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Covid-19. Portugal “está hoje melhor preparado” para nova pandemia

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“Sim, claro, (…) o país está hoje melhor preparado do que estava há cinco anos atrás e isso é natural (…), está preparado, diria, em todas as áreas”, declarou numa entrevista à agência Lusa.

 

Em 02 de março de 2020 foram confirmados em Portugal os primeiros casos de contágio pelo coronavírus SARS-CoV-2, que causa a doença designada de covid-19.

Cinco anos depois, Francisco George considera que “há muitos ensinamentos que entretanto foram percebidos, sobretudo pelos titulares dos diferentes órgãos de soberania, mas também pela população em geral”.

“Uma das grandes lições (…) é que nós podemos vencer, nós podemos controlar e, em certa medida, prevenir novas epidemias”, denominadas pandemias quando se propagam em mais do que um continente.

Isto “desde que sejam mobilizados os meios, os conhecimentos” e que sejam reforçadas as infraestruturas de saúde pública.

Considerou também essencial que haja coordenação “a nível de governação, a nível de órgãos de soberania”, para que as medidas necessárias, “sempre baseadas nos conhecimentos científicos”, sejam aplicadas de uma forma inteligente.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública (SPSP) sublinha que, sem a organização em termos de saúde pública e dos órgãos de soberania, com destaque para o Ministério da Saúde, Portugal não teria tido “resultados favoráveis”.

Ainda que, “infelizmente, muitos tenham ficado doentes, muitos tenham terminado a vida de uma forma absolutamente dramática”, acrescenta.

Durante os dois anos da epidemia, registaram-se em Portugal cerca de 21 mil mortes relacionadas com a doença e mais de 3,2 milhões de pessoas ficaram oficialmente infetadas com o novo coronavírus.

A nível hospitalar também “houve lições que foram extraídas”, com a necessidade de colocar em alas ou estabelecimentos de saúde distintos os doentes com problemas crónicos para “não pressionarem as vagas necessárias para tratar os doentes agudos” portadores do vírus, sustenta, realçando igualmente os avanços em camas de cuidados intensivos no país, nomeadamente com ventiladores.

As medidas para evitar a formação de cadeias de transmissão da infeção e “as vacinas inovadoras, absolutamente fantásticas”, que foram entretanto produzidas, constituíram igualmente “contributos fundamentais para controlar a epidemia”.

O antigo diretor-geral da Saúde insiste que face a uma nova pandemia “os problemas seriam de menor monta” porque existem hoje condições muito diferentes.

“Os sistemas de vigilância foram, entretanto, muito afinados”, diz, referindo a criação do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE).

Com uma base clínica e laboratorial, o SINAVE junta especialistas da Direção-Geral da Saúde e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e faz a “vigilância laboratorial dos agentes patogénicos que circulam”, também “na perspetiva de perceber o aparecimento de alterações, de mutações aos vírus que vão acontecendo ao longo do tempo”.

Além disso, “há hoje a preocupação de assegurar o funcionamento de reservas estratégicas de medicamentos e de dispositivos que não aconteceram no início da pandemia”, acrescenta, lembrando que na altura “até as simples máscaras cirúrgicas (…) foram diminutas”.

Lição que não devia ter sido ignorada, segundo Francisco George, é a da necessidade de alterar a Constituição para que possa ser permitido limitar a liberdade de circulação por motivos de saúde pública, atualmente o internamento obrigatório só pode ser aplicado ao “portador de anomalia psíquica”.

“É preciso que os poderes políticos alterem este preceito constitucional. (…) É preciso tirar estes ensinamentos que foram obtidos pela forma como se controlou a epidemia e a necessidade de fazer cercas sanitárias, de reter pessoas em casa, de não saírem à rua”.

À época presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), Francisco George diz ter recordações positivas da introdução em Portugal pela instituição humanitária da nova técnica de diagnóstico rápido da infeção, através de zaragatoa.

“Em poucos minutos, saber se determinado problema que existe em termos de doença de qualquer pessoa é devido ou não à covid-19 (…) foi absolutamente fantástico”, salienta, adiantando que os testes rápidos foram um dos meios que “permitiram tomar medidas de controlo adequadas pelos médicos especialistas em saúde pública, pelos enfermeiros, pelas unidades que se ocuparam da proteção dos portugueses, em termos gerais”.

“Outro episódio positivo foi a rapidez com que se divulgou uma medida essencial que é a lavagem das mãos, a par da etiqueta respiratória”, acrescenta, referindo “a facilidade com que os pontos de desinfeção [frascos com solutos de base alcoólica, mas não abrasivos para não prejudicar a pele das mãos] se multiplicaram no país”.

Pela negativa destaca os “velhos do Restelo que duvidam destes problemas e põem em causa os avanços científicos”, os que questionaram a existência do vírus, a eficácia da nova técnica de diagnóstico, “aqueles que não acreditam nas vacinas”.

E defende a necessidade de em Portugal se “combater a hesitação vacinal – através de processos de literacia que têm de ser cada vez mais eficazes – e (…) transmitir a confiança nas vacinas e na sua eficácia em termos de proteção”, ainda que considere que o movimento antivacinas “tem pouca expressão” no país.

A propósito de aspetos negativos, Francisco George classifica de incompreensível a recente decisão dos Estados Unidos de abandonarem a Organização Mundial de Saúde (OMS), deixando de cofinanciar a agência das Nações Unidas.

“A OMS, neste processo de prevenção e controlo de epidemias, sempre desempenhou um papel de grande relevo a nível mundial e é indispensável que continue a atuar a este nível”, afirma.

O responsável defende que a União Europeia deve, não só condenar a atitude de Washington, como compensar, no que respeita a financiamento, a OMS pelo abandono dos americanos”.

O novo presidente norte-americano, Donald Trump, assinou no próprio dia da sua tomada de posse, a 20 de janeiro, a ordem executiva para retirar o país da OMS.

Sendo os EUA o principal doador e parceiro da agência sediada em Genebra (Suíça), o seu diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, indicou quatro dias depois que tal implica um agravamento da sua situação financeira e que estavam a ser revistas as prioridades.

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