A Acreditar tem vindo a alertar para a deterioração dos cuidados nesta área e, na véspera de se assinalar o Dia Internacional da Criança com Cancro, reforça este alerta, pedindo “um compromisso efetivo para melhorar os cuidados prestados” em Portugal, onde são diagnosticados cerca de 400 novos casos de cancro pediátrico por ano.
“Atualmente, o impacto do desinvestimento nos centros de referência torna-se evidente: Atrasos em tratamentos e intervenções, ciclos adicionais de quimioterapia desnecessários, com aumento da toxicidade e impactos em corpos em desenvolvimento”, afirma em comunicado a Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro.
Em declarações à agência Lusa, a diretora-geral da Acreditar, Margarida Cruz, afirmou que os centros de referência relatam ser cada vez mais difícil ter médicos, enfermeiros e todos os profissionais necessários para dar um acompanhamento adequado às crianças e famílias.
“Inclusivamente, existem recomendações de boas práticas (…) que sabemos que não é possível cumprir e as consequências disso são atrasos aqui e ali que vão preocupando muito os pais”, salientou.
Contou que, às vezes, os profissionais de saúde dizem que “foi um atraso, não põe em risco a vida da criança”: “Tudo bem, mas o que acontece é que quem teve um diagnóstico de um filho com cancro tem sempre uma situação que lhe causa imensa apreensão, medo, ansiedade”.
“Portanto, qualquer pequeno atraso ou qualquer questão que surja no decurso daquilo que as pessoas acham que é o ciclo normal do tratamento, tal como lhe foi descrito, lhes causa imensa apreensão e ansiedade”, sustentou.
Margarida Cruz defendeu ser necessário encontrar soluções, porque nos últimos tempos têm chegado mais relatos deste tipo de situações à associação.
“Temos ótimos profissionais, temos meios, temos tudo. Portanto, aquilo que nos está a faltar neste momento – e não somos o único país onde isso acontece – são recursos humanos, mas não quer dizer que as nossas taxas de sucesso no tratamento do cancro sejam inferiores àquelas que se verificam no resto da Europa, nos Estados Unidos”, salientou.
Para a associação, “é imperativo contratar mais profissionais de saúde e reorganizar os serviços, para dar respostas imediatas aos atrasos que estão a acontecer e garantir cuidados de excelência no futuro”, assim como é urgente um acompanhamento estruturado na sobrevivência, com consultas regulares e uma transição eficaz para os cuidados de saúde primários.
Defende também uma aposta na investigação e na medicina de precisão, assegurando tratamentos menos invasivos e com menos sequelas.
Margarida Cruz explicou que, quando se fala na necessidade de mais investigação e de haver casos acompanhados em ensaios clínicos já não se está “a falar da sobrevivência ‘per si’, mas da qualidade da sobrevivência”.
“É nessa parte que todos temos que nos focar também agora, de modo a não ficarmos para trás na qualidade da sobrevivência, porque sabemos que ainda existem muitas crianças e jovens que têm sequelas, e alguns sequelas graves, que têm a ver com o tipo de tratamentos que fizeram”, sustentou.
Dados divulgados pela Acreditar indicam que 60% dos sobreviventes enfrentam sequelas a longo prazo, sendo que um terço sofre de sequelas graves.
Para a Acreditar, a oncologia pediátrica tem de ser “uma prioridade e o reconhecimento destes problemas pelos responsáveis políticos tem de ter consequências na sua resolução”.
A diretora-geral observou que apenas existe tratamento do cancro pediátrico no Serviço Nacional de Saúde, que tem mesmo de ser “de excelência” porque as pessoas não têm alternativa.
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