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O Doente com Catéter Venoso Central

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Revista Nursing

Os CVC têm sido cada vez mais utilizados no cuidar de doentes que necessitam de intervenções terapêuticas complexas.

Nursing nº 223

Autor:

L. M. Rodrigues Mendes, Enfermeiro

Serviço: Cirurgia 1 A

Hospital de São Teotónio – Viseu

RESUMO

Os Catéteres Venosos Centrais (CVC) permitem uma terapia adequada em doentes que necessitem de intervenções terapêuticas complexas especialmente em emergência, unidades de cuidados intensivos, pós-operatórios imediatos de cirurgias complexas, ou patologias que requerem medidas terapêuticas prolongadas. No entanto, além da correcta colocação do CVC, não é menos importante a segurança e eficiência na sua utilização e manipulação, situação em que a Enfermagem tem um papel fundamental. É ao Enfermeiro, que estando mais tempo com o doente, lhe cabe um papel preponderante na vigilância da segurança do doente e do CVC e na avaliação da eficiência do seu funcionamento. Assim, exige-se ao Enfermeiro que preste cuidados de qualidade ao doente com CVC, para assegurar o seu correcto funcionamento e despistar possíveis complicações que possam ocorrer.

ABSTRACT

The Central Venous Catheters (CVC) allows a therapy adjusted for patients needing complex therapeutical interventions especially in emergency, intensive care units, immediate postoperative cares of complex surgeries, or diseases requiring long term therapeutics. If the correct placement of a CVC has a significative importance, it is also important the security and efficiency in its use, situation where Nursing has a vital role. Nurses, by spending more time with patients, have a preponderant role in monitoring the security of patients and the CVC and in the evaluation in his efficiency. Thus, is demanded to the Nurses quality cares, to patients with CVC, to assure its correct function and foil possible complications that can occur.

INTRODUÇÃO

A cateterização de uma veia central começou em 1929 quando Forssman, introduzindo um tubo esterilizado numa veia do seu braço, descreveu as vantagens deste método na Medicina. Porém, só desde o final dos anos 50 se tem desenvolvido a técnica de cateterismo central como procedimento na prática clínica, originando um avanço nos materiais utilizados, promovendo igualmente uma contínua melhoria nas opções terapêuticas ao dispor dos doentes (Motsch, 2002).

Os CVC têm sido cada vez mais utilizados no cuidar de doentes que necessitam de intervenções terapêuticas complexas. Contudo, se por um lado esta técnica facilita a prática de procedimentos terapêuticos, por outro, apresenta-se também como um problema nas Unidades de Saúde (Machado, 1995).

Sendo um recurso privilegiado mas não isento de complicações, o enfermeiro tem um papel importante na sua manipulação no sentido de prestar cuidados de forma criteriosa para não ser um agente facilitador de algumas complicações (Martins, 2001).

Este trabalho aborda os cuidados inerentes ao CVC mais comum, e que é vulgarmente utilizado para a administração de medicação e fluidos e/ou avaliação da Pressão Venosa Central, (e não daqueles que são específicos de algumas unidades como o catéter totalmente implantado – Implantofix, o catéter de Schwan-Ganz, e os CVC utilizados em Hemodiálise), quer desde o momento em que é decidida a sua colocação, passando pela sua manipulação, realização dos pensos, despiste de complicações e sua remoção.

Colocação de um Catéter Venoso Central 

A colocação de um CVC é um procedimento médico e efectua-se quando um catéter intravenoso periférico não é suficiente para a escolha terapêutica pretendida, ou quando é necessário um acesso venoso rápido de grande calibre para situações de emergência (Quadro 1).

Quadro 1 – Indicações para a colocação de um CVC

– Administração de grande volume de soros, hemoderivados e/ou medicação, rapidamente;

– Administração de soluções intravenosas em situação de colapso do sistema venoso periférico (choque);

– Administração de medicação tóxica ou irritante para o sistema venoso periférico (ex.: cardiotónicos, catecolaminas, quimioterapia);

– Administração de soluções de alta osmolaridade (> 800 mOsm/l);

– Administração de terapias prolongadas que requerem um acesso venoso duradouro (ex.: nutrição parentérica; quimioterapia);

– Medição da Pressão Venosa Central durante ou após uma medida terapêutica ou cirúrgica.

Geralmente, se o uso dos CVC é de curta duração, são escolhidos CVC de poliuretano que têm uma viabilidade de utilização de trinta dias. Este material à temperatura normal do organismo fica mais suave e mais flexível, reduzindo o risco de irritação da parede venosa. Para outras aplicações de longa duração são geralmente aplicados catéteres de silicone por possuírem grandes capacidades mecânicas e de biocompatibilidade (Motsch, 2002).

A escolha do local inserção do CVC está dependente de que executa o procedimento. Os locais da possível punção são:

  • Veia Jugular (interna e externa);

  • Veia Subclávia;

  • Veia Basílica;

  • Veia Femural.

Habitualmente é escolhido o lado direito do corpo, por apresentar menos complicações, e existem critérios a observar na selecção do local a puncionar, que são: experiência do executor; estado geral do doente e em particular do sistema venoso; uso a que se destina; situação em que é colocado (Motsch, 2002).

a) Actuação de Enfermagem no procedimento

A preparação psicológica do doente é extremamente importante. O enfermeiro, sempre que possível, deve explicar ao doente o que é um CVC, a sua necessidade, e alguns aspectos sobre o procedimento de colocação. Após preparação do material (Quadro 2), pode ser necessário efectuar a tricotomia da região onde irá ser colocado o CVC. A tricotomia deve efectuar-se antes do procedimento com tesoura ou máquina eléctrica e nunca com lâmina, devido ao risco acrescido de colonização de pequenas escoriações acidentais.

Quadro 2 – Material necessário para colocação do CVC

– Catéter (a escolher pelo médico);

– Frasco de Soro Fisiológico 0,9% 500 ml com sistema, torneira e prolongador preenchido;

– Frasco de Soro Fisiológico 0,9% 100 ml

– Campos esterilizados (3);

– Bata esterilizada (1);

– Luvas esterilizadas (a escolher pelo médico);

– Máscara (1);

– Compressas esterilizadas;

– Kit de Pequena Cirurgia (1);

– Fio de sutura seda 2/0 ou 3/0 (a escolher pelo médico);

– Lâmina de Bisturi n.º 22 ou 23 (1);

– Seringas de 20 ml (3);

– Agulhas IM (3) e Agulhas EV (3);

– Lidocaína a 1%;

– Heparina;

– Iodopovidona;

– Penso estéril (1).

O doente deve ser posicionado em decúbito dorsal sem almofada, em ligeira posição de Trendlemburg, (na zona do pescoço e ombros a pressão dos líquidos nas veias centrais é menor que a pressão atmosférica), com o pescoço em hiperextensão e a cabeça voltada para o lado contrário ao da punção (punção da veia subclávia ou jugular). Pode ser necessário colocar uma toalha dobrada em rolo na região interescapular para projectar os ombros e a região da clavícula, facilitando a colocação do CVC.

Durante o procedimento, além de colaborar com o médico, o enfermeiro deve ter atenção a alterações que possam surgir no doente, como alterações da simetria torácica, sinais de dificuldade respiratória, cianose, dor torácica (podem ser evidências de possível embolia gasosa ou pneumotórax), e taquicardia (presença do CVC na aurícula). Idealmente o doente deverá ser monitorizado, com vigilância para o traçado electrocardiográfico, frequência cardíaca e saturação periférica de oxigénio, para facilitar a observação de alguma alteração que deve ser comunicada ao médico que executa o procedimento.

Após a introdução do CVC é necessário comprovar o refluxo de sangue, com o Soro Fisiológico 0,9% previamente preparado, colaborar na heparinização, fixação e realização de um penso oclusivo (com técnica asséptica cirúrgica). Deve ser efectuada nova colheita de informação junto do doente sobre sintomas de dor, dificuldade respiratória e visualizar a simetria torácica. Posteriormente, o doente deve realizar uma radiografia, para confirmação da posição do CVC.

Manipulação do Catéter venoso central

A manipulação de um CVC é necessária e inevitável. Sendo uma porta de entrada no organismo o risco de septicemia é elevado, e a melhor forma de o prevenir é a utilização de medidas de assépsia em todos os procedimentos a realizar. Cabe também ao enfermeiro ensinar o doente, quando possível, a minimizar este risco. Este ensino passa por informar sobre: necessidade de manter o penso do CVC limpo, seco e íntegro; o cuidado com linhas infusoras, evitando manipulações ou movimentos bruscos que possam traccionar o CVC e afectar o seu funcionamento, durante o repouso no leito e na deslocação pela enfermaria.

Seguidamente faz-se uma abordagem à problemática das conexões e linhas de infusão, administração de terapêuticas intravenosas, colheitas de sangue e heparinização do CVC.

a) Conexões e linhas de infusão

As conexões e as linhas de infusão são importantes num CVC pois servem de ligação e transporte para as terapêuticas instituídas. Contudo são também uma porta de entrada para microrganismos patogénicos. Existem duas rotas principais pelas quais as bactérias podem entrar no organismo, através dos CVC. A primeira é a superfície externa do CVC em contacto com a pele, e a segunda o lúmen do CVC. Se a primeira pode resultar de uma inadequada assépsia, na preparação do doente e manipulação do material na colocação do CVC, a segunda resulta do uso de soluções contaminadas, (situação negligenciável devido ao rigoroso controlo de qualidade imposto aos fabricantes), ou de uma assépsia inadequada na preparação das soluções a administrar e manipulação das conexões existentes nas linhas de infusão do CVC (Pittet, 2004).

Na manipulação dos CVC é necessária assépsia, devendo o enfermeiro reduzir ao máximo a manipulação das conexões e linhas infusoras. Quando se torna necessário, deve lavar e desinfectar as mãos e, desinfectar as conexões com álcool a 70%, antes do manuseamento. As conexões devem ser protegidas de modo asséptico para prevenir a sua contaminação, a das linhas infusoras e da solução em infusão. Os conectores sem agulha, (exemplo do Bionecteur), estão associados a uma redução da incidência de infecção nos CVC em comparação com tampas normais (Harrison, 1997; Elliott e Tebbs, 1998). As linhas infusoras devem estar bem fixas quando estão a ser utilizadas (Harrison, 1997). No caso de uma linha infusora não ser usada, deve ser lavada com Soro Fisiológico 0,9%, heparinizada, clampada e protegida de manuseamentos.

Devem-se mudar as linhas de infusão e as suas conexões em intervalos regulares, para limitar o perigo de contaminação dessas linhas e das soluções a administrar (O’Grady et al, 2002; Pittet, 2004). Este intervalo está dependente do tipo de solução a administrar, em termos de estabilidade e de tempo de permanência para essa solução (Quadro 3). É importante verificar com regularidade se as conexões das linhas infusoras com os lúmens do catéter central se encontram em perfeito estado de conservação. No caso de existir um lúmen danificado, este deve ser imediatamente clampado e protegido com um penso, e comunicar a ocorrência ao médico.

Quadro 3 – Recomendações para perfusão de soluções e mudança de linhas infusoras

Tempo para a perfusão das soluções:

  • Sangue/Hemoderivados: 4 horas

  • Soluções Lipídicas: 12 horas (em casos excepcionais até 24 horas)

  • Nutrição Parentérica Total: 24 horas

  • Soluções electrolíticas/terapêutica específica: sem tempo máximo (salvo indicação do Fabricante e/ou Serviços Farmacêuticos)

Mudança de linhas infusoras (após início da perfusão da solução):

  • Sangue/Hemoderivados: até 12 horas (em casos excepcionais até 24 horas)

  • Soluções Lipídicas: até 24 horas

  • Nutrição Parentérica Total: até 24 horas

  • Soluções electrolíticas/terapêutica específica: até 72 horas (salvo indicação em contrário do Fabricante e/ou Serviços Farmacêuticos)

b) Administração de Terapêuticas Intravenosas

Existem algumas regras que devem ser observadas na administração de terapêuticas intravenosas pelo CVC. Por exemplo, a nutrição parentérica total deve perfundir num lúmen isolado de outras terapêuticas, controlando o seu débito através de bomba infusora. Também o sangue e os hemoderivados devem perfundir num lúmen isolado de outras terapêuticas. A administração de outras soluções deve assegurar sempre a permeabilidade e débito do CVC, para minorar o aparecimento de complicações relacionadas com a obstrução dos seus lúmens. Além disso, essa administração deve ser controlada de modo a evitar uma sobrecarga hídrica. Após cada administração de medicação deve efectuar-se a lavagem das linhas infusoras com Soro Fisiológico 0,9%, para evitar incompatibilidades entre fármacos administrados.

Na administração simultânea de várias terapêuticas, deve avaliar-se a sua relação de compatibilidade, para assim se escolher o lúmen onde devem perfundir. Existem algumas indicações sobre que lúmens utilizar na administração de certas terapêuticas intravenosas, (Quadro 4), mas para salvaguarda do doente e dos profissionais é sempre preferível contactar os Serviços Farmacêuticos da Unidade Hospitalar para esclarecer dúvidas (Machado, 1995).

Quadro 4 – Indicações de administração de terapêuticas

Lúmen ProximalColheitas de Sangue

Medicação e Soluções electrolíticas

Nutrição Parentérica (caso de CVC de dois lúmens)

Lúmen MédioNutrição Parentérica Total

Medicação e Soluções electrolíticas

Lúmen DistalMedicação vasoactiva (ex.: aminas)

Sangue e Hemoderivados

Colóides e expansores do plasma

Soluções electrolíticas

Monitorização da Pressão Venosa Central

c) Colheitas de sangue pelo CVC

A colheita de sangue pelo CVC implica que haja o bom senso de avaliar se a análise pedida não vai apresentar posteriormente um falso valor, dadas as perfusões em curso e/ou heparinização do CVC (Machado, 1995). Por exemplo, o estudo da coagulação implica que a colheita não possa ser efectuada no CVC mas numa veia periférica (por motivos de tradução de valores mais fiáveis). No caso de a colheita só poder ser efectuada no CVC, esta deverá ser executada no lúmen proximal (caso seja um CVC de dois ou mais lúmens) parando as perfusões em curso (caso do lúmen em utilização) e de seguida desinfectando as conexões. Depois deve ser aspirado o conteúdo directamente do lúmen até sair cerca de 20 mililitros (ml) de sangue, que deve ser rejeitado. Em seguida, com nova seringa, aspira-se a quantidade de sangue desejada. Posteriormente deve lavar-se o lúmen com Soro Fisiológico 0,9% e colocar novamente as perfusões em curso (caso do lúmen em utilização) ou heparinizar o lúmen, (se não utilizado).

d) Heparinização do Catéter

Este tema ainda é controverso devido às disparidades nas concentrações de heparina a utilizar encontradas na literatura consultada. Se há autores que apelam para o risco do excesso de heparina no sangue outros, por sua vez, referem que a concentração utilizada durante a heparinização é insignificante para provocar alterações no estado do doente (Machado, 1995). Há autores que referem que basta apenas a lavagem (flush) com Soro Fisiológico 0,9% para a manutenção e desobstrução de um CVC (Clemence et al, 1995; Elliott e Tebbs, 1998). Outros recomendam que os lúmens não utilizados de um CVC sejam heparinizados com uma solução de 5 ml de Soro Fisiológico 0,9%, com uma concentração de heparina de 10 unidades/ml (Harrison, 1997). Outros ainda, referem a utilização da mesma solução, mas com uma concentração de heparina de 100 unidades/ml (Martins, 2001). Por último, Machado (1995) refere a concentração adoptada pelo Royal Marsden Hospital (Reino Unido) que recorre ao mesmo volume de Soro Fisiológico 0,9% anteriormente descrito, mas com uma concentração de heparina de 1000 unidades/ml. Verificando estas disparidades, uma regra que imperar: quanto maior for a concentração de heparina, maior deve ser o rigor no volume injectado, volume que deve ser apenas o suficiente para preencher o lúmen pretendido (Martins, 2001). O volume a administrar deve respeitar o espaço morto dos lúmens, espaço que no lúmen proximal pode variar entre 0,3 a 0,6 ml, no lúmen médio pode variar entre 0,3 a 0,5 ml e no lúmen distal pode variar entre 0,4 a 0,7 ml, (valores dependentes da marca e do modelo de CVC).

A heparinização deve ser feita sempre que cessa a utilização de um lúmen sendo repetida semanalmente, de forma a manter o lúmen desobstruído. A lavagem do lúmen deve ser feita com 10 ml de Soro Fisiológico 0,9% e seguidamente introduzir a solução de soro com heparina, num volume estritamente necessário ao lúmen a heparinizar. Esta solução deve ser sempre retirada (retirar cerca de 10 ml de sangue) e desperdiçada aquando da realização de nova heparinização ou antes de nova utilização desse lúmen. Se durante a lavagem, ou nova heparinização, sentir resistência e não puder retirar sangue, não deve continuar a tentar lavar, uma vez que essa situação pode estar relacionada com a presença de um trombo, podendo essa tentativa de desobstrução levar à deslocação do trombo.

O Penso do Cateter Venoso Central 

Como já foi referido anteriormente a colocação de um CVC cria uma porta de entrada para microrganismos patogénicos. Torna-se então importante proteger o doente desta agressão, com a utilização de um penso oclusivo seco. Também nesta área há algumas divergências. Alguns autores argumentam que o penso semipermeável transparente (membrana de poliuretano) favorece o crescimento bacteriano, por acção de estufa no local de inserção do catéter, sendo preferível a aplicação de um penso convencional (compressa protegida com adesivo) (Machado, 1995). Pina e Moreira (1999) salientam que existem estudos que demonstram não existir diferença significativa entre o uso de pensos transparentes semipermeáveis e o convencional, quando relacionados com o aparecimento de infecção local. Martins, (2001) refere que algumas investigações comprovam que existe uma menor taxa de infecção quando se utiliza um penso semitransparente permeável ao vapor (exemplo do Tegaderm ou Opsite). Face à controvérsia devem-se observar as seguintes regras: verificar a tolerância da pele em volta do CVC e respeitar a preferência do doente (Pina e Moreira, 1999).

Na escolha da solução de desinfecção a utilizar, no local de punção, o uso de cremes antibióticos não é recomendado, por estar associado ao aparecimento de infecções por Candida albicans (Larsen e Thurston, 1997; Elliott e Tebbs, 1998; Cunha e Póvoa, 1999), e destruição da protecção antimicrobiana dos CVC mais recentes (Pittet, 2004). Numa comparação entre a clorohexidina a 2%, a iodopovidona e o álcool a 70%, foi demonstrado que as duas últimas soluções estavam associadas ao aumento da incidência de infecções quatro vezes superior, levando a que a clorohexidina a 2% fosse escolhida como anti-séptico de eleição (Clemence et al, 1995; Harrison, 1997; Elliott e Tebbs, 1998; Pittet, 2004).

O penso do CVC deve ser feito com técnica asséptica. Durante a sua realização o doente deve permanecer com a cara voltada para o lado oposto ao da inserção do CVC, para facilitar a sua desinfecção. Esta deve efectuar-se desde o local de inserção para a periferia, ao longo do CVC com uma só passagem da compressa. Deve observar-se o local de inserção do catéter e a região envolvente, pesquisando por sinais inflamatórios ou exsudados. É também importante verificar a integridade do catéter, (se há alguma ruptura ou lúmen danificado), e da sua fixação, (pode ser necessário aplicar tiras adesíveis esterilizadas para melhor fixação). Este penso deve ser mudado de dois em dois dias, no caso de um penso convencional, ou pode permanecer até sete dias se for um penso de semipermeável transparente. Porém, deve ser mudado se estiver húmido, com repassado, ou descolado (Pittet, 2004).

Complicações do Cateter Venoso Central

A colocação do CVC não está livre de complicações, independentemente da experiência de quem executa o procedimento. As complicações podem ser imediatas, e ocorrer durante o procedimento, ou podem surgir algum tempo após a inserção, sendo inerentes à sua introdução, permanência e utilização. Se não são observáveis sinais ou sintomas de complicações nos primeiros quinze minutos após colocação do CVC, não se pode assumir que o procedimento foi livre de incidentes. Muitas complicações surgem durante o procedimento e os primeiros sinais ou sintomas só são reconhecidos algumas horas ou dias depois (Motsch, 2002). O enfermeiro tem que despistar e/ou prevenir precocemente algumas das complicações intervindo rapidamente quando detectadas, diminuindo o risco para o doente (Quadro 5).

Quadro 5 – Possíveis complicações à introdução do CVC

ComplicaçõesMotivoIntervenção do Enfermeiro
Torácicas:

– Pneumotórax

– Hemotórax

– Hidrotórax

– Enfisema subcutâneo

Resulta da punção acidental da pleura com consequente entrada de ar, sangue ou líquidos infundidos, respectivamente, para a pleura. O enfisema subcutâneo resulta da infiltração de ar nos tecidos adjacentes à inserção do CVC, também resultante de um pneumotórax.Vigiar sinais de dificuldade respiratória, dor torácica, cianose e alterações na simetria torácica, referindo a sua presença ao médico.

Monitorização de saturação periférica de oxigénio.

Arteriais:

– Laceração arterial

– Fístula artério-venosa

– Hematoma subcutâneo

Resultam de perfuração de artéria próxima da veia puncionada e adquire especial importância em doentes trombocitopénicos.Monitorização da frequência cardíaca e tensão arterial;

Vigiar alterações no local da punção como hemorragia, hematoma ou equimose.

Venosas:

– Laceração venosa

– Hematoma subcutâneo

– Trombose venosa

– Embolia gasosa

A laceração e o hematoma subcutâneo resultam da perfuração da veia adquirindo especial importância em doentes trombocitopénicos. A trombose venosa é devida a deposição de fibrina ou erosão da parede da veia (frequente na veia femural e rara na veia subclávia). A embolia gasosa resulta da entrada de ar no CVC.As mesmas descritas nas complicações Torácicas e Arteriais.
Cardíacas:

– Arritmias

– Perfuração cardíaca

Resultam da introdução profunda do mandril e/ou do CVC na aurícula direita sendo a arritmia observável durante o procedimento, em doentes monitorizados.Monitorização da frequência cardíaca e vigilância de alterações do traçado electrocardiográfico referindo-as ao médico caso estejam presentes.
Neurológicas:

– Traumatismo do plexo braquial

O traumatismo do plexo braquial pode resultar de lesão aquando da punção da veia subclávia.Vigiar alterações de compromisso neurológico como parestesias, referindo-as ao médico.
LinfáticasResultam de laceração do canal torácico e ducto linfático direito.
Mecânicas:

– Migração do catéter

– Angulação do catéter

– Compressão do catéter

A migração e a angulação podem resultar da entrada em tecidos adjacentes ou na entrada de outros vasos (na punção da veia subclávia o CVC pode entrar nas veias jugulares). A compressão do catéter resulta quando este “encosta” na parede da veia sendo também chamado de funcionamento posicional. (Este fenómeno pode observar-se imediatamente após a introdução aquando da verificação de refluxo e influxo do Soro preparado, procedendo-se à ligeira mobilização do CVC para o exterior).Vigiar a presença de cefaleias, edema ou alterações no estado de consciência (na punção da veia subclávia podem ser sinais de migração para a veia jugular com consequente infusão de líquidos em contra-corrente) e referir ao médico.

No caso de compressão do CVC pedir ao doente para mudar de posicionamento ou efectuar manobras como respirar fundo; tossir ou levantar o braço. Deve referir-se ao médico o funcionamento posicional.

InfecçãoConstituindo o CVC uma porta de entrada no organismo a infecção bacteriana pode proliferar em volta do CVC ou entrar por ele (através de má assépsia na preparação de terapêuticas e/ou manipulação do CVC) e provocar uma septicémiaObservar normas de assépsia no sentido de diminuir o risco de infecção aquando da manipulação do CVC.

Monitorizar temperatura, frequência cardíaca e tensão arterial.

Vigiar presença de sinais inflamatórios e exsudados na inserção do CVC.

ObstruçãoResulta quando não se consegue aspirar conteúdo algum de um ou mais lúmens do CVC excluído fenómeno de compressão do catéter.Verificar se se trata de funcionamento posicional ou se há mesmo obstrução. No caso de obstrução, tentar efectuar a desobstrução com heparina. Se a desobstrução é ineficaz, deve-se clampar e proteger o lúmen, alertando o médico.
ExteriorizaçãoPode resultar de má fixação e/ou de tracção no CVC, que em casos extremos pode levar à sua remoção acidental.Aplicar tiras adesíveis para fixar o CVC, (caso se detecte má fixação do CVC). Fixar linhas infusoras e colocar prolongadores para permitir a mobilização, sem tracção do CVC.
Remoção AcidentalPode resultar de má fixação ou, de tracção no CVC.

Retirada do Cateter Venoso Central

A remoção do CVC efectua-se quando já não se justifica a sua permanência por fim do tratamento ou óbito ou, quando há compromisso da sua função por dano, obstrução (sem êxito na desobstrução), ou infecção (sinais inflamatórios presentes e febre resistente à terapêutica quando excluída outra causa), e cabe geralmente ao enfermeiro removê-lo, após indicação médica. O enfermeiro deve informar o doente e obter a sua colaboração para realizar o procedimento. Devem ser retiradas todas as perfusões e clampados os lúmens. O doente deverá estar em decúbito dorsal e com a cabeça voltada para o lado contrário ao da inserção do CVC. Procede-se à desinfecção da região de inserção, corte dos pontos de fixação e retirada do CVC de forma suave e num ritmo constante. Durante este movimento deve solicitar-se ao doente que realize a manobra de Valsalva (suspendendo a respiração após inspiração profunda), enquanto se retira o CVC e aplica pressão no ponto de inserção até à hemostase. Seguidamente procede-se à realização de um penso compressivo vigiando-se o mesmo durante as primeiras vinte e quatro horas para despiste de hemorragia ou sinais de infecção local. Durante todo o processo deve ser utilizada técnica asséptica cirúrgica.

O enfermeiro deve ter atenção à integridade do CVC e retirar uma amostra de 5 centímetros da ponta do CVC para análise microbiológica. Caso observe falta de integridade do CVC, deve comunicar imediatamente ao médico.

CONCLUSÃO

A responsabilidade do cuidar do doente com um CVC é do enfermeiro, sendo essencial a prestação de cuidados de qualidade para assegurar o correcto funcionamento do CVC, (garantir a eficácia do tratamento instituído), e despistar possíveis complicações que possam ocorrer.

Na bibliografia são inúmeras e divergentes as opiniões, como se verificou em secções anteriores, porém, e como salienta Machado, (1995), uma regra deve sobressair na nossa prática: agir, salvaguardando a segurança do doente.

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