lesões cranianas com exposição da massa encefálica e vítima inconsciente
Lesões craneoencefálicas com vítima inconsciente e fracturas graves
Lesões da coluna vertebral com ausência de sensibilidade e movimentos
Vítima com mais de 60 anos e com lesões graves
Código Preto
Vítimas cadáveres
EVACUAÇÃO DOS FERIDOS
É importante neste capítulo considerar alguns aspectos que nos vão ajudar a decidir, qual é a altura em que vamos transportar os feridos, que foram avaliados. Assim, a decisão vai depender dos seguintes factores:
O nº elevado de meios de transporte, congestiona a área de intervenção das equipas médicas.
A evacuação adequada das vitimas, diminui a mortalidade e morbilidade das mesmas
Deverá existir um sítio físico designado por comando de operações em que haja organização das ambulâncias e outros veículos de transporte, que permita o tráfego fluido de entrada e saída de veículos.
O transporte dentro da área de triagem deve ser feito em macas.
O coordenador da triagem decidirá o meio de transporte e o destino de cada ferido.
TRIAGEM INTRAHOSPITALAR
Corresponde à organização que deve ter o hospital que vai receber as vitimas do desastre. Para isso consideramos as seguintes regras:
1 – Os doentes devem entrar por uma única entrada
2 – Os doentes devem passar por uma área de triagem intra hospitalar para a classificação de doentes
3 – Deve existir um responsável pela triagem, cujo cargo deve ser atribuído a um médico com experiência, que delegue técnicas de reanimação a outros médicos.
O objectivo desta triagem intra hospitalar é o seguinte:
1 – Receber as vitimas do acidente
2 – Classificação rápida das vitimas para a sua condução à área de tratamento adequada
3 – Promover apenas o tratamento básico necessário para salvar a vida de uma pessoa (traqueotomia; toracocentese; hemóstase).
As funções do coordenador da triagem são:
1 – Supervisionar a área de triagem
2 –
Classificar doentes
3- Iniciar procedimentos básicos
- Atribuir uma pessoa para a supervisão e
coordenação do grupo de ambulâncias
- Assumir a responsabilidade da área de
triagem e do pessoal
4 – Verificar materiais e equipamentos
5 – Organizar os recursos da área de triagem.
OUTRAS ESCALAS DE TRIAGEM
TRIAGEM VERSUS ACTO CIRURGICO
(SAMU França)
- Hierarquia das lesões, em gravidade e em urgência vital
- Grau de preparação do ferido para intervenção
- Possibilidade de instalações operatórias e seu rendimento
- Tempos de espera pré-operatória a respeitarem em função das lesões inferior a 6 horas; de 6 a 18 horas; de 18 a 36 horas
TRIAGEM VERSUS EVACUAÇÃO (SAMU-França)
- As evacuações são possíveis e rápidas
- As evacuações são longas e difíceis
- As evacuações são mais ou menos impossíveis no imediato
CLASSIFICAÇÃO NATO
URGENTE
(Prioridade 1 – P1)
- Obstruções respiratórias de causa mecânica
- Traumatismos torácicos c/ volet
- Pneumotorax hipertensivo
- Lesões maxilo-faciais c/ comprometimento das VAS
- Shock hipovolémico por hemorragia interna
- Paragens cardíacas
- Lesões do SNC com deterioração do estado neurológico
IMEDIATA (Prioridade 2 – P2)
- Feridas toraxicas e abdominais instáveis
- Feridas vasculares inacessíveis com isquémia dos membros
- Amputações incompletas
- Fracturas abertas dos ossos longos
- Queimaduras por fósforo
- Queimaduras 2º e 3º graus (15 a 40% BSB)
EM ESPERA (Delayed – P3)
- Feridas podendo suportarem uma espera sem comprometimento na recuperação até 10 horas
- Feridas abdominais estáveis com lesões viscerais prováveis, mas sem hemorragias significativas
- Feridas maxilo-faciais sem alterações na permeabilidade das vias aéreas
- Feridas dos tecidos moles necessitando reparação
- Feridas vasculares com circulação colateral funcional
- Ruptura da arvore génito-urinário
- Fracturas necessitando de manobras de redução
- Feridas oculares
- Lesões do SNC s/ deteorização neurológica
- Queimaduras inferiores a 15% BSB s/ atingirem a face, mãos e aparelho genital
- Fracturas dos membros superiores
- Primeira fase sintomática, depois de exposição às radiações
- Suspeita “blast”
MORITURI (Excedida)
- Contaminado com convulsões
- Respiração agónica
- Shock grave c/ferimentos múltiplos
- Consequência de explosões mutilantes com lesões extensas e múltiplas
- Queimaduras do 3º grau superiores a 60% BSB
CLASSIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DO EXERCITO FRANCÊS
1. CONVENCIONAL
EXTREMA URGÊNCIA (EU-5% dos casos)
- Insuficiências respiratórias agudas por asfixia de origem torácica ou cervicomaxilo-facial
- Insuficiências cardio-circulatórias provocadas por grandes hemorragias não controladas
PRIMEIRA URGÊNCIA (U1 – 25% dos casos)
Intervenção até 6 horas
- A maioria dos politraumatismos
- Os grandes esfacelos dos membros
- As feridas do abdómen
- As hemorragias garrotadas ou não
- Os traumatismos crânio-encefálicos com coma e shock persistente
- As queimaduras graves superiores a 15% BSB
SEGUNDA URGÊNCIA (U2 – 30% dos Casos) Intervenção entre 6 e 12 horas
- As fracturas dos membros
- As feridas das articulações
- As feridas dos membros sem esfacelos
- Os traumatismos crânio-encefálicos sem coma
- As feridas determinando as especialidades de ORL, Oftalmologia, Estomatologia
- As queimaduras ligeiras
TERCEIRA URGÊNCIA (U3 – 40% dos casos) Intervenção de 12 a 24 horas
- As feridas ligeiras sem qualquer urgência cirúrgica
QUARTA URGÊNCIA (U4)
- As feridas ligeiras que necessitam de cuidados simples, examinados e tratados no local
2. NBQ
PO: Prioridade zero (20 a 25%)
- Feridos ligeiros com uma radiação inferior a 150 rads
P1: Prioridade 1 ( 10%)
- Feridos de gravidade importante U1 –U2 que necessitam de cuidados cirúrgicos num período inferior a 6 horas e em que a radiação continua moderada
- Queimaduras entre 15 a 20% de BSB
P2: Prioridade 2 (25%)
- Feridos que necessitando de cuidados cirúrgicos num período inferior ou igual a 18 horas (U2-U3), com doses superiores a 150 rads
P3: Prioridade 3 (15%)
- Feridos (U3) necessitando de cuidados cirúrgicos num período inferior a 24 horas com radiações de doses compreendidas entre 150 a 400 rads Queimados na face e ou mãos
P4: prioridade 4 (25 a 30%)
- Feridos muito graves (EU-U1) contaminados com radiações superiores a 400 rads
(PO e P4 aguardam ordenamento de evacuação)
CLASSIFICAÇÃO PARA VÍTIMAS DE
CATÁSTROFES EM TEMPO DE PAZ
(Segundo NOTO- LARCAN-HUGUENARD)
URGÊNCIAS ABSOLUTAS (UA)
- Gestos vitais assegurando a ventilação e uma hemodinâmica conveniente, não excluindo alguns gestos cirúrgicos elementares
- Evacuação prioritária em meio medicalizado
- As URGÊNCIAS ABSOLUTAS (UA) absorvem as EXTREMAS URGÊNCIAS (EU) e as PRIMEIRAS URGÊNCIAS (U1)
EXTREMAS URGÊNCIAS (EU)
- Determinam cuidados imediatos para assegurar a vida e permitir a evacuação
- Shock
- Insuficiência ventilatória aguda
- Origem central (intoxicação maciça, hipotermia profunda)
- Origem periférica (lesões cervico-maxilofaciais e toraxico-pulmonares
- Insuficiência cardio-circulatória
- Estados de colapso
PRIMEIRA URGÊNCIA (U1)
Necessitam de cuidados antes de qualquer evacuação, a qual terá que ser vigiada tecnicamente e intervenções cirúrgicas num período inferior às 6 horas
Politraumatizados sem insuficiência ventilatória
Traumatismos torácicos abertos ou fechados sem alterações ventilatórias severas
Feridas abdominais com hemorragias e sem shock
Feridas vasculares garrotadas
Fracturas abertas dos ossos longos
Grandes esfacelos de massas musculares dos membros
Feridas graves das nádegas e do períneo
Traumatismos craneo-encefálicos com coma profundo
Compressões importantes e prolongadas dos membros (+ de 4 horas) sem shock persistente
Traumatismos da coluna com alterações neurológicas
Queimaduras do 2º e 3º graus com 30 a 50% de BSB
Intoxicação por ingestão ou inalação com coma persistente
«Intoxicações por inalação com alterações ventilatórias progressivas
Feridas oculares transfigurantes ou/e penetrantes
”Blast” pulmonar com alterações ventilatórias
Afogados com coma persistente
Hipotermias entre os 28º e 32ºC
URGÊNCIAS RELATIVAS (UR)
- Gestos simples de estabilização de lesões
- Gestos cirúrgicos diferenciados sem riscos para o prognóstico
- Evacuação eventualmente diferenciada As URGÊNCIAS RELATIVAS (UR) absorvem as SEGUNDAS URGÊNCIAS (U2) e as TERCEIRAS URGÊNCIAS (U3)
SEGUNDAS URGÊNCIAS (U2)
- C
uidados cirúrgicos e/ou médicos num período de 4 a 8 horas
- Fracturas fechadas diafisárias
- Fracturas abertas dos ossos curtos
- Feridas das partes moles pouco hemorrágicas
- Escalpes moderados pouco hemorrágicos
- Traumatismos craneo-encefálicos com coma ligeiro
- Queimaduras de 2º e 3º graus, inferiores a 20% e superiores a 10% de BSB
- Luxações de grandes articulações sem sinais neurológicos
- Feridas oftálmicas e dos anexos
- ”Blast” OTL com sinais funcionais importantes
- Feridas das articulações
- Compressões dos membros de forma moderada e sem sinais de shock
- Intoxicações por inalação com desaparecimento da sintomatologia nervosa e ventilatória
- Intoxicações com manifestações cutâneas
TERCEIRA URGÊNCIA (U3)
- Cuidados cirúrgicos e/ou médicos num período até 18 horas
- Transporte sem vigilância especial
- Traumatismos fechados dos membros
- Pequenas feridas contusas
- Traumatismos craneo-encefálicos com perda de consciência inicial
- Contusões ligeiras abdominais e torácicas
- Queimaduras inferiores a 10% de BSB
URGÊNCIAS EXCEDIDAS
- Reagrupam todas as vítimas que apresentam lesões gravíssimas que não podem ser tratadas imediatamente e que apresentam poucas hipóteses de sobrevivência. Tal facto, não determina que não tenham acompanhamento sistemático, dentro do conceito de Medicina de Catástrofe.
- Afundamentos e esmagamentos toráxico-abdominais e craneo-encefálicos com insuficiência respiratória
- Queimaduras de 2º e 3º graus superiores a 80% de BSB
- Situação ventilatória pré-agónica acompanhada de lesões torácicas, abdominais ou craneo-encefálicas
- Feridas vasculares dos grossos vasos ao nível do pescoço sem possibilidade imediata de hemostase
URGÊNCIAS POTÊNCIAIS
- Lesões susceptíveis de apresentarem agravamento inopinado ou em consequência do transporte
- Podem ser consideradas situações integradas nas classes U1 ou U2
- Traumatismos abdominais e torácicos fechados
- ”Blast” pulmonar e abdominal
- Certas intoxicações por inalação
- Lesões em soterrados
- Associação de queimaduras e áreas topográficas GOODWIN TRIAGE (Emergency Medical Service-USA-1993)
PRIORIDADE I
Vítimas em grave risco de asfixia ou colapso cardio-circulatório com:
-Traumatismos torácicos
-Hemotorax maciço
-Tamponamento cardíaco
-Traumatismos toraxico-abdominais
-Traumatismos comprometendo as VAS
-Shock
PRIORIDADE II
- Vitimas estabilizadas em risco de shock
- Traumatismo abdominal aberto
- Queimaduras extensas
- Traumatismos craneo-encefálicos fechados com diminuição progressiva do estado de consciência
PRIORIDADE III
- Lesões raquidianas
- Lesões oculares
- Traumatismos das mãos
- Fracturas múltiplas
- Esfacelos extensos de áreas musculares
PRIORIDADE IV
Fracturas fechadas simples
- Feridas dos tecidos moles não complicadas
PRIORIDADE V
- Vitimas movimentando-se sem auxílio
TRIAGEM/CLASSIFICAÇÃO (Sociedade Espanhola de Medicina de Catástrofe-SEMECA)
PRIMEIRA CATEGORIA
Extrema urgência – Vermelho – Prioridade 1
- Paragem cardio-ventilatória presenciada
- Obstrução mecânica aguda das VA
- Traumatismo facial que produza ou que possa produzir asfixia
- Traumatismo torácico aberto
- Pneumotorax hipertensivo
- Shock hipovolémico grave
- Hemorragia interna activa
- Feridas cardiopericárdicas
- Traumatismo abdominal aberto com evisceração
- Esfacelo maciço
- Politraumatizado instável
- Queimados com + de 20% de BSB
- Envenenamentos por produtos químicos
- Complicações obstétricas activas
- Prolapso do cordão
- Deterioração progressiva do nível de resposta ou das funções vitais
- Lesões que devem ser assistidas no local afim de solucionar a lesão de evolução mortal
SEGUNDA CATEGORIA
Urgente – Amarelo – Prioridade 2
- Lesões que podem demorar 6 horas para a assistência e permite transladar a vítima até áreas de socorro
- Traumatismos abdominais, incluindo perfurações gastrointestinais
- Traumatismos rectroperitoniais
- Traumatismos torácicos sem asfixia
- Feridas vasculares que exigem cirurgia reparadora
- Todas as lesões que tenham exigido garrotagem
- Fracturas abertas
- Abdómen agudo
- Vitimas em coma
- Traumatismos craneo encefálicos com focalidade
- Politraumatizados
- Traumatismos abdominais abertos
- Dificuldades respiratória controlada
- Queimados com 20% de BSB
TERCEIRA CATEGORIA
Não urgente – Verde – Prioridade 3
- Lesões que podem ser assistidas em prazos superiores a 6 horas, sem risco de morte para a vítima, mesmo que possam ficar sequelas do ponto de vista funcional
- Traumatismos crânio-encefálicos que exijam descompressão
- Feridas musculares
- Polifracturados
- Contusões torácicas
- Fracturas dos ossos longos
- Lesões menores que podem ser atendidas num período depois das 24 horas em unidades de retaguarda
- Fracturas dos ossos curtos
- Luxações
- Feridas menores
- Feridas oculares
- Lesões maxilo-faciais sem quadros psicológicos nem patologia anterior
QUARTA CATEGORIA
Cinzento/Preto
- Cadáveres
- Vítimas sem possibilidade de sobrevivência
- Paragem cárdio-respiratórias não presenciadas
- Traumatismos crânio-encefálicos com perda de massa encefálica
- Destruição múltiplo orgânicas
TRIAGEM PARA PRIORIDADES DE TRATAMENTO
(Recomendado pelo USDOt – United States of Transportation)
1º GRUPO
- Obstruções das vias aéreas superiores
- Traumatismos torácicos abertos
- Apneia
- Paragem cardíaca (consequência de trauma)
- Hemorragia maciça
- Pneumotórax hipertensivo
- Tamponamento cardíaco
- Choque iminente
- Hemotórax maciço
2º GRUPO
Feridas na cabeça
- Evisceração
- Fracturas abertas
- Traumatismos raquidianos
3ºGRUPO
Fracturas simples
- Feridas não complicadas
Conclusão:
A chave de uma boa assistência médica em situação de catástrofe, em primeiro lugar prende-se com boa formação dos intervenientes no socorro; em segundo lugar na coordenação e organização de meios por parte do coordenador da operação em terceiro lugar uma triagem bem executada. Um bom sistema de triagem e socorro, irá possibilitar que aumente a taxa de sobrevivência das vítimas.
Bibliografia:
- SCALETTA, Thomas A. And SCHAIDER, Jeffrey J.; Emergent management of trauma; USA; Mc graw-Hill; 1996
LABORIE, Jean Marc; Reanimation et urgences pré hospitalieres ; Paris ; Éditions Frison roche ; 1992
- RYAN, James e MAHONEY, Peter F.; Conflict and catastrophe medicine; USA; Springer; 2003
- NOTO, R. C. Huguenard; Médecine de catastrophe; Paris; Ed. Masson; 1994
- STONE, C. Keith and HUMPHRIES, Roger L.; Current emergency diagnosis and treatment; USA; International Edition; 2004
- HAMILTON, Glennec and SANDERS, Arthur B.; Emergency medicine: an approach to clinical problem-solving; USA; Saunders Ed.; 2003
- TRAUMA, Sociedade Argentina de medicina e cirurgia; Trauma prioridades; Buenos Aires; Editorial médica panamericana; 2002
- DOLAN, Brian and HOLT, Lynda; Acident and emergency: theory into practice; USA; Bailliere Tindall Ed.; 2000