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Consulta de Suporte à Decisão no Tratamento de Feridas na RAA

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Autores: Sandra Silva; Pedro Rosa; Filipe Correia; Susana Melo e Xénio Terra

A elevada prevalência de feridas, agudas e crónicas, no contexto atual dos cuidados de saúde e as consequentes implicações destes eventos na qualidade de vida das pessoas, tornam esta temática um foco de atenção relevante para os profissionais de saúde enquanto prestadores de cuidados, e para os sistemas de saúde que veem nela um desafio à capacidade de resposta dos próprios serviços. Desta forma uma abordagem diferenciada, transdisciplinar, sistemática, organizada, coesa e com uma forte componente interpares torna-se relevante para a gestão do processo cuidativo e do tratamento da pessoa com ferida.

Neste sentido, foi proposto pela Secretaria Regional da Saúde da Região Autónoma dos Açores (RAA) a criação de uma Consulta de Suporte à Decisão no Tratamento de Feridas (CSDTF), com recurso à Telemedicina, através da utilização da plataforma informática Medigraf®.

Sendo um projeto pioneiro na área do tratamento da pessoa com ferida, quer a nível Regional quer a nível Nacional, a Consulta de Suporte à Decisão no Tratamento de Feridas tem como finalidade uniformizar as práticas na prevenção e tratamento da pessoa com ferida, promovendo a articulação e a partilha de conhecimentos, entre os enfermeiros responsáveis por esta área da prestação de cuidados ao nível dos diferentes Centros de Saúde das Unidades de Saúde de Ilha da RAA, contribuindo deste modo para a excelência dos cuidados a prestar à pessoa com ferida crónica.

No âmbito da Telemedicina, a plataforma Medigraf® assume-se como uma solução de suporte de serviços remotos de medicina, desenvolvida pela Portugal Telecom, onde o trabalho cooperativo entre a equipa responsável pela implementação do projecto e os enfermeiros identificados como responsáveis pelo tratamento à pessoa com ferida nos diferentes centros de Saúde da RAA, se conjuga com a videochamada e com a partilha imediata de informação clínica.

O principal foco de atenção da consulta são as feridas crónicas, das quais destacamos as mais prevalentes: as úlceras por pressão, as úlceras de perna e as úlceras de origem diabética.

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A consulta foi planeada não para ser efetuada presencialmente, com o utente /família, mas como um espaço de partilha entre os enfermeiros dos diferentes Centros de Saúde envolvidos no projeto e a equipa responsável pelo mesmo.

Estão disponíveis três modalidades de consulta: “teleconsulta programada”; “teleconsulta de urgência” e “teleconsulta de grupo”, num horário semanal das 8.00 às 16.00.

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É esperado que cada responsável pela consulta no seu Centro de Saúde partilhe com a equipa de referência do projeto todas as situações de pessoas com feridas, identificadas pelos enfermeiros e os demais profissionais de saúde nas salas de tratamento, domicílios e internamentos, e que reúnem os critérios de referenciação descritos nas normas de orientação de suporte à consulta, nomeadamente: pessoas com feridas com 4 ou mais semanas de evolução; diabéticos com lesões ativas no pé (úlceras superficiais); pessoas com úlceras por pressão de categoria II, com mais de 6 semanas de ulceração, de categoria III, IV, inclassificáveis e lesões por humidade sem cicatrização após implementação de medidas corretivas. Pretende-se ainda que este enfermeiro colabore com a equipa de referência na avaliação, diagnóstico e implementação do plano de cuidados, interligando posteriormente com a equipa de enfermagem do seu Centro Saúde.

Quanto à equipa responsável pelo projeto, esta é constituída por um enfermeiro dos cuidados de saúde hospitalares, responsável pela formação, implementação e monitorização da consulta, com a colaboração direta de mais quatro enfermeiros dos cuidados de saúde primários, que na área da consultadoria, colaboram diretamente com os enfermeiros de referência das diferentes Centros de Saúde na avaliação, diagnóstico, implementação e avaliação do plano de cuidados e referenciação.

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Numa região marcada pela insularidade e dispersão geográfica, condicionada muitas vezes pelas condições climatéricas, onde o conceito de acesso aos cuidados de saúde é díspar nos três grupos que constituem a RAA: Oriental; Central e Ocidental, o desenvolvimento de um projecto desta natureza com recurso à telemedicina tem sido uma mais-valia para as pessoas que vivenciam esta situação de saúde-doença e que nos referem uma melhoria da sua qualidade de vida.

É notório o aumento da responsabilização das pessoas no seu processo de cuidados, nomeadamente na adesão à terapia compressiva, no uso da meia após cicatrização, e na mudança de comportamentos saudáveis, concorrentes quer para a prevenção quer para o processo de cicatrização da ferida crónica.