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Reflexão: Contracepção na Amamentação

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Revista Sinais Vitais

Num mundo em mutação contínua, as novas concepções e a experimentação de novos projectos são privilegiados em detrimento do pensamento rotineiro e de visões tradicionalistas. A vida humana é o reflexo perfeito de construções sociais em mutação constante.

Sinais Vitais nº 66

REFLEXÃO

Esmeraldina de Jesus Pires Raposo (Enf. Especialista Saúde Infantil e Pediátrica, Responsável Área Saúde da Mulher e Criança no Centro de Saúde de Vimioso)

Sónia Cristina Cordeiro Felgueiras (Enfermeira nível, Centro de Saúde Vimioso)

“Para uma reflexão sobre os obstáculos á contracepção vivênciados na periferia”.

A acção da enfermeira de saúde comunitária, desenvolve-se em continua inter-relação com o utente e família. Centraremos a nossa reflexão nas relações que se devem estabelecer entre a enfermeira e o utente (utilizador dos serviços de saúde) no desenrolar da consulta de planeamento familiar. Depois de um parto toda a mulher precisa de se restabelecer e se dedicar aos cuidados de seu filho, recomendando- se um intervalo de, pelo menos dois anos antes da nova gravidez. Torna-se prioritária a nossa intervenção como enfermeiras, junto das nossas utentes, providenciando educação para a saúde, personalizada e adaptada à capacidade de compreensão de cada uma.

Todas as questões devem ter respostas concretas em bases científicas, por forma a encontrarem um apoio activo, empenhado e dinâmico do pessoal de saúde em prol de uma vida sexual satisfatória e segura, desmistificando o problema da contracepção oral quando a mulher amamenta, bem como a importância da mesma no reatar de uma vida sexual activa e segura do casal.

Estamos conscientes, que só uma relação de empatia gerará a serenidade e confiança indispensáveis para a eficácia e sucesso dos cuidados a prestar. Vivemos numa época de mudança social, prodigiosos avanços científicos e tecnológicos colocam o ser humano numa situação de permanente adaptação e procura, relacionada com a actualização de conhecimentos. Num mundo em mutação contínua, as novas concepções e a experimentação de novos projectos são privilegiados em detrimento do pensamento rotineiro e de visões tradicionalistas. A vida humana é o reflexo perfeito de construções sociais em mutação constante.

O planeamento familiar é uma área específica e reveste-se de características peculiares às quais a enfermeira deve estar atenta, informada e consciente.

Satisfazer as necessidades do utente, saber diagnosticar e intervir perante alterações bio-psico-sociais e manter uma relação de ajuda com o utente, são as intervenções que a enfermeira da área de saúde comunitária deve utilizar na sua actuação. A complexidade e o contexto sócio cultural de cada comunidade conferem a cada utente características peculiares que interferem nas intervenções de enfermagem.

É fundamental termos em conta que as implicações de ordem psicológica que advém da aceitabilidade de um método contraceptivo oral durante a amamentação se sobrepõem por vezes, dominando e inibindo a função sexual da mulher. A escolha de um determinado método tem por base determinados pressupostos: ser seguro, eficaz, reversível e aceite pelos dois membros do casal do ponto de vista emocional, afectivo e motivacional.

O aconselhamento é crucial, em particular para os casais que vão utilizar anticoncepcionais pela primeira vez. Devem respeitar-se os seus valores, crenças, nível sócio cultural e o nível de desenvolvimento pessoal para assim podermos compreender as motivações do casal na escolha de um método. É em nossa opinião  fundamental ter em conta os efeitos psicológicos que advém da utilização dos diferentes métodos contraceptivos, com destaque para a contracepção oral na amamentação, tentando integrá-la de forma a criar uma relação empática com a utente, saber escutar e estabelecer um clima de confiança, demonstrando que o julgamento moral (opiniões pessoais) não pode interferir com o acto científico.

A má receptividade deste método contraceptivo reflecte-se no tipo de mulher conservadora, resistente à mudança, sem querer abandonar o seu comportamento tradicional, manifestando uma atitude negativa face à sua utilização por medo de prejudicar o filho através do aleitamento materno. Assim sendo, torna-se indispensável para o sucesso do aleitamento materno e para o reatar de uma vida sexual do casal, que ambos procurem informação adequada nos profissionais de saúde a fim de uma adaptação gradual à mudança e que não se rejam por mitos que vão interferir na sua qualidade de vida e por sua vez na eficiência e eficácia dos cuidados a prestar.

Para obter o êxito que se pretende nos cuidados a estas utentes nós, enfermeiras, devemos desenvolver competências cognitivas, metodológicas e relacionais, estar motivadas e empenhadas na melhoria do desempenho profissional, a fim de proporcionar aos nossos utentes cuidados de alto nível de qualidade, tornando possível a reformação contínua dos nossos actos, de modo à satisfação dos que servimos e principalmente dos que são servidos.