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1ª Reunião Científica da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental

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1ª Reunião Científica da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental

Os cuidados continuados em Saúde Mental implicam uma relação do enfermeiro com o indivíduo, a família e a comunidade e os frutos desta relação são a diminuição das idas às urgências, diminuição dos internamentos, redução dos custos e aumento da qualidade de vida.

1ª Conferência – ORGANIZAÇÃO DOS CUIDADOS DE ENF. DE SAUDE MENTAL: NOVOS DESAFIOS

Prelector – João Teles (Enf.º Director do Hospital Magalhães Lemos)

Comentador – Wilson Abreu (Prof. ESEP)

Nesta conferência foi abordada a reforma dos cuidados de Saúde Mental, que contempla como alguns dos seus objectivos a transferência a médio prazo dos serviços de saúde mental para Departamentos de Saúde Mental com base em hospitais gerais, complementarização do processo de desinstitucionalização em todos os hospitais e reorganização dos espaços e conversão dos recursos dos Hospital Júlio de Matos, Hospital de Magalhães Lemos, Hospital Sobral Cid de modo a assegurar o funcionamento dos serviços. Afirmou-se que o sucesso da reforma dependerá da implementação do Plano Nacional de Cuidados Continuados para a Saúde Mental, uma vez que, apesar da evolução dos cuidados, as condições sociais degradaram-se e as necessidades de cuidados continuados são agora mais acentuadas.

Entre os novos desafios da reforma contam-se:

  • A necessidade dos enfermeiros abandonarem a acção centrada nos internamentos, alargarem a sua acção além das estruturas físicas dos serviços hospitalares e uma perspectiva duma maior abordagem à componente mental na saúde comunitária;

  • A urgência do paradigma de ensino das escolas de enfermagem, de modo a que a especialização na enfermagem implique um real melhoramento dos cuidados (“o enfermeiro especialista deve prestar melhores e mais diferenciados cuidados que o enfermeiro geral, caso contrário deixa de haver necessidade de existirem enfermeiros especialistas”). Em muitas escolas a patologia geral tem muito menos horas que as áreas interpretativas e de referir que no curso de Licenciatura em Enfermagem foi feita uma muito má adaptação ao processo de Bolonha. Também o hospital deve ser implicado no processo de formação e assim as técnicas de formativas nos serviços devem ser aprofundadas;

  • São indispensáveis os ajustamentos da Carreira de Enfermagem, incentivos e bonificações com o intuito de promover a especialização e a formação contínua e o exercício da profissão “fora dos serviços de internamento”, numa aproximação ao cliente. Esta necessidade real implica que as direcções de enfermagem organizem os serviços de saúde mental por forma a dar visibilidade às múltiplas actividades dos enfermeiro (“os enfermeiros directores, que na maioria das situações não são especializados em Saúde Mental (SM), por vezes não valorizam o verdadeiro papel do enfermeiro em SM, que vai muito, muito, muito além dumas injecções”);

  • Há uma carência da reprodução fiel de toda a prática de enfermagem nos registos, nomeadamente nos informáticos. Desta forma, os novos sistemas de informação a adoptar nos serviços devem contemplar áreas dedicadas às sessões psico-educativas, à triagem sem supervisão médica, às intervenções realizadas em estruturas sediadas na comunidade (consulta de enfermagem, intervenção domiciliária, aconselhamento, intervenções familiares, consultas de monitorização e administração de medicação, etc.). A carência de registos completos permite que outras profissões assumam funções que os enfermeiros aparentemente não executam, por estas não serem mencionadas nos registos. Existe, na verdade, muito interesse financeiro de algumas entidades do ensino superior privado em criar cursos de saúde cujo objectivo é executar aquelas funções que os enfermeiros não registam e, como tal, assume-se que não sejam cumpridas. O acto de registar é por isso muito importante para a visibilidade e identidade da nossa profissão.

Nesta conferência foi também referido que existe falta de empreendedorismo e união na enfermagem Portuguesa e, por esta razão, é necessário que as escolas incutam nos seus alunos espírito de iniciativa e de desbravamento de novas áreas. Sabendo que a dificuldade em arranjar trabalho é cada vez maior porque não se unem os jovens enfermeiros com enfermeiros mais experientes e criam serviços de prestação de cuidados de SM na comunidade, sendo esta uma área tão carenciada, foi a questão colocada.

Por fim, de referir que foi assinalado nesta conferência que na última reunião da Associação Mundial de Saúde Mental, no Rio de Janeiro, houve apenas um trabalho acerca de enfermagem de SM. Contudo, em 2007, em Melbourne a reunião conta com uma maioria de trabalhos sobre a enfermagem de SM, salientando-se a temática da prescrição médica a cargo do enfermeiro, estando assim a evolução a nível mundial da enfermagem de SM bem patente.

APRESENTAÇÃO DA SPESM

SPESM – a ideia tem 12 anos. Era necessário arranjar 1 estrutura que articulasse a investigação, a docência e a práctica.

Propõe-se ser 1sociedade que trabalha em rede e que possa representar uma classe que pode ter muito peso na SM.

Finalidades:

  • Divulgação científica

  • Investigação

  • Formação

  • Promoção da Saúde

  • Melhoria dos Cuidados

Programa de actividades para 2008:

  • Congresso SPESM

  • Criação de revista de SM gratuita

  • Eleições 2008-2011

  • Adição de conteúdos úteis para download a partir  do site

Precisam-se colaboradores e apoio na selecção de material para o site e no melhoramento deste.

2ª Conferência: CUIDADOS CONTINUADOS EM SM: DESAFIO OU OPORTUNIDADE?

Prelectora: Mª Lurdes Almeida e Costa (Enf.ª Chefe Hospital Sta Maria. Elemento da Comissão Técnica para a Reestruturação dos Serviços de SM)

Comentador – José Carlos Baltazar (Presidente da Comissão de Enf.em Reg. Norte da OE)

Os cuidados continuados em SM implicam uma relação do enfermeiro com o indivíduo, a família e a comunidade e os frutos desta relação são a diminuição das idas às urgências, diminuição dos internamentos, redução dos custos e aumento da qualidade de vida.

A Enfª Mª de Lurdes Costa falou-nos do Fórum Ocupacional “Sol Nascente” a título de exemplo de cuidados continuados. Trata-se de um Grupo de Acção Comunitária, IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) que se iniciou em 1995, num bairro social da freguesia de Carnide, concelho de Lisboa, numa infra-estrutura constituída por uma sala com 10m2 e menos de 10 utentes que, actualmente, cresceu para 30 salas e 62 utentes.

Esta conferência foi centrada na garantia dos cuidados como desafio a oportunidade e na necessidade/importância do trabalho de equipa realçando a importância dos cuidados de Enf. de SM para os cuidados de saúde gerais, uma vez que existe um grande know-how por parte dos enfºs de SM e uma riquíssima tradição histórica nesta área. Contudo continuam a existir obstáculos à melhoria dos cuidados e os maiores são as políticas/directivas de saúde.

Foi também referido que é necessário dar mais importância à SM em detrimento da Psiquiatria, porque actualmente verifica-se uma quase assimilação da SM pela Psiquiatria quando esta situação deveria ser inversa, no interesse dos utentes. É por isso muito importante estudar a estética da relação enfº/cliente e estimular o empreendedorismo nos jovens enfºs, principalmente nesta área tão esquecida.

3ª Conferência: PRINCIPAIS NECESSIDADES DE ENFERMAGEM EM SM

Prelector: Carlos Sequeira (SPESM)

Comentador: António Carlos (Enf.º Director IDT)

Foi proposto à plateia que orientasse a discussão e definisse as necessidades consoante a sua experiência.

A plateia presente apresentou e discutiu como necessidades:

  • Diminuição do estigma da doença mental;

  • Diminuição do impacto da doença mental;

  • Diminuição da distribuição da doença mental no SNS;

  • Criação de programas de promoção da saúde;

  • Prevenção da doença (elaboração dos diagnósticos potenciais/riscos);

  • Intervenção na doença;

  • Reabilitação psicossocial;

  • Abordar o doente numa perspectiva da linguagem da enfermagem (CIPE beta) em detrimento da linguagem psiquiátrica;

  • Avaliação dos problemas;

  • Despsiquiatrização da SM;

  • Abordagem dos novos problemas da nossa sociedade: Imigração, Pobreza (implica padrões de SM próprios), Adições, Violência nos jovens, Depressão, entre outros.

  • Uniformização da linguagem em enfermagem.

De salientar que, durante esta conferência, uma colega brasileira, detentora de um doutoramento na área da SM, teve, a pedido de um dos prelectores, a oportunidade de fazer uma exposição do funcionamento do sistema de saúde mental brasileiro.

Workshop: SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRICA – CIPE:

1 – Estratégias de Implementação da CIPE no Contexto da Saúde Mental e Psiquiátrica

2 – O Contexto do Hospital de Magalhães Lemos: Do caminho percorrido ao caminho a…
3 – Processos de Implementação – Estratégias e Dificuldades

Carlos Sequeira/José Carlos Carvalho

Delmina Afonso (Enfª Chefe, adjunta do Enfº Director do HML)

Alexandre Costa (Enf.º Adjunto do Director do Hospital Júlio de Matos)

Paula Palmeira (Enf.ª Directora da Casa de Saúde do Bom Jesus de Braga)

António Carlos Amaral (Enf.º Especialista do Hosp. S. Teotónio – Viseu)

Nesta comunicação foram explanados e discutidos os processos de implementação da CIPE e dos sistemas de informação (SAPE) nos diferentes serviços de SM aqui representados pelos enf.ºs referidos.

Uma das elações que podemos tirar deste workshop é a de que a implementação da CIPE em suporte físico (papel) facilita uma posterior implementação de um sistema informático baseado na CIPE. E em casos em que a implementação do sistema informático surja sem que a CIPE esteja perfeitamente enraizada, uma introdução inicial em suporte físico facilita adaptação.

A implementação dos sistemas de informação deve contemplar três fases de formação: teórica, teórico-prática e prática.

A formação teórica deve abranger os focos de atenção, as intervenções, a estrutura e organização da CIPE, os fenómenos de Enf.em na CIPE, a identificação de situações (diagnóstico de Enf.em), a criação de planos de cuidado padrão – “Manual Standard de Cuidados de Enf.em” – (que facilitam a interiorização por parte dos profissionais), a escolha do modelo de formação dos profissionais.

Em relação ao modelo de formação, podemos referir que nos serviços de SM portugueses foram adoptados dois modelos. O primeiro consistiu da facultação de formação a todos os enfermeiros do serviço/instituição. O segundo, por seu lado, faculta formação a um número restrito de enfermeiros por serviço e estes, por sua vez transmitirão os conhecimentos aos colegas. Por regra, o primeiro modelo permite melhores resultados.

Relativamente à formação teórico-prática, esta deve incluir a discussão de casos clínicos, histórias clínicas e seminários de discussão de casos.

Na fase da formação prática é efectuado o treino do processo de enf.em e é usado o suporte físico em concomitância com o informático.

Deve-se também referir que a importância dos sistemas de informação passa também pela importância de registar. Os sistemas de informação permitem entre muitas coisas a análise estatística das práticas de saúde, contudo o sistema deve permitir o registo de todas as actividades do enfermeiro. O enfermeiros, por seu lado, não devem descurar os registos, mas fomentar a documentação acerca do doente, sob pena de perda de funções para outras profissões. Funções para as quais os enfermeiros têm muito maior potencial e aptidões, pela sua tradição histórica e pelo constante contacto que têm com o utente.