O relatório sobre o vestuário em segunda mão em Moçambique, realizado pela Consulting For Africa e pela Abalon Capital Limitada, encomendado pela ADPP (Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo) Moçambique, concluiu pelo “papel vital” daquela atividade “na vida quotidiana e na economia” do país africano, sendo mesmo “catalisador para o crescimento económico”.
O levantamento identifica que a atividade representa 650 dólares (598 euros) por mês “em média em ganhos para vendedores bem estabelecidos”, o que compara com o salário mínimo nacional de 90 dólares (83 euros), além de garantir as “necessidades básicas de vestuário” a pelo menos 80% da população e de representar 35 milhões de dólares (32,2 milhões de euros) em impostos na importação destas peças de roupa, anualmente.
O documento acrescenta que em Moçambique “todos os principais mercados têm grandes concentrações de vendedores de roupa em segunda mão, particularmente mulheres e jovens”, sendo uma atividade âncora, juntamente com a venda de alimentos, dos mercados urbanos.
“Estimamos que nos últimos cinco anos, Moçambique importou cerca de 36.750 toneladas/ano, e que a procura cresceu 3,5% no ano passado. A nossa análise sugere que uma tonelada de importações de vestuário em segunda mão sustenta cerca de 7,8 empregos, tanto direta quanto indiretamente”, afirma o estudo.
Um mercado que “fornece roupas baratas, diversificadas e acessíveis para milhões de pessoas que vivem na pobreza”, sublinha igualmente.
No documento é recordado que Moçambique “é um dos países mais pobres do mundo, ocupando o 183.º lugar entre 191 países no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas”, contando com cerca de 25% da população desempregada, pelo que as conclusões sobre esta atividade “sublinham a importância da indústria” do vestuário em segunda mão “como uma fonte crucial de vestuário básico, emprego e finanças públicas”.
“Por conseguinte, qualquer perturbação negativa poderia ter consequências devastadoras para uma população que já se debate com uma pobreza generalizada”, alerta o relatório, que sugere também que a necessidade de “revitalização do setor têxtil africano é mais complexa do que é frequentemente reconhecido”.
“Sem um investimento substancial para aumentar a produção local e desenvolver uma vantagem competitiva no fabrico de vestuário – particularmente quando se compete com países como a China, a Índia e o Bangladesh – parece improvável uma substituição significativa das importações no setor do vestuário”, acrescenta.
“Em vez de encarar o comércio de vestuário em segunda mão e as indústrias têxteis locais como forças opostas”, o relatório “conclui que ambos os setores podem prosperar em conjunto”.
“Especificamente para Moçambique, as nossas previsões sugerem que, sem qualquer melhoria significativa no crescimento do Produto Interno Bruto durante a próxima década, o vestuário em segunda mão continuará a ser a principal fonte de vestuário a preços acessíveis. Em vez de visar as importações do vestuário em segunda mão, as nações africanas deveriam explorar soluções mais pragmáticas, tais como colaborações estratégicas entre países para reforçar as áreas de vantagem competitiva”, defende no documento Brian Mangwiro, da Abalon Capital, que realizou o estudo.
O estudo foi encomendado pela ADPP Moçambique, uma organização não-governamental que trabalha no país desde 1982, nas áreas da educação de qualidade, saúde e bem-estar, agricultura sustentável e ambiente.
A ADPP emprega atualmente cerca de 3.300 pessoas e implementa mais de 50 projetos em todas as províncias do país, “beneficiando cerca de 8,2 milhões de moçambicanos todos os anos”.
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