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Projeto inova na ajuda a doentes com anorexia dos 14 aos 60 anos

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Funciona na Clínica Psiquiátrica de S. José, em Lisboa, e é a primeira resposta nacional de Hospital de Dia para perturbações do comportamento alimentar como a anorexia – que tem uma elevada taxa de mortalidade por desnutrição e suicídio -, permitindo que as doentes frequentem atividades terapêuticas, num esquema que não corta a ligação à vida familiar e social.

 

O projeto RIPA – Resposta Integrada para Perturbações Alimentares “traz de novo uma resposta para situações diferentes”, disse a psiquiatra Dulce Bouça, que reconhece que a equipa do Hospital de Santa Maria, onde trabalhou vários anos, é a que tem “maior experiência para tratar estas situações em internamento completo”.

No entanto, defende que, após o ‘isolamento’, as doentes acabam por se confrontar com as mesmas dificuldades.

Sublinha que o internamento completo “tem a preocupação de tirar as pessoas do risco de vida e recuperar o estado metabólico e nutricional”, mas insiste: “As pessoas não ficam internadas o resto da vida a tratar-se e estas doenças demoram muito tempo a recuperar”.

“Quando estão internadas a tempo completo, há uma espécie de bolha que as protege do contacto com as suas dificuldades, portanto, recuperam, saem do risco de vida e isto é muito importante. Mas depois, quando voltam, voltam para o ambiente de que estiveram separadas”, explica a psiquiatra, que lidera o projeto RIPA, acrescentando: “Provavelmente não aprenderam a lidar com essas situações, nem as famílias”.

No RIPA – Resposta Integrada para as Perturbações do Comportamento Alimentar, “as famílias fazem parte ativa do trabalho da equipa”.

“São dadas instruções, ideias, sugestões e isto é trabalhado de modo a que as famílias mantenham uma atuação daquilo que é sugerido quando as doentes estão em casa. Para que não seja uma coisa que corre bem no hospital e quando vão para casa começa tudo a correr mal”, explicou.

O projeto arrancou há um ano e meio e a concretização inicial contou com o financiamento do BPI Fundação La Caixa.

Até agora, a equipa conseguiu prevenir o agravamento, evitar a necessidade de internamento hospitalar, ou até mesmo a remissão da doença em 90% das 30 mulheres jovens que acompanhou.

A maioria delas já tinha a doença há vários anos — “algumas há 15 ou 20 anos” -, tinha passado por vários internamentos, estavam em acompanhamento, mas tudo “estava muito estagnado”, explicou Dulce Bouça.

Pelo RIPA passaram doentes dos 14 aos 60 anos, com um tempo de internamento de pouco mais e um mês.

Quando saem do hospital de dia e “vão para a vida”, continuam em acompanhamento psiquiátrico e psicológico, com intervenção nutricional e acompanhamento da família.

Dulce Bouça conta que a maioria das mulheres acompanhadas pelo RIPA “não teve novos internamentos”, mas continua em tratamento, porque “o problema não fica resolvido”: “O hospital de dia é ‘trigger’ para tudo correr melhor daí para a frente”.

A equipa é constituída por profissionais de saúde que vão desde a psiquiatria à enfermagem, passando pela terapia ocupacional ou psicomotricidade.

Além dos profissionais de saúde, vão ao local professores de yoga, tai chi, teatro, expressão dramática, expressão artística (pintura ou desenho) e uma dietista.

O projeto tem atividades dirigidas à consciência do corpo, mas também outras que ajudam os doentes a descobrir novos interesses, competências e fontes de prazer que ignoravam. “Viviam apenas a pensar na comida e no controlo do corpo”.

Nas várias atividades trabalha-se também os aspetos emocionais e psicológicos que ao longo da doença foram alterando a vida pessoal, familiar e social destas mulheres.

“Se não houver uma mudança dos doentes, mas também das famílias, que quando entregam os seus doentes para tratamento estão muito desestruturadas (…), pode voltar tudo ao mesmo”, alerta Dulce Bouça, salientando a importância de criar uma ligação desta resposta com o Serviço Nacional de Saúde.

Defende que o Ministério da Saúde “dê atenção a estas questões da saúde mental e, particularmente, às doenças de comportamento alimentar” e pede uma “articulação próxima” entre as respostas no SNS e projetos como o RIPA, que podem ser parceiros a partilhar doentes e intervenções.

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Leia na íntegra em Notícias ao Minuto