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As Motivações dos Alunos no Ingresso ao Curso Superior de Enfermagem

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Revista Nursing

Na área da enfermagem, os estudos relativos à motivação são ainda muito restritos, sendo esta uma área do saber que carece claramente de investigações posteriores no seio da profissão.

A possibilidade de obtenção do primeiro emprego, o estatuto social do enfermeiro, assim como as características laborais da profissão são factores de motivação importantes para o ingresso no curso de enfermagem, sendo a relação que se desenvolve entre enfermeiro e utente é igualmente determinante na motivação dos alunos.

Título

AS MOTIVAÇÕES DOS ALUNOS NO INGRESSO AO CURSO SUPERIOR DE ENFERMAGEM

Student Motivation to apply for nursing schools

Nursing nº 241

Autores

Telma Filipa Cabrita Palma

Enfermeira de nível I

Hugo João Fernandes Amaro

Enfermeiro de Nível I

RESUMO

A motivação é um conjunto de forças internas que mobiliza o indivíduo para atingir um dado objectivo como resposta a um estado de necessidade, carência ou desequilíbrio.

A palavra motivação vem do latim movere, que significa “mover”. Entende-se por motivação tudo aquilo que é susceptível de mover o indivíduo, de o levar a agir para atingir algo (o objectivo) e de lhe produzir um comportamento orientado.

O estudo que aqui se apresenta pretende compreender a motivação dos alunos no ingresso ao curso superior de Enfermagem.

A amostra é constituída por 40 alunos do 1º ano de Licenciatura em Enfermagem, da Escola de Saúde Jean Piaget/Algarve. Foi elaborado um estudo não experimental, exploratório, descritivo e transversal baseado numa metodologia quantitativa, tendo sido utilizado um questionário como método de recolha de dados.

Os resultados obtidos revelam uma motivação elevada nos alunos que ingressaram no curso superior de Enfermagem. A possibilidade de obtenção do primeiro emprego, o estatuto social do enfermeiro, assim como as características laborais da profissão são factores de motivação importantes para o ingresso no curso de enfermagem, sendo a relação que se desenvolve entre enfermeiro e utente é igualmente determinante na motivação dos alunos.

ABSTRACT

Motivation is a set of internal forces that mobilize the individual to achieve a certain goal as an answer to a need, yearn or imbalance.

The word motivation derives from the Latin “movere”, which means “to move”.

Motivation can be understood as what makes the individual move on in order to achieve something (goal) as well as to produce a guided performance.

This study aims mainly at contributing to an understanding of the motivation that led students to ingress on a Nursing degree.

The sample was constituted by 40 students attending the first year of the Nursing school Escola de Saúde Jean Piaget, in the Algarve. A non-experimental, exploratory, descriptive and cross-sectional study was carried out, based on a quantitative methodology, using a questionnaire as the instrument for data collection.

The results obtained indicated that the students who had started the nursing degree were highly motivated. The possibility of getting a job, the social status as well as the job’s own characteristics are important sources of motivation for the students. The relationship that develops between nurse and patient also plays a determining role in the students’ motivation.

INTRODUÇÃO

O ingresso no ensino superior faz parte da ambição da grande maioria dos alunos que finaliza o 12º ano de escolaridade. Inserido num projecto de vida mais ou menos consciente e estruturado, os alunos são confrontados com a necessidade de procederem à escolha de uma área de formação académica, com vista a uma profissão futura. Neste sentido, assistimos, nos últimos anos, a uma procura crescente pelo curso superior de Enfermagem por parte dos candidatos ao ensino superior, procura esta que concomitantemente com o número reduzido de profissionais de enfermagem disponíveis para a prestação de cuidados de saúde às populações, fez com que o curso de Enfermagem fosse um fenómeno ímpar na sociedade portuguesa em geral e na científica em particular. O aumento da oferta formativa disponível, por parte de instituições públicas e privadas, correspondeu às expectativas de muitos estudantes que procuram fazer da Enfermagem um projecto de vida.

É nesta conjuntura que surge esta investigação que, baseada nos pressupostos anteriormente referidos, pretende não só efectuar uma abordagem conceptual pertinente dos fenómenos que motivam os alunos a ingressar no curso superior de Enfermagem, mas também servir de elemento reflectivo baseado numa vertente crítica construtiva relativamente aos diferentes aspectos da motivação humana. Neste caso particular, avaliámos a expressão dessa motivação nas escolhas dos alunos que ingressam no curso superior de Enfermagem.

Frequentemente, pensar em motivações significa pensar nas explicações das variações do comportamento humano, no sentido da sua compreensão. Os comportamentos têm origem numa força interior que predispõe ao desenvolvimento de uma acção com vista a atingir um determinado objectivo. Na óptica de Anjos e Monge (1991), a motivação será um conjunto de forças que mobilizam e orientam a acção de um organismo em direcção a determinados objectivos.

A motivação em termos conceptuais pressupõe um ciclo motivacional que consiste num circuito através do qual uma determinada acção alcança um objectivo específico, sendo que este ciclo se inicia com a existência de um motivo.

Por motivo entende-se o estado do organismo através do qual a energia corporal é mobilizada e dirigida a determinados elementos específicos do meio, sendo que a razão desempenha um papel determinante, na medida em que é a razão que induz o organismo a adoptar determinada acção. O motivo é constituído por duas componentes: a necessidade e o impulso (Chiavenato, 1998; Ferreira, 1997).

O motivo resulta, pois, do sentimento de necessidade que emerge do indivíduo, ou seja decorre de um estado de carência fisiológica ou psicológica determinando a origem do impulso. Este é o processo interior através do qual o indivíduo é induzido a agir, ou, por outro lado, o conjunto de comportamentos que permitem atingir um determinado objectivo previamente estabelecido, terminando quando a meta, ou objectivo, é alcançado. Só com a satisfação da necessidade em causa é que o motivo deixa de orientar o comportamento.

As capacidades físicas e psicológicas do ser humano e a sua consequente utilização dependem significativamente das motivações presentes em determinadas alturas, em que factores como os desejos, apetites, carências, ambições, ódio e medos, representam uma vertente importante na compreensão do desempenho de cada indivíduo, na medida em que a motivação é um aspecto condicionador do agir. Isto porque o défice interno (necessidade) empurra a pessoa para a acção (impulso), aproximando-a ou afastando-a de uma meta específica (Chiavenato, 1998; Jesus, 1996).

Os estudos relativos à motivação assumem diferentes perspectivas. Os investigadores têm procurado compreender o objecto de motivação dos seres humanos de acordo com diferentes abordagens conceptuais, dando origem a diferentes teorias explicativas do fenómeno em causa. Salientam-se a este nível as teorias clássicas, tais como a teoria da Hierarquia das Motivações de Abraham Maslow (1954), também conhecida pela pirâmide de Maslow. De acordo com este psicólogo, fundador da psicologia humanista, o indivíduo passa das necessidades básicas ou fisiológicas, a necessidades hierarquicamente superiores de natureza cognitiva ou estética (Marquis & Huston, 1999).

Nesta medida, o psicólogo estabelece uma estrutura hierárquica das necessidades, tendo por base o pressuposto de que se uma determinada necessidade não é satisfeita torna-se impossível ao indivíduo satisfazer outra necessidade hierarquicamente superior. Maslow aplicou esta ideia a todas as actividades da vida humana, afirmando igualmente que todos os indivíduos aspiram à auto-realização plena das suas potencialidades, sendo esta a necessidade hierarquicamente mais elevada da pirâmide por si elaborada. Na base da pirâmide situam-se as necessidades fisiológicas (que incluem as necessidades de ar, água, alimentos, entre outras necessidades essenciais à sobrevivência), seguidamente as necessidades de segurança (que incluem a segurança e a protecção de danos físicos e emocionais), as necessidades sociais (que incluem o desejo de pertença, de amizade e de aceitação no grupo social), as necessidades de auto-estima (que incluem factores internos, tais como a autoconfiança, a autonomia, realização pessoal e profissional, reconhecimento social, prestígio e a atenção por parte dos outros), e, tal como referimos anteriormente, as necessidades de auto-realização (que incluem as necessidades de crescimento e de realização pessoal).

Uma teoria conceptualmente importante e amplamente aceite pela comunidade científica é a teoria Higiénica ou Dois Factores de Herzberg (1959), em que o investigador procurou as fontes de motivação directamente relacionadas com a realização do trabalho. Segundo este, à medida que as pessoas crescem e se desenvolvem, ganham maturidade, adquirem experiência pessoal e passam a atribuir maior relevo a factores como a auto-estima e a auto-realização. A motivação do indivíduo relativamente à sua actividade profissional depende de dois tipos de factores, cada um deles ligado a um tipo de necessidades, a que Herzberg designou de Factores Higiénicos (ou de Insatisfação), e os Factores Motivacionais (ou de Satisfação). Os factores de Higiene referem-se à insatisfação que o indivíduo sente relativamente à sua actividade profissional, fazendo com que centralize a sua atenção e energia nos factores existentes no ambiente, tais como a administração e a supervisão, as condições de trabalho, as relações interpessoais, o dinheiro e a estabilidade profissional. Por outro lado, os factores motivacionais representam as fontes de satisfação profissional que se manifestam em sentimentos de realização, crescimento profissional e reconhecimento, conceptualizando-se num aumento da capacidade global de produção do indivíduo (Marquis & Huston, 1999; Ferreira, 1997).

Igualmente pertinente é a teoria das expectativas proposta por Victor Vroom em 1964 tratando-se de uma teoria cognitivista de expectativa-valor amplamente aceite. Esta teoria pressupõe que compete a cada indivíduo determinar o esforço que deve despender de forma a poder atingir os objectivos a que se propõe no decurso da sua actividade profissional. Na óptica de Vroom, a força que um indivíduo incute no alcance dos seus objectivos, é directamente proporcional à expectativa que possui para atingir esse mesmo objectivo, bem como o grau de importância que esse objectivo possui para o próprio indivíduo. Isto implica que um trabalhador só se encontrará altamente motivado para desempenhar uma determinada tarefa, mediante a sua expectativa que o esforço que irá despender, será recompensado (ex. aumento salarial), estas recompensas irão por sua vez influenciar directamente o grau de satisfação profissional desse mesmo trabalhador. Jesus (1996) refere que para formular a sua teoria, Vroom baseou-se em três tipos de relações, a relação esforço/desempenho, que traduz a importância que um resultado possui para um determinado indivíduo mediante o esforço que terá que despender para o atingir, a relação desempenho/recompensa, que se refere ao grau em que o indivíduo acredita que determinado desempenho adoptado por si, poderá conduzir à obtenção do resultado desejado, e, por último, a relação recompensa/objectivos pessoais, que traduz o grau com que o indivíduo percepciona as recompensas organizacionais como atractivas, no sentido de satisfazer as suas necessidades ou objectivos pessoais.

Um estudo comparativo efectuado por Gregório (2005), em que a investigadora utilizou dois grupos amostrais, sendo um constituído por alunos de enfermagem e outro por alunos de psicologia, permitiu à investigadora verificar que relativamente às facetas da motivação, não se verificou existirem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos amostrais. Todavia, verificou-se que a relação de ajuda apresentava uma correlação estatisticamente significativa e positiva como factor para a escolha profissional, quando correlacionada com o desempenho dos alunos. Das médias obtidas no estudo para as quatro dimensões da motivação utilizadas pela investigadora respectivamente, a relação de ajuda, as características laborais, a auto-realização e a auto-eficácia, as médias mais elevadas foram obtidas na dimensão “relação de ajuda” (avaliada numa escala de cinco opções) com um valor médio de 4,47, e na dimensão auto-realização (avaliada numa escala de seis opções) com um valor médio de 5,46, permitindo verificar que as duas dimensões referidas anteriormente contribuem significativamente para a motivação ao ingresso no curso, pelos alunos de enfermagem.

METODOLOGIA 

OBJECTIVO

O objectivo central desta investigação consiste em compreender os factores de motivação que influenciam os estudantes a escolherem o curso de enfermagem como formação académica.

AMOSTRA E PROCEDIMENTOS

Este estudo de investigação foi realizado tendo por base uma população constituída por 72 alunos do 1º ano de licenciatura em Enfermagem, da Escola Superior de Saúde Jean Piaget, Algarve. O motivo de escolha desta turma prende-se com o facto de se tratar da turma mais recente a ingressar no ensino superior nesta instituição de ensino, nomeadamente no curso de Enfermagem. Este fenómeno é particularmente importante para a problemática em causa, na medida em que os alunos não possuem ainda a noção concreta das temáticas abordadas ao longo do curso, o que permite não influenciar as motivações e escolhas pessoais para o estudo da área científica em causa, podendo este factor não se verificar com turmas de anos superiores (2º, 3º ou 4º ano de ensino), e pelo facto de terem sido os alunos que se candidataram mais recentemente ao ensino superior.

A amostra inicial era constituída por 50 alunos do 1º ano de licenciatura, tendo ficado, posteriormente, reduzida a 40 sujeitos de estudo, na medida em que 10 dos questionários recolhidos foram rejeitados por não se encontrarem correctamente preenchidos.

Nesta medida, utilizámos a técnica de amostragem por conveniência como método de selecção da amostra a utilizar no nosso estudo (Hill & Hill, 2002).

A amostra foi constituída por 40 alunos do 1º ano de licenciatura em Enfermagem, com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos, sendo que a média de idades é de 21 anos; a grande maioria (85%) dos sujeitos de estudo é do género feminino, enquanto 15% são do género masculino (ver gráfico 1). Relativamente à nacionalidade, 92,5% é de nacionalidade portuguesa, enquanto 7,5% possui outra nacionalidade. No que concerne aos de locais de origem, 57,5% dos sujeitos de estudo são originários do distrito de Faro, 15% do distrito de Beja, 7,5% da região autónoma da Madeira, enquanto 2,5% é originária de outros distritos.

Verificou-se ainda que 65% dos sujeitos do estudo candidatou-se somente uma vez ao ensino superior, 27,5% candidatou-se duas vezes e apenas 7,5% efectuou três ou mais candidaturas as ensino superior, conforme se pode observar no gráfico 2. Em relação à frequência de outros cursos superiores, 70% refere nunca se ter inscrito ou frequentado anteriormente outro curso do ensino superior, enquanto que 30% dos sujeitos de estudo referiram já ter frequentado anteriormente outros cursos superiores. Somente 17,5% dos sujeitos de estudo admite poder vir candidatar-se a outro curso, enquanto que a grande maioria (82,5%) não admite poder vir a candidatar-se a outro curso superior.

INSTRUMENTOS DE PESQUISA

O instrumento de colheita de dados utilizado foi o questionário, por considerarmos ser o instrumento que melhor se adequava à metodologia utilizada, aos objectivos da problemática em estudo, assim como por se tratar de um método de recolha de dados que fornece maiores garantias em termos do binómio tempo/qualidade da informação recolhida.

Nesta conjuntura, a utilização do questionário como método de recolha de dados, além do referido anteriormente, facilita a obtenção de respostas mais rápidas e concisas, permitindo aos sujeitos de estudo responderem ao mesmo de forma mais sincera e honesta possível, uma vez que o anonimato e a confidencialidade das respostas fornecidas encontravam-se previamente garantidos (Hill & Hill, 2002).

Assim sendo, foi elaborado um questionário constituído por duas partes, sendo a primeira parte constituída por uma questão aberta de natureza sócio-demográfica que pretendia avaliar a idade, e por três questões fechadas que pretendiam avaliar o género, nacionalidade e a naturalidade. A primeira parte do questionário foi igualmente constituída por quatro questões de natureza académica, que pretendiam avaliar o número de candidaturas ao ensino superior, a inscrição anterior em outros cursos superiores, a possibilidade de se candidatar a outro curso superior, assim como o facto de ter tido empregos anteriores na área da saúde. Seguidamente, foram elaboradas nove questões fechadas relativas à motivação para o ingresso no curso superior de enfermagem, que se relacionavam com possíveis experiências anteriores, com a influência dos pais, com a influência dos amigos ou outras pessoas significativas, com a nota de ingresso obtida, com o estatuto profissional do enfermeiro, com a remuneração económica a auferir, com o facto de o curso possuir, actualmente, o grau académico de licenciatura, com a possibilidade de obtenção do primeiro emprego e ainda com a relação que se estabelece entre enfermeiro e doente.

A segunda parte do instrumento de colheita de dados é constituída por uma escala do tipo Likert que pretende avaliar a motivação dos alunos para o curso superior, sendo a mesma constituída por duas sub-escalas.

A primeira sub-escala é constituída por dez itens com cinco opções de resposta relativas às dimensões “Relação de Ajuda” e às “Características Laborais”, na qual o sujeito de estudo deve assinalar a opção que melhor corresponde ao grau de importância em que cada item contribuiu para motivação, variando entre o “Nenhuma” e o “Muita”. A dimensão “Relação de Ajuda” é constituída pelos itens de 1 a 4, enquanto que a dimensão “Características Laborais” é constituída pelos itens de 5 a 10.

A segunda sub-escala constituinte da escala de avaliação da motivação é constituída por cinco itens relativos às dimensões “Auto – Realização” e “Auto – Eficácia” com seis opções de resposta, que traduzem o nível de concordância em que o sujeito de estudo se posiciona relativamente aos itens apresentados, variando entre o “Discordo Totalmente” e o “Concordo Plenamente”. A dimensão “Auto – Realização” é constituída pelos itens 11 e 12, enquanto que a dimensão “Auto – Eficácia” é constituída pelos itens 13, 14 e 15.

A escala de avaliação da motivação dos alunos para o curso superior utilizada no nosso estudo resulta de uma adaptação efectuada por Gregório (2005) a partir da Teacher Efficacy Scale (1983), do Intrinsic Motivation Questionnaire de Lawler e Hall (1970), assim como de uma versão reduzida da escala de motivação elaborada por Gibson e Dembo, formulada a partir da adaptação portuguesa de Neto, Barros e Barros (1991). A análise factorial efectuada pela investigadora permitiu obter uma solução de quatro factores, tendo sido encontrado para a dimensão “Relação de ajuda” um valor alpha de 0,65, para a dimensão “Características laborais” um valor alpha de 0,79, para a dimensão “Auto-realização” 0,67 e para a dimensão “Auto-eficácia” um valor alpha de 0,74.

No que concerne ao nosso estudo, foram seleccionados os itens que apresentavam um valor de correlação item-total superior a 0.3, tendo sido possível verificar que todos os itens sujeitos a análise apresentavam uma correlação item-total superior ao pretendido. Posteriormente, foi aplicada a técnica estatística conhecida por alpha de Cronbach, pois este método é o mais adequado para analisar escalas do tipo Likert, permitindo verificar o grau de homogeneidade entre as respostas dadas e os vários itens que constituem a escala (Pestana & Gageiro, 2003). Neste sentido, Hill & Hill (2002), referem que um valor de alpha maior ou igual a 0.7 é razoável, considerando um valor abaixo ou igual de 0.6 como inaceitável.

Relativamente à dimensão “Relação de Ajuda” foi encontrado um valor alpha de Cronbach de 0,83, bem como para a dimensão “Características Laborais”. No que concerne às dimensões “Auto – Realização” e “Auto – Eficácia” os valores encontrados foram respectivamente 0,70 e 0, 88 o que de acordo com Pestana e Gagueiro (2003) e Hill e Hill (2002), representa um valor alpha considerado como bom.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Para se proceder à análise estatística dos dados colhidos, foram utilizadas estatísticas descritivas, tais como média, desvio padrão, valor mínimo e máximo.

No que concerne à relação entre os factores de motivação para o ingresso no curso superior de enfermagem e experiências anteriores, 60% dos sujeitos de estudo referem que este aspecto foi muito relevante para a sua motivação no ingresso no curso. Relativamente à possível influência dos pais na motivação para o ingresso no curso superior de enfermagem, 35% refere que este aspecto foi muito relevante para a escolha do curso, enquanto que a maioria dos sujeitos de estudo (65%) refere que este aspecto foi pouco ou nada relevante para a sua motivação. A possível influência dos amigos na motivação para o ingresso no curso superior de enfermagem foi igualmente um aspecto analisado, em que 62,5% dos sujeitos de estudo refere que este aspecto foi pouco ou nada relevante, todavia relativamente à nota obtida no ensino secundário, 50% dos sujeitos de estudo considerou que este aspecto contribuiu de forma muito relevante para a sua motivação ao ingresso no curso superior de enfermagem (ver gráfico 3). Igualmente pertinente foi o facto de 60% dos sujeitos de estudo terem referido que o estatuto social do enfermeiro foi um aspecto muito relevante para a sua motivação ao ingresso no curso superior de enfermagem, enquanto que 55% dos sujeitos de estudo referem que o facto do curso de enfermagem ser actualmente um curso de licenciatura foi um factor de motivação muito relevante para a sua escolha da profissão como futuro profissional. A possibilidade de obtenção do primeiro emprego foi para 80% dos sujeitos de estudo um factor de motivação muito relevante e, igualmente pertinente, foi o facto de 92,5% dos sujeitos de estudo ter referido que a relação que se estabelece entre enfermeiros e utentes ter sido um factor de motivação muito relevante na escolha que efectuaram pelo curso de enfermagem como projecto profissional (ver gráfico 3).

Relativamente ao instrumento de avaliação da motivação, as análises estatísticas efectuadas permitiram-nos verificar que na dimensão “Relação de ajuda” foi encontrado um valor médio de 4,69 e para a dimensão “Características Laborais” foi encontrado um valor médio de 4,39. Na dimensão “Auto – Realização” foi obtido um valor médio de 5,71 enquanto que na dimensão “Auto – Eficácia” o valor obtido foi de 5,03.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A motivação humana é uma temática de amplo interesse e, desde sempre, tem atraído a atenção de investigadores e comunidade científica, que procuram, através investigações e teorias de natureza científica, compreender aquilo que motiva os seres humanos a adoptar determinado tipo de comportamento. Embora ainda represente uma temática que carece de estudos científicos, a motivação, muito devido a investigadores comportamentais, foi alvo de um crescimento científico significativo na área do saber, o que permitiu compreender de forma mais pertinente e profunda o comportamento humano.

Na área da enfermagem, os estudos relativos à motivação são ainda muito restritos, sendo esta uma área do saber que carece claramente de investigações posteriores no seio da profissão. Surge assim este estudo, que tal como referimos anteriormente, pretende ser uma contribuição para a compreensão dos factores de motivação que influenciam os estudantes a optarem pelo curso superior de Enfermagem.

Quadro 1: Médias, desvios padrão e valores mínimos e máximos obtidos nos diferentes factores de motivação constituintes do instrumento de avaliação

MEDIDAS

MÉDIA

DESVIO PADRÃO

MÍNIMO

MÁXIMO

Relação de ajuda

4,69

,488

3,00

5,00

Características Laborais

4,39

,559

2,83

5,00

Auto – Realização

5,71

,505

4,00

6,00

Auto – Eficácia

5,03

,822

2,67

6,00

 

Nesta medida, foi possível verificar a existência de valores médios elevados para as dimensões constituintes do instrumento de avaliação da motivação, pois para a “Relação de ajuda” foi encontrado um valor médio de 4,69 e para a dimensão “Características Laborais” um valor médio de 4,39, num máximo de 5, comparativamente ao estudo efectuado por Gregório (2005) em que a investigadora encontrou para as mesmas dimensões, valores médios de 4,47 e 3,87. Relativamente às dimensões “Auto – Realização” e “Auto – Eficácia” os valores médios obtidos no nosso estudo foram respectivamente 5,71 e 5,03, num máximo de 6, enquanto os valores médios obtidos por Gregório (2005) no seu estudo foram de 5,46 e 4,09 respectivamente. Esta análise comparativa é pertinente, uma vez que possibilita verificar que, não obstante o facto dos valores médios encontrados na nossa investigação serem superiores em todas as dimensões em estudo comparativamente aos valores médios encontrados por Gonçalves (2005) na investigação por si desenvolvida, permite-nos ainda verificar que, em ambos os estudos, os valores médios obtidos são particularmente elevados, o que representa de forma concreta e inequívoca a elevada motivação que os alunos que ingressam no curso superior de Enfermagem possuem. Para todas as dimensões em estudo, quer seja pela relação que se estabelece com os utentes no decurso da sua actividade profissional, quer seja pelas características inerentes à própria profissão de Enfermagem, quer seja pelas expectativas de auto-realização e de auto-eficácia que possuem.

O facto de 60% dos sujeitos de estudo terem referido que as experiências anteriores foram muito relevantes para a sua motivação no ingresso ao curso de Enfermagem é pertinente, pois revela que o facto de terem escolhido a profissão de Enfermagem como projecto de vida, prende-se com uma conjuntura de factores e experiências anteriores positivas, que claramente os motivou a adoptar esta atitude, revelando que quando os sujeitos de estudo optam pelo curso de Enfermagem, possuem já uma experiência e conhecimento anterior da profissão que serviu de suporte à sua decisão. Este fenómeno fica clarificado se valorizarmos a média elevada (4,39) obtida no nosso estudo na dimensão “Características laborais”, determinando claramente a existência de um conhecimento prévio das características da profissão de Enfermagem.

A crescente procura pelo curso de Enfermagem por parte dos estudantes que desejam ingressar no ensino superior, fez com que a nota de acesso ao curso seja, actualmente, uma das mais elevadas, e, desta forma, torna-se compreensível que 50% dos sujeitos de estudo tenham referido que a nota de acesso obtida tenha sido um aspecto muito relevante para a sua motivação ao ingresso no curso superior de Enfermagem, pois o facto de possuir uma nota de acesso elevada motiva os alunos a concorrerem ao curso, na expectativa de poderem vir a ingressar no curso desejado. No caso da Enfermagem, a obtenção de uma nota de acesso baixa reduz claramente as suas hipóteses de ingresso, diminuindo a sua motivação.

O estatuto social do Enfermeiro foi um aspecto que 60% dos sujeitos de estudo referiram como muito relevante para a sua motivação ao ingresso no curso superior de Enfermagem, sendo este aspecto particularmente interessante, uma vez que traduz a imagem social que a profissão de Enfermagem possui não só nos estudantes do ensino secundário, mas na sociedade em geral, fazendo com que um determinado conjunto de estudantes queiram fazer parte desta classe profissional. Este aspecto traduz a existência de um estatuto social positivo e significativo por parte da classe de Enfermagem junto da sociedade, numa altura em que a temática do estatuto e imagem social da profissão assume novas contornos, podendo este fenómeno dever-se à evolução científica de que a profissão tem sido alvo nos últimos anos, quer em termos profissionais, quer em termos académicos com a passagem do curso para o grau académico de licenciatura, o que está de acordo com o facto de 55% dos sujeitos de estudo terem referido que o facto do curso de enfermagem ser actualmente um curso de licenciatura foi um factor de motivação muito relevante para a sua escolha académica.

Pertinente é o facto de grande maioria dos sujeitos (80%) de estudo terem referido que a possibilidade de obtenção do primeiro emprego foi um factor de motivação importante, o que se compreende na medida em que a carência de profissionais de Enfermagem era extremamente significativa fazendo com que o pleno emprego fosse uma realidade vivida pela profissão, num passado recente, o que se veio a alterar profundamente devido a uma conjuntura factorial. Nesta linha de pensamento, 92,5% dos sujeitos de estudo referiram que a relação que se estabelece entre enfermeiros e utentes foi um factor de motivação muito relevante na sua escolha, na medida em que traduz a importância que os sujeitos de estudo atribuem a esta característica da profissão, assim como traduz uma elevada percepção por parte dos sujeitos de estudo, de que a profissão de Enfermagem consiste numa profissão de relações humanas por excelência, em que as relações interpessoais assumem contornos importantes, baseados numa metodologia do “cuidar”, o que está de acordo com o valor elevado encontrado na dimensão “Relação de ajuda”, o que reforça claramente a ideia de que os sujeitos de estudo atribuem elevado valor às relações humanas, nomeadamente às que se estabelecem entre quem presta e quem recebe cuidados.

A investigação efectuada permitiu-nos assim verificar que os sujeitos de estudo possuem um conhecimento claro e profundo da realidade da profissão de Enfermagem, quer no que diz respeito às características próprias da profissão, quer relativamente a factores mais específicos, tais como a relação de ajuda. Não obstante, pela realidade social vivida actualmente pela profissão, o curso superior de Enfermagem é, por diversos motivos, um curso desejado como projecto profissional, em que aspectos como estatuto social da profissão, o grau académico e as relações humanas representam um papel determinante na motivação dos alunos para o ingresso no curso de Enfermagem.

PONTOS A RETER

  • Assistimos, nos últimos anos, a uma procura crescente pelo curso superior de Enfermagem;
  • O aumento da oferta formativa disponível, por parte de instituições públicas e privadas, correspondeu às expectativas de muitos estudantes que procuram fazer da Enfermagem um projecto de vida;
  • 82,5% dos sujeitos de estudo não admite poder vir a candidatar-se a outro curso superior;
  • As experiências anteriores possuem um papel determinante na motivação dos alunos;
  • A profissão de Enfermagem possui um estatuto social positivo e significativo por junto da sociedade em geral;
  • O facto do curso de Enfermagem possuir o grau acadêmico de licenciatura é um fator de motivação importante para os sujeitos de estudo;
  • As relações interpessoais existentes na prática profissional dos enfermeiros, nomeadamente a relação de ajuda, são um fator de motivação determinante;
  • Os sujeitos de estudo possuem um conhecimento claro e profundo da realidade da profissão de Enfermagem.

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