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Enfermagem Portuguesa – Que Desafios? Que Futuro?

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Artigos de Autor

Agradecemos o contributo de todos os envolvidos nesta edição especial de Maio, onde procuramos não só informar, mas sobretudo trazer elementos que nos levem a todos para uma maior sofisticação do discurso sobre temáticas centrais para a profissão.

Pedro José Silva
Enfermeiro e Fundador/Co-Administrador do  Forumenfermagem

A Enfermagem portuguesa atravessa uma fase de demarcação e significação, que se revela na estruturação de discursos que na nossa óptica se cruzam mas também oferecem diversidade de propostas para o futuro da profissão e a resolução dos problemas com que a profissão se debate.

Tendo a aspiração de sermos um fórum,um ponto de encontro para a divulgação e discussão daquilo que são as várias perspectivas para a profissão, confrontamo-nos com a necessidade de identificar os lugares e agentes onde se desenvolve com maior estruturação as propostas para a profissão.

Por outro lado, o inicio de Maio é por força de algumas efemérides um momento para focarmos a tríade autoregulação-trabalho-mandato da profissão. Isto porque, em 21 de Abril assinalaram-se os 10 anos de existência da Ordem dos Enfermeiros sendo o momento de fazer um balanço, feito na primeira pessoa, sobre o caminho percorrido pela autoregulação profissional dos enfermeiros desde 1998. No dia 1 de Maio comemorou-se o dia internacional do trabalhador, sendo impossível dissociar este dia da prossecução do trabalho com direitos. Este acto reivindicativo enforma uma parte substancial das intervenções do nosso fórum, onde as questões da carreira, da contratualização, do desemprego são muitas vezes as bases de um discurso pessimista, mas que importa ser mais reflectido. Nesse sentido, convidamos os representantes de 3 sindicatos de enfermeiros (SE, SEP e SIPE) a responderem às nossas perguntas. No próximo dia 12 de Maio celebraremos o dia internacional dos/as enfermeiros/as. Em Portugal algumas entidades comemoram este dia organizando pequenos eventos comemorativos como Seminários, Reuniões, encontros bem como emitem declarações públicas sobre o tema escolhido pelo International Council of Nurses, que em 2008 é Delivering Quality, Serving Communities Nurses Leading Primary Health Care. Este tema emerge daquilo que é tido como o desígnio para um mandato socida profissão baseado na sua autonomia, e que encontra no medicocentrismo e hospitalocentrismo dos sistemas de saúde os maiores entraves.

Não será correcto referir que este mandato é consensual e esgota todas a visões do futuro da profissão. Atribui-se a  Kerouac (1994) o pressuposto de que o trabalho na saúde foi influenciado por quatro orientações (para a saúde pública, para a doença, para a pessoa e a abertura ao mundo) que dominaram o século XX e que favoreceram o desenvolvimento de diferentes estratégias de profissionalização. Estas perspectivas, que coexistem na actualidade, contribuem para a construção de diferentes imagens profissionais que se reflectem no modo de conceber o cuidado, a pessoa, a saúde e a doença (D´Espiney,  2008:23).

A Enfermagem merece mais que um simples dia para ser recordada, pelo que todos os anos o Forumenfermagem declara Maio como o Mês do Enfermeiro. É um mês demarcado não só pela classe profissional como também pela materialização do espírito estudantil através do Encontro Nacional de Estudantes de Enfermagem que reúne anualmente estudantes de todo Portugal (continente e ilhas), na ordem dos mais de 6000, bem como também profissionais de enfermagem.  Entrevistamos também o presidente da Federação Nacional de Estudantes de Enfermagem, na mesma lógica que usamos para esta edição especial. O nosso objectivo é enriquecer com a diversidade de opiniões e projectos para a enfermagem, aquilo que deve ser o nosso envolvimento com a profissão.

Finalmente, seria impossível por questões pragmáticas trazer para está edição especial de Maio, todos os padrões discursivos que existem sobre a profissão.

Faltam os docentes, faltam os decisões políticos, faltam os representantes da sociedade civil. E faltam os actores dos contextos não institucionalizados, que pela sua fragmentação e falta de participação cívica estão “residualmente presentes” dos discursos oficiais. As novas tecnologias da comunicação começam a criar uma dinâmica que permite a veiculação das idéias do “enfermeiro comum”, o fenômeno dos blogs suporta este argumento. O FE faz parte desse fenômeno, do qual somos orgulhosamente pioneiros. Congratulamo-nos com a fortalecimento das redes de opinião, pelo que apoiamos e integramos projectos como o Cogitare. Nesta edição especial não podíamos esquecer alguém que já se constitui um exemplo do opinion-maker não institucionalizado, suportado no anonimato. Falamos do autor do blog doutorenfermeiro.

Agradecemos o contributo de todos os envolvidos nesta edição especial de Maio, onde procuramos não só informar, mas sobretudo trazer elementos que nos levem a todos para uma maior sofisticação do discurso sobre temáticas centrais para a profissão.

Deixamos a sugestão de “matar o autor” (no sentido lírico do termo) e focarem-se nos seus discursos, libertos dos preconceitos com origem no julgamento do caracter das pessoas ou ideológico que por vezes nos ensurdecem ou cegam, e não nos permitem reelaborar as nossas próprias convicções para além da cristalização das nossas vinculações mais queridas. Sem duvida, não é de futebol que estamos a falar.

Um bom mês de Maio…

In d´Espiney, Luísa (2008). Recensão da obra “À conquista de uma identidade. Enfermeiros recém-formados entre o Hospital e o Centro de Saúde”, de Amélia Simões Figueiredo. [2004]. Lisboa: Climepsi Editores.. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 5, pp. 97-100. Consultado em [mês, ano] em http://sisifo.fpce.ul.pt/?r=15&p=98