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II Congresso Nacional de Emergência

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II Congresso Nacional de Emergência

O congresso iniciou-se, no dia 30 no Hotel As Américas com a realização dos cursos de Suporte Básico de Vida Pediátrico, Via Aérea – Entubação Endo-Traqueal e Interpretação de Traçados ECG, tendo tido grande afluência e nos mais variados grupos profissionais, desde enfermeiros, bombeiros, médicos, entre outros.

O Congresso Nacional de Emergência teve lugar no dia 31 de Março de 2007, no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro. Este foi destinado a todas as classes profissionais relacionadas com a área de Emergência. O reconhecimento deste evento é já uma realidade a nível nacional, e pelo 2º ano consecutivo, este congresso está integrado no 2º Curso de Mestrado em Medicina de Catástrofe, ministrado no ICBAS – Instituto de Ciências Biomédica Abel Salazar – Porto.

A elaboração do programa deste evento teve como preocupação a escolha de temáticas actuais e pertinentes nesta área específica que é a emergência.

O congresso iniciou-se, no dia 30 no Hotel As Américas com a realização dos cursos de Suporte Básico de Vida Pediátrico, Via Aérea – Entubação Endo-Traqueal e Interpretação de Traçados ECG, tendo tido grande afluência e nos mais variados grupos profissionais, desde enfermeiros, bombeiros, médicos, etc.

O dia 31 iniciou-se com a já habitual Sessão de Abertura, tendo-se iniciado de imediato a primeira sessão, subordinada ao tema “Suporte Básico de Vida Pediátrico” com o contributo da Dra. Luísa Saraiva (Médica VMER Aveiro e Assistente Hospitalar de Anestesiologia do Hospital Visconde de Salreu – Estarreja), que focou na sua palestra as grandes diferenças existentes entre a abordagem ao adulto e à criança. Diferenças essas devidas às particularidades anatómicas e fisiológicas do criança, nomeadamente do lactente, o facto de este possuir uma traqueia curta e mole a cabeça deve ser colocada numa posição neutra para evitar o colapso, que será conseguida colocando, por exemplo, uma toalha por debaixo das omoplatas, já que o lactente possuí um occipital proeminente. Também, pelo facto de as crianças possuírem fossas nasais estreitas e língua volumosa (obstrução fácil), costelas horizontais (caixa torácica ineficaz), uma menor capacidade de resistência dos músculos, entre outros, a paragem cardio-respiratória é, em regra, secundária a uma falência respiratória/hipoxia, por isso o restabelecimento da respiração é muitas vezes suficiente.

Ainda durante a manhã decorreram mais duas sessões. A primeira com a intervenção do já inconfundível Dr. Miguel Oliveira (Delegado Regional do Norte do INEM), sobre “O INEM em Situações de Excepção”, tendo-nos brindado com o relato das suas experiências e das experiências e recursos do INEM em situações de excepção.

Antes de chegada a hora de almoço houve ainda tempo para ouvir a explicação aliciante da Dra. Isabel Rocha (Mestre em Medicina de Catástrofe, Assistente Hospitalar de Anestesiologia no Hospital de S. Marcos – Braga) sobre a orgânica do “PMA – Posto Médico Avançado”, como deve estar estruturado para uma correcta e atempada evacuação e a interligação que deve existir entre os vários grupos profissionais para haja uma intervenção organizada, rápida e eficaz em situações de excepção.

Durante a tarde teve lugar o debate de mais quatro temas – Objectos empalados em contexto pré-hospitalar, DAE – Desfibrilhação Automática Externa, Trauma em Israel, NBQ – Nuclear, Biológico e Químico, bem como a realização de um Simulacro – Busca e Salvamento em Meio Aquático.

Relativamente aos Objectos empalados em contexto pré-hospitalar (Dr. Gonçalo Molinar, Interno de Cirurgia no Hospital Infante D. Pedro – Aveiro),entende-se como objecto empalado, um objecto que penetra um corpo, devido a impacto deste com o corpo (tipo I) ou consequência de um imprevisto durante a manipulação intencional de um objecto (tipo II). Foram mencionados como factores de gravidade: lesões que afectem a ventilação ou circulação, lesões neurológicas, penetração de órgãos, contusão de órgãos adjacentes, fracturas, natureza do objecto (o metal é o mais inócuo e a madeira o mais contaminante) e a extensão da contaminação. A abordagem pré-hospitalar deverá ser a mesma que em qualquer situação de trauma (abordagem de acordo com o algoritmo de SBV), contudo deverá ser dada especial atenção à segurança, devendo o objecto ser estabilizado in situ (local de entrada e saída). Nesta situação dever-se-á regir pelo lema do “Scoop and Run”, ou seja, estabilizar o doente e proceder ao transporte o mais precocemente possível.

Outro dos aspectos salientados pelo Dr. Gonçalo Molinar foi a importância do local de empalamento na adequação da abordagem neste tipo de lesão:

  • Crânio e/ou região cervical – a avaliação neurológica assume especial importância (Escala de Coma de Glasgow na altura do acidente). Se ECG inferior a 8, procede-se de imediato à entubação endotraqueal. Se se suspeitar de lesão anterior/base do crânio, não entubar nasogastricamente.

  • Tórax – é de extrema importância tamponar e isolar muito bem as lesões perfurantes (entrada e saída), por exemplo com vaselina e compressas, de modo a prevenir o desenvolvimento de um pneumotórax.

  • Abdómen – apesar de ser uma região onde não se encontram órgãos vitais, é necessário despistar lesões de órgãos internos e possíveis hemorragias internas.

  • Períneo – por ser uma região frágil, deverá ser inspeccionada com atenção, despistando lesões que à primeira vista não têm grande extensão (lesões em que há perfuração contígua de outros órgãos).

  • Empalamento múltiplo – a abordagem deverá ser ponderada caso a caso, estabilizando-se o máximo o doente, possibilitando o seu transporte (o que é necessário fazer no local e o que pode ficar por fazer), tornando-se imperativo o lema Scoop and Run.

A DAE, como foi descrita neste congresso pela Dr.ª Filipa Almeida (Cardiologista no Hospital de N.ª Sr.ª: da Oliveira – Guimarães), é um procedimento que, se houver as condições necessárias, poderá ser executado por qualquer civil. Deverá existir em qualquer superfície onde seja previsível uma afluência grande de indivíduos, tais como superfícies comerciais, estádios, concertos, anfiteatros, entre outros, mas principalmente em instituições públicas. As condições necessárias para que este procedimento possa ser futuramente passível de ser executado por qualquer pessoa, é basicamente a formação. Uma formação que deverá ser incluída na vida social desde pequenos, assim como nos módulos escolares da formação cívica.

Como a experiência de um se torna a de muitos, a Dr.ª Rita Resende (Médica no Departamento de Anestesia do Hospital Pedro Hispano – Matosinhos) partilhou a sua experiência enquanto exercia as suas funções num ambiente que inicialmente poderíamos pensar ser agreste e pouco desenvolvido. No entanto, após a sua exposição, o que foi constatado é que a organização dos serviços de saúde em Israel (pelo menos no que respeita aos de urgência/emergência) é excepcionalmente excelente. Todos compartimentos e divisões estavam organizadas de tal forma, que, da entrada de cada serviço, poderíamos identificar todo o material e equipamento existente naquela sala, sem termos necessidade de abrir caixas ou desviar material (como acontece nas nossas instituições). O mesmo foi verificado nos veículos de transporte e emergência médica, de forma a responder de imediato e eficazmente às necessidades das vítimas. Este sistema de organização à primeira vista poderá ser complexo, mas no seu âmago e em traços gerais segue o famoso lema inglês “Keep it Simple”, ou seja, “Mantém as coisas simples”, tema em que nós temos muito caminho para palmilhar.

NBQ – Nuclear, Biológico e Químico, apesar de ter sido debatido de uma forma muito expositiva, pela Capitão Ana Silva Correia (Capitão de Engenharia na Escola Prática de Engenharia), foi interessante, na medida que nos deu uma perspectiva do estado da segurança nacional. A ameaça terrorista recorre cada vez mais a armas de destruição sem consequência material, como o são os ataques biológicos e químicos, ou então a armas de destruição maciça que destroem tudo à sua passagem e que continuam a destruir anos após a sua utilização, como os ataques nucleares. Para protecção dos oficiais responsáveis pela detecção deste tipo de ameaças, existe material/equipamento que confere um grau de protecção que sobe conforme o tipo de ameaça, dividindo-se em 5 escalões, sendo o 5º escalão o que oferece o maior grau de protecção. Na nossa realidade nacional, o que pudemos constatar é que só estamos protegidos (preventivamente) até determinado ponto, uma vez que no nosso país só existe material de protecção de nível 3.

E o dia terminou com o Simulacro – Busca e Salvamento em Meio Aquático, levado a cabo pelos Bombeiros Voluntários de Albergaria-a-Velha e Bombeiros Velhos – Aveiro, em Angeja.