Ermesinde foi palco de mais um congresso para alertar o Ministério da Saúde e entidades competentes.
“A Reabilitação dos Traumatizados continua a apresentar muitas dificuldades a todos os níveis, com especial ênfase para os doentes mais necessitados…”
Mário Santos
Enfermeiro/Jornalista
Mais de quatro centenas de participantes estiveram presentes no Centro Cultural de Ermesinde, durante dois dias, no final do mês de Maio, para debaterem um tema que cada vez mais problemas trazem aos profissionais de saúde e aos doentes – Reabilitação e o momento de regresso para o domicilio.
O Congresso abriu com um painel denominado “A Pessoa com Deficiência”, que previa a presença do Prof. Dr. Daniel Serrão, mas que por motivos alheios à sua vontade não pode estar presente. Mesmo assim, foi projectado um vídeo elaborado para este evento, onde o Prof. não deixou de realçar a necessidade de se olhar o doente como um todo. Referiu ainda que numa altura em que o país está numa situação menos boa não são os doentes que devem pagar este desencontro económico. E já no final, pediu, novamente, para que os enfermeiros olhem o doente como alguém que merece todo o nosso respeito e admiração.
A moderar este primeiro painel esteve a ilustre Mestre Fátima Ribeiro, Prof. da ESSVS, que à nossa reportagem acentuou a maior das palavras do Prof. Daniel Serrão. Mas foi acrescentando “que o enfermeiro quando trata um doente com deficiência, deve olhar para ele como um enfermo com menos eficiência e não com deficiência” – e acrescentou que “penso que estamos a entrar numa crise de valores”.
Ainda relativamente ao apoio aos doentes com deficiência ou a necessitar de apoio específico, a Prof. Fátima Ribeiro, foi bem clara à nossa reportagem: “A nossa Ordem, a politica social adoptada, a nossa carreira, entre outros factores não tem dado respostas satisfatórias…”
Uma visão….
Pelo Hospital de S. João
Todos os dias saem dos nossos hospitais, doentes que deveriam ter um acompanhamento adequado no domicilio, mas não podem usufruir dele, quer por falta de verbas, ou pelos meios serem escassos, quer mesmo pelo facto das unidades hospitalares deixarem de fornecerem equipamentos, tais como coletes, cintas ortopédicas e outros produtos de foro ortopédico.
O exemplo do Hospital de S. João, Porto, é-nos fornecido através do testemunho à nossa reportagem pelo Enf. Chefe Luís Silva (Traumatologia/Ortopedia), que nos informou que esta situação do hospital ter passado a EPE, “só veio trazer problemas adicionais aos doentes do foro traumatológico. Antes de ser uma unidade de Saúde do tipo empresarial, os doentes que necessitavam de coletes e outro tipo de material era fornecido a título de empréstimo, pois a maior parte dos doentes não tinham, e continuam a não ter possibilidades financeiras. Agora vão-se embora e nada levam, quando é tão importantes estes aparelhos para continuação de recuperação”.
Mas, falar de Reabilitação, não é só no entender Luís Silva, as dificuldades de regresso a casa. São as constantes dificuldades no ensino ao doente, pois o tempo é pouco, os recursos escassos e enfermeiros com a especialidade de Reabilitação outra “dor de cabeça” porque são em número insuficiente.
A título de exemplo, o Chefe Luís Silva, referiu que nem sempre os enfermeiros generalistas estão à altura de fazer um ensino de uma anca ou joelho. São momentos que demoram mais de uma hora, “e o serviço também não se compadece com este tempo. Compreende-se que se por um lado é importante fazer um ensino bem elucidativo ao doente, por outro, nota-se a falta de pessoal”.
Além desta problemática, que também foi abordada no painel onde este nosso interlocutor esteve presente, e que se denominou “A Reabilitação do Traumatizado”, Luís Silva afirmou a importância da existência de unidades hospitalares de rectaguarda e frisou mesmo que os Centros de Saúde deveriam estar aptos a receber e resolver casos de traumatizados. “Só assim estes doentes poderão ter uma vida com alguma dignidade”. E o Chefe Luís Silva, foi dizendo que não prevê um futuro risonho para estes utentes, “pelo contrário estamos do caminho de regredir ou melhor dito da não evolução”.
Temas diversos…
Desde a Pneumologia ao Joelho
Mas este evento não se direccionou apenas para as vertentes já referidas. Muitos foram os painéis apresentados por diversos médicos e enfermeiros. Destaque para o painel denominado “Reabilitação Respiratória – Mitos e Realidades”, que foi moderado pela Pneumologista Natália Taveira, acompanhada na mesa de um excelente leque de enfermeiros do Centro Hospitalar de Gaia, que de uma forma técnica e bem aperfeiçoada deixaram muito saber aos presentes.
Do joelho também se falou e muito, onde não faltou o médico ortopedista Cruz de Melo do Hospital da Arrábida e o tão conhecido Eduardo Braga, Enfermeiro do Departamento Médico do F.C. Porto. Ambos deixaram os seus testemunhos tão interessantes no campo da ligamentoplastia do joelho.
Segundo a organização deste evento, este foi mais um passo para chamar a atenção dos enfermeiros para a necessidade que existe em olhar de frente para os doentes de trauma. Outro dos objectivos deste encontro era alertar as entidades competentes, para a necessidade de apoio a todos aqueles que necessitam de mais atenção e construção de mais estruturas do tipo de “Alcoitão” pelo país – referiu Enf. Humberto Cardoso.