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Influência da Visita Pré-Operatória no Controlo da Ansiedade Pré-Operatória

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O tipo de Anestesia e/ou cirurgia são elementos causadores de grande  ansiedade para o utente.

Influência da Visita Pré-Operatória no Controlo da Ansiedade Pré-Operatória no Contexto da Anestesia Espinhal

Vítor António Soares Santos

Enfermeiro do Bloco Operatório do Hospital São Pedro Gonçalves Telmo

Formador na área da enfermagem Perioperatória na FORMASAU , Formação e Saúde Lda.

Resumo

O tipo de Anestesia e/ou cirurgia são elementos causadores de grande  ansiedade para o utente. Como tal, a visita pré-operatória de Enfermagem, deve ser ser realizada a todos os utentes antes da cirurgia, de modo a reduzir este stress/ansiedade e preparar convenientemente o utente.

O presente estudo tem como objectivos “Explicar a relação entre a Visita Pré-Operatória e o grau de ansiedade no pré-operatório, em utentes submetidos a Anestesia Espinhal;” e “Reforçar a importância da Visita Pré-Operatória na redução da ansiedade pré-operatória.”Para tal foi efectuado um estudo explicativo/preditivo, quase-experimental, de desenho “Antes-Após com grupo Testemunho não equivalente”, com análise quantitativa. Os participantes no estão foram repartidos por dois grupos (grupo experimental e grupo de controlo), com 30 elementos cada. De modo a se concretizar o estudo proposto, foi elaborada a seguinte hipotese de investigação “Os utentes cirúrgicos, propostos para anestesia espinhal, submetidos a Visita Pré-Operatória têm menos ansiedade que os utentes cirúrgicos que não foram submetidos a esta visita.”

Abstract

The kind of Anesthesia and/or surgery cause great anxiety for the patient.  As such, Nursing preoperative care, should be carried out to all patients before of the surgery, in order to reduce this stress/anxiety and prepare conveniently the user.  This study has the following objectives “Explain the relation between the Nursing preoperative care and the rank of anxiety in the preoperative period, in patients submitted to Spinal Anesthesia;” and to “Reinforce the importance of the Nursing preoperative care in the reduction of the preoperative.” As so, it was performed a study explanatory/predictiv, barely-experimental, of drawing “Before-After with not equivalent Testimony group “, with quantitative analysis.  The participants in the study were divided by two groups (experimental group and control group), with 30 elements each.  In order to make the study, it was elaborated the following hipotesis “The surgical patients, proposed for spinal anesthesia, submitted the Nursing preoperative care have less anxiety than the surgical patients that were not submitted to this care.”

INTRODUÇÃO

O ponto de partida para este estudo foi sem dúvida o meu interesse pela área da Cirurgia/Anestesia. O que me “inquietou”, e levou à realização deste estudo, foi o facto de ter constatado, que apesar de existir uma prestação de cuidados de enfermagem com qualidade, assentes numa abordagem holistica e individualizada, ao utente cirúrgico, uma parte significativa dos utentes não tinha o seu bem estar assegurado a nível psicológico. Este facto deve-se à ansiedade gerada em torno da intervenção cirúrgica. Ao se encontrar uma forma de minimizar a ansiedade, encontra-se igualmente uma forma de minimizar o impacto biopsicossocial da intervenção cirúrgica. Face a isto, uma boa preparação para cirurgia, poderá ser bastante importante para a recuperação do utente e redução da ansiedade perioperatória.

I – CLARIFICAÇÃO DE CONCEITOS 

Anestesia

A palavra Anestesia, de acordo com MAREK e BOEHNLEIN (2003:559), provém do termo grego Anaisthesis, cujo significado é “ausência de sensibilidade”.

De acordo com MAREK e BOEHNLEIN (2003:564), a “anestesia regional provoca perda temporária de sensibilidade numa determinada parte do corpo, pela acção de anestésicos locais (…) os anestésicos locais não provocam inconsciência.” Os vários tipos de anestesia regional são a anestesia espinhal (Raquianestesia e Epidural), o bloqueio de nervos e a anestesia regional endovenosa.

No que respeita à anestesia Espinhal, MAREK e BOEHNLEIN (2003:564), referem que é “geralmente, administrada em procedimentos cirúrgicos executados no baixo abdómen, na região inguinal, no períneo ou nos membros inferiores.” No caso da raquianestesia, o fármaco é injectado para o liquido cefalorraquidiano, no espaço subaracnoideu, sendo o efeito quase imediato. A anestesia epidural, de acordo com MAREK e BOEHNLEIN (2003:565), consegue-se “quando um anestésico local é injectado através do espaço intervertebral para dentro do espaço que rodeia a dura-máter na coluna.”

Cirurgia

A cirurgia define-se como “o diagnóstico e tratamento médicos de traumatismos, deformidade e doença, por actos manuais e instrumentais” (MAREK e BOEHNLEIN, 2003:525). Não é portanto de estranhar que a palavra cirurgia derive do grego Kheirourgia, que significa trabalho manual.

O período perioperatório refere-se aos acontecimentos que têm lugar desde a preparação da cirurgia até à recuperação dos efeitos desta. Dentro deste período destaco a fase pré-operatória. Segundo MAREK e BOEHNLEIN (2003:526), “o período pré-operatório começa quando é tomada a decisão de intervenção cirúrgica. (…) termina quando o doente é transportado, em segurança, para o bloco operatório (…)”. As actividades de enfermagem neste período, consistem na avaliação inicial do utente e no planeamento e implementação dos cuidados de enfermagem necessários à preparação da cirurgia.

Ansiedade

De acordo com KAPLAN, SADOCK e GREBB (1997:545), a ansiedade é “…uma vivência comum de virtualmente qualquer ser humano.”, é uma sensação que se caracteriza por “…um sentimento difuso desagradável e vago de apreensão, frequentemente, acompanhado por sintomas autonómicos como cefaleia, perspiração, palpitações, (…) inquietação.”

Esta definição está de acordo com STUART e LARAIA (2001:306), que afirmam tratar-se de “…uma emoção e uma experiência individual subjectiva.” De acordo com estes mesmos autores o termo ansiedade, deriva da palavra latina “angere”, que significa “estrangular” e “causar sofrimento”.

DAVIDOFF (1983:440), por seu lado surge com o conceito de ansiedade como “… uma emoção caracterizada por sentimentos de previsão de perigo, tensão e aflição e pela vigilância do sistema nervoso simpático.” Esta definição lembra-nos a parte fisiológica da ansiedade, o stress.  Esta ideia é reforçada por NEEB (1997:185), que afirma “o stress provoca ansiedade”, este na maioria dos casos é associado a situações negativas. De acordo com CASSMEYER e MARANTIDES (2003:122), “a reacção ao stress inclui componentes de carácter intelectual, comportamental e emocional, como actos de tomada de decisão, recusa e raiva, bem como componentes fisiológicas.”

A ansiedade pode também afectar a aprendizagem, pois, de acordo com DAVIDOFF (1983:444), “em termos do nosso modelo de memória (…), a ansiedade pode influenciar a codificação, armazenamento e/ou recuperação.” De acordo com a mesma autora, as pessoas ansiosas podem sentir problemas de codificação que interferem na colocação da informação na memória. Tanto a anestesia como a intervenção cirúrgica são factores geradores de ansiedade/stress. De acordo com NETO e NETO (1995:64), “a anestesia, provocando a perda de consciência, na maior parte dos doentes poderá significar meio caminho andado para a morte.” A intervenção cirúrgica causa inquietude, não por si própria, mas pelo mistério que envolve a sala de operações. Segundo NETO e NETO (1995:65), a sala de operações é um meio misterioso, “…por ser o local onde se exerce um poder, – o poder sobre a vida e sobre a morte.”

Visita Pré-Operatória

“A visita pré-operatória pode ser considerada como uma atitude personalizada e de humanização dos cuidados de saúde dos nossos hospitais. O enfermeiro é a pedra basilar dessa humanização, uma vez que é o elemento de contacto mais íntimo e contínuo com o utente.”

                                                   (LOURENÇO, 2004:26)

Esta visita visa globalmente tranquilizar o utente na procura de uma melhoria do seu bem-estar, num ambiente novo e hostil, assumindo um papel importante, no excesso de ansiedade do utente. Deve ser feita sempre que possível na véspera da intervenção cirúrgica, visando transmitir uma sensação de acolhimento e protecção. De acordo com LEITÃO (1992:15), exige-se ao enfermeiro, “ a necessidade de se munir de atitude de ajuda, no respeito pelo outro, de modo a permitir o desenvolvimento da empatia, situando a interacção estabelecida no campo da aceitação e compreensão.”

O objectivo major da visita pré-operatória, é o de reduzir a ansiedade de utente face à intervenção cirúrgica. Esta preparação, deve ser efectuada, no contexto da relação enfermeiro-utente, na qual deve haver uma permanente disponibilidade para ajudar o utente. O estabelecimento desta relação, funciona como um solo fértil que facilita o suporte psicoemocional ao utente, permitindo a redução da ansiedade e transmitindo-lhe segurança e algum controlo sobre a situação.

II – METODOLOGIA 

Tipo de estudo

É um estudo de nível IV, explicativo/preditivo, quase-experimental, de desenho “Antes-Após com grupo Testemunho não equivalente”, com análise quantitativa. Trata-se de um estudo de nível IV, na medida em que é utilizado um estudo do tipo experimental, no qual se avalia o resultado de uma intervenção, sendo um estudo Quase-experimental, na medida em que apesar das suas características de desenho experimental, não têm grupos equivalentes, criados pela repartição aleatória. Esta situação deve-se ao facto de ser difícil distribuir aleatoriamente os utentes do serviço hospitalar, em dois grupos. De acordo com FORTIN (2000:191), “Uma tal repartição criaria enviesamento por causa dos contactos quotidianos entre os sujeitos pertencentes a um e outro grupo.”

É explicativo e preditivo, na medida em que, de acordo com FORTIN (2000:139): “Caracteriza-se essencialmente pelo estabelecimento de relações de causalidade entre os fenómenos.

De uma forma geral, será feita uma intervenção num grupo experimental (a visita pré-operatória), enquanto que o grupo de controlo, não recebe essa mesma intervenção.

Variáveis

Segundo FORTIN (2000:36), “As variáveis são qualidades, propriedades ou características de objectos, de pessoas ou de situações que são estudadas numa investigação”. Trata-se de um parâmetro ao qual são atribuídos valores numéricos, de modo a exprimir graus, quantidades e diferenças.

A variável independente, de acordo com FORTIN (2000:184) é “…conhecida por exercer um efeito sobre as variáveis dependentes.” Por seu lado a variável dependente, “…é a que sofre o efeito esperado da variável independente: é o comportamento, a resposta ou o resultado observado que é devido à presença da variável independente.” (FORTIN, 2000:37). Dentro das variáveis independentes podemos incluir ainda as variáveis atributo, que de acordo com FORTIN (2000:37) são as características dos sujeitos num estudo, sendo geralmente demográficas e a sua escolha “…determinada em função das necessidades do estudo.” Neste estudo, temos como variáveis independentes, a variável explicativa ou tratamento, ou seja, a realização de Visita Pré-Operatória e as seguintes variáveis atributo:

  • Sexo;
  • Idade;
  • Estado civil;
  • Religião;
  • Habilitações Académicas;
  • Situação Profissional;
  • Agregado Familiar;
  • Patologia;
  • Antecedentes Anestésicos.

     Como variável dependente, temos a intensidade da ansiedade no período pré-operatório, constituída pelos seguintes indicadores:

  • Tensão Muscular;
  • Alterações no Sistema Tegumentar;
  • Alterações Cardiorrespiratórias;
  • Alterações na Voz e Padrão de Fala;
  • Actividade Mental;
  • Alterações Comportamentais.

Cada um destes indicadores pode apresentar 5 níveis de ansiedade: Mínima, Fraca, Moderada, Forte e Máxima.

De acordo com FORTIN (2000:102) uma hipótese é “…um enunciado formal das relações previstas entre duas ou mais variáveis. É uma predição baseada na teoria ou numa porção desta (proposição). A hipótese combina o problema e o objectivo numa explicação ou predição clara dos resultados esperados de um estudo”. Assim para este estudo foi formulada a seguinte hipótese: “Os utentes cirúrgicos, propostos para anestesia espinhal, submetidos a Visita Pré-Operatória têm menos ansiedade que os utentes cirúrgicos que não foram submetidos a esta visita.”

Local do Estudo

Este estudo foi realizado no serviço de Cirurgia Geral/Ortopedia, do Hospital São Pedro Gonçalves Telmo (Peniche). O serviço possui 30 camas distribuídas por onze enfermarias, em que oito, têm três camas cada, e três com duas camas apenas. Destas 30 camas, 21 são destinadas à Cirurgia Geral e 9 destinadas à Ortopedia.

Amostra

O tipo de amostra utilizada neste estudo é uma amostra por quotas.De acordo com FORTIN (2000:209), a amostra por quotas, é uma amostra não probabilística, que consiste em “…formar estratos da população na base de certas características e proceder, de maneira que estas estejam representadas em proporções semelhantes às que existem na população.”

No caso particular deste estudo, a amostra foi constituída por dois grupos (grupo experimental e grupo de controlo), com 30 elementos cada. Como critérios de selecção, foram definidos a inclusão, em cada grupo, apenas de indivíduos submetidos a Anestesia espinhal (seja Raquianestesia ou Epidural), dos quais 15 devem ser utentes do género masculino e destes, 3 devem ter mais de 65 anos. Os restantes 15 elementos de cada grupo devem ser do género feminino e destes, 3 devem ter mais de 65 anos. Estes critérios de idade e género estão de acordo com as características da população do concelho de Peniche, na medida em que de acordo com o Centro de Saúde de Peniche, da população com mais de 18 anos cerca de 20% são idosos e cada um dos géneros representa 50% da população.

Em ambos os grupos, os utentes devem estar conscientes e orientados, sem hipoacúsia acentuada ou total, com facilidade em se exprimir e falar em português.Estes critérios foram delineados de modos a conseguirmos uma maior homogeneidade entre os grupos e uma amostra o mais aproximada possível às características da população que acorre a este serviço.

Instrumento de colheita de dados

O instrumento de colheita de dados é constituído por duas partes. A primeira parte consiste na caracterização dos utentes, enquanto que a segunda parte consiste na avaliação da intensidade da ansiedade, recorrendo a uma escala do tipo Likert, por mim elaborada, com base na bibliografia consultada para a elaboração deste projecto. De entre as possíveis funções das escalas de medida, FORTIN (2000:254), inclui a “…avaliação de medidas fisiológicas como no caso da dor, da náusea ou da intensidade do esforço.”, de entre as quais se inclui a ansiedade.

A caracterização dos utentes consiste em 9 itens, que contemplam, o género, idade, estado civil, religião, habilitações académicas, situação profissional, agregado familiar, Patologia e antecedentes anestésicos (Anexo 1).

A avaliação da ansiedade é feita recorrendo a uma escala com 6 itens, relativos a: Tensão Muscular, Alterações no sistema tegumentar, Alterações cardiorrespiratórias, Alterações na voz e padrão de fala, Actividade mental, Alterações comportamentais. O resultado do somatório da escala pode ir de 0 a 24 pontos. Para se obter a intensidade da ansiedade é feito o somatório da escala (somatório dos resultados das 6 categorias). A intensidade da ansiedade é nos dada, com base no resultado desse somatório e recorrendo à seguinte chave:

– Mínima: ≤ 5

– Fraca: 6 – 9

– Moderada: 10 – 14

– Forte: 15 – 19

– Máxima: ≥ 20

Colheita de dados

Foi efectuada uma avaliação da ansiedade nos utentes dos dois grupos antes de qualquer intervenção, devido à não equivalência dos dois grupos. Esta primeira avaliação teve lugar no momento da admissão no serviço, que também é uma altura propícia para a colheita de dados, para a caracterização do utente. Como normalmente a admissão dos utentes no serviço é feita na véspera da cirurgia, nesse mesmo dia será efectuada a visita pré-operatória aos utentes do grupo experimental. A segunda avaliação da ansiedade, será efectuada no dia seguinte, nos dois grupos, no inicio do turno onde será realizada a cirurgia. Uma vez que na altura a visita pré-operatória não era efectuada no serviço, o instrumento de colheita de dados, foi aplicado primeiro nos utentes do grupo de controlo e só depois nos utentes do grupo experimental (que será submetido à visita pré-operatória), de modo a evitar um enviesamento dos resultados da investigação e evitar complicações a nível ético.

III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Observando os resultados apresentados nos quadros 1 e 4, podemos caracterizar as amostras quanto ao género, idade, estado civil e agregado familiar. No que respeita à distribuição segundo o género e idade, verifica-se que está de acordo com o previsto na definição de amostra, podendo apenas ressalvar que no que concerne à idade, não temos no grupo experimental nenhum individuo representaivo da faixa etária 18 – 25 anos, sendo a faixa etária mais representativa a dos 36 – 45 anos, com 8 individuos (26.6%). Por seu lado a faixa etária dos 56 – 65 anos, é a mais representativa no grupo de controlo, com 9 individuos (30%). Posto isto, verifica-se que o grupo de controlo apesar de ser mais representativo em termos de faixas etárias, é também ligeiramente mais envelhecido, com uma média de idades de 52.1 anos, contra 50.4 anos do grupo experimental, sendo as duas amostras quase equivalentes em termos etários. No que ao estado civil diz respeito, em ambos os grupos predominam os utentes casados (80% e 70%, respectivamente), havendo portanto um predominio também de pessoas que vivem acompanhadas (90% e 80% respectivamente), o que garante à partida, um bom suporte familiar no domicilio e equivalência das duas amostras em relação a estes dois parâmetros.

Nos quadros 2 e 5, podemos observar a distribuição das amostras quanto às habilitações académicas, situação profissional e religião, sendo que em ambos os grupos predominam os utentes com o 1º ciclo do ensino básico (63.3 % e 46.6%, respectivamente), sendo a disparidade menor no grupo experimental, que tem o 2º e 3º ciclos “reforçados” com 30%  e 20%, contra 10% e 13.3% do grupo de controlo. Por seu lado, o grupo de controlo apresenta mais individuos com o ensino secundário (10%, contra 3.3% do grupo experimental), e um analfabeto (3.3% contra 0% no grupo experimental). Verifica-se portanto alguma heterogeneidade, neste parametro. Relativamente à situação profissional, verifica-se um predominio, nos dois grupos de individuos empregados (46.6% e 50%, respectivamente) e reformados (33.3% e 40%, respectivamente), o que à partida afasta um cenário de preocupações económicas, pois a maioria dos individuos tem actualmente, pelo menos uma fonte de rendimentos. Estes números também comprovam haver equivalência neste parâmetro. A grande maioria dos individuos, em ambas as amostras tem religião (96.7% e 93.4%, respectivamente), o que garante à partida um suporte espirutual sustentado.

Relativamente à distribuição de acordo com a patologia cirúrgica, tempo de evolução da mesma e antecedentes de anestesia espinhal (quadros 3 e 6), verifica-se que a patologia mais comum é a hérnia inguinal (43.3% e 33.3%, respectivamente) e varizes (16.6% e 30% respectivamente), que são intervenções cirurgicas de menor complexidade e pouco tempo de recuperação. A patologia ortopédica contemplada nas amostras, osteoartroses (gonartoses e coxartroses), também é bastante representativa (20% e 16.6%, respectivamente), e tratam-se de intervenções cirúrgicas revestidas de uma maior complexidade e tempo de recuperação. Verifica-se portanto homogeneidade neste parâmetro. O tempo de evolução é bastante variado, apesar de predominarem os casos de evolução menor que 1 ano (16.6% e 33.3%, respectivamente) e superior a 10 anos (30% e 13.3%, respectivamente). Relativamente aos antecedentes anestésicos em anestesia espinhal, verifica-se que em ambas as amostras, predominam os utentes que nunca foram submetidos a anestesia espinhal, com valores de 63.3% e 70%, respectivamente.

De um modo global, após a análise descritiva das variáveis atributo, que caracterizam a população, verifica-se que as amostras são equivalentes, à excepção da variações observadas nas habilitações académicas.

GRUPO DE CONTROLO

Quadro 1 – Distribuição da amostra quanto ao género, idade, estado civil e agregado familiar

N Total = 30
n%
GÉNERO
Feminino

Masculino

15

15

50

50

IDADE
18 – 25 anos

26 – 35 anos

36 – 45 anos

46 – 55 anos

56 – 65 anos

> 65 anos

2

1

5

7

9

6

6.6

3.3

16.6

23.3

30

20

ESTADO CIVIL
Solteiro

Casado

Viúvo

União de Facto

2

24

3

1

6.6

80

10

3.3

AGREGADO FAMILIAR
Vive Sozinho

Vive com conjugue

Vive com conjugue e filhos

Vive com os pais

3

12

14

1

10

40

46.6

3.3

Quadro 2 – Distribuição da amostra quanto às habilitações académicas, Situação profissional e religião

N Total = 30
n%
HABILITAÇÕES ACADÉMICAS
Analfabeto

1º Ciclo do Ensino Básico

2º Ciclo do Ensino Básico

3º Ciclo do Ensino Básico

Ensino Secundário

1

19

3

4

3

3.3

63.3

10

13.3

10

SITUAÇÃO PROFISSIONAL
Empregado

Desempregado

Reformado

Doméstica

14

3

10

3

46.6

10

33.3

10

RELIGIÃO
Católica

Sem Religião

29

1

96.7

3.3

Quadro 3 – Distribuição da amostra quanto à patologia, tempo de evolução da doença e antecedentes anestésicos

N Total = 30
n%
PATOLOGIA
Gonartrose

Coxartrose

Fístula Anal

Hérnia Inguinal

Hérnia Incisional

Cistocelo

Hemorróidas

Sinus Pilonidalis

Varizes

3

3

1

13

1

1

1

2

5

10

10

3.3

43.3

3.3

3.3

3.3

6.6

16.6

TEMPO DE EVOLUÇÃO DA DOENÇA
< 1 ano

1 ano

2 anos

3 anos

4 anos

5 anos

> 10 anos

5

4

4

2

2

4

9

16.6

13.3

13.3

6.6

6.6

13.3

30

ANTECEDENTES ANESTÉSICOS
Nunca foi submetido a Anestesia Espinhal
Submetido a Anestesia Espinhal anteriormente
19

11

63.3

36.6

GRUPO EXPERIMENTAL

Quadro 4 – Distribuição da amostra quanto ao género, idade, estado civil e agregado familiar

N Total = 30
n%
GÉNERO
Feminino

Masculino

15

15

50

50

IDADE
18 – 25 anos

26 – 35 anos

36 – 45 anos

46 – 55 anos

56 – 65 anos

> 65 anos

0

4

8

5

7

6

0

13.3

26.6

16.6

23.3

20

ESTADO CIVIL
Solteiro

Casado

Viúvo

União de Facto

3

21

4

2

10

70

13.3

6.6

AGREGADO FAMILIAR
Vive Sozinho

Vive com conjugue

Vive com conjugue e filhos

Vive com filho e netos

6

12

11

1

20

40

36.6

3.3

Quadro 5 – Distribuição da amostra quanto às habilitações académicas, Situação profissional e religião

N Total = 30
n%
HABILITAÇÕES ACADÉMICAS
Analfabeto

1º Ciclo do Ensino Básico

2º Ciclo do Ensino Básico

3º Ciclo do Ensino Básico

Ensino Secundário

0

14

9

6

1

0

46.6

30

20

3.3

SITUAÇÃO PROFISSIONAL
Empregado

Desempregado

Reformado

Doméstica

15

2

12

1

50

6.6

40

3.3

RELIGIÃO
Católica

Sem Religião

28

2

93.4

6.6

Quadro 6 – Distribuição da amostra quanto à patologia, tempo de evolução da doença e antecedentes anestésicos

N Total = 30
n%
PATOLOGIA
Gonartrose

Coxartrose

Hérnia Inguinal

Hérnia Incisional

Hérnia Umbilical

Laqueação de Trompas

Hemorróidas

Hidrocelo

Varizes

4

1

10

1

2

1

1

1

9

13.3

3.3

33.3

3.3

6.6

3.3

3.3

3.3

30

TEMPO DE EVOLUÇÃO DA DOENÇA
< 1 ano

2 anos

3 anos

5 anos

6 anos

7 anos

8 anos

> 10 anos

10

4

3

3

1

3

2

4

33.3

13.3

10

10

3.3

10

6.6

13.3

ANTECEDENTES ANESTÉSICOS
Nunca foi submetido a Anestesia Espinhal
Submetido a Anestesia Espinhal anteriormente
21

9

70

30

A avaliação da intensidade da ansiedade, antes da Visita Pré-Operatória, revelou, numa pontuação que poderia variar entre 0 e 24 pontos, que os utentes do grupo de controlo apresentaram resultados entre 3 e 15, enquanto que os utentes do grupo experimental apresentaram resultados entre 0 e 15. No grupo de controlo 46.6% dos utentes obtiveram valores de ansiedade “moderada”, contra 73.3% no grupo experimental. No grupo de controlo verificaram-se valores elevados de intensidade “fraca” (43.3%, contra 16.6% no grupo experimental) e intensidade “minima” de 10% (3.3% no grupo experimental). Verificou-se ainda no grupo experimental um utente com ansiedade “forte” (3.3%) e outro com “sem ansiedade” (3.3%). Ainda assim pode-se considerar que os dois grupos são equivalentes em termos de ansiedade (sem visita pré-operatória), uma vez que as médias das intensidades do grupo de controlo e experimental são de 9 e de 10 respectivamente, apesar de serem classificados respectivamente com as intensidades “fraca” e “moderada”, o que neste caso não é significativo.

A avaliação da intensidade da ansiedade, no inicio do turno em que será realizada a cirurgia, revelou, que os utentes do grupo de controlo apresentaram resultados entre 5 e 14, enquanto que os utentes do grupo experimental apresentaram resultados entre 1 e 8. No grupo de controlo 53.3% dos utentes obtiveram valores de ansiedade “moderada”, enquanto que no grupo experimental apenas se verificou 3.3%. No grupo de controlo verificaram-se ainda valores também altos de intensidade “fraca” (46.6%, contra 23.3% no grupo experimental). No grupo de controlo, não se verificou intensidade “minima”, sendo que por seu lado no grupo experimental, verificou-se o valor de 73.3%. As médias das intensidades do grupo de controlo e experimental nesta segunda avaliação, são de 10 e de 3 respectivamente, valores dos quais decorrem as intensidades “moderada” e “mínima”, resultados que por si só já assumem alguma relevância.

De modo a poder fazer a verificação da hipotese enunciada, foi utilizado o teste paramétrico “t de Student”, um teste unilateral à esquerda, em que Hо= A intensidade da ansiedade nos utentes cirúrgicos, propostos para anestesia espinhal após terem sido submetidos a visita pré-operatória é semelhante à intensidade da ansiedade, nos utentes cirúrgicos que não foram submetidos à visita pré-operatória; e H1= Os utentes cirúrgicos, propostos para anestesia espinhal, submetidos a Visita Pré-Operatória têm menos ansiedade que os utentes cirúrgicos que não foram submetidos a esta visita (que corresponde à hipótese de investigação). Assim, considerando A como sendo o grupo experimental e B como o grupo de controlo, temos: Hо= µA = µB com H1= µA < µB. Após o cálculo das médias e desvios padrão das amostras A e B (A  = 3 e B = 10; SA = 1.93 e SB = 3.07 respectivamente), tendo em conta o tamanho das amostras n (nA = 30 e nB = 30) e assumindo que as variâncias são supostamente iguais, a fórmula de cálculo a utilizar será:

     que obedece a uma lei de student (nA + nB -2) com 58 graus de liberdade e um nível de significância (α) de 5% (0.05).

Posto isto, obtém-se |t obs| =16.03 < t crítico = 1.671, que vai corresponder a H1= 16.03 < 1.671, o que significa, que se observa uma diferença significativa, ao nível crítico 5%, que leva à rejeição da hipotese nula Hо e que permite confirmar estatisticamente que “Os utentes cirúrgicos, propostos para anestesia espinhal, submetidos a Visita Pré-Operatória têm menos ansiedade que os utentes cirúrgicos que não foram submetidos a esta visita”.

Como principais condicionantes dos resultados deste estudo, identifico, os efeitos da medicação pré-anestésica e a reacção individual de cada utente a esta, que influencia a intensidade da ansiedade dos utentes na segunda avaliação, apesar da grande maioria dos individuos de ambas as amostras terem sido submetidos a esta terapêutica. Uma outra limitação do estudo, prende-se com o facto de alguns utentes estarem ansiosos, devido a factores alheios ao tipo de anestesia ou cirurgia. Outro aspecto que pode ter condicionado estes estudo pode também estar relacionado com a possibilidade de algum enfermeiro do serviço, executar algum tipo de intervenção que reduza a ansiedade antes da intervenção cirúrgica, em utentes do grupo de controlo.

Os aspectos éticos estão salvaguardados, na medida em que a investigação proposta satisfaz as exigências da beneficência, da justiça e do respeito pelas pessoas.

O principio da beneficência está salvaguardado, na medida em que se fez uma avaliação de eventuais riscos/benefícios para os utentes, decorrentes da sua participação na investigação, na qual se concluiu que os benefícios para a comunidade, assumem maior importância, face ao facto de existir a situação de um grupo de utentes (grupo de controlo), que não vai beneficiar da visita pré-operatória. De facto a não realização desta intervenção nestes utentes, não traz qualquer tipo de implicação a nível ético, uma vez que na altura em que se realizou este estudo, não existia visita pré-operatória no serviço de cirurgia geral/ortopedia do Hospital São Pedro Gonçalves Telmo. Logo, também o princípio da justiça está salvaguardado, na medida em não se está a tomar nenhuma atitude discriminatória entre os grupos.

O respeito está salvaguardado, pelo facto de ter sido pedida ao utente a sua colaboração voluntária, através do consentimento informado, com a garantia do respeito pelos seus direitos, confidencialidade e de que a participação ou não no estudo não colocou em causa, a qualidade dos cuidados prestados.

IV – CONCLUSÃO 

A meta deste estudo, foi verificar se a ansiedade nos doentes submetidos à visita pré-operatória, era inferior à ansiedade verificada nos doentes que não tinham sido submetidos a visita pré-operatória. Este estudo assumiu especial relevância por se tratar de doentes, que para além do stressor cirúrgico, tinham ainda a agravante de serem submetidos a uma anestesia que foge aos moldes tradicionais de ter de “adormecer para ser operado”, e que está envolta num receio de perda de funcionalidade e deficiência permanente dos membros inferiores. Este tipo de estudos experimentais, como estão para além da simples identificação de fenómenos, são uma ferramenta útil para a corroboração de teorias que relacionam os fenómenos, mas também uma ferramenta útil ao nível da gestão e qualidade, ao demonstrar a importância desta actividade autónoma de enfermagem, tanto para o doente, que terá tendencialmente um percurso cirúrgico menos atribulado, como para as instituições que reduzem os custos, com as eventuais complicações que pode gerar um doente demasiado ansioso, durante o episódio cirúrgico.

Conclui-se portanto que os utentes do grupo experimental, por terem sido submetidos à visita pré-operatória, tinham menor ansiedade que os utentes do grupo de controlo. Na prática, mesmo dentro do bloco operatório, estes doentes estavam muito mais tranquilos, conversavam mais com a equipe, não estranham os procedimentos (pois já lhes haviam sido descritos anteriormente) e acima de tudo sentiam mais descansados por ver uma cara conhecida, ou seja o “seu enfermeiro de referência”, que lhe havia feito a visita pré-operatória na véspera da cirurgia.

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