Portugal foi o país com maior aumento percentual de enfermeiros formados desde o ano 2000, com 5.4% ao Ano! Quase tão bom como um Fundo de Investimento de Risco Elevado!
1. Número de enfermeiros por 1000 habitantes. Evolução entre 2000 e 2011
Ao observar estes dados constata-se que:
– Portugal foi o país com maior aumento percentual de enfermeiros formados desde o ano 2000, com 5.4% ao Ano tendo passado de 37623 para 65467 enfermeiros inscritos na OE no período 2000-2012 (http://www.ordemenfermeiros.pt/membros/Paginas/default.aspx)
– Por outro lado este quadro da OCDE não distingue por estrutura de formação/educação.
Os enfermeiros têm nos diferentes países diferentes níveis de educação, por exemplo via ensino superior, profissional, 3 anos, 4 anos ou 5 anos de formação, sistemas mistos…E como em Portugal o nível de acesso à profissão de Enfermeiro é simplesmente pela via da Licenciatura, a forma de obter estatísticas é heterogénea o que dificulta a interpretação e planeamento de recursos dedicados à educação e prestação dos cuidados à luz da comparação internacional.
Isto pode significar que faltam enfermeiros nos serviços de saúde portugueses utilizando esta metodologia de cálculo porém, neste caso, aquilo que são funções desempenhadas por assistentes operacionais em Portugal é desempenhado por auxiliares de enfermagem (que contariam no cálculo do número) nesses países. Isto provoca uma interpretação de falta de enfermeiros em Portugal, quando na realidade até podem é faltar aquilo que noutros países se designa por auxiliares de enfermagem.
Como seriam os números se incluíssemos o número de assistentes operacionais em funções de apoio aos profissionais de saúde (não só enfermeiros)?
Para leitura complementar: Structure of nursing education in 28 European countries (source: Workgroup of European Nurse Researchers) : http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2971660/table/T1/
– O quadro inclui alguns países com enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica e noutros casos não o faz dado que nalguns países estes são uma profissão diferente/separada de Enfermagem
– Inclui também dados relativos a enfermeiros em unidades de ensino e funções de administração ( não nos diz é quantos…) em alguns dos países o que não ilustra os que estão directamente na prestação de cuidados.
– Também em Portugal a maioria do Ensino é de cariz público pois a fiar-nos nos números cedidos pelo site da DGES, foram abertas no total 2984 vagas, sendo 2029 no ensino público ( 188 das quais com abertura no 2º semestre) e 955 no ensino privado e concordatário ( 70 das quais no 2º semestre) e a crer na missão do mesmo (adequar a oferta às necessidades do país)… a “Coisa” tomou as proporções que se vêem hoje em dia. À falta de empregos em Portugal… Emigração em Massa!!!
No que toca a Investimento em Escolas Privadas, a opção só pode ser imputada a quem a financia e escolhe, no caso as famílias e alunos, algo que não está certo nem errado, apenas seguindo o paradigma da Liberdade de Escolha e direito ao uso da sua propriedade da forma que entendem ser melhor.
Mas porque gasta recursos o Estado em algo que está a ser ruinoso para os Portugueses? Pelo menos no Ensino Superior Público a oferta tem de ser racional já que na realidade esta é uma responsabilidade conjunta das famílias e dos Governos dado que estes determinam o número de vagas disponibilizadas no Ensino Superior e o financiamento da actividade que as suporta. Estão a ser gastos recursos em algo não economicamente viável. Com certeza existirão melhores formas de usarem os impostos ou até de fazer algo inédito… baixando impostos ao não necessitarem de ser usados em financiamento no Ensino Superior.
2. Número de Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstétrica por 100.000 mulheres
Um número baixíssimo (43.1/100000 mulheres face à média da OCDE 69.9/100000) e que denota uma menor aposta na Humanização do Parto assim como na preparação para o mesmo. Será por isso que os Portugueses também não querem ter filhos e ainda menos por Parto Natural, ao não ser feita a devida preparação para o mesmo?
3. Número de Enfermeiros Especialistas em Saúde Mental e Psiquiátrica por 100000 habitantes
Não sei como andarão a ser cuidados os doentes em serviços dedicados à Saúde Mental, mas a crer pelos números, eles devem estar lá sozinhos, em autogestão… Estou a imaginar um Enfermeiro a cuidar de 50 doentes psicóticos durante um turno da Noite…
Ou então Portugal não tem doentes mentais…
4. Número de alunos de Enfermagem por 100000 habitantes
O termo “alunos de Enfermagem” tem em conta as mesmas considerações que o termo “Enfermeiro” aplicado no ponto 1 dado que é considerado aluno de Enfermagem quer o que esteja no Ensino Superior que um ajudante domiciliário, um auxiliar de enfermagem ou um qualquer cuidador.
Coexistindo paradigmas diferentes nos vários países, estas interpretações têm de ser cautelosas uma vez que em Portugal essa diferença implica várias considerações como poder afirmar que até temos menos alunos de Enfermagem que a média da OCDE. A crer no quadro sim, mas tendo em conta a própria explicação dada na definição do termo, no relatório original percebe-se que não.
Provavelmente, com as evidências diárias, temos é alunos a mais!!!
5. Relação Enfermeiros/Médicos
Pelos mesmos motivos apontados acima, qualquer interpretação está alterada dado que não existem em Portugal outros níveis de Enfermagem que não a licenciatura e as ocupações de apoio a cuidados de saúde( assistentes domiciliários, de geriatria, assistentes operacionais) não estão assim classificados, provocando uma subestimação dos valores, por exemplo, no caso Português.
Ou seja, se estes fossem incluídos talvez até tivéssemos uma melhor relação ou então a metodologia da OCDE não é a melhor.
6. Remuneração de enfermeiros hospitalares em relação ao salário médio
No caso Português dará algo como uma razão de 0.94, ou seja, bem no fundo da tabela!!!
Conclusão: Decidir com base em factos tem muito que se lhe diga… E é preciso saber discriminar a natureza dos factos.
Neste sentido é imperioso que o Governo:
1. Adeque as vagas no Ensino superior público às necessidades do país, pelo menos no sector Estado. Com um país a definhar por dívidas crescentes é irracional andar a formar para que os novos licenciados emigrem… E estes estão a fazê-lo em massa.
Ou se lhes dá emprego ou se utilizam os recursos que seriam empregues na sua formação noutra área… Ou melhor ainda, não se cobrariam os impostos necessários para sustentar essa actividade.
2. Seja coerente nas decisões quanto à metodologia usada nos dados que envia para a OCDE pois ou considera que há poucos enfermeiros e os emprega ou se há excesso que adopte o ponto 1.
3. Não discrimine negativamente os enfermeiros no que às questões salariais diz respeito, sendo que neste momento Portugal está no fundo da escala no que diz respeito à relação entre o salário médio português e o salário médio dos enfermeiros (ver http://www.forumenfermagem.org/comunicacao/item/3900-salario-dos-enfermeiros-dados-da-ocde).
4. Dê condições para uma concorrência mais perfeita, adequando a legislação, de modo a que as várias entidades e profissões possam concorrer com as mesmas condições.
5. Permita a especialização dos enfermeiros de forma mais adequada (não bloqueando legislação nesse sentido) a que estes possam responder às necessidades dos cidadãos.
6. Monitorize os indicadores de saúde dependentes (também)da actividade dos enfermeiros de forma mais transparente, garantindo a adequada regulação por parte das entidades responsáveis. Se os enfermeiros prestam tantos cuidados … onde está essa análise e tratamento dos dados? Quantas consultas fazem, quantas avaliações, que recursos materiais consomem. Já existem sistemas de informação para isso ou não?
Leitura complementar: O relatório da OCDE sobre a Saúde