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Entrevista ao pai do podoscan

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Entrevista ao pai do podoscan

Entrevista ao Enfermeiro João Pais Teixeira em exclusivo para o Forumenfermagem

Texto por:

Pedro Machado (colaborador Forumenfermagem)

Miguel Ribeiro

Bruno Batista

“A simplicidade é o que há de mais difícil no mundo:
é o último resultado da experiência, a derradeira força
do génio”.

G. SAND

A ideia da criação Podoscan surgiu aquando de uma formação sobre o Pé Diabético realizada no Centro de Saúde de Mangualde. O enfermeiro João Pais Teixeira, foi indicado a frequentar a acção e quando lhe foram apresentados o podoscópio e o podógrafo, apercebeu-se da importância destes dois instrumentos, achando-os ao mesmo tempo anacrónicos, dada a evolução técnica que tem acompanhado o avanço da ciência.

Já GAUDI dizia “A criação prossegue incessantemente por meio do homem, mas o homem não cria: descobre”. Nesta linha, e com a agilidade mental que lhe é conhecida e com a sua experiência na área da informática, o enfermeiro João desenvolveu um sofisticado e, ao mesmo tempo, muito simples, método, para substituir os dois aparelhos por um, simultaneamente mais funcional e evoluído tecnicamente. Sendo uma ideia simples, poderá ser, no entanto, um avanço significativo não só na prevenção de feridas do pé diabético, mas também no diagnóstico de algumas patologias posturais.

Ao procurar saber mais sobre o PODOSCAN, quem melhor do que o seu próprio autor para nos responder a algumas perguntas e esclarecer de que forma este aparelho pode ser uma mais valia no âmbito dos cuidados de saúde primários… Fomos então entrevistar João Pais Teixeira, enfermeiro do Centro de Saúde de Mangualde.

João Pais Teixeira, nasceu em 15/05/1959 em Silgueiros (Viseu), emigrou com os pais para a Austrália em 1974. Em 1978, começou o curso de ajudante de enfermagem no Royal Cambric Hospital, seguindo-se um curso de enfermagem geral durante 3 anos Black Town Street Hospital em Sidney, é especializado em Saúde Materna e Obstétrica, Oftalmologia e Otorrinolaringologia e tem uma Pós-Graduação no cuidado ao doente queimado. Em 1998 regressou a Portugal, onde integrou o 1º Curso de complemento de Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Viseu, começou a trabalhar no Centro de Saúde de Penalva do Castelo, passando depois pelo Hospital de Tondela até integrar a equipa de enfermagem do Centro de Saúde de Mangualde, onde ainda se encontra a trabalhar neste momento. O Enf. João conta ainda no seu currículo com a experiência de Enfermeiro chefe, Enfermeiro Assistente Director e Director (ainda que substituto) no Royal Cambric Hospital.

FE – Como lhe ocorreu a ideia de desenvolver este projecto que, apesar de simples, se revela extremamente inovador?

JPT – Durante uma consulta do pé diabético, apercebi-me que os meios utilizados na altura, que eram o Podoscópio e o Podografo eram um pouco desactualizados para a era em que nos encontrávamos e então ausentei-me da sala para fazer uma experiência que era por a minha mão sobre o scanner de um computador e digitalizando a minha mão vi que saia uma imagem perfeitamente boa da minha mão. Então usando uma placa de acrílico que já tínhamos do podóscopio, levei o scanner para a sala e pus essa placa sobre o scanner, então colocámos um pé sobre a placa de acrílico e fizemos uma digitalização no computador e viu-se perfeitamente que era uma imagem real em tempo real que nos mostrava todas as características e informações que eram pertinentes para a consulta do pé diabético que estávamos a fazer.

FE – Que bases/objectivos estão na sua construção?

JPT – Foi a observação directa e em tempo real da superfície plantar do pé mostrando em simultâneo todas as zonas de pressão e de forma são distribuídas sobre o próprio pé.

FE – Poderia explicar-nos melhor em que consiste o Podoscan e o seu funcionamento?

JPT – O PODOSCAN consiste numa placa de acrílico com mais ou menos 5cm de espessura que é posta sobre o scanner de preferência estando esta dentro de uma caixa já por si apropriada ligada a um computador com um software de digitalização.
Após o utente por os dois pés sobre a placa de acrílico numa posição normal, uma imagem é feita dos pés, mostrando através de cores as diferentes zonas de pressão, inclusive corpos estranhos e feridas que possam existir no pé.

FE – Que vantagens nos traz este aparelho em termos de ganho para a saúde, nomeadamente, para a prevenção do “Pé Diabético”?

JPT –

  • FIABILIDADE DA IMAGEM – A imagem que nos é dada pelo Podoscan corresponde aquela que teríamos se estivéssemos por baixo de uma placa transparente a visualizar directamente os pés do utente, por cima de nós, com a vantagem de, se assim o quisermos trabalhar a imagem em negativo, de forma a dar um maior realce às zonas de pressão.

  • IMPRESSÃO DA IMAGEM – Com uma vulgar impressora de jacto de tinta de mediana qualidade, poderemos ter uma imagem impressa do que visualizamos, ou da imagem trabalhada em negativo.

  • POSSIBILIDADE DE ENVIO EM TEMPO REAL – Podemos, ao mesmo tempo que analisamos a imagem, enviá-la em tempo real para alguém mais avalizado dentro da instituição ou em qualquer parte do mundo, de modo a que, sem ter de se deslocar, ou deslocar o utente, este possa fazer uma primeira avaliação da situação e pedir algum outro estudo complementar.

  • POSSIBILIDADE DE ARMAZENAR AS IMAGENS – As imagens obtidas, poderão ser directamente guardadas, num ficheiro com a identificação de cada utente, e serem chamadas sempre que necessário para comparações directas com outras imagens. Desde que se disponha do software adequado, pode recorrer-se à sobreposição de imagens.

  • FACILIDADE DE MANUSEAMENTO – Qualquer pessoa que saiba trabalhar com o computador e utilizar um scanner pode, sem dificuldades, utilizar o Podoscan, pois, o seu manuseamento restringe-se a saber posicionar correctamente o utente e a saber digitalizar a imagem.

  • FACILIDADE DE TRANSPORTE – Devido ao seu pequeno volume e baixo peso (o protótipo por nós construído tem um volume de 10,63 dm3 e pesa 5 quilos), pode o Podoscan ser facilmente transportado de um consultório para outro, de uma instituição para outra, ou mesmo para o exterior, podendo, ligado a um computador portátil, utilizar-se em rastreios programados à população.

  • BAIXO CUSTO – O baixo custo da sua produção é, sem dúvida, um aspecto muito positivo e que pode facilitar a massificação da sua utilização. Para a construção do protótipo que consiste numa estrutura de alumínio lacado, com uma placa de acrílico de cerca de 1 cm de espessura, investimos 60 euros, na compra de um scanner de qualidade intermédia, investimos 120 euros pelo que, não contabilizando o computador e a impressora que os serviços já possuem, é necessário, para que se possa possuir um Podoscan, cerca de 190 euros.

  • FÁCIL HIGIENIZAÇÃO – As superfícies do Podoscan, são de material facilmente lavável e desenfectável, havendo ainda a possibilidade de se aplicar um filme transparente ou folha de acetato, por cima da placa de acrílico e substitui-lo ao fim de cada utilização. Este método foi já por nós experimentado, sem que houvesse alteração da imagem final.

FE – O Podoscan tem outras aplicabilidades para além da prevenção do “Pé Diabético”? Em que outras áreas de saúde (mais especificamente no âmbito dos cuidados de saúde primários) se pode utilizar o Podoscan?

JPT – Poderemos utilizar este aparelho na detecção de problemas posturais gerais, problemas de defeitos congénitos do pé como por exemplo o Pé Plano, entre outros problemas relacionados com a postura do esqueleto.

FE – De que forma divulgou este trabalho para dar a conhecer a todos as vantagens da utilização do Podoscan?

JPT – Foi elaborado um trabalho, em 2003, que concorreu à Associação Portuguesa de Tratamento de Feridas, o qual ficou classificado em 7º lugar, depois em Dezembro do mesmo ano na Maia num congresso da APTF recebemos o 1º Prémio para a Melhor Apresentação Livre, encontra-se em parte divulgado no site do Centro de Saúde de Mangualde e encontra-se publicado num livro intitulado “Cinderela da Diabetes” da Dra. Edna.

FE – Com que apoios contou na elaboração e divulgação deste projecto?

JPT – Em primeiro lugar queria mencionar o apoio incondicional de toda a equipa de enfermagem do Centro de Saúde de Mangualde que colaborou na elaboração do trabalho e tudo tem feito no sentido da sua divulgação. Por parte das outras entidades responsáveis que tiveram conhecimento não senti o apoio que julgo ser devido a uma ideia destas.

FE – Acredita que deveriam ser incentivadas este tipo de iniciativas? De que forma?

JPT – Deveria haver um maior reconhecimento institucional e um investimento das instituições competentes não só na divulgação mas também na implementação da ideia, salvaguardando sempre a paternidade da mesma.

FE – De que forma a “invenção” deste trabalho traz visibilidade ao trabalho desenvolvido pelos enfermeiros?

JPT – Sobretudo é uma invenção ou uma ideia de um enfermeiro, sendo um instrumento utilizado por enfermeiros e não só na prestação dos cuidados, tendo por finalidade a melhoria da qualidade dos mesmos, logo a visibilidade torna-se inerente ao desempenho.

FE – Acredita que é vantajoso, em termos de reconhecimento profissional para a classe de enfermagem, tendo em conta o enquadramento actual da nossa profissão?

JPT – Desde que haja reconhecimento é sempre vantajoso, independentemente do enquadramento profissional porque é sempre a classe de Enfermagem que fica a ganhar!

Para se informar melhor sobre a descrição técnica, vantagens do podoscan e demonstração, visite http://csmangualde.no.sapo.pt, na secção Notícias / Publicações ou pode-se dirigir directamente ao Centro de Saúde de Mangualde e procurar as pessoas responsáveis.