Marcadas por uma sucessão de factos inéditos, como o chumbo do Orçamento Regional para 2025, as eleições antecipadas de domingo ocorrem na sequência da aprovação de uma moção de censura apresentada pelo Chega – que a justificou com as investigações judiciais envolvendo membros do Governo Regional, inclusive o presidente, Miguel Albuquerque (PSD) — e da dissolução da Assembleia Legislativa.
Será a terceira vez em cerca de um ano e meio que os madeirenses são chamados às urnas, depois das legislativas regionais de 2023 e das antecipadas de 2024, provocadas pela demissão de Miguel Albuquerque após ter sido constituído arguido num processo que envolve suspeitas de corrupção na Madeira.
O cansaço do eleitorado, e até dos próprios partidos, poderá explicar a forma como a campanha eleitoral arrancou no dia 09 e decorreu ao longo da primeira semana, com a maioria das ações a serem pouco mais do que declarações dos candidatos aos jornalistas, sem interação com a população.
Por vezes, apenas os cartazes espalhados pela região, em especial no Funchal, e um ou outro carro de som faziam lembrar que no dia 23 mais de 255 mil eleitores madeirenses serão novamente chamados a escolher quem irá ocupar os 47 lugares do parlamento regional, de entre os candidatos apresentados pelas 14 forças políticas que se apresentam a votos (12 partidos únicos e duas coligações).
Algumas candidaturas, como o PSD e o PAN, optaram mesmo por não divulgar iniciativas todos os dias.
Aliás, o atual presidente do executivo e líder do PSD regional, que também não aparece num único cartaz do partido, foi provavelmente o candidato mais ausente, com mais de metade dos dias de campanha sem iniciativas, embora mantivesse uma intensa atividade nas redes sociais, inclusive partilhando receitas culinárias.
Com o passar dos dias, os candidatos começaram a aparecer nos locais mais tradicionais de campanha, como o Mercado dos Lavradores, no Funchal, ou o Mercado do Santo da Serra, no concelho de Santa Cruz, e surgiram as primeiras arruadas e os sempre desejados brindes, desde as comuns canetas aos saquinhos de rebuçados do JPP e baralhos de cartas do PSD.
Mas, com muito ou pouco público, os candidatos esforçavam-se por passar as mensagens, com os temas da habitação, saúde, transportes e os problemas dos mais idosos e dos mais jovens a marcarem uma campanha em que os casos judiciais envolvendo membros do Governo Regionais acabaram por não ocupar muito tempo dos discursos.
Foram principalmente os três maiores partidos da região — PSD, PS e JPP – que se demoraram mais nas “questões bate-boca”, como o cabeça de lista socialista, Paulo Cafôfo, lhes chamou durante a campanha, embora o PSD, no poder há quase 50 anos na Madeira, tenha sido o alvo unânime de toda a oposição.
Comum ao discurso das candidaturas, e não apenas da oposição, foi a palavra “estabilidade”, com o atual presidente do Governo Regional, no cargo desde 2015, a enfatizar que só com uma votação expressiva terá condições para liderar um executivo que dure quatro anos e os outros candidatos a contraporem que só o afastamento de Miguel Albuquerque poderá garantir uma legislatura completa.
Igualmente comum à estratégia das candidaturas foi a concentração das ações nos concelhos do sul da ilha da Madeira, como Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Santa Cruz e, especialmente, o Funchal, onde decorreram quase todas as iniciativas na reta final da campanha.
Entretanto, à medida que as eleições que aproximavam na região, os madeirenses assistiam também ao desenrolar de outra crise na República, com o Governo liderado por Luís Montenegro a cair após a reprovação de uma moção de confiança, levando à convocação de legislativas nacionais antecipadas para 18 de maio.
Com todo o processo a desenrolar-se ao longo da primeira semana de campanha, a maioria dos líderes nacionais esteve mais afastado da região do que o habitual nestas ocasiões.
O líder da IL, Rui Rocha, esteve apenas entre sexta-feira e domingo ao lado de Gonçalo Maia Camelo, enquanto o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, fez uma breve aparição na primeira semana, demorando-se agora mais na reta final para apoiar Edgar Silva.
Mariana Mortágua, que participou num almoço no primeiro dia de campanha com o cabeça de lista do BE, Roberto Almada, volta hoje à Madeira, ficando até sexta-feira, tal como o porta-voz do Livre, Rui Tavares.
A porta-voz nacional do PAN, Inês Sousa Real, apenas estará no Funchal no encerramento da campanha. Já o líder nacional do Chega, André Ventura, é esperado na região para os dois últimos dias de campanha, embora oficialmente ainda nada tenha sido anunciado.
De fora das visitas ao arquipélago deverão ficar os líderes dos dois maiores partidos, o social-democrata Luís Montenegro e o secretário-geral do PS, ausências desvalorizadas tanto pelo presidente do PSD/Madeira, que já disse que “só os partidos fracos precisam de bengalas”, como por Paulo Cafôfo. O dirigente socialista regional recordou que, ao contrário do líder nacional do PSD, Pedro Nuno Santos já esteve “inúmeras vezes” na Madeira.
As 14 candidaturas que concorrem às eleições de domingo, num círculo único, são: CDU (PCP/PEV), PSD, Livre, JPP, Nova Direita, PAN, Força Madeira (PTP/MPT/RIR), PS, IL, PPM, BE, Chega, ADN e CDS.
O PSD tem 19 eleitos regionais, o PS 11, o JPP nove, o Chega três e o CDS dois. PAN e IL têm um assento e há ainda uma deputada independente (ex-Chega).
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