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Aleitamento materno no concelho de Portimão aos 6 meses de vida do bebé

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Revista Nursing

O aleitamento materno tem implicações em várias áreas, nomeadamente na antropologia, na epidemiologia, na nutrição, na economia e na demografia

Título

Aleitamento materno no concelho de Portimão aos 6 meses de vida do bebé: Fatores condicionantes

Breastfeeding in the municipality of Portimão to 6 months of life of the baby: Conditioning factors

Nursing nº277

Autores

P. Silva Carneiro 

Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio – Serviço de Urgência; Enfermeira especialista na área da Enfermagem Comunitária; Mestranda em Enfermagem – Especialização em Gestão de Unidades de Saúde na Escola Superior de Saúde de Portalegre.

D. Garcia Galvão

Professora Coordenadora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra; Pós-Doutoranda em Enfermagem na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

O estudo foi realizado junto de mães de crianças com 6 meses de idade, que recorreram ao Centro de Saúde de Portimão – Unidade de vacinação.

Resumo:

Constatando-se a inexistência de estudos sobre a realidade da amamentação no Concelho de Portimão pretendeu-se dar resposta à questão “Que fatores interferem na manutenção da amamentação até aos 6 meses de idade de mães/crianças do Concelho de Portimão?”.

Objetivo: Estudar a prevalência da amamentação até aos 6 meses de idade no Concelho de Portimão; conhecer alguns fatores que levaram ao desmame precoce e relacionar alguns fatores que interferem na manutenção da amamentação até aos 6 meses de idade de mães/crianças do Concelho de Portimão.

Métodos: O estudo de metodologia quantitativa, descritivo-correlacional e transversal, sob a forma de questionário, junto de uma amostra não probabilística-acidental, de 200 mães, que recorreram a um Centro de Saúde de Portimão, entre Outubro de 2009 e Fevereiro de 2010.

Resultados: Revelou elevada incidência de aleitamento materno ao nascimento (99,0%) e percentagem (35,8%) de introdução de leite artificial ao 1ºmês de vida.

Aos 6 meses 44,5% das mães continuavam a amamentar e apenas 18,7% exclusivamente. As três principais razões apontadas para o desmame precoce foram: “quantidade leite insuficiente” (65,2%), “regresso ao trabalho”  (38,6%) e “leite fraco” (36,7%).

Conclusões: Foram encontrados fatores associados a uma maior duração da amamentação, nomeadamente: mães com nível socioeconómico e nível de escolaridade mais elevado, decisão em amamentar antes da gravidez, opinião favorável do marido/companheiro face ao fato da mulher amamentar, opinião da mãe favorável em relação à informação que recebeu sobre AM, precocidade da colocação do bebé à mama e reforço de ensinos realizados sobre amamentação nas consultas de vigilância de saúde infantil.

E como fatores associados com uma menor duração da amamentação: uso de chupeta pelo bebé e ter feito suplemento com leite artificial na maternidade.

Palavras-chave: Aleitamento Materno; Prevalência; Fatores Condicionantes.

Abstract

Introduction: Noting is the lack of studies on the reality of breastfeeding in the Portimão Municipality was intended to answer the question “What factors influence the continuation of breastfeeding until 6 months of age of mothers / children of the Portimão Municipality?”.

Objectives: To study the prevalence of breastfeeding until 6 months of age in the Municipality; know some factors that led to early weaning and list some factors that interfere with the maintenance of breastfeeding up to 6 months of age of mothers and children of the Portimão Municipality.

Methods: The study of quantitative methodology, descriptive-correlational and cross in the form of a questionnaire with a sample non-probability accidental, 200 mothers, who resorted to a Health Centre in Portimão, between October 2009 and February 2010.

Results: Found a high incidence of breastfeeding at birth (99.0%) and percentage (35.8%) of introduction of formula milk to the 1st month of life.

At 6 months 44.5% of mothers continued to breastfeed exclusively and only 18.7%. The three main reasons for early weaning were “insufficient milk quantity” (65.2%), “return to work” (38.6%) and “weak milk” (36.7%).

Conclusions: They were found factors associated to a bigger duration of the breastfeeding, namely: mothers with level partner economics and level of schooling more elevated, decision in breast-feed before of the pregnancy, favorable opinion of the husband/companion face to the fact of the woman breast-feed, opinion of the favorable mother regarding the information that received about breastfeeding, precocity of the placement of the baby to the mother and reinforcement of educations carried out about breastfeeding in the childlike health vigilance consultations.  And as factors associated with a smaller duration of the breastfeeding: use of pacifier by the baby and have deed supplement with artificial milk in the maternity.

Keywords: Breastfeeding; Prevalence; Conditioning factors.

Introdução:

O aleitamento materno tem implicações em várias áreas, nomeadamente na antropologia, na epidemiologia, na nutrição, na economia e na demografia1. Pode ser, considerado um comportamento, uma perceção, um padrão nutricional e mesmo um fator decisivo para o crescimento e para o desenvolvimento.

O leite materno é o único alimento que garante ao lactente o melhor estado possível de saúde física, de desenvolvimento evolutivo e psicossocialpelo que é consensual entre as várias organizações internacionais e nacionais, nomeadamente a OMS, UNICEF, Conselho de Alimentação e Nutrição e as Sociedades de Pediatria, recomendarem com base em pressupostos científicos, o aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses de vida do bebé, sempre que possível3,4, competindo a cada país desenvolver políticas e estratégias que visem atingir estas recomendações.

Neste sentido o Ministério da Saúde Português15, elaborou o Plano Nacional de Saúde Orientações Estratégicas para 2004-2010 estabelecendo como meta prioritária para 2010, que pelo menos 50% das mulheres amamentem exclusivamente até aos 6 meses.

Segundo a mesma fonte15, estudos realizados revelam que a totalidade das mães conhece as vantagens do aleitamento materno e está empenhada em iniciar, que 95% dos bebés saem das maternidades com uma amamentação exclusiva ou mista, mas que este valor decresce a partir do 15º dia de vida, motivado por falsas questões, relacionadas com problemas técnicos, insegurança, receios e stress.

Apesar da existência de múltiplas medidas de promoção do aleitamento materno, quer junto dos profissionais de saúde, quer junto da comunidade, verifica-se que a prevalência não  é satisfatória. Torna-se imperativo desenvolver estratégias adequadas para a promoção do aleitamento materno, tais como apoio domiciliário durante o período neonatal precoce, bem como apoiar o projeto “Hospitais Amigos dos Bebés/Serviços de Saúde Amigos dos Bebés” uma iniciativa da OMS e da UNICEF lançada em 1992. No nosso país respondendo a esta iniciativa o Governo português, logo em Maio de 1992, nomeou uma Comissão Nacional tendo sido certificados os três primeiros «Hospitais Amigos dos Bebés», em 2005, 2007 e 2008, sendo neste último ano certificado o Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio (CHBA) e em Outubro de 2009 a Maternidade de Júlio Dinis no Porto.

Ainda pouco se sabe sobre as determinantes de decisão em amamentar e os fatores associados a uma maior ou menor duração da amamentação, não só  nos países desenvolvidos, mas sobretudo nos países em desenvolvimento.3

Neste contexto, desconhecendo a existência de estudos que se tenham centrado sobre a realidade existente em Portimão, uma questão nos surgiu: “Que fatores interferem na manutenção da amamentação até aos 6 meses de idade de mães/crianças do Concelho de Portimão?”.

Assim, realizou-se um estudo que seguiu a metodologia quantitativa que visou estudar a prevalência da amamentação até aos 6 meses de idade no Concelho de Portimão, conhecer alguns fatores que levaram ao desmame precoce e relacionar alguns fatores que interferem na manutenção da amamentação até aos 6 meses de idade de mães/crianças do Concelho de Portimão.

Material e Métodos:

No estudo de tipo descritivo-correlacional e transversal, utilizou-se um questionário, junto de uma amostra não probabilística-acidental, de 200 mães, tendo como critérios de inclusão serem mulheres residentes no concelho de Portimão, cujos partos ocorreram no CHBA no intervalo de tempo compreendido entre 1 de Abril e 31 de Agosto de 2009, que tivessem amamentado ou ainda estivessem a amamentar e que soubessem ler e escrever português, condição obrigatória para aplicação do instrumento de colheita de dados adotado, que recorreram a um Centro de Saúde de Portimão – Unidade de vacinação, para vacinar os seus bebés com 6 meses de vida, no período de 1 de Outubro de 2009 a 26 de Fevereiro de 2010.

O questionário, elaborado para o efeito, foi pré-testado junto de uma amostra de 15 mães com bebés de 6 meses que recorreram ao mesmo Centro de Saúde para procederem à vacinação e que correspondiam a todos os critérios de inclusão da amostra do estudo, durante o mês de Fevereiro de 2009, ficou constituído por 33 questões na sua maior parte de respostas fechadas, e algumas perguntas de respostas abertas consideradas importantes face aos objetivos do estudo, distribuídas por duas partes. Na primeira, foi realizada a identificação e caracterização sociodemográfica das mães, utilizou-se o índice de Graffar, e na segunda parte foram colocadas questões referentes à amamentação.

Todos os questionários foram por nós entregues às mães de meninos com 6 meses que se encontravam na sala de espera do Centro de Saúde – Unidade de vacinação, enquanto aguardavam vacinar os seus bebés, que cumprissem todos os critérios de inclusão no estudo. As mães foram informadas e esclarecidas sobre os objetivos do estudo, e participaram nele de forma voluntária. Foi-lhes assegurado, de forma verbal, confidencialidade e anonimato da informação colhida no questionário, tendo sempre presente os princípios éticos e deontológicos de investigação.

Para a realização do estudo foi feito o pedido formal de autorização da aplicação do pré-teste/questionário à Administração Regional de Saúde do Algarve, realizada reunião com a responsável pela área do aleitamento materno desta Administração e reunião com a Senhora Enfermeira Chefe do Centro de Saúde onde decorreu a pesquisa.

O tratamento de toda a informação foi realizado por computador através do programa de tratamento estatístico SPSS, na versão 18.0, e os procedimentos estatísticos utilizados foram a determinação de medidas de tendência central e de dispersão que nos permitiu caracterizar a amostra do estudo e as variáveis de estudo.

Atendendo à natureza das variáveis em estudo e distribuição dos resultados, com base no teste de Kolmogorov-Smirnov, utilizámos testes não paramétricos, teste de c2de forma a analisarmos a significância da relação entre as variáveis estudadas. Foram considerados estatisticamente significativos valores de significância menor que 0,05.

Resultados:

Caracterização da Amostra

A idade das inquiridas variou entre os 19 e os 42 anos. Um total de 36% (n=72) tinha idades compreendidas entre os 24-29 anos, seguindo-se de 24% (n=48) com idades entre os 29-34 anos. A média das idades foi de 28,6 anos com um desvio padrão de 5,096 anos, sendo que a mediana se localizou nos 28 anos e a moda nos 29 anos.

Relativamente à nacionalidade das mães verificou-se que 71,5% (n=143) era de nacionalidade Portuguesa, 7,5% (n=15) Brasileira, 5,0% (n=5) Romena e as restantes de outras nacionalidades oriundas de outros países (Moldavia, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Cabo-Verde, Marrocos, índia, Moçambique e Guiné) o que demonstra a grande variedade cultural existente no concelho de Portimão.

Relativamente ao estado civil, cerca de metade, 54,0% (n=108), era casada, seguindo-se 30,0% (n= 60) que as que viviam em união de facto.

Observámos que quanto às “habilitações literárias” se tratou de um grupo heterogéneo em termos de formação académica, sendo que houve respostas que oscilaram desde o 4º ano de escolaridade à licenciatura. De salientar que 34,5% das mães era detentora do 12ºano, 28,5% da licenciatura, 18,0% do 9ºano e apenas 4% tinha o 4ºano de escolaridade.

As condições socioeconómicas foram avaliadas através da escala do Índice de Graffar. Os valores obtidos variaram entre 8 e 19. Constatámos que 41,0% (n=82) das inquiridas pertence a uma classe social média, 28,0% (n=56) a classe social alta, 23,5% (n=47) média alta, 7,5% (n=15) média baixa e não encontramos nenhuma mãe pertencente à classe baixa.

Amamentação:

– Sensivelmente a totalidade das senhoras desejou a gravidez, 92,0%, e cerca de metade, 57,0%, afirmou ter sido uma gravidez planeada.

– Um total de 98,0% (n=196) das mães teve uma gravidez vigiada, observando-se que as consultas de vigilância de saúde foram realizadas no Centro de Saúde, 79,6% (n=156), no médico particular, 53,6% (n=105) e no hospital 11,3% (n=22). O número de consultas realizadas oscilou entre 4 e 10 sendo que a média foi de 7,04 e o desvio padrão de 1,502 consultas.

– Não tinha experiência anterior de amamentação 61,5% (n=123) das mães e 38,5% (n=77) já tinha amamentado antes. Decidiu amamentar antes de engravidar 83,0% das mães, 15,0% durante a gravidez e apenas 2,0% fê-lo após o parto. A decisão de amamentar para 97,0% foi tomada por iniciativa própria, 10,0% fê-lo por conselho da família, 2,0% por conselho médico e apenas 1,0% através dos meios audiovisuais.

– Para 61,0% das mães o seu marido/companheiro concorda plenamente com o facto de elas amamentarem, 36,0% deles concorda e apenas 3,0% não concorda nem discorda.

– Em relação a se considerarem informadas sobre AM verificou-se que as respostas foram quase unânimes com 99,0% das mães a referirem que sim.

– Analisando as respostas sobre se necessitavam de mais informação sobre aleitamento materno, 99,0% referiu que não.

– Relativamente ao momento em que a informação sobre aleitamento materno foi realizada 87,0% das mães referiu ter recebido durante a gravidez, 99,0% durante o internamento e somente 64,0% no Centro de Saúde aquando as consultas ou nos momentos de vacinação dos bebés. Apenas 1,0% afirmou ter sido no domicílio, após o nascimento do bebé.

– Quanto ao conteúdo da informação recebida pelas mães: 93,0% recebeu informação sobre as vantagens do AM, 85,5% sobre técnica de amamentação, 8,5% referiu ter recebido informação sobre legislação que promove o AM e apenas 2,0% sobre contraindicações do AM. Sendo que 47,5% consideram-na esclarecedora, 39,5% bastante esclarecedora, 12,0% muito esclarecedora e somente 1,0% pouco esclarecedora.

– Relativamente à experiência de amamentação após o nascimento apurou-se que: 74,5% (n=149) dos bebés estiveram em contacto direto pele a pele com a sua mãe na 1ª vez que colocaram o bebé a mamar, 99,0% das mães receberam ajuda do enfermeiro e 1,0% do médico obstetra, e apenas 0,5% iniciou imediatamente a seguir ao parto, 76,8% na sala de partos e 22,7% após a primeira hora.

– Observámos ainda que 99,0% (n=198) das mães iniciaram AM no hospital.

– Decidiram maioritariamente amamentar por considerarem que o leite materno é o mais adequado para o bebé (73,5%) e por considerarem que protege o bebé de infeções (69,0%).

– Das 200 mães inquiridas, 99,0% (n=198) responderam de forma afirmativa que lhes tinham ensinado a amamentar na maternidade, sendo que 99,9% salientam que lhes foi ensinado a colocar/posicionar o bebé à  mama, 96,7% falaram-lhes sobre os intervalos entre cada mamada em simultâneo com os cuidados a ter com as mamas, 85,4% sobre os possíveis problemas que possam surgir com a mama e mamilos e apenas 36,9% referiu a extração e conservação do leite.

– Embora 4,5% das mães não soubesse referir se os seus bebés tomaram leite artificial durante a permanência na maternidade a 82,5% dos bebés não foi oferecido suplemento alimentar.

– Aos 6 meses de idade apenas 45,5% (n=91) das mães continuam a amamentar. Destas, 74,7% alimenta os seus bebés com leite materno e alimentação complementar, 18,7% apenas com leite materno e 6,6% com leite materno e leite artificial.

– Um total de 65,2% das mães que já não amamentam apontaram como causa do desmame a perceção de leite insuficiente, 38,6% o regresso ao trabalho e 36,7% perceção de leite fraco.

– Apurámos que 24 mães iniciou a introdução do leite artificial aos 120 dias, 18 mães iniciou aos 90 dias e 15 mães introduziu aos 30 dias. Podemos salientar que a moda de introdução de leite artificial localiza-se aos 120 dias, a média aos 67,49 dias, mediana de 60 dias e um desvio padrão de 48,363 dias.

– Constatámos que 38 mães começaram a dar água ao seu bebé aos 120 dias, enquanto 37 mães aos 30 dias e 23 mães aos 60 dias. Assim, temos uma média de introdução de água de 71,7 dias, mediana de 60 dias, uma moda de 120 dias e um desvio padrão de 49,116 dias.

– Das 134 mães que responderam dar ao seu bebé leite artificial, 46,3% fê-lo por conselho do pediatra, 15,0% do farmacêutico e 11,2% por conselho do médico de família.

– Usa chupeta 66% (n=132) dos bebés tendo iniciado o seu uso 96,2% já  em casa.

– Apurámos que aos 6 meses de vida do bebé 68,0% das mães apresenta uma atividade laboral ativa.

– Apenas 39,0% (n=78) das mães referiu que nas consultas de vigilância de saúde infantil têm sido reforçados os temas/assuntos relacionados com a prática do aleitamento materno e que o reforço da temática foi realizado em 65,4% pelo enfermeiro, 11,5% pelo médico de família e 7,7% pelo médico pediatra.

Sendo objetivo deste estudo relacionar algumas características sociodemográficas das mães e os aspetos relacionados com a amamentação com a duração da amamentação, como se referiu aplicou-se o teste de Qui-Quadrado e verificou-se:

– Existir relação significativa entre as variáveis habilitações literárias e manutenção da amamentação aos 6 meses. Observámos que foram as mães com maiores habilitações que mais prolongaram a amamentação sendo que das 57 mães com Licenciatura 57,9% mantinham a amamentação verificando-se diminuição destas percentagens nos meninos filhos de mães com habilitações de nível inferior.

– Também a relação entre o nível socioeconómico e a manutenção da amamentação foi significativa. Das 56 mães que apresentavam nível socioeconómico considerado alto, 57,1% continuavam a amamentar verificando-se que a percentagem de mães que mantinham a amamentação decresceu à medida que diminui a classe social a que pertenciam.

– Que a opinião favorável do marido/companheiro face ao facto da mulher amamentar (97%) mostrou significado estatístico com a manutenção da amamentação, sendo esta tanto maior quanto maior foi o grau concordância deste.

– Existir uma relação estatisticamente significativa entre as variáveis opinião da informação recebida e a manutenção da amamentação. Das 24 mães que consideraram a informação muito esclarecedora, 14 (58,3%) continuavam a amamentar, resultado semelhante ao de 46 (58,2%) mães que consideraram a informação muito esclarecedora num total de 79 mães. As 2 (100,0%) mães que salientaram que a informação era pouco esclarecedora já não amamentavam. Isto vem demonstrar que as mães que consideraram ter recebido informação muito e bastante esclarecedoras amamentaram mais tempo do que as restantes.

– Existir uma relação estatisticamente significativa entre a precocidade de decisão em amamentar e a manutenção da amamentação. Das 166 mães que tomaram a decisão em amamentar antes de engravidar 84 (49,4%) delas ainda mantinham a amamentação aos 6 meses.

– Ainda haver uma relação entre a introdução do suplemento na maternidade e a manutenção da amamentação, com uma relação estatisticamente significativa entre as variáveis. Verificámos que dos 26 bebés que tomaram suplemento no hospital apenas 3 (11,5%) deles continuavam a ser amamentados e que dos 165 bebés que não tomaram suplemento 85 (51,5%) deles mantinham a amamentação, ou seja, os bebés que tomaram suplemento foram amamentados durante menos tempo.

– Existir uma relação com significado estatístico entre não uso de chupeta e a manutenção da amamentação. Constatámos que dos 132 bebés que usavam chupeta, 49 (37,1%) mantinham a amamentação e que dos 68 bebés que não usavam chupeta, 42 (61,8%) continuavam a ser amamentados.

– Existir uma relação estatisticamente significativa entre precocidade da colocação do bebé à mama e a manutenção da amamentação aos 6 meses. Verificámos que o único bebé que foi colocado à  mama imediatamente a seguir ao parto mantinha a amamentação aos 6 meses de vida, das 155 mães que colocaram o bebé à mama na sala de partos (antes da 1ª hora), 78 (51,3%) delas continuavam a amamentar e que das 45 mães que iniciaram a amamentação após a 1ª hora do parto apenas 12 (26,7%) delas mantinham a amamentação aos 6 meses de vida.

– Existir relação com significado estatístico entre a informação fornecida sobre AM nas consultas de vigilância de saúde infantil e a manutenção da amamentação. Das 78 mães que receberam reforço de informação sobre AM nas consultas de saúde infantil, 52 (66,7%) continuavam a amamentar aos 6 meses de vida do bebé, em contrapartida das 122 mães que não receberam informação apenas 39 (32,0%) delas mantinham a amamentação.

Sugestões:

Os resultados revelaram ausência de visita domiciliária efetuada pelo Centro de Saúde de Portimão, para tal sugerimos a implementação da visita domiciliária de enfermagem de apoio ao AM.

Realização de estudos após a sua implementação que avaliem a sua importância no sucesso do AM.

Desenvolvimento de programas/projetos comunitários, que visem o envolvimento da comunidade na amamentação.

Contactar via telefone todas as mães na 1ª semana após alta, para isso sugerimos que o Cantinho da Amamentação do CHBA esteja aberto durante 4-6h diárias.

Promoção da presença do pai nas consultas pré-natais e de preparação para o parto.

Conclusões:

Perante os resultados encontrados no nosso estudo parece-nos importante questionar as intervenções educativas, as práticas, procedimentos e atitudes realizadas pelos profissionais de saúde durante a vigilância pré  natal, considerando a possibilidade de lacunas na forma como foram efetuadas as atividades educativas e de promoção do AM, pois a Direção Geral de Saúde e Ministério da Saúde emanam diretrizes claras para que se atinjam as metas propostas para 2004-2010. Neste sentido, será necessário investir mais nas campanhas de promoção do AM e sensibilizar os médicos e enfermeiros da importância da promoção e apoio à prática do AM.

Para terminar e dando resposta às questões formuladas no início do nosso estudo, concluímos que aos 6 meses de vida do bebé, 44,5% das mães continuavam a amamentar e apenas 18,7% o faziam com leite materno exclusivo, valor este que fica muito aquém da meta proposta pela OMS de 50% de crianças com AM exclusivo até esta idade. Perante estes resultados é necessário haver um maior investimento por parte dos profissionais de saúde (médicos obstetras, pediatras e de medicina geral e familiar, enfermeiros e restantes técnicos de saúde), principalmente os que trabalham na área dos cuidados de saúde primários em formação sobre aleitamento materno, “para que todos possam falar a mesma linguagem” de forma a manter o AM exclusivo até aos 6 meses de vida do bebé. Sugerem-se algumas estratégias como esclarecer, encorajar e apoiar a grávida e puérpera nesta prática através de um acompanhamento sistemático, com o intuito de prevenir complicações associadas à amamentação, o que leva que haja uma intervenção mais precoce.

Relativamente à segunda questão, as três principais razões apontadas pelas mães para o desmame precoce, que vão de encontro a outros estudos realizados, foram: “quantidade leite insuficiente”5,10,11 (65,2%), “o regresso ao trabalho”12,13,14 (38,6%) e “leite fraco”5,10,11 (36,7%).

No que diz respeito à terceira questão, os fatores sociodemográficos maternos que se associaram à manutenção da amamentação foram: mães com nível socioeconómico1 e nível de escolaridade mais elevado5,6,7, indo de encontro também a outros estudos consultados.

Quanto à quarta questão, os fatores de história de vida da mãe que influenciaram a manutenção da amamentação foram: decisão em amamentar antes da gravidez5, opinião favorável do marido/companheiro face ao facto da mulher amamentar5,8,9, opinião da mãe favorável em relação à informação que recebeu sobre AM, precocidade da colocação do bebé à mama5 e reforço de ensinos realizados sobre amamentação nas consultas de vigilância de saúde infantil5. E como fatores associados com uma menor duração da amamentação: uso de chupeta pelo bebé5 e ter feito suplemento com leite artificial na maternidade5, factos estes comprovados em estudos anteriormente publicados.

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