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Notícia de Última Hora!

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Imaginem a seguinte notícia de Última Hora – “A Enfermagem foi feita refém!”. Faria algum sentido? A Enfermagem foi feita refém, encontra-se amordaçada no interior do Sistema de Saúde Português e os raptores são variados e não querem falar com a polícia! Se quisermos interpretar esta metáfora à luz das estratégias policiais face a situações de suspeitos barricados com reféns, temos que analisar vários aspectos. 

Vamos colocar-nos na posição de uma das equipas de intervenção, que espera a luz verde para entrar na “casa”:

Quem são os reféns?
Quantos e quem são os suspeitos? Quais os seus antecedentes? A sua história pessoal? Que elementos de “polícia” temos? Quais as suas estratégias? Em caso de um “assalto”, quais serão os danos colaterais? Em primeiro lugar, falemos dos reféns: a Enfermagem e os Enfermeiros de Portugal. Presos por políticas de saúde que desvalorizam tendencialmente a sua atuação, que se negam a contabilizar os ganhos produzidos e a financiá-los em conformidade, que negam a possibilidade de formação, de avaliação correcta, de promoção profissional e de uma carreira adequada à penosidade, responsaabilidade e risco inerentes à profissão. Reféns desgastados e exaustos, cada vez em menor número para um crescente número de utentes a quem cuidar, sem meios materiais e sem possibilidade de investigar e implementar novas práticas. Estão reféns de quem? De políticas de saúde que têm vindo a aumentar a precariedade e risco laborais e a diminuir a acessibilidade e qualidade dos cuidados de Saúde. Reféns de políticos que não lhes reconhecem a capacidade para se sentar à mesa de negociações, à mesa de comissões de reforma da Saúde ou à mesa em lugares de administração e gestão intermédia e superior. Reféns deles próprios, de uma falta de orgulho profissional que a muitos contamina, de um discurso de desresponsabilização face à saúde dos utentes que cuidam, de escassez de estratégias de formação contínua e aumento do conhecimento, de guerras entre organizações profissionais e segmentos dentro da mesma organização, da ausência de um rumo explícito, de um caminho e de ideais partilhados por todos. Reféns de políticas de educação que priveligiam a quantidade ao invés da qualidade. Reféns de uma sociedade que pouco espera deles e de enfermeiros que pouco esperam de si e por conseguinte, dizem à sociedade que não devem esperar muito deles ou pior, ficam em silêncio.

Temos “polícia”? Que elementos? Em situações de resgate de reféns, os agentes da polícia “habituais” não têm conhecimento ou competências para intervir, sendo chamada uma equipa de operações especiais. São de operações especiais pois passam todo o dia a aprender e a treinar aquele tipo de situações, com determinado equipamento, simulando diversos cenários. Quando essas situações acontecem, estão prontos a intervir. A Enfermagem tem uma equipa de “Operações Especiais” pronta para intervir? Tem tido a preocupação de educar um conjunto de operacionais com competência para intervir nesta situação? Se ainda não o fez, está à espera de quê? É uma equipa basta? Ou serão precisas várias, em áreas como as da educação, intervenção política e mediática, gestão de topo, prestação de cuidados? Será suposto cada equipa avançar sozinha (atendendo à sua necessidade de protagonismo), ou em coordenação, debaixo das mesmas regras, valores e objetivos da profissão? Que estratégias têm os “polícias” do hoje? Terão sentido a necessidade de formar as equipas de “operações especiais”? A sua intervenção está realmente preocupada com a Enfermagem, ou escolherá uma estratégia que poderá apanhá-la no fogo cruzado? 
Como entrar e quando entrar? Será que um “assalto musculado” terá efeito? Ou receberemos a resposta do costume, “é culpa da crise”? Conhecemos os interesses escondidos do setor da saúde? Será que os devemos confrontar agora ou “amanhã”? E quem está a ver na “TV”, o público que assiste a tudo pelos média, será que vai apoiar esse assalto musculado? Será que a percepção deles sobre a profissão não irá influenciar o “comissário da polícia” a fazer algo mais suave? Como podemos mudar as mentalidades? Mudamos antes ou depois do “assalto”?
Que riscos tem esta intervenção? Sabemos que os suspeitos estão armados e que podem disparar na Enfermagem assim que ouvirem uma sirene! Como entramos? Devagar, sorrateiramente? Ou com tudo o que temos? É só a Enfermagem que pode ficar ferida no meio do tiroteio? As negociações estão esgotadas? Temos argumentos de peso que permitam a rendição dos suspeitos? E se utilizarmos todos os efectivos, será que a estratégia do número vence?
A Enfermagem continua “refém” no sistema de saúde e todos assistimos às ameaças a que é sujeita. Um ou dois “reféns” já morreram e os outros estão assustados. Vamos intervir?

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