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Inteligência Artificial e a Enfermagem: Entre e o Inferno da Desumanização e a Utopia do Cuidado Ampliado

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“Estamos a criar uma nova forma de inteligência. Se não a orientarmos com compaixão, ela pode destruir aquilo que temos de mais humano.” – Mo Gawdat

Vivemos o início de uma revolução silenciosa. Enquanto continuamos a preencher registos, seguir escalas e tentar cuidar com os minutos que sobram, a inteligência artificial (IA) já está a mudar a forma como o mundo trabalha, decide e comunica.

No recente podcast Diary of a CEO, Mo Gawdat, ex-líder da Google X, lança um alerta perturbador: os próximos 15 anos poderão ser um “inferno” de desemprego, desigualdade e desumanização — a não ser que reajustemos, com urgência, a forma como aplicamos e regulamos esta nova tecnologia.

Será que estamos atentos?
Ou vamos continuar à margem deste debate, como se não nos dissesse respeito?

🔹 Não é ficção científica: é o nosso futuro próximo.

A IA já escreve relatórios, interpreta exames, organiza dados clínicos e comunica com doentes. Em breve, poderá gerir escalas, prever riscos clínicos e até sugerir planos de cuidados personalizados. Nada disto é ficção — já está a acontecer. A pergunta não é “se” a IA vai entrar no nosso trabalho. A pergunta é: quem está a decidir como ela entra, com que finalidade e com que consequências?

🔹 Entre a eficiência e a desumanização

Mo Gawdat descreve dois caminhos possíveis:

🔸 Um caminho de automatização cega, onde a IA serve apenas a produtividade, os indicadores e os lucros. Aqui, a enfermagem arrisca-se a tornar-se um braço operacional dos algoritmos, com cada gesto monitorizado e avaliado por sistemas que não compreendem o contexto humano.

🔸 Outro caminho — mais exigente — é o da IA ética, centrada na pessoa.
Aqui, a tecnologia assume tarefas repetitivas, libertando-nos para o que realmente importa: ouvir, observar e cuidar com atenção e tempo.

🔹 Precisamos de estar na mesa onde se tomam as decisões

A ética da IA não se define nas salas de aula. Define-se nas reuniões onde se decidem orçamentos, prioridades, softwares e fluxos de trabalho. Se a enfermagem continuar ausente desses fóruns, não poderá depois queixar-se de ser reduzida a números. Temos uma responsabilidade enorme — e uma oportunidade rara — de participar ativamente na construção de tecnologias que respeitem a complexidade do cuidar.

Isso implica:

✅Formar-nos em literacia digital crítica
✅Participar na escolha e validação das ferramentas que usamos
✅Ser a ponte entre o algoritmo e a dignidade do utente

🔹 A utopia não é impossível. Mas não virá sozinha.

No melhor cenário, caminhamos para uma sociedade onde o trabalho não é uma obrigação, mas uma escolha.
Onde a IA nos ajuda a cuidar melhor, com mais equidade e profundidade.
Onde os sistemas preveem necessidades antes que surjam complicações.

Mas isso só será possível se exigirmos:

🧭Regulação clara e transparente das tecnologias em saúde
🧭Participação democrática na definição dos seus usos
🧭 Proteção ativa da dimensão relacional do cuidar

🔹 Em resumo: ou decidimos, ou será decidido por nósA enfermagem não é apenas um conjunto de competências técnicas.
É uma profissão com base ética sólida, visão holística e compromisso com a pessoa.

Ora, se há área onde a IA precisa de orientação ética, é nos cuidados de saúde.

Chegou o momento de assumirmos essa responsabilidade.

A revolução digital não está para vir — já começou.
E se não quisermos viver no “inferno” que Gawdat antecipa, temos de começar hoje a construir o caminho para a utopia do cuidado humanizado e inteligente.

📢 Convido colegas, líderes e decisores a refletir:

Como estamos — enquanto classe — a posicionar-nos neste futuro digital?
Estamos a ser reativos ou proativos? O que queremos preservar… e o que estamos dispostos a transformar?

Estou disponível para continuar esta conversa.