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Nelson Costa | enfermeiro e osteopata

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Fomos conversar com o Enf. Nelson Costa, enfermeiro e osteopata.

É formador do “Curso Base de Bandas Neuromusculares” e “Anatomia Palpatória e de Superfície” desenvolvido em parceria entre o Foramplus e o Fórum Enfermagem. Desafiámos a falar-nos um pouco sobre a sua experiência nas suas múltiplas vertentes profissionais. Fala-nos neste artigo sobre a sua visão sobre a Saúde, o seu papel no âmbito de enfermagem, assim como da apresentação do curso de “Bandas Neuromusculares” e dos cursos em que se encontra a trabalhar neste momento como projetos futuros.

1. Quem é Nelson Costa?

Sou Enfermeiro, Osteopata e Acupuntor. Procuro ter um lema de vida: “Um dia sem rir é um dia desperdiçado” (Charles Chaplin). Procuro viver o presente, tentar melhorar os erros do passado e sonhar com um futuro risonho. Abraço os meus amigos e sobrevivo ao lado deles, numa perspetiva de crescimento pessoal e com o desejo de ser feliz. Trabalho arduamente e sempre no sentido de ajudar e trazer felicidade aos meus clientes. Todos temos os nossos maus momentos, obstáculos, handicaps… mas tento fazer deles um momento para crescer e fazer melhor. Os meus dias costumam ser longos e desafiantes, podendo até por vezes tornarem-se extenuantes, mas no final do dia penso que valeu a pena.

2. Experiência profissional mais relevante?

Enfermeiro no Centro Hospitalar do Porto, Hospital de Santo António, onde trabalhei no Serviço de Urgência Geral desde 2005 até Outubro de 2014 e desde essa data até ao presente tenho desempenhado funções no serviço de Cuidados Intensivos e Unidade Intermédia Médico-Cirúrgica – UIMC. Desempenho ainda prática clínica no setor privado com incidência nas abordagens e métodos de intervenção na área da terapia manual, nomeadamente Osteopatia e Acupuntura, em condições neuro-víscero-músculo-esqueléticas, na região do Porto. Nesta área da terapia manual, desenvolvi e procurei incorporar na minha experiência clínica métodos específicos como a Ginástica Abdominal Hipopressiva (GAH), manipulação estrutural, visceral e craniana, terapia sacro-craniana, Acupuntura e Auriculoterapia, Taping Miofascial e Quiropraxia. Desempenhei ainda funções como Enfermeiro no clube futebol Oliveira do Douro e Enfermeiro no Serviço de Triagem Clínica Telefónica, na Linha de Saúde 24, no âmbito de contrato de concessão com o estado português.

3. Porquê o interesse pela área das Terapêuticas Não Convencionais?

Sempre adorei e tive uma paixão pela área do desporto e patologias músculo-esqueléticas. Como Enfermeiro, tentei abordar e direcionar o meu caminho neste sentido, trabalhando em clubes e focar a minha atenção e objeto de estudo. Adoro anatomia e biomecânica, pelo que procurei algo que me pudesse preencher este vazio e optimizar este conhecimento que sentia necessidade de fortalecer. Assim, senti necessidade em ampliar os meus conhecimentos na área da saúde em geral e não necessariamente numa especialidade tradicional dentro da enfermagem, encontrando assim a área da medicina natural e manual, pelo que enveredei pela Osteopatia em 2008. Mais tarde, foquei a minha atenção em algo que já me despertava muito interesse, a Acupuntura, fazendo a minha primeira pós-graduação em 2012. Um caminho longo, desafiante e novo, que mudou radicalmente a minha vida profissional e alterou a minha visão sobre a Saúde em Geral. A Lei das Terapêuticas Não Convencionais (Lei nº 71/2013) onde a Osteopatia e Acupuntura se enquadram está neste momento a regular e a implementar a Certificação e atribuição de Cédulas Profissionais, o que significa que em breve haverá legalmente mais profissões em saúde, em áreas onde investi. Realizo com regularidade formação especializada na área da terapia manual, sempre no sentido de enaltecer e reforçar os meus conhecimentos e capacidades de intervenção. É uma área do conhecimento muito vasta. Sinto-me privilegiado pelas pessoas fantásticas e compiladores de conhecimento que tenho conhecido ao longo destes últimos anos. Nunca me darei como satisfeito de conhecimentos… Considero-me um “eterno aprendiz”.
Neste sentido, procuro divulgar os conhecimentos dentro da minha área, pois considero ser uma verdadeira missão partilhar algumas informações preciosas que são frequentemente uma verdadeira alternativa aos procedimentos convencionais que o sistema de saúde oferece atualmente. Com a colaboração da Engenheira Ana Fernandes, a quem agradeço mais uma vez todo o esforço, dedicação e motivação, desenvolvi uma Web página (www.osteopata-nelsoncosta.com) alusiva ao meu trabalho em contexto da medicina natural, onde mostro alguns exemplos do meu trabalho com fotos demonstrativas, falo sobre áreas em que trabalho com medicina natural e explico alguns métodos e técnicas de tratamento que muitas vezes as pessoas ouvem falar mas suscitam algumas questões sobre a sua essência. Através do site também é possível colocar questões ou sugestões sobre temáticas a serem abordadas. Podem ainda receber diversa informação e dicas acerca da medicina natural e manual, no âmbito do foro músculo-esquelético, visceral e craniano na minha página de facebook (facebook.com/OsteopatiaeAcupunturaNelsonCosta).

4 -Os enfermeiros são das classes profissionais, se não for mesmo, a classe profissional que mais tem investido na busca de novas áreas do conhecimento para a incorporação de novas técnicas que possam ser aplicadas nas diferentes vertentes do cuidar. O que pensa sobre isso?

Enfermagem mudou imenso nos últimos anos e a visão que a sociedade tem dos Enfermeiros tem sido cada vez mais concisa dando um papel ao Enfermeiro de responsabilidade, dedicação e importância no trabalho em equipa, com um papel muito bem estabelecido e respeitado no trabalho multidisciplinar. E esta mudança alicerçou-se na dedicação e na procura do conhecimento e incorporação de novas técnicas associadas à Medicina Natural para serem aplicadas nas diferentes vertentes do cuidar. Cada vez mais se encontram Enfermeiros na área da Medicina Natural na procura de respostas e complementar a arte do cuidado em prol dos nossos doentes. A globalização de cuidados e o conceito holístico na procura da homeostasia (equilíbrio) deve ser uma prioridade nos nossos cuidados. O corpo funciona como um todo, é uma unidade de sistemas inter-relacionados que trabalham em sincronia para assegurar uma boa saúde. O corpo humano apresenta a faculdade de reencontrar o seu equilíbrio (físico, bioquímico, mental) devido ao processo de homeostasia.
“O organismo é uma máquina vital, uma estrutura anatómica com funções fisiológicas, que permanecerá são enquanto a estrutura permanecer normal, mas se a estrutura alterar haverá um efeito adverso sobre o seu funcionamento.”

5-O que são as Bandas Neuromusculares que aborda no curso de formação do Foramplus?

A Banda Neuromuscular é um método de ligaduras criado no início dos anos 70 pelas mãos do quiroprata Japonês Kenzo Kase. Para o Dr. Kase era uma premissa básica que os músculos e outros tecidos moles tais como fáscias, ligamentos e tendões poderiam ser auxiliados através de um apoio ou suporte externo, sendo para isso apenas necessária uma fita ou banda elástica que fosse capaz de colaborar na função normal dos tecidos. No entanto, as bandas, fitas, adesivos e ligaduras já existentes não se mostravam capazes de fornecer os resultados desejados, ou seja, dar um apoio externo aos tecidos sem limitar a ação dos mesmos. Assim, surgiu no Japão um material elástico adesivo inovador, cujo resultado final resultou nas Bandas Neuromusculares/Miofasciais existentes na atualidade. A efetividade e eficiência da banda neuromuscular tornou-a nos últimos anos uma ferramenta imprescindível para o tratamento do sistema neuro-músculo-esquelético. Estas bandas têm como principais funções dar suporte muscular, ajudar na drenagem vascular e linfática, ativar o sistema analgésico endógeno e promover a regeneração tecidular, preservando simultaneamente a mobilidade total do paciente, ao contrário dos métodos clássicos. A sua aplicação é realizada através de técnicas particulares ao longo das estruturas musculares, ligamentares e nervosas, de forma a facilitarem o fluxo do fluido linfático.

6- Quais as principais mais-valias do curso de Bandas Neuromusculares que leciona?

“O curso base de Bandas Neuromusculares” foi estruturado, por forma a ser integrado como instrumento numa prática clínica ao serviço da profissão. O formando fica habilitado a conhecer e empreender os princípios de atuação, tratamento e aplicação da Banda Neuromuscular, que lhe vai permitir empregar a técnica nas suas distintas modalidades terapêuticas; aquisição de novas ferramentas de trabalho, mais úteis e eficientes no tratamento de vários distúrbios do sistema neuro-viscero-músculo-esquelético, oferecendo uma diversidade de novas possibilidades de tratamento, como forma de Intervenção autónoma em situações de Dor e Patologias Músculo-esqueléticas. Além disso tivemos o cuidado de estruturar um curso para um grupo de formandos pequeno, no máximo até 15 formandos de forma a tornar o curso prático, didático e atento a todos os pormenores executados pelos formandos com o intuito de instruir e treinar todos os passos básicos na aplicação da banda neuromuscular, ao mesmo tempo que durante a realização do curso são abordados vários temas e desenvolvidos vários aspetos na área da anatomia palpatória para que todos os formandos sejam capazes de distinguir e otimizar todos os conhecimentos inerentes à aplicação de uma banda a nível muscular, ligamentares, tendinoso ou fascial. De que serve aplicar uma banda sobre uma estrutura que anatomicamente não sabemos onde se encontra. Só com um grupo pequeno e otimizados os conhecimentos anatómicos se poderá ser bem-sucedido na aplicação de bandas neuromusculares. A atualização de conhecimentos, o desenvolvimento e o aprimoramento de competências técnicas são a base do Curso de Bandas Neuromusculares, assente em linguagem específica e técnica.

7-Qual a sua aplicação dentro da enfermagem?

O curso apresentado pelo Foramplus encontra-se estruturado em 2 dias, uma parte teórica e teórico-prática, onde se distingue dos congéneres pela estrutura da formação, extremamente rigorosa e completa do ponto de vista pedagógico e científico. Ideal para enfermeiros especialistas na área da reabilitação, enfermeiros que trabalham com desporto, em ginásios, clubes de futebol. Além das noções tradicionais do Taping Miofascial serão ainda abordados e introduzidos os conceitos do Spiral Taping, Taping Miofacial e a Medicina Tradicional Chinesa, Taping Miofascial Visceral e Taping Miofascial em Animais (Veterinária). As bandas neuromusculares apresentam uma vasta área de aplicação nos vários grupos etários e em quase todos os problemas do foro músculo-esquelético, como lesões musculares, cápsulo-ligamentares e tendinosas, passando pelos problemas posturais, passíveis de serem aplicadas por períodos de tempo superiores a métodos de suporte e contenção, sem riscos associados de alergias ou irritações cutâneas. São ainda bastante eficazes em problemas circulatórios dos membros inferiores e problemas linfáticos (pós-mastectomias). Este método é igualmente eficaz em hematomas e derrames, que aparecem com frequência em atletas durante práticas desportivas, sendo também uma vantagem para as modalidades em meio aquático, tais como natação, polo aquático, hidroginástica, devido a sua capacidade de serem à prova de água, sem o risco de perderam as suas propriedades.
Estas bandas apresentam ainda a capacidade de favorecer o processo de regeneração do organismo e das lesões pela ativação dos sistemas circulatórios, linfático, visceral e nervoso permitindo um regresso mais rápido às suas atividades. Alguns exemplos de aplicação:
• A nível visceral: estômago, fígado, intestinos, diafragma
• Lesão da coifa dos rotadores
• Disfunções do ráquis: cervicalgia, dorsalgia, lombalgia
• Hérnias ou protusões discais
• Ruturas ligamentares e musculares, entorses, estiramentos musculares

Neste sentido pode beneficiar e complementar o cuidar em enfermagem de um modo geral, mas em particular os enfermeiros de Reabilitação, desporto e Enfermagem Comunitária.

8- Uma dica para aqueles que gostariam de alargar conhecimentos noutras áreas?

Numa sociedade em constante movimento qualquer mudança que possa ser benéfica, deve ser desenvolvida no sentido de otimizar e aprimorar os conhecimentos dos enfermeiros, visto que se trata de uma licenciatura e cada vez mais uma profissão reconhecida pelas suas valências. É imperativo desenvolver capacidades técnicas e teórico-práticas que respondam cada vez mais a uma sociedade em constante evolução e dependentes de cuidados específicos que se encontram ao alcance do nosso coletivo. A licenciatura em Enfermagem é uma porta para o desenvolvimento de capacidades. A planificação de estudos que cada enfermeiro deseja estruturar e conceber de futuro na sua prestação de cuidados, deve ser criteriosa. A aquisição de novas competências deve ser um imperativo. Não interessa ser apenas mais um no meio de um grupo enorme apoiados pelas técnicas reconhecidas. Os enfermeiros têm inúmeras competências, sim. Mas devem afirmar-se pela aquisição de outro nível de conhecimentos que possa reforçar e melhorar as suas intervenções específicas. Marcar pela diferença e investir na formação é uma necessidade e uma motivação cada vez importante. Estas áreas emergentes do conhecimento em saúde são uma prova disso mesmo. É impressionante como as pessoas, isto é, sociedade em geral, recorrem cada vez mais à Osteopatia, Acupuntura entre outras áreas, mesmo e apesar de não serem comparticipadas e por isso tendencialmente mais caras.

9-Projetos futuros?

Neste momento tenho como projetos futuros em parceria com o Foramplus e Fórum Enfermagem trabalhar áreas e vertentes específicas na área da reabilitação. Assim sendo, encontro-me a trabalhar em dois cursos para disponibilizar aos nossos formandos: “Anatomia Palpatória e de Superfície” e “Imobilizações em Ortopedia e Aparelhos Gessados” que pretendo que estejam disponíveis em breve no Foramplus.
Considero o curso de “Anatomia Palpatória” como uma mais-valia de toda a oferta formativa, uma vez que a Anatomia está na base de quase todos os cursos na área da saúde e terapia manual. Na prática, de que serve um profissional realizar formação numa técnica específica se não dominar a anatomia, em particular a Anatomia Palpatória? De um modo geral a anatomia, em particular a de Superfície ou Palpatória, é um conceito que a maioria dos profissionais considera ter conhecimento insuficiente no seu curso básico de formação, tornando o diagnóstico mais difícil e a abordagem ao tratamento mais complexa. Com este curso pretendo dotar os formandos presentes de conhecimentos rigorosos de Anatomia Palpatória para que se diminuam as probabilidades de erro na prática clínica, sejam eles de cariz diagnóstico ou de intervenção. Naturalmente, adquirimos os conhecimentos teóricos anatómicos através da imensa literatura de livros de anatomia descritiva que se possa ler, mas nada se compara à possibilidade de adquirir a competência técnica necessária para saber como na prática identificar uma determinada estrutura anatómica. Com este curso terão oportunidade de explorar e desenvolver competências técnicas e teóricas (definição, inspecção, palpação e manobras específicas) em patologias específicas como lombalgia, Sindrome Túnel Cárpico (STC), Cervicalgia, exploração física do ombro, entre outras patologias mais comuns. Será com certeza uma excelente estratégia para que a sua orientação clínica seja apurada. Participar nesta experiência anatómico-estrutural e aprender a saber pensar, testar e diagnosticar com maior eficácia, otimizando o seu raciocínio clínico, é o desafio que lanço a todos os interessados. Pretende-se ainda futuramente interligar o “Curso de Anatomia Palpatória” com o curso de “Bandas Neuromusculares”, uma vez que a simbiose entre ambos serão a parelha perfeita para dotar os formandos de competências e conhecimentos teóricos específicos com o intuito de complementar o cuidar em enfermagem de um modo geral, mas em particular os enfermeiros de Reabilitação, desporto e Enfermagem Comunitária.
Com o curso de “Imobilizações em ortopedia e aparelhos gessados” tenho o intuito de desenvolver uma área que considero genial e pouco desenvolvida no curso base de Enfermagem associado à enfermagem ortopédica e que graças á minha experiência profissional neste campo tive a oportunidade de desenvolver conhecimentos teóricos, técnicos e práticos na execução de imobilizações externas gessadas e não gessadas, que pode ser um campo de atuação específico, concreto e com resultados excelentes se existir uma orientação e procura de conhecimentos neste área. Com este curso pretende-se dotar os formandos de conhecimentos teóricos, práticos na área da Enfermagem Ortopédica, assim como instruir técnicas e princípios gerais de aplicação de imobilização externas gessadas e não gessadas, tais como: SINDACTILIZAÇÃO, TALA DE ZIMMER, ROBERT JONES, IMOBILIZADOR DE BRAÇO E OMBRO COM BANDA, CRUZADO POSTERIOR, TALA DE DEPUY, TRAÇÃO CUTÂNEA, COLETE DE JEWETT, IMOBILIZAÇÕES CERVICAIS, entre outras.

10-Considerações finais a deixar aos seus futuros formandos?

A Dor e as Patologias Músculo-Esqueléticas constituem situações comuns e cada vez mais frequentes de intervenção em grande parte das áreas onde o enfermeiro actua. No caso dos enfermeiros com especialidade de Reabilitação e de Enfermagem na Comunidade, assume uma importância ainda maior, na vertente interventiva. Estas são duas áreas onde pretendo dotar os meus formandos de capacidades e dotes específicos para que os seus resultados sejam efetivos e extremamente adequados, ultrapassando, em grande parte dos casos os tratamentos e intervenções convencionais.