Opinião dos enfermeiros portugueses que emigraram
Dos enfermeiros que estão a exercer fora de Portugal, 3 em cada 4 não pondera regressar nos próximos 2 anos. A maioria considera sentir-se profissionalmente realizado (65%), reconhecido (80%) e integrado socialmente (82%) no país de destino. O balanço global é positivo para quem decide sair de Portugal.
Tal como no Barómetro 2011, onde 76% dos enfermeiros que migraram apontavam a falta de oportunidades na sua área de qualificações como um motivo para sair do país, no Barómetro de 2014 esse número mantém-se nos 74%. A emigração de enfermeiros portugueses continua a ser “gerada por necessidade e falta de oportunidades para o exercício profissional” (Forumenfermagem, 2011:5). Muitos enfermeiros que emigraram (44%) não tinham à partida como ambição exercer no país de acolhimento, mas consegue-se perceber uma tendência para a possível idealização prévia do exercicio profissional no país de destino relativamente ao Barómetro 2011, quando, 56% dos enfermeiros migrantes nunca tinham ambicionado exercer no país de destino. O factor remuneratório é reconhecido como um aspecto importante para a decisão de emigrar para 74% destes enfermeiros.
O Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN, 2014:12) na sua publicação comemorativa do Dia Internacional do Enfermeiro 2014 aponta efeitos positivos mas também negativos para a oferta de recursos humanos nos sistemas locais/nacionais vulneráveis sujeitos a este tipo de pressão. Este organismo internacional reconhece que há uma necessidade de conhecer melhor o fenómeno e as suas específicidades, nomeadamente no cenário da livre circulação de enfermeirs dentro da União Europeia. Em termos gerais considera o ICN que:
A segurança da oferta também é afetada pela migração. A lacuna na oferta identificada pela OCDE pode ser preenchida por enfermeiros migrantes de outros sítios no sistema de saúde global. De facto, a Austrália, o Canadá e os EUA já indicaram que veriam a sua lacuna futura de competências a ser preenchida por enfermeiros de fora das suas próprias fronteiras (RCN 2012). O efeito desta migração sobre o sistema local/nacional pode ser tanto positivo (i.e. em termos de oportunidade para o indivíduo e o dinheiro gerado que é enviado para casa) ou negativo (i.e. em termos da perda de competências vitais num sistema de saúde habitualmente vulnerável). Alguns esforços estão a decorrer para minimizar os aspetos negativos da migração com a introdução das ações e recomendações da OMS mas continua uma área política fortemente debatida, muitas vezes com visões altamente polarizadas (Buchan 2008, DeLeon & Malvarez 2008). Como Kingma (2007) concluiu, num estudo global detalhado sobre a migração de enfermeiros, “A procura atual para trabalhadores é uma caça global altamente organizada para talento que inclui enfermeiros. Migração internacional é um sintoma dos problemas sistemáticos maiores que fazem com que os enfermeiros deixem os seus empregos. A mobilidade de enfermeiros começa a ser um assunto major apenas num contexto de exploração migratória ou falta de enfermeiros. Injetar enfermeiros migrantes num sistema de saúde disfuncional, aqueles que não têm a capacidade de atrair e reter funcionários de forma doméstica, não irá resolver a escassez de enfermeiros.” (p.1281)
Não existe uma contabilização do número de enfermeiros portugueses com experiência que migraram e que correspondem à perda de competências no sistema global de saúde. Como veremos mais à frente relativamente à maioria dos enfermeiros inquiridos, muitos enfermeiros com experiência ponderam emigrar devido á degradação das condições do país. Esse fluxo já dá sinais de ter-se iniciado. Apesar da amostra ser escassa, neste barómetro temos alguns indícios de que países como o Reino Unido têm vindo a apostar em enfermeiros jovens e com menos experiência, enquanto que outros como a Suiça apostam em enfermeiros com mais experiência. A saída de enfermeiros com mais de 5-10 e mais de 11 anos de experiência profissional já é uma realidade.
A seguir apresentamos os resultados de 10 questões que colocamos a estes enfermeiros.