A Enfermagem é uma profissão de cuidados transculturais, a única que se centra na promoção do cuidado humano para pessoas de uma forma significativa, respeitando os valores culturais e estilos de vida
Título
O cuidar multicultural como estratégia no futuro
The multicultural care as a strategy in future
Nursing nº252
Autores
Alexandra Maria Carapito Ramos Barradas, Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediátrica – Centro Hospitalar de Setúbal, EPE – Hospital de S. Bernardo, Mestre em Comunicação em Saúde.
João Paulo Vieira Rodrigues, Enfermeiro Graduado – Hospital de Santarém, EPE, Mestre em Comunicação em Saúde.
Maria Adelaide Pereira, Enfermeira Especialista em Reabilitação – Hospital Dona Estefânia, Mestranda em Comunicação em Saúde.
Resumo
Os enfermeiros no seu quotidiano contactam com diversas culturas e micro-culturas, existindo uma necessidade de adaptação destes para que o cuidar por eles desenvolvido seja empático, com ganhos para ambas as partes: a melhoria da situação de saúde por parte da pessoa que é cuidada e a aquisição de conhecimentos novos sobre a cultura em que se desenrola o processo de cuidados por parte do cuidador.
O cuidar na multiculturalidade revela-se como o futuro da enfermagem devido à situação mundial de mobilidade humana e à globalização.
Este fenómeno não foi esquecido pelas teóricas de enfermagem, que abordam este tema dando-lhe significativa importância.
Palavras-chave: enfermagem, cuidar, cultura, multiculturalidade, comunicação.
Abstract
The nurses in his/her everyday one, contact with several cultures and mini-cultures, existing a need of adaptation of these so that taking care for them developed is empathyc, with won for both parts: the improvement of the situation of health on the part of the person that is taken care and the acquisition of new knowledge on the culture in that the process of cares is uncoiled on the part of the caretaker.
Taking care in the multiculturalism, it is revealed as the future of the nursing due to the world situation of human mobility and to the globalization.
This phenomenon was not forgotten by the theoretical of nursing, that approach this theme giving him/her significant importance.
Keywords: nursing, care, culture, multiculturalism, communication.
Introdução
Quantas vezes é na nossa prática diária não nos deparamos com utentes/clientes de outras nacionalidades?
O fenómeno de emigração sofreu alterações significativas porque, nas duas últimas décadas do século passado, Portugal fornecia com mão-de-obra barata países como o Luxemburgo, a França, a Alemanha e em menor escala o Reino Unido. Hoje, o nosso país recebe emigrantes vindos da Europa do Leste, da África, da Ásia e da América Latina. Passámos assim de fornecedores a receptores.
Estes grupos de pessoas trazem com elas a sua cultura e a sua maneira de viver a saúde e a doença.
O cuidar infantil pode ter muitas variantes culturais e algumas barreiras, tais como a língua e crenças vindas de países distantes, podem dificultar o desenrolar do processo de cuidados e a comunicação entre a equipa de saúde e os pais.
Nos adultos, a barreira linguística pode bloquear a comunicação, havendo necessidade de recorrer a intérpretes para que o cuidar se possa desenrolar harmoniosamente.
Segundo NEVES (1999), “a rápida transformação da nossa sociedade moderna, mediatizada e multicultural, exige que os enfermeiros se formem cada vez mais para a interculturalidade/mundialidade e se dispam definitivamente de etnocentrismos, na abertura à diversidade das pessoas – doentes/utentes – que delegam neles o cuidar”.
O objectivo deste artigo é reflectir sobre a prática de cuidados na multiculturalidade, de maneira a que cada um possa arranjar estratégias para agir nestas populações.
O cuidar multicultural
De acordo com o “International Migration Report 2002” do Departamento das Nações Unidas o número de migrações duplicou desde os anos de 1970. Cerca de 175 milhões de pessoas residem fora do seu país de origem. (UNESCO, 2006).
A busca de melhores condições de vida, a guerra e a pobreza extrema em que as pessoas vivem nos seus países de origem, levam a que tentem medidas desesperadas, muitas vezes com o risco das próprias vidas, à procura de um local melhor para viverem.
No novo país de acolhimento, estas pessoas começam o processo de aculturação. O processo de aculturação provoca a perda, a aquisição, a transformação, a substituição e a reinterpretação de traços culturais dos grupos em presença.
Para Berry citado por RAMOS (2006), as mudanças comportamentais, (nomeadamente, na linguagem, nas atitudes, na identidade) e o stress de aculturação constituem dois tipos de respostas psicológicas à aculturação. Vários autores têm estudado os efeitos sobre o comportamento parental, muito em particular maternal, de uma mudança brusca de meio físico e sócio cultural originado pela migração segundo os grupos e modos de aculturação.
Certas práticas resistem melhor à aculturação, como destacou Stork (1986,1988) e Ramos (1993,1996) citado por RAMOS (2006), nomeadamente as práticas mágico-religiosas. Estas constituem um meio de protecção contra a angústia e “estranheza” da situação migratória.
Relativamente aos comportamentos familiares, mais concretamente às práticas de cuidados maternos, encontramos diferentes modalidades de aculturação. Esta poderá constituir uma aculturação sem problemas, caracterizada geralmente por uma aliança harmoniosa das práticas tradicionais (modo de transportar a criança, massagens, embalar na rede, nos braços, nas costas, manutenção da língua materna, etc.) com as práticas originárias da maternidade e do desenvolvimento, como a utilização de tecnologia doméstica e o recurso às estruturas de saúde e sócio-educativas disponíveis no país de acolhimento. (RAMOS, 2006).
Enquanto o processo de enculturação promove a adaptação do indivíduo às normas do seu meio, permitindo-lhe uma vida harmoniosa no grupo cultural a que pertence, o processo de socialização pressupõe a existência de uma influência directiva sobre a pessoa (Ramos citado por SOARES, 2003).
Ao processo de enculturação está directamente associada a noção de identidade sócio-cultural do indivíduo, que ocorre pelo sentimento de pertença a um determinado grupo social e cultural e, da mesma forma, de como se diferencia e é definido pelos restantes grupos da sociedade onde se insere (SOARES, 2003).
No entanto, e devido a cada vez mais existirem sociedades multiculturais, os indivíduos conhecem desde muito cedo outras culturas, outras formas de estar, de viver, sofrendo processos de socialização que lhes permitem perceber e adaptar-se a outras realidades culturais, distintas dos grupos a que pertencem (SOARES, 2003).
Mas afinal o que é a cultura?
Por cultura entende-se:
“o conjunto de traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afectivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças” (Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural citado por MARQUES, 2003).
A cultura acompanha-nos permanentemente, determinando a nossa forma de ver o mundo. Esta é moldada continuamente pelo percurso de cada um, sendo também fruto da influência da comunidade (FERNANDES, 2000).
Leininger definiu cultura comparando-a a um “guarda-chuva”, termo que indica a acumulação de experiências humanas na sua transformação para uma determinada forma de vida em relação a um grupo de pessoas (BOLANDER, 1998).
A cultura é um processo dinâmico, que está em permanente mutação. Esta evolução resulta dos próprios indivíduos que estão em constante crescimento e desenvolvimento, trazendo, dessa forma, novas formas de agir e de pensar ao grupo, mas também do contacto com outras pessoas e outros grupos com valores e tradições diferentes. Esta interacção permite uma maior capacidade de enfrentar novas situações e um desenvolvimento da sua capacidade de raciocínio e de destreza.
Segundo Bruner citado por RAMOS (2006) “a cultura é um conjunto de sistemas simbólicos, elaborados colectivamente e transmitidos de geração em geração, ela caracteriza-se igualmente como um conjunto de recursos interpretativos”. Também Hall citado por RAMOS (2006) define cultura como “um conjunto dos elementos aprendidos em sociedade pelos membros de uma determinada sociedade, e, estes elementos são acções, percepções e pensamentos (raciocínios, crenças, sentimentos, sensações”.
Partilhamos a síntese feita por RAMOS (2006) quando diz que cultura é “tudo o que se aprende de forma consciente ou inconsciente e que se pode transmitir e comunicar”.
Surge então outra questão: qual a importância da cultura?
O indivíduo desenvolve-se e cria a sua identidade dentro de uma determinada cultura. Esse desenvolvimento e crescimento harmonioso só são possíveis numa situação de saúde e de bem-estar. Com efeito, o indivíduo só evolui na ausência de doença, de enfermidade. Mas o que é a doença? É só a ausência de saúde? E não terá cada cultura o seu próprio conceito de saúde?
O desenvolvimento do ser humano está ligado à cultura e à saúde. É impossível falar destes três aspectos de uma forma isolada e independente. Esta tríade encontra-se intimamente relacionada, orientando e influenciando cada uma das suas concepções e contribuindo para a afirmação do indivíduo como membro de um grupo, de uma sociedade, do mundo com uma identidade única e inimitável.
Murrell citado por FRANÇA e MONTEIRO (2002) afirma que “a noção de identidade é central na compreensão e explicação das interacções e relações entre os grupos”. Ter consciência do que somos, o que representamos e a influência que temos nos outros, e que eles têm em nós, é crucial para percebermos qual o nosso papel num grupo e qual o contributo que podemos dar para enriquecê-lo.
Alguns conceitos importantes
É importante definir alguns conceitos que melhor nos ajudam a compreender o fenómeno.
Por multiculturalidade entende-se a diferença visível e secreta entre pessoas de diferentes grupos populacionais relativamente aos seus valores, crenças, linguagem, características físicas e padrões gerais de comportamento (Black citado por CONTENTE et al., 2001).
A multiculturalidade existente na actual sociedade leva à formação de subculturas. BOLANDER (1998) define sub-cultura como o “ (…) que é vivido por um grupo mais pequeno dentro de uma cultura”. As subculturas têm, assim, diferentes formas de viver a vida, distinguindo-as da cultura dominante.
A diversidade cultural é o conceito utilizado para demonstrar que existem diferenças entre as culturas, assim como entre as subculturas e a cultura dominante (BOLANDER, 1998). À diversidade cultural está subentendido a existência de grupos étnicos.
Por etnia/etnicidade/grupo étnico entende-se “ (…) um grupo de pessoas que dentro de uma sociedade alargada, partilham heranças culturais que foram transmitidas de geração em geração” (BOLANDER, 1998).
A etnicidade constitui todo um conjunto de práticas culturais e formas de entender o mundo que distinguem uma dada comunidade das restantes e fazendo com que um determinado grupo étnico se veja como culturalmente distinto de outros (GIDDENS, 2004). Assim, a etnicidade constitui um elemento central da identidade do indivíduo e do grupo, podendo fornecer “(…) uma importante linha de continuidade com o passado e é muitas vezes mantida viva através da prática de tradições culturais”.
BOLLANDER (1998), define etnocentrismo:
“Por etnocentrismo entende-se a ideia/convicção de que as próprias crenças, costumes e atitudes são melhores e mais correctas que as dos outros. Os costumes, comportamentos e atitudes de outros grupos são olhados como diferentes, imorais ou inferiores.”
Este grupo de indivíduos possui um conjunto de características: aparência física, língua que utilizam na comunicação inter-grupal, tipo de vestuário e adornos, hábitos e costumes, regras e normas de conduta por que se regem e tipo de estratificação social que desenvolvem que permite distinguir este grupo de outro existente (SOARES, 2003).
É sobretudo devido a essas diferenças culturais existentes que se podem criar incompatibilidades e até mesmo desenvolverem-se ideias estereotipadas e preconceitos perante determinados grupos étnico-culturais (SOARES, 2003).
O cuidar
O cuidar como disciplina envolveu numerosos teóricos de enfermagem que, de uma maneira exaustiva, demonstraram que esta prática não engloba apenas a prestação de técnicas invasivas ou procedimentos técnicos, mas o envolvimento do “eu” prestador que se “dá” também como pessoa e não apenas como técnico.
Segundo COLLIÉRE (1999)
“O campo da competência da enfermagem situa-se como um prolongamento, uma substituição daquilo que os utilizadores dos cuidados não podem, temporariamente, assegurar por si próprios, ou lhes é assegurado pelos que os cercam. Exerce-se por ocasião de determinadas circunstâncias da vida, e/ou quando há insuficiência de recursos do meio, por isso é sujeito a oscilações e à necessidade de ajustamentos”.
No entanto, o campo da competência da enfermagem não deixa de ser confuso e arbitrário se não existir uma clarificação do tipo de substituição a fazer.
Ainda segundo a mesma autora, (1999)
- O campo da competência da enfermagem, isto é, o domínio dos cuidados de enfermagem, situa-se, verdadeiramente na encruzilhada de um tríptico que tem como ponto de impacto o que diz respeito à pessoa, o que diz respeito à sua limitação ou à sua doença, o que diz respeito aos que a cercam e ao seu meio.
Nesta nova definição, a autora dá ênfase ao contexto da situação de saúde, que faz divergir o tipo de cuidados adaptados a cada um. Por exemplo, cuidar de uma gripe numa pessoa idosa pode requerer o seu internamento e a manutenção das suas actividades de vida, ao contrário de uma criança cuja mãe cuida dela no seu domicílio, se não houver complicações com a doença.
No processo de cuidados surge então a dimensão holística do homem, em que o seu meio, a sua cultura e as suas crenças são importantes para a qualidade dos processos de cuidados. Ainda para a mesma autora, (1999) o processo de cuidados tem de ter uma abordagem antropobiológica.
- Toda a situação de cuidados é uma situação antropobiológica, isto é, diz respeito ao homem inserido no seu meio, composto por todas as espécies de laços simbólicos, por isso, a abordagem antropológica parece ser a forma mais adaptada para descobrir as pessoas tratadas e tornar significativas as informações que transportam.
Começa então a ter muita importância, qual o contexto sócio-antropológico que o indivíduo tem, para que o processo de cuidados possa ser adaptado às suas necessidades, não somente vitais, mas também humanas.
Para a mesma autora, (1999) cuidar será:
- …mobilizar em alguém tudo o que vive, tudo o que é portador de vida, toda a sua vitalidade, o seu “vital power”, todo o seu potencial de vida, mas também toda a vida que tem em potência (…), procurar aquilo a que a pessoa ainda dá valor, como aquele olhar a uma pessoa querida, aquela mão que ainda deseja tocar.
A componente cultural começa a ser reparada por outra autora. Segundo LEININGER (1999) cuidar é:
- …essencialmente fornecer apoio, conforto, segurança e ajuda ao paciente (…) é transcultural, apela para a valorização das crenças que influenciam a forma como manifestam as suas necessidades de cuidados.
A cultura das pessoas começa a ser demasiado importante para podermos cuidar com qualidade. Se a nossa sociedade hoje é multicultural, devemos saber quais são as concepções de vida ou de morte para essas pessoas e ajustar os nossos procedimentos a essas realidades para que possamos criar uma relação terapêutica.
Para outra autora, HESBEEN (2001) cuidar é também relacional.
- …o encontro entre alguém que cuida e de alguém que é cuidado persegue um objectivo bem preciso, o de conseguir que esse encontro tenha como resultado criar laços de confiança (…) isto equivale de certo modo, a que quem é cuidado se diga acredito que este profissional pode ajudar-me na minha situação particular.
Uma outra autora WATSON (2002) vai mais longe criando a definição de cuidar transpessoal, onde entra também a componente espiritual. Esta teórica vai buscar conhecimento nas filosofias orientais e nos cuidados de saúde praticados por estas culturas, nomeadamente a cultura Hindu e Budista.
Já é prática frequente, os enfermeiros utilizarem a acupunctura, as massagens Shiatsu e a prática do Reiki. Infelizmente, estas práticas são desenvolvidas paralelamente com as actividades profissionais e por vezes até mais rentáveis monetariamente para os seus prestadores, porque estas práticas ainda carecem de parecer da comunidade científica como eficazes no tratamento de doenças.
No entanto, nos seus países de origem são práticas correntes utilizadas nos hospitais e clínicas de saúde, locais onde a pobreza e a falta de recursos materiais assim o obriga. Estudos feitos não sobre o efeito biológico destas práticas mas sim sobre o efeito sentido pelas pessoas levam a que estas recorram a elas como alternativa à medicina tradicional, com efeitos benéficos para a sua saúde.
Assim WATSON (2002) refere que:
“Cuidar significa actuar de forma a que a pessoa seja considerada um fim em si mesmo. Esta actuação implica, por parte da enfermeira, valores e empenhamento nas acções e suas consequências, para além do sentido do dever e da obrigação moral, numa perspectiva ética”.
Esta autora não corta as relações com a medicina moderna, mas complementa com conhecimentos noutras áreas.
“Verão como sou influenciada pela visão das ciências quânticas, por noções holográficas, pelas artes e humanidades, pela poesia e metáfora, assim como pela ciência tradicional, para ajudar a demonstrar uma visão expandida de pessoa, de espécie humana e de cuidar transpessoal”.
Deste modo, o cuidar entra em novas dimensões que transcendem a concepção de homem máquina natural, mas em homem transpessoal, multicultural e espiritual.
“Cuidar na enfermagem transporta actos físicos mas abarca a mente-corpo-alma à medida que reclama o espírito corporizado como o centro da sua atenção. Este sugere uma metodologia, através da arte, da estética, do ser, assim como do saber e do fazer. O cuidar interessa-se pela arte de ser humano. Faz apelo a uma presença de ser autêntico, do profissional, no momento de cuidar, mobilizando uma atenção de cuidar-curar intencional. Este interessa-se pelo transpessoal e transcultural, pelo objectivo, pelo subjectivo e inter subjectivo. Existe abertura para outra possibilidade de estar no mundo com o cuidar e o curar como uma ontologia contida numa cosmologia em expansão”.
Enfermagem transcultural
Nas multiculturas, os enfermeiros têm de obter conhecimentos sobre as concepções de vida, de pessoa e de comunidade, tentando compreender qual o contexto em que a pessoa está inserida para poder desenvolver o seu processo de cuidados. Esta aprendizagem provoca um crescimento contínuo como pessoa e, muitas vezes, perante as situações de saúde de evolução rápida, questionamo-nos sobre os valores espirituais e de como estes influenciam muitas vezes a nossa vida. No entanto, também é importante no processo de cuidados, qual o estado do “eu” do enfermeiro.
A nossa postura e o nosso optimismo podem ser facilitadores deste processo, mas o negativismo, a arrogância e a distância criada em relação às pessoas pode ser dificultador. Cuidar é darmo-nos como pessoas, e citando ainda WATSON (2002)
- Para saber se estou a cuidar, não tenho só de observar o que faço e sinto ou quais são as minhas intenções, tenho só de observar se o outro está a crescer. Se não houver crescimento não sei o que estou a fazer, mas a cuidar não é. Eu só posso perceber no outro o que perceber em mim.
Começa a ter importância o amor aplicado nas práticas do cuidar. O respeito e o amor pelos outros, assim como o amor injectado nos procedimentos a efectuar, pode ser um novo paradigma para a enfermagem do futuro. A energia libertada pelo amor, que é positiva, pode ter uma enorme importância nos resultados obtidos nas práticas de enfermagem.
Ainda segundo WATSON (2002)
- Aquele que cuida e o que está a ser cuidado estão interligados; cuidar e curar estão ligados a outras pessoas e com a energia mais elevada/mais profunda do Universo.
- As emoções são correntes de energia com frequências diferentes. Emoções que nós consideramos negativas, como o ódio, a inveja, desdém e medo, têm uma frequência mais baixa e menos energia do que as emoções que nós consideramos positivas, como o afecto, alegria, amor, compaixão e cuidar. Quando decidimos substituir a corrente de baixa frequência, como a ira, por uma corrente de frequência mais elevada, como o perdão, (cuidar, amor), nós aumentamos a frequência da nossa luz.
- Pensamentos que produzem correntes de energia de alta-frequência (luz e consciência mais elevada) criam saúde física e emocional.
Com a presença cada vez maior de emigrantes no nosso país, a vinda de outras culturas e de outras maneiras de cuidar vem provocar inicialmente uma deficiência de conhecimentos por parte dos profissionais de saúde em relação a estas crianças e de como são cuidadas pelos seus familiares. Os cuidados infantis contêm uma grande carga cultural e adaptabilidade aos seus países de origem e que regressam com os seus pais aos países acolhedores.
Cabe aos profissionais de saúde respeitar estas convicções e adaptá-las às realidades extraindo as que são úteis como aprendizagem e efectuar ensinos pertinentes de educação para a saúde. A observação destas práticas de cuidar pelos pais, torna os enfermeiros privilegiados na aquisição destes conhecimentos assim como no ensino de novas práticas.
O enfermeiro deverá adoptar estratégias que respondam às necessidades culturais dos clientes. Assim é necessário que desenvolva competência cultural que lhe permitam prestar cuidados adequados aos utentes com diferentes culturas com que se depara ao longo da sua vida profissional. O desenvolvimento desta competência é um processo lento, exigindo que o enfermeiro mude o seu modo de pensar e de actuar (LILADAR, 1998).
STANHOPE e LANCASTER (1999) definem competência cultural como:
- “ Processo contínuo, que resulta da interacção de factores que motivam as pessoas para o desenvolvimento de conhecimentos, capacidades e técnicas, de modo a cuidarem de indivíduos, famílias e comunidades. (…) Os Enfermeiros devem ser culturalmente competentes porque: 1) a cultura do enfermeiro difere frequentemente da cultura do cliente; 2) a assistência que não é culturalmente competente pode posteriormente aumentar o custo da assistência de saúde e diminuir as hipóteses de resultados positivos; 3) é necessário ir ao encontro dos objectivos específicos das pessoas de culturas diferentes”
Grossman citado por NEVES (1999), considera impossível conhecer os modos de vida e as práticas de todas as culturas e grupos étnicos que se poderão encontrar. Contudo, é da opinião que se pode desenvolver competência cultural se o enfermeiro possuir certos conhecimentos, evitar fazer julgamentos sobre os comportamentos e práticas culturais; planear as intervenções de enfermagem de acordo com as diferenças culturais.
Para que se desenvolva a competência cultural é necessário que o enfermeiro tenha sensibilidade cultural que OPPERMAN (2001) refere ser:
- “Uma atitude e comportamento de grupo, que permitem aos indivíduos terem conhecimento e respeitarem as crenças e costumes de outras culturas. (…) É importante que o enfermeiro seja sensível às crenças e costumes das outras culturas, principalmente no que diz respeito às necessidades de cuidados de saúde. A cultura da família afecta a forma como ela procura os cuidados de saúde e cumpre as recomendações dos profissionais de cuidados de saúde”.
LILADAR (1998) refere que Leininger definiu enfermagem transcultural como:
- “Um ramo da enfermagem teórico e prático centrado numa análise comparativa das diferentes culturas e sub culturas no Mundo, relativos aos cuidados, à saúde/doença e valores e práticas no Mundo com a finalidade de usar estes conhecimentos de modo a prestar cuidados de enfermagem significativos e eficazes às pessoas, de acordo com os seus valores culturais no contexto de saúde-doença”.
Segundo Leininger citado por PONTES (2002) o propósito da enfermagem transcultural.
- “…consiste em descobrir e estabelecer um corpo de conhecimentos e competências centrados nos cuidados transculturais, saúde e doença, de maneira a que os enfermeiros possam adquirir competências culturais seguras, e cuidados congruentes a pessoas com diferentes culturas mundiais”.
A Enfermagem é uma profissão de cuidados transculturais, a única que se centra na promoção do cuidado humano para pessoas de uma forma significativa, respeitando os valores culturais e estilos de vida.
Conclusão
A vinda de pessoas de outras culturas, faz com que a enfermagem sofra uma adaptação para que o cuidar seja eficiente e proficiente perante a saúde e a doença desses grupos multiculturais.
O respeito pelas crenças e pelas novas culturas, aliado ao saber cuidar, permite uma harmonia que pode ser alcançada pelos profissionais de saúde, essencialmente os enfermeiros, que têm uma visão bio-psico-social do indivíduo.
Os nossos serviços de saúde têm de prestar cuidados a essas pessoas e hoje, que se fala em competências para cuidar, têm de se desenvolver estratégias e conhecimentos pois apesar de emigrantes, são indivíduos que entram com números estatísticos sobre os dados de saúde no nosso país.
Cabe a todos os profissionais de saúde, manter ou melhorar os indicadores de saúde, e os emigrantes, não são uma doença, mas são pessoas que tais como os nossos antepassados em gerações anteriores, vieram à procura de melhores condições de vida e por isso, devem ser respeitadas como seres humanos. O direito à saúde deve ser um direito universal, dentro da cultura e das crenças individuais.
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