A propósito da auxiliar de Enfermagem espanhola que está infectada com o Vírus do Ébola, e agora também já uma Enfermeira… Deve este colocar o seu dever de “cuidar” acima das suas obrigações pessoais de manutenção da sua própria saúde?
A propósito da auxiliar de Enfermagem espanhola que está infectada com o Vírus do Ébola, como é já também caso público o de uma Enfermeira, uma vez que em Portugal não existem oficialmente auxiliares de Enfermagem e são os Enfermeiros que prestam todos os cuidados de Enfermagem aos doentes, será de esperar que situações como estas aconteçam e que chegue a nossa vez?
Assim levantam-se várias questões :
Deve o Enfermeiro fazer algo sem a Segurança e Conhecimentos necessários assegurados?
Não sendo despiciendo o argumento de que durante a formação pré-graduada deve aprender-se a lidar com estas situações, o facto de não convivermos com elas todos os dias não deverá constituir um argumento para formação contínua nesta área, ainda mais tendo em conta as especiais características do vírus do Ébola, para todos os profissionais de saúde envolvidos em contacto directo com doentes?
O que define uma profissão de risco?
Deve um Enfermeiro colocar o seu dever de “cuidar” acima das suas obrigações pessoais de manutenção da sua própria saúde? Quantos de nós nos esforçamos para além do dever profissional todos os dias, durante anos, não tendo qualquer género de compensação no final ?
Uma boa explicação para que muitos enfermeiros ponham a dignidade alheia acima da sua pode ser esta relatada a seguir, o que pode pôr em causa alguns alicerces éticos da profissão como defensores da dignidade do Enfermeiro enquanto profissional e pessoa.
Exemplos são esta questão do Vírus do Ébola ou num doente prestes a cair em que o Enfermeiro tenta sozinho amparar-lhe a queda, no caso do doente mal-educado mas que é desculpado pela sua doença, pelas horas trabalhadas para além do limiar da segurança, por “respeito” aos colegas, etc etc etc.
Deixo este trecho em que basicamente afirma-se que a ética do cuidar é uma moral esclavagista, tornando-se os cuidadores eles próprios escravos, sob seu sacrifício pessoal.
“The concept of slave morality comes from the philosopher Frederick Nietzsche, who held that oppressed peoples tend to develop moral theories that reaffirm subservient traits as virtues. Following this tradition, the charge that care ethics is a slave morality interprets the different voice of care as emerging from patriarchal traditions characterized by rigidly enforced sexual divisions of labor. This critique issues caution against uncritically valorizing caring practices and inclinations because women who predominantly perform the work of care often do so to their own economic and political disadvantage. To the extent that care ethics encourages care without further inquiring as to who is caring for whom, and whether these relationships are just, it provides an unsatisfactory base for a fully libratory ethic. This objection further implies that the voice of care may not be an authentic or empowering expression, but a product of false consciousness that equates moral maturity with self-sacrifice and self-effacement”
In: http://www.iep.utm.edu/care-eth/#SH3a
Leitura complementar
“Caring as a slave morality: Nietzschean themes in nursing ethics.”
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12230525
O que estamos dispostos a fazer pela profissão e o que consideramos dever profissional?
Seremos escravos do gostar do que fazemos ou simplesmente queixamo-nos sem razão?
Adenda: Pacote informativo atualizado sobre doença por vírus Ébola: http://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/ebola.aspx