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A culpa não pode morrer solteira

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Quando pensávamos que os 3,96€ à hora que a ARS de LVT se propôs a pagar aos enfermeiros era um valor inaceitável, talvez não fôssemos capazes de imaginar que em Outubro de 2014, no Hospital de Abrantes, surgisse uma proposta remuneratória de 3,1€ pelo valor hora de trabalho de um enfermeiro.

Como é bom de ver, estamos perante (mais) uma medida atentatória aos enfermeiros, permitida pelo Sr. Ministro da Saúde, o mesmo que, diante das câmaras da televisão, consegue dizer sem se engasgar, que os enfermeiros são um dos pilares dos serviços de saúde. Se os comentadores políticos do nosso país aplicassem a Macedo o mesmo crivo que a Crato e Teixeira da Cruz, há muito teriam percebido que o primeiro, também deve um pedido de desculpas a alguém.

Suponho que no Hospital de Abrantes existam colegas sindicalizados, seja no SEP, SE ou SIPE. Os delegados sindicais de cada uma destas organizações não podem deixar em claro uma coisa destas. Uma tarja em frente ao hospital (pode ser um pano branco com uma faixa preta) é o mínimo que se pode fazer.

Espero que o digníssimo Bastonário da Ordem dos Enfermeiros já tenha telefonado ao Enfermeiro Director desta instituição a mostrar o seu descontentamento perante tudo isto. E o Sr. Enf. Director, se tiver o mínimo de sentido de responsabilidade, deve pedir a sua demissão. A menos que exista uma explicação convincente para o sucedido.

Apelo à Sr.ª Presidente da Câmara de Abrantes que faça uma pergunta simples ao Sr. Presidente do Conselho de Administração do CHMT: acredita no desempenho de um profissional com formação superior (licenciatura), cuja remuneração assenta nestes valores?

É recorrente a discussão em torno da origem deste problema e a analogia com as empregadas de limpeza. De quem é a culpa destes fenómenos? Do proponente ou de quem aceita? Eu digo que é de ambos!
Ou melhor:
– é do Presidente da República que fica em silêncio perante tudo isto;
– é do Primeiro-ministro porque diz que Portugal está no bom caminho;
– é dos Sindicatos porque devem assinalar/denunciar este tipo de situações;
– é da Ordem dos Enfermeiros que há muito tempo devia, em sede do Conselho Nacional das Ordens Profissionais, lançar este repto aos senhores deputados: não devia existir um salário condigno para profissões cujo nível de formação está para lá do ensino universitário? Ou será que desde que o valor não seja inferior ao salário mínimo nacional, está tudo bem?
– é da Direcção de Enfermagem da instituição que permite uma coisa destas, na medida em que apunhala uma classe profissional;
– é das empresas de subcontratação que, à boleia do empreendedorismo selvagem, exploram os mais frágeis; e por mais incrível que pareça, algumas dessas empresas pertencem a enfermeiros;
– é de quem aceita estas propostas, uma vez que não está a exigir o reconhecimento devido pelo valor do seu trabalho;
– é de todos nós, enfermeiros, que ficamos mais ou menos indiferentes a tudo isto, e de todos nós, cidadãos, que vamos às urnas votar em A, B ou C sem antes discutir assuntos centrais para o futuro da sociedade.

Chamo a atenção, também, aos cidadãos que são servidos por este hospital, que esta situação terá efeitos no modo como serão atendidos no dia-a-dia. Há tempos, a propósito desta problemática, alguém dizia que um profissional que aufere estes rendimentos jamais estará suficientemente concentrado naquilo que está a fazer, precisamente porque a sua preocupação maior vai ser como fazer face às suas despesas com tão magro salário.

É caso para dizer: o (muito) barato sai (muito) caro!
Vale a pena arriscar?

N.B.: O Hospital de Abrantes pertence à ARS de LVT. Reincidência?! Ai Dr. Ribeiro…

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