Aproximam-se as eleições para a Ordem dos Enfermeiros e cada um de nós é chamado a pronunciar-se sobre as propostas que considera mais credíveis para serem implementadas no mandato que agora se iniciará.
Importa, antes de mais, olhar para trás e fazer um balanço acerca do que foi feito. A actual direcção da OE iniciou funções há 4 anos num ambiente de grande optimismo e confiança. A polémica jurídica em torno desse acto eleitoral não retira o mérito a uma equipa vasta e forte que foi a base de apoio do Enf. Germano. Faço parte dos que não votaram na candidatura Enfermagem Primeiro.
O processo de revisão dos estatutos foi de tal modo conturbado que se verificaram algumas cisões nessa equipa. A estratégia de comunicação, que se considerava uma das traves mestras da actuação, nem sempre foi clara: se por um lado a profissão enfrentava o desemprego e a emigração, havia quem falasse em “exportação” de mão-de-obra; se é certo que a gestão é uma área indissociável da nossa actuação, não é menos verdade que alguns atropelos às boas práticas foram perpetrados, com o beneplácito dos colegas que ocupam cargos de gestão (intermédia e de topo); se por um lado toda a sociedade reconhece o importantíssimo papel do Serviço Nacional de Saúde, também pudemos verificar que nem sempre este foi acarinhado devidamente. Muito haveria para dizer, mas talvez este não seja o melhor momento para nos alongarmos nessa análise. Fica também para a história uma não participação num programa de televisão, e uma participação menos conseguida.
Os desafios que temos pela frente são enormes: valorização da profissão, impacto na (saúde da) sociedade provocado pela crise económico-financeira e desemprego, promoção de hábitos de vida saudáveis, acessibilidade a cuidados de saúde, promoção do bem-estar, envelhecimento e doenças crónicas, sustentabilidade dos serviços de saúde, adequação da oferta formativa das escolas de Enfermagem (privadas vs públicas) às necessidades do mercado de trabalho, acesso justo ao emprego, percurso profissional, cuidados gerais vs cuidados especializados, proximidade dos enfermeiros às estruturas representativas da profissão, dotações seguras, articulação eficaz entre prática, gestão, investigação, ensino e empreendedorismo (não selvagem!), comunicação com a sociedade e decisores políticos, convivência sã com outras organizações e profissões, etc.
Olhando para as 10 candidaturas (7 delas de âmbito nacional) creio que há 3 que são muito fortes. Percebe-se, desde logo, que da base de apoio da actual direcção, surgem 3 candidatos (havendo até, alguma correspondência geográfica entre Norte, Centro e Sul), o que reforça a ideia da grande mobilização que se verificou há 4 anos. Isto poderá aumentar as possibilidades de vitória de outros candidatos. Li com atenção os programas eleitorais de todas as candidaturas e penso que quem ainda não o fez, deverá reservar umas 3 ou 4 horas do seu fim-de-semana para esse efeito.
Voltando às 3 candidaturas que eu considero mais fortes: há duas delas que destacam, nas suas linhas gerais de actuação, a importância do Serviço Nacional de Saúde. Só tenho a congratular-me com isso! Qualquer profissional de saúde sabe que a sua actuação não se reduz ao SNS. Mas é inegável a importância deste para a população, particularmente para aqueles que estão em situação de fragilidade social. Por outro lado, é indesmentível que a valorização da Enfermagem é maior no sector público. Isto não significa, porém, que deva existir uma ostracização do sector privado. Bem pelo contrário. A ausência (ou menção discreta) ao pilar SNS noutras candidaturas, aliado a alguns silêncios ao longo dos últimos 4 anos (o que não é inocente, tendo em conta as filiações/simpatias partidárias de alguns candidatos), retiram credibilidade a quem agora vai a votos. Mas em democracia, todos os pontos de vista são válidos e é isso que os enfermeiros vão avaliar (e decidir) nos próximos dias 13, 14 e 15.
Um dos candidatos refere, e bem, que a abstenção verificada nas últimas eleições (85%) é algo que merece ser combatido. Toda a classe tem o dever de não ficar indiferente face ao que está em cima da mesa. É preciso ler as propostas e ponderar sobre quem melhor poderá representar a profissão (cuidado com as demagogias). Não deixa de ser irónico que nem há um mês, noutras eleições da profissão, apenas houvesse uma lista concorrente. Porque será que nos mobilizamos tão facilmente nas eleições da OE e (muito) menos noutro tipo de organizações?
Tem-se falado muito de uma proposta denominada “ELO” (que por sinal, existe em duas candidaturas) – elemento de ligação à ordem. Há até quem fizesse referência a uma putativa remuneração, o que obviamente seria censurável, e de enorme dificuldade para implementar (custos enormes). Porém, o que para mim é mais relevante é outa coisa: qualquer enfermeiro deve ter acesso à sua Ordem, sem necessidade de intermediários. A existência de ELO´s de norte a sul do país (e ilhas) poderá ter utilidade para todos nós, mas nunca substituindo outras opções. Esta medida, que faz lembrar as “máquinas” dos aparelhos partidários, constitui uma inegável vantagem para quem neste momento disputa as eleições. Há colegas que dizem ter sido “convidados” a ser ELO, o que significa que além de um voto, consegue-se com esta estratégia, poder de influência num determinado local. Será isso positivo para a profissão? Partilho um pouco da minha experiência: há um serviço de um hospital português que pediu à OE um parecer acerca de uma situação considerada problemática. Já lá vão 2 anos, e dos quase 100 colegas que aí exercem funções, só um deles, por várias vezes, tentou junto da OE saber em que ponto se encontrava o processo. Curiosamente, nesse serviço existem, hoje, 3 ELO´s. Não é estranho?