Início Entrevistas Davide Fernandes: “Partilhamos sem rodeios aquilo que aprendemos ao longo de anos”

Davide Fernandes: “Partilhamos sem rodeios aquilo que aprendemos ao longo de anos”

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Entrevistamos o Enf. Davide Fernandes, coordenador do curso de Hemodiálise para Enfermeiros do Foramplus

Porque escolheu a área de Hemodiálise como contexto de trabalho?

Desde que me licenciei em Enfermagem, o meu intuito era trabalhar com o doente crónico. Esta vontade conduziu-me até ao Instituto de Oncologia do Porto onde aprofundei o meu conhecimento na área. No entanto, num mercado de trabalho que se torna cada vez mais competitivo e escasso, a diversificação de competências torna-se fundamental e indispensável. Para mim, a Hemodiálise surgiu como uma oportunidade de trabalhar com pacientes de uma área diferente e que, embora crónicos na sua essência são submetidos a um tratamento tri-semanal com características de situação aguda e ocasionalmente emergente, alargando a minha área de conhecimento.
Qual panorama da Hemodiálise na actualidade em Portugal?
Embora o Registo do Tratamento da Doença Renal Crónica Terminal da Sociedade Portuguesa de Nefrologia nos indique que em 2015 a incidência de pacientes a iniciar terapêuticas de substituição renal tenha diminuído ligeiramente ainda existem mais de 800000 doentes renais em Portugal. Uma fatia generosa dos mesmos apresenta risco de entrar em terapêutica substitutiva renal. Só no Distrito do Porto existem mais de 20 centros de Hemodiálise com equipas dedicadas. Neste panorama surge ainda recentemente uma nova realidade directamente indissociável da nossa: a introdução recente das TSFR nos PALOP e o estreitamento de laços entre o nosso país e nações como Angola, Moçambique e Cabo Verde com a consequente abertura de novos e desafiantes mercados de trabalho para o Enfermeiro.
Que formação é exigida para trabalhar como enfermeiro nesta área?
A legislação referente a esta área não é estritamente clara na descrição da formação, sendo que o Artigo 27º da Portaria nº 347/2013 apenas subentende que o enfermeiro deve ter três meses de experiência em técnicas dialíticas sem especificar a forma ou o espaço temporal em que a mesma é adquirida.
Que competências específicas exige o trabalho com este tipo de doentes?
Embora seja um tratamento altamente específico sobretudo pelas características do circuito extra-corporal e sua manutenção, as competências apresentam sincronismos com diversas áreas de atuação da Enfermagem. O enfermeiro em sala de hemodiálise deve ter uma base sólida de conhecimentos científicos teóricos-práticos que lhe permitam integrar-se com segurança no ambiente. Deve ser possuidor de uma destreza manual e agilidade apurada fundamental na canulação do acesso vascular e de excepcionais competências na esfera humana e social, nomeadamente na gestão de emoções e comunicação verbal e não-verbal . O Enfermeiro em Sala de diálise é o elo de ligação entre a equipa multidisciplinar, o doente e a sua família. A capacidade de tomada de decisão rápida, assertiva e objetiva é crucial na atuação perante as frequentes complicações relacionadas com o tratamento. Por fim, a capacidade de gestão de recursos materiais revela-se importante, dada a onerosidade dos mesmos.
Como perspectiva os próximos 5 anos no o desenvolvimento dos cuidados aos doentes com estas necessidades?
Embora seja uma área de atuação relativamente recente, a Nefrologia e as terapêuticas de substituição renal encontram-se já extremamente otimizadas. Isto não implica que a investigação e a evolução seja interrompida. O hardware e software que possibilitam o tratamento apresenta cada vez mais e mais complexas possibilidades e o Enfermeiro deve acompanhar esta evolução renovando a sua formação. Por outro lado, este mesmo hardware poupa tempo ao enfermeiro, permitindo-lhe desta forma dedicar mais do seu tempo útil com o paciente. O tratamento dialítico, pela sua cronicidade implica perda de liberdade, dificuldade financeira, conjugal, dependêcnia de terceiros e um comprometimento geral da qualidade de vida do paciente e famílias. Como tal, considero que a evolução cuidados autónomos de Enfermagem nesta área vai acabar inevitavelmente por incidir sobre os indicadores de qualidade de vida deste e da sua família quer seja através da investigação, projetos de intervenção na comunidade ou até pela criação da figura de “Enfermeiro de Referência”, já em uso em alguns centros.
Que mais-valia encontra na formação Foramplus direcionada para esta área?
A formação ministrada pela Foramplus foi criada de raiz no sentido de permitir que o Enfermeiro enriqueça o currículo que apresenta ao mercado de trabalho. À semelhança de qualquer outro curso teórico-prático por si só, o formando não fica imediatamente ao nível de um profissional da área, mas fica concerteza “um passo à frente” de alguém que nunca contactou com esta área de conhecimento. É um curso atual, dinâmico e informal centrado no Formando e nas suas necessidades. Sendo um curso, ministrado e criado por enfermeiros experientes e exclusivamente para Enfermeiros, os conteúdos foram adaptados ao saber prático. Na era digital não faz sentido compilar conteúdos que podem ser facilmente encontrados na Internet. Trazemos a nossa experiência para a formação e partilhamos sem rodeios aquilo que aprendemos ao longo de anos, de igual para igual sem tabus e dando espaço ao formando para colocar as suas dúvidas e desmistificar a temática. Ao criar parcerias com as clínicas Uninefro (Guimarães e Matosinhos) exclusivamente dedicadas à Hemodiálise, permitimos aos nossos formandos alargar a sua rede de conhecimentos e abrimos a porta para um mundo que doutra forma seria exclusivo de poucos.

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