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Noite Feliz

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O Natal e a Passagem de Ano já lá vão, mas nunca é demais enaltecer o papel dos profissionais de saúde que nestas épocas festivas, tal como ao longo do ano, dia após dia, sacrificam a sua vida pessoal para trabalhar durante a noite e fins-de-semana ou feriados. Este lado mais desgastante que decorre dos turnos rotativos remete-nos para a importância de uma distribuição dos mesmos, de forma equilibrada, por todos os elementos da equipa. Infelizmente, há colegas que ainda não perceberam, ao fim de muitos anos de profissão, que é uma questão da mais elementar justiça permitir que um elemento que trabalhe no Natal tenha o Ano Novo livre (e vice versa), ou pelo menos, que fique mais folgado numa das épocas, caso tenha trabalhado na outra.

É por essa razão que entendo que não devem ser permitidas férias neste período (ou então, devem ser evitadas ao máximo). Se toda a equipa está disponível para cumprir a escala numa determinada época, menos turnos cada pessoa terá de fazer, o que alivia as idas ao local de trabalho, permitindo um maior contacto com a família e amigos. Para que conste, há serviços hospitalares onde a maioria da equipa prefere que haja um entendimento de forma a que cada elemento possa sobrecarregar-se um pouco mais numa das épocas e folgar na outra, mas o enfermeiro chefe/coordenador, teimosamente, diz que não…

O trabalho no turno da noite e fins-de-semana costuma ser, inclusive, evitado por colegas nossos que detêm uma especialidade. Não percebo porquê, e julgo que mais tarde ou mais cedo seremos forçados a corrigir tal incongruência (não sei se repararam, o Rodrigo Guedes de Carvalho, sub-director de informação da Sic, foi quem apresentou o Jornal da Noite no dia 24 de Dezembro). O turno da noite é altamente desgastante, mas também é culpado por uma boa dose de ineficiência nos serviços de saúde. Desde logo, basta pensar que há profissionais que “estão de serviço” durante 24 horas consecutivas… (e até há enfermeiros chefes que fazem compensação de horas dos elementos das equipas, “convidando-os” a irem para casa às 4 da manhã… Não estou a sugerir que tenhamos de estar em permanente azáfama enquanto todos os utentes a nosso cargo estão tranquilos. Basta querer prestar melhores cuidados. No nosso caso, em regra, o turno da noite é o mais longo (pode ir até 10 horas) e há casos em que os colegas juntam o turno da T e N (de vez em quando), fazendo uma jornada de 16 horas. Julgo estar previsto uma pausa nocturna de cerca de 30-60 minutos. Há serviços, contudo, onde a mesma não está assegurada, o que significa que pode dar-se o caso de os enfermeiros trabalharem desde o início ao fim do turno. Porque será então, que esse direito não é reivindicado? E quantos de nós guardam o hábito de fazer uma pequena soneca antes de ir fazer o turno da noite? Recordo-me de um enfermeiro num serviço em que estagiei, que me dizia que fazia questão de estar toda a noite alerta. Dizia que era para isso que lhe pagavam.

Os sindicatos recomendam que ao longo de uma semana, cada enfermeiro não faça mais do que 2 noites. Têm sido divulgados estudos que apontam para um desgaste maior de quem trabalha por turnos (apontando até para o aumento do risco de morte prematura). Mas os enfermeiros que trabalham por turnos, nem precisam dessa evidência, pois sentem isso na pele todos os dias. Durante uns anos, no início da década, havia colegas que não tinham grande renitência a fazer turnos da noite. Na altura, as chamadas horas de qualidade compensavam o esforço de forma mais generosa que hoje. Actualmente, estamos a assistir a um outro fenómeno: como fazer uma noite pouco mais rende (financeiramente) que um turno da manhã ou tarde, há colegas que habilmente, no início do mês, tentam ver-se livres das suas noites. Ora, tal situação faz com que outros colegas tenham de fazer as suas noites, mais as que lhes são “oferecidas”. Alguns dizem que este “acordo de cavalheiros” é perfeitamente normal porque é feito com base no mútuo acordo…

Não, não é normal! Por um lado, um enfermeiro chefe/coordenador que exerça as suas funções com responsabilidade, tem a obrigação de garantir um roulement equilibrado entre a equipa por forma a salvaguardar a saúde (física e mental) de cada enfermeiro. Por outro lado, tem o dever de impedir o oportunismo. Graças ao actual Governo, os enfermeiros foram dos trabalhadores mais afectados pelos cortes no sector da saúde. Fugir dessa situação não é solução. A postura correcta deverá ser a de manter o brio profissional, e mostrar a quem de direito que estamos a ser vítimas de uma tremenda injustiça. Uma maior disciplina no cumprimento dos horários, é fundamental para que fora da Enfermagem, se compreenda que trabalhar durante a noite é, de facto, altamente desgastante.

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