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III Encontro de Enfermagem da cidade de Cantanhede

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III Encontro de Enfermagem da cidade de Cantanhede

Decorreu em Cantanhede, pelo terceiro ano consecutivo, o III Encontro de Enfermagem da cidade de Cantanhede, nos dias 17 e 18 de Maio de 2007, tendo por base o tema “A pessoa no centro dos cuidados”.

Enf.ª Cátia Duarte

Enf.ª Teresa Pais

Enf. Joel Monteiro

Decorreu em Cantanhede, pelo terceiro ano consecutivo, o III Encontro de Enfermagem da cidade de Cantanhede, nos dias 17 e 18 de Maio de 2007, tendo por base o tema “A pessoa no centro dos cuidados”.

No primeiro dia de conferências, tiveram lugar as seguintes mesas: sistemas de informação em Enfermagem, cuidados continuados e Enfermagem em contexto humanitário.

A Enf.ª Áurea Flamino Andrade (Enf.ª Directora do Hospital do Arcebispo João Crisóstomo) presidiu a conferência inaugural, tendo dissertado acerca da realidade de Cantanhede, assim como a reestruturação a que o Hospital do Arcebispo João Crisóstomo foi sujeito. Segundo esta, a maior eficácia das medidas preventivas em saúde, o progresso da ciência no combate à doença, a melhoria da intervenção ambiental e a progressiva consciencialização de que somos os principais agentes da nossa própria saúde são aspectos que estão intimamente ligados a uma tendência social que é revelada pelo envelhecimento progressivo da população e pelo consequente aumento da esperança média de vida. Focou, ainda, uma necessidade urgente de uma resposta adequada às carências crescentes em cuidados de saúde, mais especificamente, relativo ao envelhecimento humano, na qual se verifique eficácia e humanização dos cuidados, potenciando uma melhor organização e eficiência dos recursos humanos existentes. Com os dados referidos pela prelectora, verificamos a necessidade do tipo de cuidados referenciados:

    • Portugal, no ano de 2050, contará com o 4º lugar no ranking dos países da U.E. no que concerne à sua população de idosos, com uma associação agravante da tendência para a baixa natalidade e aumento da esperança média de vida;
    • Mais especificamente, a nível do Concelho de Cantanhede, o índice de envelhecimento é de 86,6% e a relação de dependência aproxima-se dos 53,4%, havendo um total da população sénior (com mais de 65 anos) que ronda os 20%.
    • A população sénior representa a maior percentagem de utentes com internamentos superiores a 20 dias.

Neste contexto, o Hospital do Arcebispo João Crisóstomo, proporciona à população, regendo-se pela filosofia da Rede Nacional dos Cuidados Continuados Integrados, uma Unidade de Convalescença (36 camas), uma Unidade de Cuidados Paliativos (14 camas), um Serviço Domiciliário Integrado que articula com o Centro de Saúde e um Serviço de Cirurgia do Ambulatório e Consulta Externa. A Unidade de Convalescença tem como objectivo a recuperação funcional de doentes com incapacidade reversível e necessidade de internamento, não superior a 30 dias, sendo um recurso intermédio de apoio à recuperação pós-hospitalar e prévia no regresso ao domicílio. A Unidade de Cuidados Paliativos irá prestar cuidados activos, coordenados e globais, a doentes em situação clínica complexa e de sofrimento decorrentes de doença severa e /ou avançada, incurável e progressiva, tendo como componentes essenciais o alívio da sintomatologia; o apoio psicológico, espiritual e emocional; o apoio à família e o apoio durante o processo de luto. O Serviço Domiciliário tem como missão a prestação de cuidados continuados e diferenciados no domicílio (quer preventivos quer curativos), diminuindo o número (re)internamentos, promovendo a autonomia e melhoria da qualidade de vida dos doentes. No que concerne à Unidade de Cirurgia do Ambulatório, à que salientar a existência de uma consulta de enfermagem pré-operatória, onde será efectuado o ensino para pós-alta e onde serão explicados todos os procedimentos, permitindo uma maior envolvência da família em todo o processo e facilitando a alta.

Uma vez que a principal missão de qualquer organização prestadora de cuidados de saúde deverá ser o alcançar da satisfação do utente, através de cuidados de qualidade, a Direcção de Enfermagem do Hospital do Arcebispo João Crisóstomo assume promover a melhoria do desempenho dos profissionais de Enfermagem, promovendo o acesso equitativo aos serviços, e avaliação do grau de satisfação dos utentes, através da implementação de sistemas de gestão da qualidade, apostando numa estratégia de melhoria contínua com efeitos na atitude e nos resultados do trabalho desenvolvido por todos os enfermeiros.

A prelectora focou ainda um aspecto que, a nosso ver, é importante, que é a necessidade de especialização/formação em psicologia clínica, de forma a tornar os profissionais de saúde mais aptos e a dar-lhes um maior à-vontade na abordagem de temas como a preparação para a morte/perda.

A primeira mesa iniciou-se com o Prof. Dr. Filipe Pereira (Escola Superior de Enfermagem de São João), que abordou o tema “A importância do resumo mínimo de dados nos padrões de qualidade de cuidados de Enfermagem”. Segundo este, existem duas questões a que devemos responder “porque é que precisamos de informação?” e “que informação precisamos (sobre o quê)?”. A qualidade em saúde passa por uma pluridisciplinaridade, ou seja, envolve todos os profissionais de saúde e não apenas um grupo, devendo estes ter como finalidade a melhoria contínua da prestação de cuidados. Sendo a qualidade tangível, esta é passível de ser avaliada e/ou quantificada, através da inclusão de dados de qualidade quantificáveis nos registos, nomeadamente nos de Enfermagem. Para tal, é necessário a existência de uma linguagem uniformizada e comum, nomeadamente a CIPE, para que possa existir, no mínimo, comparabilidade de dados a nível nacional. No tipo de informação que devemos possuir, deverão estar incluídos pontos como: promoção da saúde (por exemplo, a adesão da população ao novo plano nacional de vacinação), auto-cuidado, readaptação profissional, prevenção de complicações, satisfação dos utentes, entre outros.

A Enf.ª Maria Helena Santos Clara Simões (Instituto de Gestão de Informação Financeira) preleccionou o tema “Sistemas de Classificação de doentes de Enfermagem”. Desde 1984 que se visa a formação de um Sistema de Classificação de Doentes baseado em níveis de dependência de cuidados de Enfermagem (SCD/E), integrado no programa “Sistemas de Informação para a Gestão dos Serviços de Saúde” (SIGS). Este programa, de acordo com a Enf.ª M.ª Helena, baseia-se na categorização dos doentes por indicadores críticos e de acordo com as suas necessidades em cuidados de Enfermagem (à semelhança do método GRASP System desenvolvido nos EUA), tendo por objectivos:

    • Optimizar os recursos de Enfermagem disponíveis;
    • Delinear os cuidados a serem prestados;
    • Administrar eficazmente o número de enfermeiros necessários em cada serviço;
    • Reconhecer as necessidades em recursos de Enfermagem;
    • Ajustar a dotação dos Quadros de Pessoal.

Em última instância, a finalidade deste programa é desenvolver um sistema de informação, no qual haja uma gestão racional dos recursos humanos, potenciando os recursos de Enfermagem disponíveis e apoiando, sobretudo, a introdução de medidas correctivas e a actualização do Quadro de Pessoal, inserido, obviamente, no contexto orçamental da instituição. Através do cálculo diário das necessidades dos doentes internados, os enfermeiros delineiam as intervenções, balizando os níveis de dependência respectivos no Quadro de Classificação de Doentes (QCD), de uma forma prospectiva, o que possibilita determinar as horas de cuidados necessárias por doente e que, confrontadas com o número de doentes internados naquele dia, permite auferir o indicador de gestão Horas de Cuidados Necessárias por Dia de Internamento. No entanto, visto a informação obtida ser referente às variações ocorridas em períodos de 24 horas, a distribuição dos recursos humanos é feita em função das necessidades efectivas de cuidados, minimizando-se sub ou sobre utilizações. De igual forma, permite obter indicadores que poderão ser utilizados na elaboração prospectiva de quadros de pessoal adequados à realidade.

A oradora salientou, ainda, que, os dados obtidos até hoje indiciam que, de uma forma geral, existe uma carência de enfermeiros nas unidades de internamento, nomeadamente nas de Medicina, e que, de uma forma sistemática, os enfermeiros têm papel activo na gestão de cuidados e na gestão das unidades de internamento, influenciando positivamente a cultura organizacional dos hospitais.

O Dr. Fernando Gomes Costa (ARS Centro) debateu um tema em ascensão nos dias de hoje, a Telemedicina, mais especificamente a “Telemedicina no serviço de Urgência”. A Telemedicina, segundo o mesmo, consiste na utilização da informática e das telecomunicações aplicadas às tarefas tradicionalmente executadas por profissionais de saúde (confrontar com figura). Um dos maiores obstáculos à implementação deste serviço, destacados durante a apresentação, é o elevado custo que acarreta (entre 10 000 – 15 000 euros, por posto), o que dificulta a uniformidade de oportunidades e de distribuição de equipamentos. No entanto, também, foram salientadas muitas vantagens, tais como: favorece a formação contínua dos profissionais (ensino à distância) e a criação de um relacionamento inter-profissional mais personalizado, permite uma economia de transportes, diminuição das listas de espera, acessibilidade equitativa e o descongestionamento dos serviços de Urgência, facilita a humanização dos cuidados e um rápido referenciamento dos utentes, entre outras. Em suma, a telemedicina irá, a longo prazo, permitir uma melhor utilização de recursos e um atendimento e/ou diagnóstico mais rápido e eficaz.

A segunda mesa foi encetada pelo Dr. Abreu Nogueira (Unidade Missão Cuidados Continuados Integrados) com o tema “Rede de Cuidados Continuados Integrados”. “Num sistema de saúde, o doente, o sistema e a comunidade devem ser encarados como um todo. O indivíduo deve aceder aos cuidados necessários, no tempo certo, no local certo, pelo prestador adequado”, referiu. Para tal, e tendo em conta o progressivo aumento da percentagem de idosos e a diminuição da percentagem da população activa, dever-se-á proceder a uma reorientação/mudança do sistema de saúde português (a prevenção deverá assumir primordial importância – alteração de estilos de vida de forma a evitar doenças crónicas e a prolongar a funcionalidade ao longo do ciclo vital). Sendo assim, e de acordo com o prelector, aquando da delineação de uma rede de saúde como a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), coloca-se a seguinte questão: Quais os cuidados necessários, quais o tempo e local certos e qual o prestador de cuidados mais adequado?

Devido ao perfil populacional já mencionado e aos valores dele auferidos, foram criados, no Dec. Lei n.º 101/2006 de 6 de Junho, os Cuidados Continuados Integrados como conjunto de intervenções sequenciais de saúde e/ou de apoio social, decorrente de avaliação conjunta, centrado na recuperação global entendida como o processo terapêutico e de apoio social, activo ou contínuo, que visa promover a autonomia melhorando a funcionalidade da pessoa em situação de dependência, através da sua reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social. Sendo assim, para o Dr. Abreu Nogueira, este modelo tem como princípios, ser: integral (engloba todas as necessidades), global, interdisciplinar, inserido na comunidade, harmónico e equitativo, sustentável (despesas repartidas entre o Ministério da Saúde e o da Segurança Social), melhor utilização dos recursos e representativo da qualidade.

Segundo o mesmo, a RNCCI tem como benefícios (confrontar com esquema):

    • Adequação dos cuidados;
    • Redução da permanência de crónicos no hospital;
    • Aumento de camas disponíveis para internamento de agudos;
    • Maior eficiência;
    • Diminuição de custos.

E como objectivos:

    • Actuar sobre o estado de saúde dos cidadãos com perda de autonomia;
    • Prevenir o agravamento das situações;
    • Actuar sobre a capacidade funcional, reabilitando e cuidando;
    • Ver o doente e família como unidade de cuidados;
    • Promover o envolvimento dos cuidadores nos cuidados;
    • Dinamizar a formação dos cuidadores.

A Dr.ª Maria José Hespanha (ARS Centro) abordou o tema “Saúde de pessoas idosas e cidadãos em situação de dependência”, tendo debruçado a sua prelecção, principalmente, na sua experiência. Esta salientou o quão difícil é, por vezes, o contacto com este grupo populacional, já que muitas vezes são distanciados afectivamente pelos seus familiares, bem como pela sociedade. Esta situação gera o seu isolamento, como forma de auto-protecção (por exemplo, deitam-se cedo, optam por passar o seu tempo em espaços fechados e escuros, etc.). Este facto está, também, associado ao seu receio de luto/perda e à proximidade do seu próprio fim. Sendo assim, cabe aos profissionais de saúde auxiliar/apoiar o idoso, ajudando-o a vivênciar da melhor forma o seu processo de envelhecimento e a proporcionar um fim digno e sem sofrimento.

“Continuidade de cuidados: que desafio para os cuidados de saúde primários” foi o tema analisado pela Dr.ª Isabel Ventura (Sub-região de Saúde de Coimbra). De acordo com esta prelectora, o Centro de Saúde, como unidade básica do Serviço Nacional de Saúde e como protagonista de linha da frente do mesmo, enfrenta uma escassez a nível de recursos humanos (tanto médicos como enfermeiros), que poderá por em causa a qualidade dos cuidados prestados. A alteração da dinâmica familiar, o aumento da esperança de vida e o aumento de doenças crónicas e de pluripatologias constitui um desafio para os cuidados de saúde primários, que têm cada vez mais, e segundo a mesma, a missão de aumentar a qualidade de vida e diminuir o grau de dependência dos idosos.

Consciente das alterações dos modelos de prestação de cuidados e das necessidades de saúde, o Governo Português consagrou como prioritário, o Projecto dos Cuidados Continuados. Factores como o envelhecimento da população, as alterações sociais, as novas necessidades em saúde, a falta de profissionais, implicam reestruturações a nível da prestação de cuidados, de forma a conseguirmos responder eficiente e eficazmente, com a qualidade exigida e necessária. De acordo com a oradora, a criação de Equipas de Cuidados Continuados Integrados nos Centros de Saúde e Unidades de Saúde Familiares, constituirão, desde que bem estruturadas, a resposta basilar assistencial dos cuidados continuados no domicílio, visando a avaliação e acompanhamento dos cuidados médicos, de enfermagem, de reabilitação e de apoio social imprescindíveis a cada caso.

A terceira mesa foi iniciada com o relato pessoal e emocionado da Enf.ª Conceição Bom Pastor (Assistência Médica Internacional), referente à sua experiência como voluntária em Moçambique. A salientar está a grande diferença entre a realidade portuguesa e dos países de terceiro mundo, nomeadamente na assistência médica, que é precária e praticamente inexistente, dependendo maioritariamente da ajuda humanitária e dos próprios utentes. Em contexto humanitário é exigido ao profissional de saúde voluntário uma dedicação total, bem como, um extrapolamento dos seus conhecimentos para outras áreas para além da saúde, tais como: ensino, construção civil, gestão, política, etc.

Seguidamente, a Enf.ª Lurdes Almeida (Saúde em Português) partilhou a sua experiência da “Catástrofe Tsunami”. No contexto da catástrofe ocorrida em 26 de Dezembro de 2005, a Associação Saúde em Português (uma Organização Não Governamental) partiu a 29 do mesmo mês para a República do Sri Lanka, com o intuito de responder ao apelo do Governo desse país, mais concretamente para a região de Jafnna (sudeste), no Hospital de Point Pedro, onde, durante o ano de permanência, e com condições iniciais precárias, foi possível:

    • Assistência às populações afectadas pelo maremoto;
    • Reconstrução da maternidade;
    • Criação de uma sala de Emergência para o atendimento de doentes graves;
    • Participação na criação do Sistema Nacional de Emergência;
    • Formação na área do Suporte Básico de Vida em hospitais e escola de Enfermagem da região;
    • Apoio diário nos campos de desalojados, com consultas médicas e de Enfermagem.

Dito isto, há a salientar, que mesmos com condições precárias, é possível, desde que haja vontade, dedicação e empenho, desenvolver projectos que salvam vidas, possibilitando a prestação de cuidados de saúde com o máximo de qualidade possível.

A Enf.ª Laura Brenlla Gonzaléz, por sua vez, teve a oportunidade de debater o “Cenário de guerra – a cólera na Guiné”, tendo iniciado por uma apresentação do país. Guiné-Bissau, um país à parte da evolução do Homem, é o 5º país mais pobre do Mundo, onde, em menos de 3 meses, 400 pessoas faleceram devido à doença da pobreza – a cólera. Uma doença que era vista como um castigo dos deuses, levando ao isolamento dos doentes e ao ocultar dos casos ocorridos, levando à rápida propagação da epidemia, juntamente com os precários hábitos salutares. Em resposta à ECHO (organismo da U.E.), os Médicos do Mundo enviaram uma equipa composta por um coordenador, um médico e duas enfermeiras. Esta deparou-se com um cenário de guerra política, em que as eleições presidenciais abafam as atenções dos casos de morte por cólera e com um Governo mais preocupado em confiscar o material médico ao invés de os utilizar nos doentes. Uma população pouco motivada para trabalhar, com escassos hábitos de higiene, com dificuldade na mudança de hábitos e com ideias supersticiosas relativamente à cólera, os obstáculos filológicos dentro da mesma cultura e a rápida propagação da doença foram os principais obstáculos da equipa que de tudo fez para desabrochar as mentalidades destas pessoas relativamente aos conceitos de saúde.

No entanto, tal como o caso relatado anteriormente, deve o seu sucesso à insistência, dedicação e empenho em tornar este mundo um lugar mais igual, harmónico e justo para todos aqueles que nele habitam.

Durante o segundo dia de conferências decorreram as seguintes mesas: comportamentos em saúde em jovens e cuidados de enfermagem a doentes em fim de vida, bem como uma conferência subordinada ao tema: cirurgia do ambulatório.

A Prof. Ana Filipa Linhares (Faculdade de Motricidade Humana UTL) deu início à quarta mesa com o tema “Saúde e bem-estar na adolescência: factores, cenários e problemáticas”. Relatou os resultados preocupantes obtidos num estudo realizado em 2006 a 4877 estudantes com média de idades de 14 anos, dirigido pela Prof. Dra. Margarida Gaspar de Matos. Os resultados mais alarmantes passam pelos maus hábitos alimentares dos jovens, maior horas de sedentarismo e pouco exercício, maior dificuldade na comunicação com os pais e uma menor procura dos professores no que concerne a procurar ajuda por acharem que há menos ajuda por parte destes. Tratam-se de dados que se desejam melhorar num curto espaço de tempo.

A “Sexualidade nos adolescentes e jovens adultos” é um tema sensível de abordagem, mas ao mesmo tempo um tema alvo de atenção por vários profissionais. Nesse âmbito foi criado um projecto, já com sete anos de existência, um site onde os adolescentes podem colocar as suas dúvidas. A Mestre Ângela Brandão (Psicóloga do site www.sexualidades.com) veio relatar a sua experiência no “Apoio psicológico online – sete anos de experiência” nesse mesmo site, tendo apresentado alguns dados. Inicialmente, expôs as áreas de interesse mais abordadas pelos jovens e nelas se incluem: vida sexual (em que idade deverá ser a primeira vez), contracepção (períodos de abstinência), aborto (métodos) e doenças sexualmente transmissíveis (SIDA). Posteriormente, de acordo com os tipos de dúvidas apresentadas pelos jovens a psicóloga fez uma divisão, não oficial, dos jovens em três tipos: adolescentes ou jovem adulto “inocente ou naive” (faz perguntas básicas), “preocupado/esclarecido” e “irresponsável ou permíscuo”. A própria divisão caracteriza os jovens e as suas perguntas.

O tema “Anorexia/Bulimia” foi discutido pela Dr.ª Maria José Penzol (Pedopsiquiatria – Hospital Infante D. Pedro – Aveiro). De acordo com o ICD 10 (International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems), quer a anorexia quer a bulimia são classificadas como “Distúrbios comportamentais e mentais: síndromes comportamentais associados a distúrbios psicopatológicos e factores físicos”. A anorexia nervosa, segundo a mesma classificação, é definida como um distúrbio alimentar, caracterizado pela perda deliberada de peso, induzida e sustentada pelo paciente (através da restrição total ou parcial de alimentos, ou então através da utilização de diuréticos ou indução do vómito). Este distúrbio encontra-se associado a um processo psicopatológico específico, existindo uma alteração da percepção da imagem corporal, em que o paciente se vê, frequentemente, com excesso de peso, quando, na realidade, o seu organismo sofre uma perda de peso abrupta. Por sua vez, a bulimia é definida como um síndrome caracterizados por episódios frequentes de ingestão excessiva de alimentos em simultâneo com uma preocupação excessiva com o controlo do peso corporal, o qual é compensado através do uso de purgativos, jejum prolongado, prática excessiva e desmesurada de exercício físico e da recorrência ao vómito. Este distúrbio é mais prevalente que a anorexia e ambas afectam mais as mulheres, especialmente as jovens. Uma das diferenças entre a anorexia nervosa e a bulimia, é que no primeiro caso há sempre perda excessiva de peso, enquanto que no segundo caso, o peso, geralmente, mantém-se constante, chegando mesmo a estar dentro dos parâmetros adequados.

A oradora referiu ainda a existência de diferentes factores para o surgimento e manutenção deste tipo de distúrbios – factores predisponentes, precipitantes e perpetuantes. Deu como exemplo de factores:

    • Predisponentes: factores biológicos, de desenvolvimento, familiares e sócio-culturais (culto da magreza e penalização da gordura);
    • Precipitantes: puberdade, acontecimentos de vida stressantes, …;
    • Perpetuantes: desnutrição, irritabilidade, depressão e reacção dos outros face à perda de peso.

Do que foi dito, poderemos aferir que cada vez mais estas doenças têm uma prevalência em ambos os sexos, havendo uma maior amplitude de faixas etárias abrangidas, atingindo, no entanto, faixas etárias cada vez mais jovens. Deste modo, é imperativa a referenciação destes casos às unidades de saúde, bem como uma prevenção exaustiva, tentando alterar os padrões de beleza/magreza até hoje vigentes.

Recomendou, ainda, a consulta do site: www.comportamentoalimentar.pt, o qual deverá ser consultado não só por quem lida directa ou indirectamente com este tipo de situações, mas por todos.

“A música e o sentido da vida na adolescência” foi um tema debatido pelo Prof. Dr. Abílio Oliveira (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), que iniciou a sua apresentação com alguns exemplos de músicas bastante populares entre os adolescentes e que abordam essencialmente os temas morte, sofrimento, dor, suicídio (…).

A adolescência é um período marcado por grandes oscilações entre a euforia e a melancolia. A música é importante neste processo de maturação e procura da identidade e muitas vezes reflecte o estado de espírito dos jovens. É notório que os gostos musicais dos adolescentes se associam mais com letras com pensamentos, sentimentos, crenças e imaginário simbólico associado à morte, vida, estados emocionais e comportamentos suicidas ou para-suicidas. A música reflecte muito o sobre o indivíduo que a compõe e sobre quem a escuta, assim, a música constitui um meio de comunicarmos.

Fomos, ainda, presenteados pela conferência da Dra. Emília Carneiro (Unidade de Cirurgia do Ambulatório – Hospital de São João) sobre “Cirurgia do ambulatório”, modalidade que tem vindo a aumentar, devido aos avanços ocorridos no meio da Medicina, que possibilitam a realização de mais intervenções cirúrgicas. Também, pelo facto de apresentar uma recuperação rápida, menor taxa de infecções, menor trauma psíquico para o doente e menor custo da intervenção. No entanto, para que o sucesso da Cirurgia do Ambulatório esteja garantido, há que estruturar bem todo o processo desde a avaliação inicial do doente para possível cirurgia até ao acompanhamento do doente após a alta. Foi apresentado pela mesma a experiência de 10 anos da Unidade de Cirurgia do Ambulatório do Hospital de São João e todo o processo por que passa o doente.

A quinta e última mesa teve início com a Prof. Dra. Arminda Costa (Escola Superior de Enfermagem São João) que debateu “A pessoa idosa no centro dos cuidados”, do ponto de vista da enfermagem. A pessoa idosa adquiriu, ao logo da sua existência, experiências, saberes, formas de enfrentar a vida e os problemas, que são sempre enriquecedoras para o enfermeiro. Os idosos possuem formas diferentes de enfrentar a vida/doença, já que têm consciência que o fim pode estar perto e cada um enfrenta esta realidade de forma distinta, o que exige do enfermeiro, ainda mais, o aprender a “cuidar”.

O Dr. Victor Coelho (Consulta da Dor – Hospitais da Universidade de Coimbra) debateu o tema “Avaliação e controlo da dor crónica”. De acordo com este, a dor “é uma realidade filosoficamente imperfeita”, uma vez que o seu carácter subjectivo e psicossomático limita a actuação e dificulta a comunicação entre o paciente e o profissional (a percepção da dor não é standard e cada um vivencia a dor de forma única e pessoal).

A Dor, como 5º sinal vital, é um sintoma que acompanha, de forma transversal, a generalidade das situações patológicas que requerem cuidados de saúde, nomeadamente as doenças crónicas. Sendo assim, o controlo eficaz da Dor é um dever dos profissionais de saúde, um direito dos doentes que dela padecem e um passo fundamental para a efectiva humanização das Unidades de Saúde. A avaliação e registo da intensidade da Dor, pelos profissionais de saúde, assume uma crescente importância, tendo que ser feita de forma contínua e regular, de modo a optimizar a terapêutica, dar segurança à equipa prestadora de cuidados de saúde, monitorizar os cuidados e melhorar a qualidade de vida do doente.

Para a avaliação/monitorização da dor, foram criadas várias escalas, validadas internacionalmente (confrontar figura):

    • Escala Visual Analógica (convertida em escala numérica para efeitos de registo);
    • Escala Numérica;
    • Escala Qualitativa;
    • Escala de Faces.

A avaliação da intensidade da dor pode efectuar-se com recurso a qualquer das escalas propostas, sendo que a intensidade da dor é sempre a referida pelo doente.

Constata-se, assim, que existe uma grande variabilidade na percepção e expressão da dor, face a uma mesma estimulação dolorosa. Se por um lado a dor aguda, como a dor pós-operatória ou a dor pós-traumática, é, habitualmente, limitada no tempo, a dor crónica, como a dor neuropática ou a lombalgia, é, muitas vezes, rebelde, permanecendo e levando a sequelas incapacitantes. No entanto, todos os tipos de Dor induzem sofrimento evitável, frequentemente intolerável, reflectindo-se negativamente na qualidade de vida dos doentes. Com a criação do Plano Nacional de Luta Contra a Dor, estão a desenvolver-se e a criar-se, por todo o País, Unidades de tratamento de dor, como recurso diferenciado para a abordagem da dor. Importa, assim, que a dor e os efeitos da sua terapêutica sejam valorizados e sistematicamente diagnosticados, avaliados e registados pelos profissionais de saúde, como norma de boa prática e como rotina, altamente humanizante, na abordagem das pessoas, de todas as idades, que sofram de dor aguda ou dor crónica, qualquer que seja a sua origem, elevando o registo da sua intensidade à categoria equiparada de sinal vital.

A quinta mesa foi rematada pelo Prof. Dr. José Carlos Santos (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra) com as “Questões éticas no processo de morrer”, dando ênfase a três conceitos: dignidade, autonomia e qualidade de vida e o papel do enfermeiro, como prestador de cuidados, neste processo, tendo em conta o código deontológico.

De realçar há também o animado jantar de convívio que ocorreu no dia 17 de Maio no restaurante “Marquês de Marialva”.