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Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS): Salve Vidas!

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Salve Vidas! Lave as mãos!

 

As IACS custam, anualmente, ao erário público cerca de 280 Milhões de Euros, para tratar 8,4% dos doentes hospitalizados.

 

Afinal o que é uma IACS?

As IACS, ou “infeções nosocomiais” ou “infeções hospitalares”, são as que acometem doentes internados em hospitais, ou em outras unidades de prestação de cuidados, que não estão presentes ou em período de incubação aquando da admissão. Estão também aqui incluídas das infeções que os doentes adquirem no hospital, mas apenas se manifestam após a alta hospitalar, bem como as infeções que afetam os profissionais de saúde.

As IACS são, se acordo com a OMS, o efeito adverso mais frequente na prestação de cuidados de saúde, sendo que centenas de milhões de pessoas sofrem todos os anos com estas infeções.

Factos:

  •  Em cada 100 pessoas hospitalizadas 7 (nos países desenvolvidos) e 10 nos países em vias de desenvolvimento irão adquirir pelo menos uma IACS
  • Em Portugal mais de 8 doentes em cada 100 hospitalizados contraem pelo menos uma IACS.
  • Nos países mais pobres a probabilidade de contrair IACS é estatisticamente superior, quando comparados com países mais ricos.
  • Nos países desenvolvidos a IACS mais comum é a infeção do trato urinário, associada a cateterização vesical, já nos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento a infeção do local cirúrgico é a mais prevalente
  •  Nos países desenvolvidos, cerca de 30% dos doentes tratados em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) adquirem, pelo menos, uma IACS.
  •  Nos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, a ocorrência de IACS em UCI é 2 a 3 vezes superior, sendo que as infeções associadas à utilização de dispositivos é cerca de 13 vezes superior nestes países, quando comparados com os EUA
  •  Nos países em vias de desenvolvimento existe um risco 2 a 20 vezes superior de recém-nascidos adquirirem IACS, quando comparados com países desenvolvidos

Quanto custam as IACS?

Em 2009 um estudo estimava, que no EUA, que o custo das IACS, preveníveis, seria semelhante ao aplicado no tratamento de doentes com AVC, Diabetes Mellitus complicada e Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva. No ano de 2013, uma extensa meta análise, defendeu que o custo das 5 IACS mais onerosas no seu tratamento, nos EUA (Infeção Associada com a manipulação de acessos vasculares centrais; Pneumonia Associada à Ventilação; Infeção do local Cirúrgico; Infeção por Clostridium difficile; Infeção do trato urinário associada à cateterização vesical), ultrapassou os 7 Biliões de Euros, o que é mais que o PIB de um país como Malta. Se uma relação direta pudesse ser realizada para a realidade portuguesa, os montantes envolvidos seriam astronomicamente altos para a nossa realidade, mais de 200 milhões de euros, ou seja, um valor superior aos cortes realizados na área da saúde em 2014, o Relatório do Grupo de Reforma Hospitalar (Pág. 193 a 203) corrobora este exercício matemático, defendendo que as IACS custam, anualmente, ao erário público cerca de 280 Milhões de Euros, para tratar 8,4% dos doentes hospitalizados.

Aqui apenas falámos de custos direitos com este verdadeiro problema de saúde pública, não estão aqui contabilizados os custos menos tangíveis, como o sofrimento de doentes e famílias, a perda de dias de trabalho, o aumento de co morbilidades a longo prazo, com a consequente diminuição da produtividade e os custos que daí advêm.

Fatores de risco para os doentes contraírem IACS

A OMS identifica os seguintes fatores de risco:

  •  Uso inapropriado e inadequado de antibióticos e dispositivos médicos (acessos vasculares, ventilação mecânica, cateterização vesical)
  • Procedimentos sofisticados e de alto risco
  •  Imunossupressão e outras comorbilidades graves
  •  Incorreta e/ou insuficiente aplicação dos standards de isolamento
  •  Condições ambientes inadequadas e gestão de resíduos incorreta ou com falhas
  •  Infraestruturas inadequadas ou com erros de conceção
  •  Equipamento insuficiente/inadequado
  •  Ratios profissional-doente baixo
  • Overcrowding (Sobrelotação)
  •  Falta de procedimentos e normas de atuação
  •  Falta de conhecimentos acerca de administração parentérica e transfusões sanguíneas
  •  Ausência de guidelines e políticas locais e nacionais

 

Quais as perspetivas/necessidades?

Num contexto de forte contensão económica, de cortes, substrações, não será fundamental às administrações dos Hospitais, bem como ao Ministério da Saúde, perceberem que poupança nem sempre passa por menos pessoas, menos condições?

Vários estudos que relacionam um ratio enfermeiro-doente baixo, como sendo um fatores que aumenta a probabilidade de doentes contraírem IACS (Hospital Staffing and Health Care–Associated Infections: A Systematic Review of the Literature; Nurse staffing, burnout, and health care–associated infection).

Em consequência do exposto será fundamental que os decisores incorporem a importância de estabelecer ratios seguros de profissionais para que possamos combater as IACS. Que se aposte seriamente na prevenção em detrimento da mitigação dos efeitos da IACS.

Hoje é comemorado o dia Mundial da Higienização das Mãos, a OMS defende que os microrganismos multirresistentes tem apresentado aumento da incidência e prevalência nos doentes, levando que muitos estejam colonizados já. Assim, as melhores medidas a tomar são as que previnem a propagação destes agentes, entre elas a essencial e “simples” higienização das mãos. Este procedimento diminui a propagação dos agentes aumentando o perfil de segurança dos cuidados de saúde, com custo mínimos, mas que existem. Os hospitais têm que incorporar que nas condições extremas em que muito profissionais trabalham a higienização das mãos fica muitas vezes relegada para segundo plano, em benefício do número de doentes atendidos. Isto leva a que os cuidados mais básicos na prevenção das IACS sejam totalmente esquecidos, objetivando-se posteriormente a gravidade das situações. Quantos profissionais (enfermeiros e assistente operacionais) poderíamos contratar com 280 milhões de euros??

Com o mote “SAVE LIVES: Clean Your Hands” este primeiro desafio para a segurança dos doentes, é fortemente potenciado e estimulado pela OMS, todos temos que pelo menos ter consciência da sua importância e lutar por condições para o realizarmos.

 
Pedro Rodrigues
Enfermeiro Coordenador no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Leira – Hospital Santo André
Licenciado em Enfermagem
Especialista em Gestão de Unidades de Saúde
Mestrando em Gestão de Unidade de Saúde na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho