Início Nursing Actividade Física no Doente Hipertenso

Actividade Física no Doente Hipertenso

99
0
Revista Nursing

O papel do enfermeiro de reabilitação será de centralizador, facilitador e de recurso de apoio, procurando que o doente se torne o principal gestor da sua doença. A prática regular de actividade física pode ser uma estratégia de intervenção efectiva para melhorar o equilíbrio em doentes hipertensos.

Nursing nº 229

Rosa Maria Neves Mendes

Enfermeira Graduada no Centro de Saúde de Oliveira do Bairro, Mestre em Administração e Planificação da   Educação, Especialização em Enfermagem de Reabilitação. Pós graduada em Administração dos Serviços de   Saúde e em Enfermagem Oncológica

Carlos Alberto Machado Lourenço

Enfermeiro Graduado no Hospital Infante D. Pedro, EPE, Aveiro. Especialização em Enfermagem de Reabilitação

Resumo

Há algumas décadas que se procuram explicações sobre os prováveis efeitos hipotensores arteriais decorrentes da prática de actividade física dinâmica em animais e seres humanos. A maioria dos estudos refere que a prática regular da actividade física reduz o risco de desenvolvimento de hipertensão arterial e, nas pessoas hipertensas, auxilia na redução dos seus valores. Vários estudos têm demonstrado que a realização de exercícios regulares e de intensidade moderada, leva a uma redução significativa e duradoura da pressão arterial, tanto sistólica como diastólica (Pinto, 2000).

A adopção de um estilo de vida saudável pode prevenir, pelo menos em parte, o aparecimento da HTA e reduzir a incidência da doença e morte.

Palavras-chave: Hipertensão arterial, actividade física, exercício, desporto, aptidão física.

Abstract

Some decades ago, an attempt was made to find explanations about the possible hypotensive arterial effects of dynamic physical activity in animals and human beings. The majority of studies report that regular physical activity reduces the risk of developing arterial hypertension and helps to reduce blood pressure in people with hypertension. Several studies have shown that moderate-intensity regular exercise leads to a significant, lasting reduction in both systolic and diastolic blood pressures.

Adopting a healthy lifestyle can help prevent high blood pressure and reduce the risk of heart disease and death.

Keywords: Arterial hypertension, physical activity, exercise, sport, physical fitness.

Introdução 

“Não pare nunca de começar

  e não comece nunca a parar”

         (antigo provérbio chinês)

Devido ao sucesso das ciências médicas, as grandes causas de morbilidade e mortalidade do início do século, as doenças infecciosas, passaram para lugares modestos enquanto causas de morbilidade e mortalidade, sendo substituídas por doenças cuja etiologia é, em grande parte, comportamental. Assim, o desenvolvimento da medicina em particular (maior controlo de doenças transmissíveis e agudas) e a melhoria das condições de vida em geral levaram a um aumento da esperança de vida, dando origem a uma maior prevalência das doenças crónicas que, na sua maioria, podem ser amenizadas mas não curadas. Também as alterações demográficas verificadas nas últimas décadas nomeadamente o crescente envelhecimento das populações trouxeram um consequente aumento da cronicidade e dos problemas de incapacidade.

A este respeito Cardoso (2002, p. 371) diz-nos que “não podemos esquecer que aquilo que fazemos no nosso dia a dia é adiar a morte, porque como todos sabem esta não é prevenível!” e não morrer de doença x “…é aumentar as possibilidades de morrermos por outras causas…”.

De facto, o sucesso da medicina curativa evita que as pessoas morram em idades precoces do ciclo vital, mas tem como consequência o aumento das doenças crónicas (ex: hipertensão arterial, diabetes) de tal modo que a segunda metade do século XX viu as doenças crónicas assumirem o lugar principal no sistema de saúde.

No que se refere à definição de doenças crónicas, esta não é unívoca, mas de um modo geral aceita-se que, são doenças sem cura ou de tratamento muito prolongado que impõem ao sujeito doente mudanças importantes no estilo de vida de modo a poder conviver diariamente, minuto a minuto, com a doença mantendo uma qualidade de vida elevada (Ribeiro et al, 2003).

Em suma, pode dizer-se que, a mudança dos problemas de saúde tornou alguns dos indicadores tradicionais desadequados e passou a ser dada ênfase na necessidade de prevenir a doença e de promover a saúde. Assim, a importância cada vez maior da doença associada ao estilo de vida e o aumento da esperança de vida da população, tornaram claro aos profissionais da saúde que os cuidados podem não só salvar vidas mas, quando têm sucesso, podem prolongar o tempo de vida e melhorar a sua qualidade. De facto, a percepção que a pessoa tem do seu estado de saúde, vem sendo considerada como coadjuvante de indicadores tradicionais na avaliação de necessidades em saúde, considerando-se que as complexas interacções físicas, emocionais e sociais estão implicadas no desenvolvimento das doenças e influenciam os resultados obtidos com tratamentos.

De facto, prevenir (englobando os três níveis de prevenção) constitui a “forma mais elegante de lutar contra a doença. Ser-se saudável e manter-se nesta situação o máximo de tempo possível, constitui o denominador comum a qualquer habitante deste planeta, independentemente das suas características biológicas e culturais” (Cardoso, 2002, p. 361).

Mas para atingir este grande objectivo, que é o de doente ser capaz de prevenir as complicações da hipertensão arterial, há que primeiro capacitá-lo, através da educação para a saúde, para essa nova função tão importante que é a de gestão do próprio processo terapêutico tendo obviamente, na sua retaguarda, como orientadores permanentes os profissionais da saúde. Foi a pensar neste objectivo tão unanimemente aceite que se partiu para a realização deste trabalho.

Existe uma última relação entre hipertensão arterial e os chamados hábitos modernos de vida, entendidos como aqueles incorporados à rotina do homem “civilizado”, ocidental do século XIX para cá. Considerando-se que o homem não é, constitucionalmente, animal sedentário, que evolui em constante actividade física, é compreensível que a adopção do sedentarismo como norma de vida, na medida em que é antinatural e não fisiológico resulte em danos para a saúde (Silva, 2001).

A ausência de uma actividade física regular – sedentarismo – é, em conjunção com uma alimentação desadequada, um dos factores predisponentes à obesidade e para uma série de doenças características das sociedades desenvolvidas, conhecidas por doenças crónicas não transmissíveis, das quais a HTA faz parte. A actividade física é fundamental para o bom controlo da hipertensão arterial (Barata, 2005).

A hipertensão arterial é a doença cardiovascular que afecta o maior número de pessoas a nível mundial e a principal causa de morte e incapacidade em Portugal, verificando-se que um em cada quatro adultos é hipertenso (Gouveia, 2000).

Vários estudos evidenciaram a utilidade das intervenções na mudança dos estilos de vida, particularmente, a diminuição do peso e o exercício físico, na redução da pressão arterial. A diminuição de 5 a 6 mmHg na pressão arterial diastólica leva a uma redução de 15% no risco de eventos de doença coronária (Gaziano et al, 2003). A prevenção de doenças cardiovasculares baseia-se na noção do conceito de risco e dos factores de risco (1), isto é, de características que as pessoas saudáveis (ou não) podem apresentar que predispõem ao aparecimento da patologia coronária. Os factores de risco podem estar ligados a estilos de vida como: o tabagismo, a dieta rica em lípidos ou calorias e a inactividade física (2) (André, 2005).

Para minimizar o impacte da hipertensão arterial sobre a sociedade moderna, são aventadas possibilidades de terapias não farmacológicas que poderiam ser aplicadas com sucesso a pacientes com hipertensão arterial essencial leve. Entre elas, destaca-se a realização de actividade física dinâmica, também chamada de actividade física aeróbica. Um número elevado de estudos indica que este tipo de actividade realizada sistematicamente poderia promover a redução de 10 mmHg, em média, tanto na PA sistólica como na PA diastólica, nos indivíduos hipertensos leves, além de poder induzir o desenvolvimento de modificações benéficas relacionadas a outros factores de risco cardiovascular presentes no hipertenso (Paschoal et al, 2004).

Hipertensão arterial

A hipertensão arterial (HTA) trata-se de uma doença que atingiu proporções de epidemia nos adultos do mundo industrializado, está associada ao aumento do risco de desenvolvimento de numerosas doenças e constitui um dos principais factores de morbi-mortalidade como também pela maneira silenciosa como se manifesta (Paschool et al, 2004).

A hipertensão é a força exercida pelo sangue circulante nas paredes dos vasos do coração e das circulações sistémica e pulmonar, em que há bombagem do sangue através dos vasos sanguíneos com pressão superior à normal (CIPE/ICNP, 2003). Os valores ou níveis da tensão arterial aceites como “normais” variam, dentro de certos limites, na dependência de inúmeros factores, como a idade, o estado emocional ou a actividade física. O valor obtido em estado de repouso é considerado como sendo a tensão arterial basal do indivíduo. Na prática diária tensão arterial é medida de forma indirecta através de uma manga acoplada a um manómetro e posicionado ao redor do braço do indivíduo sob exame. Desta forma, obtém-se o valor da pressão no momento da sístole ou contracção ventricular, chamada tensão sistólica ou máxima e também por ocasião da diástole ventricular, a tensão diastólica ou mínima.

O valor obtido é expresso em milímetros de mercúrio ou abreviadamente mmHg (Silva, 2001). Segundo a Circular Normativa da Direcção Geral de Saúde de 31/03/2004 os valores definidos para a hipertensão arterial são:

Figura 1 – Actividade física e hipertensão

CategoriaTensão arterial sistólicaTensão arterial diastólica
Normal120-129 mmHge80-84 mmHg
Normal alto130-139 mmHgou85-89 mmHg
Hipertensão Estádio 1140-159 mmHgou90-99 mmHg
Hipertensão Estádio 2> = 160 mmHgou> = 100 mmHg

Fonte: Adaptado de DGS, nº 2/DGCG, 31/03/2004 in Cruz e Nunes (2005)

– Saúde, desporto e enfermagem. Coimbra: Formasau, p. 73.

As consequências potenciais da hipertensão arterial não controlada são múltiplas. Considera-se a hipertensão arterial como factor de risco da doença coronária, uma vez que provoca danos no endotélio vascular e quebra da barreira permeável e anti-trombogénica (Thelan et al, 1996, p. 294.
Actividade física

                      “O ser humano foi concebido para a acção e não para a inactividade”

(Bailey, 1997)

A Organização Mundial de Saúde sublinha a importância da actividade física para a prevenção das doenças cardiovasculares e de outras doenças como a diabetes e a obesidade. Sendo o sedentarismo reconhecido como um importante factor de risco para a saúde, constituindo um grave problema de saúde pública, uma das metas do Ministério da Saúde em Portugal foi a de criar hábitos de actividade física a iniciarem-se nas crianças (Ribeiro, 2005).

Portugal é o país mais sedentário da União Europeia em todas as faixas etárias, como o demonstram numerosos estudos, ou seja, somos o povo fisicamente menos activo da Europa. Considerando-se que o homem não é, constitucionalmente, animal sedentário, que evolui em constante actividade física, é compreensível que a adopção do sedentarismo como norma de vida, na medida em que é antinatural e não fisiológico resulte em danos para a saúde (Silva, 2000). Assim, para além de ultrapassar o problema do sedentarismo, a actividade física, diminui a hipertensão arterial, combate a dislipidémia periférica à insulina, diminuindo a hiperglicémia e ajudando a combater a diabetes mellitus tipo 2 (ibidem).

Neste sentido, a educação para a saúde só tem sentido quando existe uma combinação de esforços e experiências de aprendizagem, que proporcionam uma mudança voluntária de comportamentos individuais saudáveis.

Actividade física, exercício, desporto, aptidão física são conceitos diferentes para caracterizar uma pessoa fisicamente activa. No entanto estes termos estão relacionados como o esquematiza a figura 1.

Figura 1 – Relações e distinção entre actividade física, exercício e desporto e entre saúde e condição física

Fonte: Barata, J. L. Th (2005) – Mexa-se pela sua saúde. Lisboa: D. Quixote, p. 23

A actividade física para Barata, “é toda a actividade muscular ou motora que um ser assume, ou seja, tudo aquilo que implique movimento, força ou manutenção da postura” (2005, p. 24). Os principais factores que contribuem para a actividade física são as actividades diárias que envolvem movimentos do corpo, tais como caminhar, andar de bicicleta, subir as escadas, ir às compras; ou seja, as actividades de vida diária. Por outro lado, os exercícios são “actividades físicas repetidas, estereotipadas, que visam a obtenção de um objectivo concreto; assim, falamos de exercícios abdominais, (…), exercícios de preparação para o parto, exercícios de fortalecimento dum joelho operado, etc.” (ibidem, p. 27-28).

Já o desporto é uma actividade física envolvendo competição regulamentada. Segundo Barata, “no desporto há sempre regras e há sempre objectivos a alcançar: há vitórias, empates por vezes, ou derrotas” (2005, p. 28). Muitas vezes o problema não está na actividade física em si, mas nos excessos e respectivos riscos que a competição motiva. A aptidão física é em grande parte o resultado dos nossos níveis de actividade física; no entanto certos factores genéticos também podem intervir. No entanto, o ponto mais importante é o facto de que estudos científicos mostram que a prática regular de actividade física, quaisquer que sejam as características genéticas do indivíduo se encontra relacionada com uma boa saúde. Os benefícios de se ser fisicamente activo são numerosos e variam de uma redução do risco de certas doenças e condições até à melhoria da saúde mental.

A actividade física varia no tipo e na intensidade, melhora vários componentes da saúde e da aptidão física.

O sedentarismo constitui um dos factores predisponentes ao aparecimento de algumas doenças, entre as quais a hipertensão arterial e, do mesmo modo, é um dos factores que condicionam o equilíbrio e o bem-estar do doente hipertenso.

Os benefícios da actividade física para a população hipertensa estão já largamente documentados e incluem benefícios gerais (um aumento de bem estar físico e mental, uma acção benéfica sobre o stress, uma promoção da actividade social, um tempo de descanso das preocupações habituais, um aumento a percepção de competência, uma melhoria da percepção da imagem do corpo).

A actividade física efectuada de modo suficiente e adequada permite: aumento da capacidade física aeróbica; aumento da capacidade física anaeróbica (aumenta a força muscular e a velocidade); o aumento da flexibilidade; melhora o desempenho cardiocirculatório, hematológico e imunitário; melhora as trocas gasosas; melhora a composição corporal, (menos massa gorda e mais massa magra); reforça a homeostasia térmica; controla a dor; diminui a ansiedade e a depressão e melhora a capacidade cognitiva; diminui a prevalência de outros factores de risco” (Ribeiro, 2005).

Segundo Weineck a falta de actividade física consiste num “nível de exigência muscular que se encontra abaixo de um determinado limiar de estimulação por um longo período, ou seja, os músculos são pouco estimulados (2003, p. 35).

Assim, o exercício físico deve ser entendido como um adjuvante no tratamento da hipertensão arterial e não um substituto de qualquer terapêutica, mas quando bem realizado, leva mesmo à diminuição de gastos pelo menor consumo de fármacos e terapêuticas de reabilitação (Henriques e Aroso, 2003).

A realização de exercício físico de forma regular e moderada é uma excelente maneira de ajudar a controlar a doença. No entanto, antes da sua prática o doente hipertenso deve consultar o médico para verificação do estado cardio-circulatório.

Hipertensão arterial e actividade física

É provável que os benefícios – indiscutíveis – da actividade física regular para o bem-estar físico e mental das pessoas se devam, em parte, às atitudes geralmente adoptadas pelos que aderem aos programas de exercícios físicos, em menor grau, pelos que desenvolvem esforço físico regular no curso da actividade profissional. É possível que a menor prevalência de doenças coronárias e a maior longevidade das pessoas activas em relação às sedentárias se devam tanto a efeitos directos e intrínsecos da actividade física como a outros indirectos. Entre os efeitos directos incluem-se:

  • Melhoria da condição física – o indivíduo é capaz de fazer determinado esforço, gastando menos energia e com menor sensação de cansaço do que se não estivesse acostumado ou condicionado à prática de actividade e/ou exercícios físicos. A melhor condição física é resultado do aumento da capacidade funcional dos pulmões, maior eficiência mecânica dos músculos, melhor transporte de oxigénio e diminuição da resistência oposta pelas artérias ao esvaziamento do coração.

  • Diminuição da frequência cardíaca em repouso, consumindo-se portanto menos oxigénio.

  • “Queima” de gorduras – na pessoa fisicamente activa a energia dispendida advém mais das gorduras do que dos carbo-hidratos, ao contrário dos pouco activos.

  • Possível e não comprovada a elevação da fracção HDL do colestrol, o colestrol “bom”.

Os benefícios indirectos relacionam-se com os aspectos psicossociais. O alívio da tensão e da ansiedade obtido pela actividade física regular resultante numa sensação de bem-estar benéfica e resultará em maior capacidade de trabalho e melhoria da qualidade de sono e apetite (Silva, 2001).

O esquema de programa do doente hipertenso deve ser personalizado em função das suas necessidades e estar de acordo com o seu contexto físico. Antes de começar qualquer tipo de actividade é necessário um exame clínico, no qual o médico verificará as condições de saúde para a prática de exercício.

O exercício físico regular é uma excelente arma terapêutica anti-hipertensiva, não farmacológica e um factor de adesão ao tratamento, sendo as recomendações da sua prática nos doentes com hipertensão arterial:

  • Doentes com HTA moderada, controlada pelo medicamento, sem atingir órgãos alvo: desporto autorizado, praticamente sem restrições;

  • HTA bordeleine – medidas terapêuticas não farmacológicas (desporto autorizado);

  • HTA não controlada pelo tratamento: autorizados desportos de fraca intensidade;

  • HTA controlada pelo tratamento mas com atingimento de órgão alvo: autorizado desporto de fraca intensidade;

  • HTA secundária (ex.: rim poliquístico / rim único), evitar desportos de contacto (Coutinho, 2000).

O exercício físico regular permite uma redução da dose dos fármacos utilizados na hipertensão arterial, bem como melhora a qualidade de vida (ex.: cardiopatias congénitas) (ibidem).

Os principais objectivos em doentes com este tipo de patologia, com uma determinada prescrição de exercício físico, são um recondicionamento ao esforço com um óbvio intuito de ganho funcional. Os parâmetros que estabelecem os limites estão relacionados com a frequência cardíaca, a frequência respiratória e a tensão arterial. Deve optar-se pelo exercício aeróbico, que envolva a contracção rítmica de diversos grupos musculares – marcha, corrida, natação, ciclismo, etc. – evitando os desportos de elevado impacto. Se a finalidade da prática do exercício é obter ou melhorar a condição física, é preferível que seja isotónico e aeróbico. Quanto a ser contínuo ou descontínuo, ambos podem ser úteis para melhorar a preparação física. O descontínuo, dependendo do tipo de exercício que se pratique, poderá ser mais bem tolerado.

A intensidade do exercício deve ser suficiente para, num dado tempo, levar ao aumento da frequência cardíaca e produzir sensação de cansaço.

A intensidade deve, pois, equilibrar-se com a duração do exercício e adaptar-se à aptidão e estado da condição física da pessoa. A duração de cada sessão terá como limites dois referenciais: um subjectivo, que é o surgimento da sensação de cansaço e outro mais objectivo, que é a frequência cardíaca atingida. A frequência cardíaca deve alcançar, no máximo, cerca de 85 por cento da frequência máxima recomendada para a idade, o que se denomina de «submáxima» (ver tabela 1).

Tabela 1 – Frequências cardíacas máximas e sub-máximas segundo a idade e o sexo

IdadeFrequência Cardíaca
HomensMulheres
MáximaSubmáximaMáximaSubmáxima
20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

200

195

190

186

182

179

175

171

168

164

160

170

166

162

158

155

152

149

145

143

139

136

190

185

180

176

172

169

165

161

158

154

150

160

156

152

148

145

142

139

135

133

129

126

Fonte: Silva, M.A.D. (2001) – Bate coração. Cascais: Pergaminho, p. 125.

A frequência cardíaca máxima corresponde à máxima capacidade de captação de oxigénio, limite a partir do qual o exercício passaria a ser anaeróbico, portanto, nocivo. Alcançada esta frequência submáxima deve o exercício ser gradualmente interrompido.

Além da intensidade e da duração, também é relevante a questão da frequência e da regularidade da prática do exercício. O exercício, mesmo intenso, realizado apenas esporadicamente (uma vez por semana) não produz condição física e pode ser perigoso. Recomendam-se três a quatro sessões semanais com cerca de vinte e trinta minutos de duração, como o mínimo necessário para se obter algum grau de condição física. De forma simplificada, caminhadas a passo rápido, com cerca de 30 minutos de duração, três vezes por semana, acompanhadas de uma sessão semanal de 30 minutos de exercício rítmico e dinâmico mas intenso, são suficientes para prevenir arterosclerose.

Pequenas modificações na rotina diária são também úteis e devem ser adoptadas: usar escadas e não elevadores, fazer trajectos a pé sempre que possível e, no fim-de-semana, dedicar-se a alguma forma de lazer que implique movimentos físicos, como é o caso da natação, do ténis e do ciclismo, por exemplo (cfr. Cruz e Oliveira, 2005, p. 75; Silva, 2001, p. 119).

Tipos de exercício

O exercício pode ser isométrico, aeróbico ou anaeróbico, contínuo ou descontínuo. O exercício isotónico é dinâmico, ou seja, há movimento e são exercitados simultaneamente vários grupos de músculos. Implica melhor e maior utilização e transporte de oxigénio e resulta em melhor condição física, embora aumente pouco a força muscular. É o exercício dos corredores, dos ciclistas, dos nadadores, dos que se exercitam andando.

O exercício isométrico é estático, parado e apenas são accionados grupos musculares isolados. O halterofilismo é o exemplo clássico. Enquanto o exercício isotónico (dinâmico) adequa o coração a trabalhar como uma máquina rentável, executando determinado trabalho gastando menos energia, o estático, parado, proporciona músculos e força ao indivíduo, mas não lhe dá resistência nem o beneficia quanto ao aparelho cardiocirculatório. Tanto o exercício isotónico como o isométrico podem ser aeróbicos ou anaeróbicos. É aeróbico quando a energia dispendida para executá-lo provém, predominantemente, de reacções bioquímicas envolvendo o oxigénio. É anaeróbico quando o organismo, por não dispor de volume adequado de oxigénio, procura vias alternativas para a obtenção da energia necessária. A falta de quantidade adequada de oxigénio pode ocorrer quando: o exercício é rápido e intenso, ou quando a intensidade e duração implicam gastar a energia que ultrapassa a capacidade de captação de oxigénio do indivíduo. Quanto a ser contínuo ou descontínuo, ambos podem ser úteis para melhorar a preparação física. O descontínuo, porém, dependendo do tipo de exercício que se pratique, poderá ser mais bem tolerado (Silva, 2001).

Prescrição de exercícios

A prescrição de actividade física em pacientes portadores de hipertensão arterial deve seguir algumas características, tais como:

  • Frequência: todos os dias ou 3 a 4 vezes por semana

  • Duração: 20 a 30 minutos diários ou 45 a 60 minutos quando 3 a 4 vezes por semana.

  • Intensidade: Moderada, de 50% a 80% da frequência cardíaca máxima segundo a condição física, idade e o grau de treinamento da pessoa.

Todas as sessões de actividade física devem começar e terminar com um período de 10 minutos de exercícios aeróbicos de baixa intensidade, alongamento e mobilidade articular, reduzindo-se assim os riscos de complicações cardíacas e lesões músculo-esqueléticas.

Alongamentos básicos

Antes e depois de caminhar ou fazer qualquer actividade física, é preciso realizar alguns movimentos simples de alongamento que melhoram o rendimento dos exercícios, beneficiam os resultados e previnem distensões e lesões musculares. Veja como se faz os alongamentos:

  • Apoie a ponta do pé na guia da calçada e mantenha o calcanhar no chão, projectando o quadril para frente. Neste caso, ocorre o alongamento da perna. Faça este alongamento durante 30 segundos em cada perna.

  • Apoie-se numa parede e puxe um dos pés para trás (30 segundos em cada perna). Isso serve para alongar o músculo da coxa, o quadríceps.

  • Entrelace as mãos atrás do corpo, alongue os braços e projecte o peito para frente.

  • Cruze um dos braços à frente do peito e puxe-o pelo cotovelo com o outro braço. Inverta a posição dos braços e faça novamente.

  • Por fim, estique a coluna: cruze as mãos acima da cabeça, estique o braço e as costas, erguendo-se na ponta dos pés. Cada um destes alongamentos deve ser feito de forma bem lenta. Se sentir algum desconforto ou dor, interrompa o exercício.

Conclusão

O objectivo geral deste trabalho foi o de perceber até que ponto os indivíduos com diagnóstico de hipertensão arterial, podem beneficiar, após alterações dos seus hábitos de actividade física.

A educação pode contribuir para que as pessoas vivam os seus anos de vida de maneira mais saudável e com maior qualidade. Para isso, torna-se necessário muitas vezes modificar estilos e hábitos de vida, ou seja, comportamentos. Com base no conhecimento actual, os aspectos básicos para um envelhecimento dia-a-dia bem sucedido, continuam a ser os hábitos de vida física e psicológica saudáveis, indicando a dieta alimentar, a actividade física, os estímulos intelectuais e o envolvimento social.

Pensamos que as intervenções do enfermeiro especiali3ta em reabilitação ao doente hipertenso são um processo cuja meta final é a de conseguir que estes pacientes atinjam a melhor qualidade de vida possível. Estas intervenções permitem também devolver ao paciente uma vida dentro da “normalidade” permitindo o maior nível de autonomia e independência possíveis.

Por conseguinte, é necessário adquirir um maior conhecimento acerca das medidas directas que valorizam o impacto das intervenções sobre a independência funcional e a adaptação emocional e psicossocial destes pacientes.

O papel do enfermeiro de reabilitação será de centralizador, facilitador e de recurso de apoio, procurando que o doente se torne o principal gestor da sua doença. A prática regular de actividade física pode ser uma estratégia de intervenção efectiva para melhorar o equilíbrio em doentes hipertensos.

Para Silva, amar o seu coração e viver mais e bem com ele será, necessariamente, fruto de mudanças no modo de viver e de se posicionar diante da vida e de si próprio. Esta receita de protecção ao coração, e de viver mais e melhor, passa pela adopção de medidas, atitudes e decisões bem objectivas e claras: mexer-se mais do ponto de vista físico (2001, p. 103-104).

Já o historiador Hélio Silva escreveu que “nós morremos da vida que levamos”. Assim, a melhor forma de prevenir uma doença é evitar e controlar os factores de risco e a melhor forma de evitá-los é actuar sobre os factores primordiais que os determinam.

É, no entanto, fundamental esclarecer a forma como cada pessoa pode escolher, adoptar e assumir, as opções mais saudáveis e desejáveis dentro do seu próprio estilo de vida. Tendo em conta os ganhos de saúde, a estratégia a desenvolver deve centrar-se na educação para a saúde, através de uma sensibilização permanente para a adopção de estilos de vida mais saudáveis.

Referências Bibliográficas

  • ANDRÉ, Carlos (2005) – Qualidade de vida e doença coronária. Coimbra: Formasau. ISBN 972-8485-50-6.

  • AZEVEDO, Tânia Sofia (2002) – Os efeitos fisiológicos do relaxamento nos doentes hipertensos. Revista Investigação em Enfermagem. Nº 6 (Agosto), p. 44-50.
  • BARATA, J. L. Th. (2005) – Mexa-se…pela sua saúde: guia prático de actividade física e emagrecimento para todos. 4ª ed. Lisboa: D. Quixote. ISBN 972-20-2482-5.
  • CABRAL, Jocelina Maria; MOREIRA, Rosaria Maria Nunes (2005). In CRUZ, Arménio Guardado; OLIVEIRA, Luís Miguel Nunes de (2005) – Saúde, desporto e enfermagem. Coimbra: Formasau. ISBN 972-8485-48-4, p. 69-78.
  • CARDOSO, S. M. (2002) – Notas e técnicas epidemiológicas. Faculdade de Medicina de Coimbra. Instituto de Higiene e Medicina social.
  • Coimbra: Quarteto. ISBN 972-8535-56-2, p. 105-116.
  • COUTINHO, Vítor (2000) – O exercício físico e a clínica geral. In PINTO, Anabela Mota (2000) – Saúde e exercício físico.
  • CRUZ, A. G. (2002) – Actividade física na população de uma escola superior de enfermagem. Referência. Coimbra. Nº 8 (Maio), p. 41-51.
  • CRUZ, A. G.; OLIVEIRA, L. M. N. (Ed.) (2005) – Saúde, desporto e enfermagem. Coimbra: Formasau. ISBN 972-8485-48-4.
  • CRUZ, Arménio Guardado; OLIVEIRA, Luís Miguel Nunes de (2005) – Saúde, desporto e enfermagem. Coimbra: Formasau. ISBN 972-8485-48-4.
  • EUROPEAN SOCIETY OF CARDIOLOGY [et al] (2003) – European guidelines on cardiovascular disease in clinical practice. European Journal of Cardiovascular Prevention and Rehabilitation. 10 (4), p. S1-S10.
  • FARINHA, R. M. (2002) – Conceptualização do binómio saúde/doença a propósito do rastreio no indivíduo saudável. Arquivos de Medicina. ISSN 0871-3413. Vol. 6, nº 13, p. 176-187.
  • GARCÉS, Silvana [et al] (1995) – Cardiopatias: rehabilitación mediante el ejercicio. Revista Rol de Enfermeria. Nº 203-204 (Julho-Agosto), p. 15-20.
  • GOUVEIA, A. C. (2000) – Prevenção cardiovascular. Lisboa: Fundação Portuguesa de Cardiologia. Coimbra: Formasau. ISBN 972-8485-50-6.
  • GRAZIANO, J. M.; MANSON, J. E.; RIDKER, P. M. (2003) –Prevenções primária e secundária da doença das artérias coronárias. In BRAUNWALD, E.; ZIPESA, D. P.; LIBBY, P. – Tratado de medicina cardiovascular. 6ª ed. São Paulo: Editora Roca. Vol. 2.
  • HENRIQUES, S.; AROSO, A. (2003) – O exercício físico e o idoso na perspectiva do médico de família. Revista Portuguesa de Medicina Geriátrica. ISSN 0871-5386. Vol. XV, nº 151 (Fevereiro-Março), p. 42-51.
  • HORTON, E. S. (1998) – Ejercicio. Tratamiento de la diabetes mellitus y sus complicaciones. 3ª ed. American Diabetes Association, Harold E. Lebovitz, p. 119-126.
  • http://www.eufic.org/pt/quickfacts/physical-activity.htm
  • MOOS, E. C. (2004) – Relação educador-educando: pedagogia ou educação no doente crónico. Diabetes viver em equilíbrio da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. ISSN 0873-450X. 30 (Janeiro-Março), p. 25-26.
  • NEVES, C. [et al] (2002) – Qualidade de vida em pessoas com diabetes mellitus. Revista de Ciência e Artes Médicas. ISSN 0871-3413. Vol. 16 , nº 4-5-6 (Julho-Dezembro).
  • OMS. Sociedade Internacional de Hipertensão (SIH) – Orientação 1999 para o tratamento da hipertensão. Lisboa: SIH, 1999.
  • OMS. Sociedade Internacional de Hipertensão (SIH) – Projecto coração feliz. Lisboa: SIH, 1999.
  • PASCHOAL [et al] (2004) – Efeitos agudos do exercício dinâmico de baixa intensidade sobre a variabilidade da frequência cardíaca e pressão arterial de indivíduos normotensos e hipertensos leves. Revista de Ciências Médicas. Vol. 13, nº 3 (Julho-Setembro), p. 223-234.
  • PÊRA, P. I. [et al] (1995) – Publicidad, salud y educación sanitária. Rol de Enfermeria. ISSN 0210-5020. Ano XVIII, nº 201 (Maio).
  • PINTO, A. M. (2000) – Saúde e exercício físico. Coimbra: Quarteto. ISBN 972-8535-56-2.
  • PINTO, Anabela Mota (2000) – Saúde e exercício físico.
  • REGENGA, Marisa de Moraes (2000) – Fisioterapia em cardiologia da UTI à reabilitação. São Paulo: Roca. ISBN 85-7241-312-X.
  • RIBEIRO, C. A. F. (2005) – Os benefícios e os riscos da actividade física. In CRUZ, A. G.; OLIVEIRA, L. M. N. (Ed.) (2005) – Saúde, desporto e enfermagem. Coimbra: Formasau. ISBN 972-8485-48-4, p. 7-20.
  • RIBEIRO, J. L. P. [et al] (2003) – Avaliação da qualidade de vida em crianças com diabetes tipo 1. http//www.fpce.up.pt/doentes/paisribeiro/testes/QOLCHILD.htm. Janeiro 2003.
  • RODRIGUES, M.; PEREIRA, A.; BARROSO, T (2005) – Educação para a saúde: formação pedagógica de educadores de saúde. Coimbra: Formasau. ISBN 972-8485-52-2.
  • RUSSEL, N. (1996) – Manual de educação para a saúde. Lisboa: Direcção Geral da Saúde.
  • SERRANO, Pedro (2000) –Coração independente: crónica de um ataque cardíaco. Lisboa: Relógio d’Água. ISBN 972-708-603-9.
  • SILVA, M. A. D. (2001) – Bate coração. Cascais: Pergaminho. ISBN 972-711-438-5.
  • SILVA, Marco Aurélio Dias (2001) – Bate coração: o que você precisa de saber para manter o coração saudável e prevenir doenças cardíacas. Cascais: Pergaminho. ISBN 972-711-438-5.
  • SILVA, Marco Aurélio Dias (2001) – Quem ama não adoece: o papel das emoções na prevenção e cura das doenças. Cascais: Pergaminho. ISBN 972-711-387-7.
  • THELAN, L. A.; DAVIE, J. K.; URDEN, L. P. (1996) – Enfermagem em cuidados intensivos: diagnóstico e intervenção. 2ª ed. Lisboa: Lusodidacta.
  • WEINECK, J. (2003) – Actividade física e esporte. Para quê?. São Paulo: Manole. ISBN 85-204-1689-6.

Nota: O desenho da capa foi adaptado a partir de uma gravura da capa do livro:

  • SILVA, Marco Aurélio Dias – Quem ama não adoece: o papel das emoções na prevenção e cura das doenças. Cascais: Pergaminho, 2001. ISBN 972-711-387-7.