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Barómetro Forumenfermagem: Que futuro para a Profissão?

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1 – Resultados


1.1 -Amostra

Olhando para a distribuição abaixo representada, contamos com 974 participações de membros do FE, sendo que a maioria dos participantes (59%) refere experiência profissional de 2 ou menos anos (33%) ou ausência de experiência (26%). O local de trabalho dos participantes é sobretudo em contexto hospitalar (55%), realçando-se que apenas 2% são trabalhadores independentes e 4% saíram de Portugal para poder exercer a profissão. A maior parte dos participantes (74%) são enfermeiros de cuidados gerais, sendo que a maioria não é sindicalizada (54,3%, já com a exclusão dos estudantes).

Experiência Profissional

Sem Experiência24926%
1-2 anos 319 33%
3-5 anos 151 16%
5-10 anos 111 11%
Mais 11 anos 14415%

Local Principal de Prestação de Cuidados

Hospital internamento36938%
Hospital B.O.505%
Hospital Consultas Externas81%

Hospital outro

10611%
Comunidade Centro de Saúde818%
Comunidade USF263%
Comunidade UCC91%
Comunidade outro111%

RNCCI

404%
Lar de Idosos303%
Clínica Privada354%
Empresa de Prestação de Cuidados111%
Trabalhador Independente222%
Saí de Portugal para exercer Enfermagem 434%
Outro133 14%

Em que fase do desenvolvimento profissional ou área de exercício se encontra?

Estudante de Licenciatura de Enfermagem15516%
Enfermeiro de Cuidados Gerais72374%
Enfermeiro Especialista808%
Enfermeiro Gestor (Chefe, Supervisor, Director)131%
Enfermeiro Docente30%

 

É Sindicalizado?

Sim 445 45.7%
Não529 54.3%

 

1.2 – Reconhecimento social, autonomia, salário, protecção contra o risco, liderança de Enfermagem


A grande maioria dos participantes discorda de algum modo (82%) com a afirmação da Enfermagem ser uma profissão de elevado reconhecimento social, não reconhece autonomia no seu local de trabalho (43%) ou não tem opinião sobre o assunto (29%), a quase totalidade (98%) não reconhece que o salário auferido reflicta o risco, responsabilidade e penosidade profissionais, 37% discorda que se pratique uma relação multidisciplinar no local de trabalho e 33% não tem opinião sobre o assunto, 41% reconhece ter medidas de protecção eficazes face aos riscos da prática profissional e a maioria (66%) discorda que as lideranças de enfermagem defendam os interesses da classe.

Estes dados revelam uma percepção negativa dos participantes face a inúmeras situações que condicionam a autonomia científica e técnica da Enfermagem. Apesar de estar definido pela OE que “… os enfermeiros têm uma actuação de complementaridade funcional relativamente aos demais profissionais de saúde, mas dotada de idêntico nível de dignidade e autonomia no exercício profissional” e que “…as intervenções dos enfermeiros são autónomas e interdependentes” (Competências do Enfermeiro de Cuidados Gerais, 2003), existe ainda um conjunto de situações, de acordo com a maioria dos participantes, que não reflectem esta mesma autonomia. Será que estes princípios, publicados em 2003, ainda não fazem parte da cultura de saúde do nosso País? Porquê? Que será necessário alterar?

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto na Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma

– Em Portugal, a Enfermagem é uma profissão de elevado reconhecimento social;

Discordo em absoluto

19720%
Discordo60162%
Não concordo nem discordo10010%
Concordo69 7%
Estou totalmente de acordo71%

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto na Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma

– Os Enfermeiros usufruem de grande autonomia no seu local de trabalho;

Discordo em absoluto

424%
Discordo38439%
Não concordo nem discordo 27929%
Concordo24125%
ETA283%

 

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto na Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma

– O Enfermeiro aufere um salário que é justo, digno e adequado ás suas responsabilidades profissionais;

Discordo em absoluto

782 80%
Discordo17118%
Não concordo nem discordo141%
Concordo20%
Estou totalmente de acordo51%

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto na Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma

– Pratica-se uma verdadeira relação multidisciplinar no meu local de trabalho;

Discordo em absoluto

798%
Discordo28429%
Não concordo nem discordo32533%
Concordo25026%
Estou totalmente de acordo364%

 

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto na Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma

– São-me disponibilizadas no meu local de trabalho medidas de protecção eficazes face ao risco a que estou sujeito;

Discordo em absoluto

798%
Discordo23624%
Não concordo nem discordo26027%
Concordo34135%
Estou totalmente de acordo586%

 

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto na Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma

– As lideranças de enfermagem defendem arduamente e acima de tudo os interesses da classe;

Discordo em absoluto

23324%
Discordo41042%
Não concordo nem discordo20921%
Concordo10611%
Estou totalmente de acordo162%

1.3 – Enfermagem e sua relação com a comunicação social (Media)

A maioria dos participantes (92%) percepciona que os media não difundem o trabalho dos enfermeiros, não dão cobertura às suas reivindicações (54%), não divulgam as iniciativas dirigidas aos cidadãos organizadas por enfermeiros (89%) e que os media dão mais cobertura aos outros grupos profissionais que aos enfermeiros (94%).

Estes dados, bastante consensuais, podem levar-nos a reflectir diversas questões:

– Será que os media têm verdadeiro conhecimento das reais competências e conhecimentos dos Enfermeiros? E estes, têm procurado articular-se com os media no sentido de partilhar essa realidade?

– Será que os enfermeiros se têm preocupado em mostrar à população qual a natureza do seu trabalho?

– Qual tem sido a estratégia comunicacional das organizações de enfermagem nesta matéria? Os enfermeiros têm sido motivados a reflectir sobre esta temática e partilhar os seus conhecimentos?

– Os enfermeiros ocupam lugares de destaque nos media, quando se trata de comentar assuntos ligados à saúde?

– Será que a realidade dos outros profissionais é mais importante que a nossa? Será essa a condicionante para maior exposição, caso exista?

Em que medida percepciona que os media (comunicação social)…

Difundem o trabalho dos enfermeiros;

Nada

30832%
Pouco58760%
Sem opinião182%
Algo596%
Bastante20%

 

Em que medida percepciona que os media (comunicação social)…

Dão cobertura aos protestos/revindicações dos enfermeiros;

Nada

293%
Pouco49251%
Sem opinião273%
Algo39641%
Bastante303%

Em que medida percepciona que os media (comunicação social)…

Divulgam iniciativas dirigidas aos cidadãos organizadas pelos enfermeiros;

Nada

346 36%
Pouco51253%
Sem opinião374%
Algo778%
Bastante20%

 

Em que medida percepciona que os media (comunicação social)…

Dão mais cobertura a outras classes profissionais que aos enfermeiros;

Nada

101%
Pouco141%
Sem opinião404%
Algo17318%
Bastante73776%

1.4- Enfermagem e Política de Saúde

Questionados sobre diversas temáticas no âmbito da enfermagem e política de saúde, cerca de metade dos participantes (50%) discorda da actual conjuntura que permite que as lideranças de enfermagem sejam escolhidas por nomeação, sendo que 23% não tem opinião e apenas 27% concorda; 60% discorda do actual ritmo de formação de enfermeiros licenciados; 55% não concorda que os enfermeiros estejam presentes e condicionem politicamente as decisões referentes à classe; 77% percepciona a existência de forças contrárias ao crescimento da profissão em Portugal.

A percepção expressa por metade dos participantes é contrária à eleição de cargos de chefia por nomeação. Esta situação constitui a máxima ameaça à profissão, uma vez que essa nomeação pode não ter em conta o mérito, mas o controlo e condicionamento dos enfermeiros de um determinado local e é sabido que o controlo exercido no topo da hierarquia condiciona toda a cadeia. Urge formar chefias com base em valores de integridade, honestidade e pensamento de equipa, no intuito de defender e desenvolver a profissão. Como se observa, 66% dos participantes não estão satisfeitos com o papel das suas chefias na defesa da profissão. Sintomático?

A maioria (60%) discorda ainda com o actual ritmos de formação de enfermeiros, sendo necessário identificar se no sentido positivo ou negativo. Pois se considerarmos o ritmo de formação elevado face aos 3500 desempregados em Enfermagem (segundo os sindicatos e com perspectivas de aumento a cada ano), observamos que a maioria discorda desta situação. De facto, o aumento constante de vagas no curso de enfermagem só tem provado beneficiar duas entidades: o Governo que, mantendo um ritmo de formação elevado contribuí para o aumento de desemprego de jovens enfermeiros e mantém o preço desse serviço sob controlo (segundo as leis do mercado) e as escolas que, ganhando segundo maior número de alunos inscritos (seja em licenciatura, especialidades ou outras formações), mantém os financiamentos e os empregos dos seus associados. É uma prática que está a debilitar a profissão, retirando-lhe força reivindicativa e poder na sociedade. A falta de uma visão minimamente corporativista, contraposta com os incentivos verbais à formação de enfermeiros constante por parte da Ordem e alguns Sindicatos (na suposta defesa do interesse dos cidadãos por cuidados de qualidade, sabendo-se que por mais enfermeiros “que faltem”, o Governo nunca vai abrir vagas para eles), tem um efeito paradoxal: ao invés da formação de enfermeiros contribuir para segurança e cuidados de acordo com as necessidades das populações, está a atirar profissionais para o desemprego e criar péssimas condições para quem trabalha, gerando desmotivação, desinteresse, depressão, que conduz inevitavelmente a maus cuidados de enfermagem, ou pelo menos piores do que podiam ser.

Finalmente, existe a percepção da existência de forças contrárias ao desenvolvimento da profissão! Qual a razão de tal percepção? Será isto sentido nos locais de trabalho? Haverá a ameaça fantasma de “roubo” de competências por parte de outros profissionais?

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto para o crescimento e afirmação da Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma?

Eleição das lideranças de enfermagem (chefes, supervisores e directores) ser feita por nomeação;

Discordo em absoluto

20921%
Discordo 28329%
Não concordo nem discordo22423%
Concordo21022%
Estou totalmente de acordo485%

 

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto para o crescimento e afirmação da Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma?

Manutenção do actual ritmo de formação na licenciatura em Enfermagem;

Discordo em absoluto

25226%
Discordo33034%
Não concordo nem discordo17418%
Concordo19820%
Estou totalmente de acordo202%

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto para o crescimento e afirmação da Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma?

Os enfermeiros marcam presença na vida política e têm peso significativo nas decisões políticas referentes à classe;

Discordo em absoluto

23424%
Discordo30531%
Não concordo nem discordo10010%
Concordo18819%
Estou totalmente de acordo14715%

 

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações e o seu impacto para o crescimento e afirmação da Enfermagem enquanto profissão e disciplina científica autónoma ?

Existe pressão de outros grupos profissionais na regressão/ impedimento/ atraso de crescimento da profissão;

Discordo em absoluto

121%

Discordo

576%
Não concordo nem discordo16117%
Concordo39841%
Estou totalmente de acordo34636%

 

1.5 – Divulgação do papel do enfermeiro, dotações, rácios

93% dos participantes discorda com a actual divulgação do papel do enfermeiro à população, a grande maioria (95%) discorda com as dotações de enfermeiros nos serviços onde trabalha, 45% discorda do uso de rácios da OCDE (ou comparações europeias) para justificar a falta de enfermeiros no País, sendo que nesta questão 33% da amostra não tem opinião sobre o assunto.

As dotações são referidas como efectivamente inadequadas (95%), sendo que a maioria da população desconhece os riscos acrescidos que dotações inseguras acarretam para a qualidade dos cuidados e segurança dos próprios utentes (http://www.calnurses.org/assets/pdf/ratios/ratios_patient_safety.pdf).

O uso de rácios da OCDE para sustentar o argumento da falta de enfermeiros1 pode ser tem sido colocado em causa na opinião dos inquiridos.A média de Portugal (onde se contabilizam apenas enfermeiros, pois não há técnicos ou auxiliares de enfermagem) é contabilizada de modo diferente da OCDE (havendo países em que Enfermeiros = Enfermeiros e Auxiliares de Enfermagem e técnicos), pelo que a média portuguesa eventualmente poderia ser sempre mais baixa que a Europeia. Para além deste facto, o aumento do número de profissionais que esta comparação “pede” de forma a dar resposta às necessidades em cuidados de saúde dos portugueses deve ter em conta o facto do mercado não estar a absorver os jovens profissionais de enfermagem2 e de o poder político não criar recursos institucionais que respondam a essas mesmas necessidades.

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações no seio da profissão?

O papel do Enfermeiro é correctamente divulgado junto da população Portuguesa;

Discordo em absoluto

31232%

Discordo

59261%
Não concordo nem discordo525%

Concordo

172%
Estou totalmente de acordo10%

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações no seio da profissão

As dotações / nr de enfermeiros nos serviços de saúde são as adequadas (por forma a assegurar a qualidade e segurança dos cuidados);

Discordo em absoluto

62764%
Discordo30331%
Não concordo nem discordo263%
Concordo101%
Estou totalmente de acordo81%

Qual o seu nível de concordância em relação às seguintes situações no seio da profissão ?

O uso dos rácios da OCDE para justificação de falta de enfermeiros é uma prática correcta e benéfica para a profissão.

Discordo em absoluto

22223%
Discordo21822%
Não concordo nem discordo31933%
Concordo17118%
Estou totalmente de acordo 445%

1.6 – Como avalia o papel desempenhado pelas seguintes personalidades/instituições/espaços web na defesa da função social, dignidade e prestígio da Enfermagem portuguesa (até à data do presente questionário)?

Os resultados são claros, à excepção do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Socialista (PS), a maioria dos participantes não tem opinião formada ou desconhece o papel dos partidos políticos na defesa da função social, dignidade e prestígio da Enfermagem portuguesa. No caso do BE, a maioria está satisfeita com o seu papel (51%), a seguir vem o PCP (32%); este dado poderá estar relacionado com as recentes interpelações dos deputados do BE na Assembleia da República sobre os enfermeiros. Já no caso do PS, 72% consideram má a actuação do partido neste âmbito, ficando a seguir o PSD com 52% de opiniões negativas. O PS parece estar a pagar a factura em termos de popularidade devido ao braço de ferro com a classe. De acordo com os participantes do barómetro, são os partidos com maior “representação parlamentar” aqueles que menos defendem a profissão de Enfermagem.

Bloco Esquerda

Muito Mau

586%
Mau11211%
Sem Opinião / Desconheço 30832%
Satisfaz40842%
Satisfaz Bem889%

PCP/CDU

Muito Mau

798%
Mau15616%
Sem Opinião / Desconheço42343%
Satisfaz27628%
Satisfaz Bem404%

CDS-PP

Muito Mau

14215%
Mau22723%
Sem Opinião / Desconheço47148%
Satisfaz11912%
Satisfaz Bem152%

PSD

Muito Mau

21922%
Mau29730%
Sem Opinião / Desconheço 37939%
Satisfaz717%
Satisfaz Bem81%

 

PS

Muito Mau

43845%
Mau26027%
Sem Opinião / Desconheço26327%
Satisfaz131%
Satisfaz Bem00%

 

No que concerne aos nossos representantes directos, a grande maioria dos participantes (95%) considera má ou muito má a actuação da Ministra da Saúde, Ana Jorge, na defesa da Enfermagem Portuguesa, seguindo-se o Primeiro-Ministro (PM) com 89% e o Secretário de Estado Adjunto da Saúde com 80% de opiniões negativas. Tais percentagens reflectem a situação actual: a Ministra da Saúde é responsabilizada desta maneira pelos avanços e recuos que tendem a dilatar a negociação da carreira, o PM diz que “não cede a pressões” e Manuel Pizarro gere um Plano Estratégico de Recursos Humanos da Emergência Pré-hospitalar3 na qual se pretende eliminar os Enfermeiros do Pré-hospitalar (em vez de reconverter os milhares de enfermeiros desempregados, no qual já foi investido bastante dinheiro do Estado para os formar) e substituí-los por técnicos com conhecimentos limitados mas escandalosamente semelhantes, formados de raiz, para responder a situações muito específicas.

Primeiro-Ministro, José Sócrates

Muito Mau

58660%
Mau27829%
Sem Opinião / Desconheço9610%

Satisfaz

12 1%
Satisfaz Bem20%

 

Ana Jorge (Ministra da Saúde)

Muito Mau

69071%
Mau23124%
Sem Opinião / Desconheço384%
Satisfaz141%
Satisfaz Bem10%

 

Manuel Pizarro (Secretário de Estado Adjunto da Saúde)

Muito Mau

56258%
Mau21422%
Sem Opinião / Desconheço18419%
Satisfaz141%
Satisfaz Bem00%