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ACEN – Cuidados que fazem pensar II

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ACEN - Cuidados que fazem pensar II

Na admissão do doente é marcante ajudar a aceitar, apoiar emocionalmente e favorecer o relacionamento. Durante o internamento deve-se ajudar a reorganizar e facilitar a adaptação à nova situação.

Em Novembro de 2005, a Associação Contemporânea de Enfermagem Neurocirúrgica (ACEN) e o Serviço de Neurocirurgia do Hospital de S. João, Porto, investiram na realização do congresso de formação/ actualização de Enfermagem em Neurocirurgia, subordinado ao tema dos cuidados paliativos e intitulado como “Cuidados que fazem pensar I”.

Tendo em vista o sucesso do evento supracitado, voltou-se a apostar na formação em Neurocirurgia. Sendo assim, nos dias 16 e 17 de Novembro, na Aula Magna do Hospital de S. João, decorreu o congresso “Cuidados que fazem pensar II”, desta vez direccionado para a humanização em alta.

Este curso foi fundamentado em mesas redondas, depoimentos e discussões, que focaram as seguintes temáticas: “Humanização em Alta”, “Gestão em Alta”, “Contrador de histórias”, “Preparar a Alta – Uma preocupação precoce”, “A Família: O Estigma da Mudança” e “Afectividade/Sexualidade, o Elo Esquecido “.

Para finalizar, foi reservado um espaço para debate, com o tema proposto: “Pós-alta: Um novo começo”.

Importa ressaltar ainda que este congresso foi enriquecido por palestrantes formados em diversas áreas, desde médicos, enfermeiros e nutricionistas, até mesmo um utente.

As instituições que contribuíram nesse evento também foram várias, sendo estas: o Hospital de S. João; a Escola Superior de Enfermagem do Porto; o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar; a Unidade Local de Saúde de Matosinhos; a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrado, Saúde e Apoio Social; o Centro Hospitalar do Funchal; o Hospital Distrital de Faro; o Hospital Stª Maria – Lisboa; o Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro Rovisco Pais e o Centro de Humanización de la Salud – Madrid.

Durante estes dois dias de formação, a Humanização em Alta foi evidenciada como um mote, um desafio mas também como um trocadilho…

A lamentação pela desumanização é real, os efeitos da desumanização têm nomes próprios e a tarefa de humanizar é universal.

O termo “humanização” tem sido empregado constantemente no âmbito da saúde. É a base de um amplo conjunto de iniciativas, designando a forma de assistência que valoriza a qualidade do cuidado do ponto de vista técnico, associada ao reconhecimento dos direitos do paciente, de sua subjectividade e cultura, além do reconhecimento do profissional. A palavra humanizar conota proximidade, afabilidade, humildade (humus=terra).

Pode-se dizer, então, que humanizar é “um sistema sanitário humanizado é aquele cuja razão de ser é estar ao serviço da pessoa e, portanto, pensado e concebido em função do homem. Para que isto se realize deve ser um sistema sanitário integrado que proteja e promova a saúde, que corrija as descriminações de qualquer tipo, que dê participação ao cidadão por si próprio e, em definitivo, que garantisse a saúde de todos os cidadãos na sua concepção de estado completo de bem-estar físico, mental e social, tal como declara a Organização Mundial de Saúde”. (Francesc Raventós, Director General del INSALUD, 1984).

A humanização implica diferentes âmbitos, tais como: o cultural (respeito à vida, ao sofrimento e à morte na cultura, educação para a saúde), o político económico (justa distribuição dos recursos e acessibilidade), o organizacional (atenção primária e especializada, alta hospitalar, reabilitação, atenção à dependência, cuidados paliativos…), o assistencial (centralidade do usuário, consideração holística), o ético (Comissões de Ética Assistencial), o relacional (exercício do poder, trabalho interdisciplinar, atitudes e habilidades, o da formação dos profissionais (inclusão de temas que superem a medicina biologicista), e o pessoal (auto-estima, maturidade e auto cuidado).

Na admissão do doente é marcante ajudar a aceitar, apoiar emocionalmente e favorecer o relacionamento. Durante o internamento deve-se ajudar a reorganizar e facilitar a adaptação à nova situação. Até à alta ensinar novas competências, treinar os auto cuidados, reintegrar a pessoa. Para o resto da vida é fulcral continuar a ser suporte, rever e reforçar ensinos, cuidar do cuidador.

Optimizar e humanizar alta passa por: preparar a alta desde o inicio da doença, para se ter tempo de detectar recursos e necessidades; envolver e ouvir o doente e o seu cuidador em todas as decisões; fazer um enquadramento social e familiar, identificar factores de risco que possam protelar a alta, visitar o domicílio previamente à alta, explicar sobre medicação, devolver o doente à família e à sociedade nas melhores condições físicas e psíquicas, fazer a ligação Hospital/ Centro de Saúde da áreas de influência/ consultadoria, informar sobre cuidados disponíveis no ambulatório (aluguer de equipamentos), dar informação para entidade patronal, auditar procedimentos periodicamente/ evitar e corrigir erros.

Para uma alta bem sucedida é de primordial importância o envolvimento do Doente, dos Profissionais de Saúde, da Família/ cuidador e da Comunidade.

Preparar a alta ajuda a eliminar os medos e as dúvidas sobre a incógnita do futuro no domicílio. Saber que tem apoio ao chegar a casa faz o doente/ cuidador sentirem maior segurança no dia da alta.

“Mais do que máquinas precisamos de humanidade.

Mais do que inteligência precisamos de afecto”

Charlie Chaplin