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Natal é quando o Enfermeiro quiser

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Embora não sendo a festa com maior significado religioso na chamada cultura ocidental, o Natal assume grande destaque nas nossas vidas.

O mês de Dezembro é marcado por um sentimento especial que invade a sociedade, criando uma magia contagiante que nos faz aguardar com grande êxtase a noite de consoada. É certo que muito do que é hoje o Natal resulta de uma forte influência do espírito consumista que nos persegue. Ainda assim, esta época do ano convida à reflexão, ao balanço, à valorização da família, da amizade e da solidariedade.

Os enfermeiros são uma das profissões indispensáveis para que os serviços de saúde funcionem 24 horas por dia, ao longo de todo o ano. Se por um lado é penoso que cada um de nós não possa estar junto dos seus entes queridos durante toda a quadra festiva, também é verdade que tal circunstância decorre da especificidade da profissão, e como tal, deve ser encarado com naturalidade.

Da minha experiência enquanto enfermeiro, todos os anos assisto a uma tentativa, mais ou menos óbvia, por parte de alguns colegas, em não dar o seu “contributo” para que o roulement das equipas seja equilibrado para todos os seus elementos. Há serviços em que o enfermeiro chefe/coordenador faz um levantamento das preferências de cada um, e elabora a escala em função disso, ponderando também com os turnos efectuados nos anos anteriores. Noutros serviços, vigora a regra (cega) do seguimento do roulement.

Pessoalmente, prefiro a primeira opção, já que traduz uma intenção de justiça e negociação no seio do grupo. Há serviços onde é possível que um enfermeiro opte por sobrecarregar mais uma época (Natal ou Ano Novo), ficando mais aliviado na outra. Também me parece uma opção sensata.

Há muito que defendo que não deveriam ser permitidas férias nesta época do ano (embora cada grupo deva, se assim entender, definir outro tipo de regras sobre esta matéria). Quanto menos elementos da equipa estiverem disponíveis para assegurar turnos nesta época, mais sobrecarregados ficarão aqueles que não tiverem férias. Por outro lado, se houver possibilidade de cada enfermeiro trabalhar mais numa época (Natal ou Ano Novo), folgando na outra, estamos a permitir umas mini férias (numa das épocas) sem se gastar um único dia de férias.

Há uma expressão que por vezes ouvimos, e que podemos considerar como sendo um clássico: “eu fiz o Natal durante vários anos”. Pois, será que é bem assim? Para ter a certeza disso, todos os serviços deveriam ter disponíveis/acessíveis as escalas dos anos anteriores. “Fazer o Natal” ou “fazer o Ano Novo” é algo muito vago. Estamos a falar de quê? Tarde de 24, noite de 25, tarde de 31, noite de 1?

Para tentar perceber melhor a realidade, de há uns anos a esta parte, tomo nota dos turnos efectuados por cada elemento da equipa e atribuo a cada um deles um coeficiente de ponderação (o valor mais alto será para aqueles turnos mais “chatos/críticos”). Bem sei que é uma classificação discutível, mas é feita com base nos turnos que por norma os colegas tentam evitar, e curiosamente, de ano para ano, consegue-se perceber alguma coerência entre os que mais (e menos) trabalham nestes dias.

Vejamos:

Noite de 24: coeficiente 1

Manhã de 24: coeficiente 2

Tarde de 24: coeficiente 6

Noite de 25: coeficiente 7

Manhã de 25: coeficiente 5

Tarde de 25: coeficiente 4

Noite de 26: coeficiente 3

Noite de 31: coeficiente 1

Manhã de 31: coeficiente 2

Tarde de 31: coeficiente 6

Noite de 1: coeficiente 7

Manhã de 1: coeficiente 5

Tarde de 1: coeficiente 4

Noite de 2: coeficiente 3

Imaginemos um serviço com 3 enfermeiros por turno:

N24 (1)

M24 (2)

T24 (6)

N25 (7)

M25 (5)

T25 (4)

N26 (3)

A

D

D

I

F

A

I

B

E

G

G

B

E

J

C

F

H

J

C

C

H

Somatório

Enf. A

5

Enf. B

6

Enf. C

10

Enf. D

8

Enf. E

6

Enf. F

7

Enf. G

13

Enf. H

9

Enf. I

10

Enf. J

10

Eis o gráfico:

unnamed 

N.B.: Dar nota, também, daqueles colegas, que por motivos vários, preferem trabalhar em vez de estar em casa ou noutro local, com a família ou com os amigos, ou simplesmente consigo próprios. Para eles, um cumprimento especial.

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