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Congresso ACEN: Cuidados que fazem pensar

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Congresso ACEN: Cuidados que fazem pensar

Actualidade em Cuidados Paliativos em destaque

O Curso de formação/ actualização de Enfermagem em Neurocirurgia – “Cuidados que fazem pensar”, teve lugar na Aula Magna do Hospital São João, Porto, nos dias 25 e 26 de Novembro de 2005

Enf.Alexandre (ACEN), Silvia Forno (Forumenfermagem), Enf. Pedro (ACEN)

Tal curso teve como Comissão Promotora o Serviço de Neurocirurgia do Hospital São João do Porto, mas especificamente a ACEN – Associação Contemporânea de Enfermagem em Neurocirurgia e como constituintes da Comissão Cientíifica o Prof. Doutor Rui Vaz, a Drª Celeste Dias, a Enfª Isabel Ribeiro, o Enfº Pedro Vale e a Enfª Carla Cunha.

O desenrolar deste curso fundamentou-se em mesas redondas, nas quais foram focadas diversas temáticas: “Política de Saúde e os Cuidados Paliativos”, “A Comunicação nos Cuidados Paliativos”, “O Direito de Morrer em Casa – Experiências Vividas”, “O Cuidar na Proximidade da Morte” e “Cuidados Paliativos em Doentes com Tumores Malignos do SNC”.

Para colmatar, a organização abriu um espaço de debate, com o intuito de ir para além do próprio programa científico, que intitulou-se de “Sofrimento, Tratamento e Vida”.

Importa ressaltar que em cada conteúdo abordado, tiveram a palavra palestrantes formados em diversas áreas, desde enfermeiros, médicos, nutricionista, psicólogo, advogado, jornalista até mesmo um capelão e um pastor.

Este curso contou também com actividades de convívio, como: jantar, visita às Caves do vinho do Porto, sessão de teatro – Teatro Espaço de Fronteira e, por fim, a visualização de um filme.

Foram dois dias onde os Cuidados Paliativos tiveram um merecido destaque em toda a sua vertente profissional, social e humana, através duma abordagem original, um programa actual, pertinente e com intervenientes de reconhecidos méritos.

Mas afinal, qual a pertinência desta temática?

O problema da doença terminal atravessa todas as faixas etárias, tratando-se de um grupo vastíssimo de pessoas e de um problema que atinge praticamente todas as famílias portuguesas.

É sabido que a não-cura, ainda hoje, é encarada por muitos profissionais, e não só, como uma falha, uma derrota, uma frustração. A verdade é que, apesar de todos os progressos da medicina, a longevidade crescente e o aumento das doenças crónicas conduziram a um aumento significativo do número de doentes que não se curam. Mas, este modelo da medicina curativa, agressiva, centrada no “ataque à doença”, não se coaduna com as necessidades deste tipo de pacientes, necessidades estas que têm sido frequentemente esquecidas. É importante, então, saber quando parar com o tratamento curativo, em prol dos Cuidados Paliativos. A realidade é que, muitas vezes, assiste-se à um verdadeiro “encarniçamento terapêutico”…

Importa relembrar que as questões em torno da morte, e que interessam a todos, constituem, ainda na actualidade, um tema tabu. A doença terminal e a morte foram “hospitalizadas” e a sociedade em geral aumentou a distância face aos problemas do final de vida. Seria imperativo a existência de instituições especializadas e mais humanizadas.

Em Portugal, existem sete unidades de saúde que prestam Cuidados Paliativos, sendo estas: o Instituto Português do Cancro – IPO, Porto; o Serviço de Medicina Paliativa do Hospital do Fundão; o Serviço de Medicina Interna e Cuidados Paliativos do IPO de Coimbra; a Equipa de Cuidados Continuados do Centro de Saúde de Odivelas; a Santa Casa da Misericórdia da Amadora; a Santa Casa da Misericórdia de Azeitão e a Equipa de Suporte de Cuidados Paliativos do Hospital de São João do Porto.

Apesar da pertinência da resposta preconizada pelos Cuidados Paliativos para as questões em torno da humanização dos cuidados de saúde e do seu inequívoco interesse público, o certo é que hoje, no início do século XXI, este tipo de cuidados não está ainda suficientemente divulgado e acessível àqueles que deles carecem. No nosso país, mais concretamente, podemos dizer que os serviços qualificados e devidamente organizados são escassos e insuficientes para as necessidades detectadas.

Dos 105.000 portugueses que morrem anualmente, mais de metade precisa de cuidados para aliviar o sofrimento, mas apennas cerca de 5% beneficia deste tipo de tratamento antes de morrer. Quem o diz é a Presidente do Movimento de Cidadão Pró-Cuidados Paliativos.

Em Portugal, o Projecto Cidadão Pró-Cuidados Paliativos tem promovido algumas iniciativas que visam a sua divulgação. Uma destas diligências foi a participação da responsável pelo projecto, Ana Cabral, no Curso de formação/ actualização de Enfermagem em Neurocirurgia, para o qual deu o seu contributo na mesa redonda: “Política de Saúde e os Cuidados Paliativos” – Perspectiva do Cidadão.

Para Ana Cabral ainda há um longo trabalho para fazer, não só a nível dos médicos, como também junto da população em geral. Os cidadãos têm não só o direito, mas o dever, de divulgar os Cuidados Paliativos, contribuindo, desta forma, para o ideal de qualidade de vida até ao fim, para o qual os Cuidados Paliativos são decisivos.

Quanto à Organização dos Cuidados Paliativos, na mesa de abertura foi abordado um novo modelo.

Segundo o Decreto-Lei n.º 281/2003, de 8 de Novembro, capítulo III, artigo 6 e 7, trata-se de um modelo de intervenção complementar, que prevê diferentes tipos de serviços para a prestação simultânea de cuidados de saúde adequados às necessidades dos seus utilizadores, devendo garantir: uma correcta articulação entre os diferentes tipos de serviços; a continuidade entre as acções terapêuticas e de recuperação global, de acordo com um plano individual de intervenção que integre a caracterização multidisciplinar da situação do utilizador, das suas necessidades e dos cuidados a prestar; uma actuação multidisciplinar; prioridade na manutenção do utente, sempre que possível, no domicílio.

O modelo de intervenção prevê três tipos de serviços, que asseguram a continuidade da prestação de cuidados: a Unidade de internamento; a Unidade de recuperação global e a Unidade móvel domiciliária.

Os Cuidados Paliativos são reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde desde os anos noventa como parte integrante da luta contra o cancro. Hoje, estendem-se ao tratamento de doentes terminais com SIDA, doenças cárdio-respiratórias, hepáticas, neurológicas, entre outras.

Os Cuidados Paliativos pretendem, então, ajudar todos os doentes terminais a viverem tão activamente quanto possível até à sua morte – período que pode ser de semanas, meses ou até mesmo anos. Estes cuidados tem como pilar a importância da dignidade da pessoa ainda que doente, vulnerável e limitada, aceitando a morte como uma etapa natural da vida que, até por isso, deve ser vivida intensamente até ao fim.

Foi neste âmbito que o Curso se fomentou, visto que os Cuidados Paliativos constituem, hoje, uma resposta indispensável aos problemas do final da vida, em nome da ética, da dignidade e do bem-estar de cada Homem, sendo preciso torná-los cada vez mais uma realidade.

Torna-se então imperativo melhorar a qualidade devida desses doentes, porque sempre há muito para se fazer…

Cobertura do evento: Sílvia Forno (4to ano ESEnf D Ana Guedes e colaboradora do Forumenfermagem)