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Jornadas de Emergência “Um Algoritmo para a Vida”

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Jornadas de Emergência "Um Algoritmo para a Vida"

O trauma é a principal causa de morte em jovens, principal causa de disfunção, responsável por 3,8 milhões de mortos/ano.


As Jornadas de Emergência foram organizadas pelo 1º Curso de Pós-Graduação em Urgência e Emergência da Escola Superior de Saúde de Viseu (ESSV) e realizou-se nos dias 5 e 6 de Maio do presente ano (2006), na Aula Magna do Instituto Superior Politécnico de Viseu (ISPV) com o tema “Um Algoritmo para a Vida”, desenvolvendo-se as seguintes mesas:

· “Competências em Emergência”
· “Novas Guidelines em Reanimação Cardiorespiratória”
> Abordagem Pré-Hospitalar
> Abordagem Intra-Hospitalar
· “Trauma”
> Utilização de Fluidos em trauma e Controlo da Coagulação
> Organização do trauma no Pré-Hospitalar e nos Serviços de Urgência – Grupos de Trauma

As jornadas começaram com a sessão solene de abertura que contou com a presença do Presidente do IPV, Comandante Distrital do Serviço Nacional de Bombeiros Voluntários (SNBPV), Enfermeiro Director do Hospital de São Teotónio de Viseu e representante da Ordem dos Enfermeiros, representante da Câmara Municipal de Viseu, Presidente do INEM, representante da Escola Superior de Saúde de Viseu (ESSV) e representante do Curso de Pós-Graduação em Urgência e Emergência.

A primeira mesa começou com a presença do Dr. António Marques (representante da Ordem dos Médicos), do Dr. Luís Ribeiro (Presidente do INEM), do Dr. Vítor Almeida (Presidente da APME) e do Enfermeiro Albino Gomes (Presidente da APEEPH), tendo como moderador a Enfermeira Magda Santos.

Discutiu-se o facto de haver uma grande afluência a vários cursos de urgência e emergência, sendo apenas 30% dos que os completam a exercê-los e a solução poderá residir no avanço de um contrato-programa, garantindo assim a rentabilização da formação adquirida e a integração gradual.

Ficou claro que o rácio de ambulâncias em Portugal é um dos maiores mas a sua rentabilização fica aquém das expectativas, visto formarem-se profissionais com curso de ambulância de transporte e depois andam a transportar pessoas idosas, entre outros, a consultas, por razões que não justificam os meios. As ambulâncias do INEM são “ilegais” na sua maioria, as que não o são estão equipadas com desfibrilhador e profissional que pode canalizar uma veia.

Falou-se também da competência em emergência médica, quais os objectivos gerais, desempenho prático, grupos de trabalho e impacto esperado. A nível das competências do enfermeiro de cuidados gerais, foi feita uma alusão aos artigos, enumerando-os e descrevendo sucintamente os pontos mais importantes, relativamente à responsabilidade, prática segundo a ética, princípios da prestação e gestão de cuidados, execução, ambiente seguro e formação contínua, direitos e deveres, dividindo a intervenção de enfermagem em autónomas e interdependentes.

Os actuais contratos de 3 meses não possibilitam a formação contínua, muitos profissionais fazem cursos com siglas que são reconhecidas internacionalmente e têm diploma e é preocupante o facto de muitos destes profissionais serem muitas vezes deixados ao abandono numa sala de emergência, sem formação integradora para poderem responder autonomamente. Quem dirige a formação de emergência em Portugal é o INEM.

Comparativamente a outros países veja-se que há diferenças enormes, havendo por exemplo em Portugal uma formação de 240 horas para os bombeiros, enquanto noutros vais para as 1800 horas e na Noruega vai para os 6 anos.

Várias questões ficaram no ar como “o porquê de que a via aérea seja ainda hoje um acto médico?” e “o porquê de ter sido subtraído aos enfermeiros o acesso ao SAV, com a impossibilidade de desfibrilharem directamente?”.

Na segunda mesa, estiveram reunidos o Dr. Paulo Paiva, do Dr. Miguel Félix (Hospital Pediátrico de Coimbra) e o Enfermeiro António Pereira (membro do CPR e Coordenador das Ambulâncias INEM do Porto), tendo como moderador a Enfermeira Mónica Alves.

Até ao ano 2000 haviam versões diferentes em termos de reanimação. Em 1999 constituiu-se o ILCOR, para avaliar o estado da ciência e desenvolver recomendações comuns para reanimar.

Em 2000 saíram novas guidelines e em 2005 pretendeu-se ir buscar todas as publicações até este ano para chegar a um consenso em termos científicos, surgindo os seguintes tópicos controversos:
·  compressões iniciais vs. choque inicial na paragem pré-hospitalar por FV;
·  relação compressões-ventilações;
·  um choque vs. sequência de três choques para a tentativa de desfibrilhação;
·  energia do choque;
·  papel da vasopressina.
Breve resumo das principais modificações ao SAV:
·  Colocar as mãos no centro do peito, ao invés do método do rebordo costal;
·  Cada insuflação tem a duração de 1 segundo e não de 2 segundos;
·  30 compressões / 2 insuflações;
·  Em vítimas adultas, suspende-se as 2 insuflações iniciais, passando de imediato às 30 compressões (uma vez estabelecido o diagnóstico de paragem cardíaca);
·  Único choque eléctrico (150J a 360J nos bifásicos e 360J nos monofásicos), seguido de 2 minutos ininterruptos de SBV sem paragem para avaliação de pulso ou de ritmo;
·  Passar de imediato à desfibrilhação se paragem testemunhada por um profissional de saúde;
·  Tratar FV/TVsp com choque único (se indicado mais choques, manter voltagem);
·  Se dúvida entre assistolia e FV fina, evitar desfibrilhação, continuando SBV;
·  Se FV/TVsp persistente após um 2º choque, administrar adrenalina 1mg IV (repetir a cada 3-5 minutos se persistir);
·  Se FV/TVsp persistente após um 3º choque, administrar amiodarona 300mg bólus (se persistir, administrar 150mg em bólus, seguida de infusão de 900mg nas 24h);
·  Se ausência de amiodarona, administrar lidocaína 1mg/kg (não administrar se já administrada amiodarona, e num total de 3mg/kg na 1ª hora);
·  Se actividade eléctrica sem pulso/assistolia, administrar adrenalina 1mg IV de imediato (repetir a cada 3-5 minutos até circulação espontânea);
·  Considerar SBV durante 60-90 minutos se administrados agentes trombolíticos;
·  Adultos inconscientes, com circulação espontânea, deveram ser arrefecidos até aos 32-34ºC durante 12-24h.
Foi feita também uma breve referência à evolução histórica do SBV:
1530 – usava-se umfole semelhante ao das lareiras
1700 – índios conduziam com cachimbo comprido o fumo do tabaco para o recto
1770 – penduravam as pessoas pelos pés com uma corda e subiam e desciam-na
1733 – em vítimas de afogamento debruçavam-nas sobre barris e faziam-nas rolar sobre eles
1812 – deitava-se o doente sobre o cavalo e passeava-se nas praias
1950 – respiração boca-a-boca
1960 – massagens cardíacas
1973 – RCP para a população

Na terceira mesa, esteve o Dr. Vítor Almeida (Anestesista do HSTV, Helicóptero de Santa Comba Dão, VMER Viseu), Dr. Miguel Oliveira (Director Regional do INEM Norte), Enfermeiro José Manuel Mota (Enfermeiro Chefe do Centro de Saúde de Santa Comba Dão, Helicóptero de Santa Comba Dão), Dr. Miguel Sequeira (médico internista do HST Viseu), Enfermeira Helena Rosário (Serviço de Urgência Geral do HST Viseu), tendo como moderador o enfermeiro Manuel Cruz.

Foi feita uma breve definição e distinção de acidente grave, catástrofe e calamidade. Foram apresentados os recursos do INEM disponíveis em Portugal e em desenvolvimento e intervenções noutros países como o Irão. Também foi feita uma análise da actuação do INEM, Cruz Vermelha, Bombeiros e GNR num acidente de autocarro no IP3. Os prelectores contaram as suas experiências e discutiu-se a actuação pré e intra-hospitalar e o plano de emergência hospitalar.

A quarta mesa decorreu com a presença do Dr. Luís Filipe (Chefe de Serviço Cirurgia 1 – HST Viseu) e do Dr. Eduardo Melo (Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes – HST Viseu), tendo como moderador a Enfermeira Elisabete Sousa.

Nesta mesa foi abordado o trauma e choque hipovolémico e a importância da fluidoterapia no tratamento do trauma. Ficou claro que a hemorragia é a principal causa de choque em trauma e a causa de 40% de mortes, no entanto, devido ao ciclo que leva às coagulopatias, os doentes acabam na sua maioria por morrer sempre por falta de O2.

Embora seja possível obter controle da coagulação em trauma, a melhor profilaxia da coagulopatia é parar a hemorragia.

A última mesa contou com a participação do Dr. Jorge Pereira (Cirurgião HST Viseu), do Dr. John Preto (Grupo de Trauma de S. João), do Dr. Luís Meira (Coordenador CODU Norte), do Enfermeiro Armando Almeida (Coordenador PHTLS), da Enfermeira Adriana Machado (APEU) e do Dr. Salvador Massada (Grupo de Trauma de S. João) Enfermeira Daniela Matos (Secretária da Direcção da FNAEE), do Enfermeiro Anacleto (SEP), do Enfermeiro Pedro Filipe (FENSE) e do Enfermeiro José Luís (Enfermeiro Director do H.S.T. – S.A.), tendo como moderador a Dr.ª Ana Paula Durães.

Foi discutida a organização em trauma, do ponto de vista pré e intra-hospitalar e qual a sua importância.

Os sistemas de trauma aumentam as hipóteses de sobrevivência e melhoram o aproveitamento dos recursos e assim diminuem os gastos.

O trauma é a principal causa de morte em jovens, principal causa de disfunção, responsável por 3,8 milhões de mortos/ano. Portugal é o país da Europa com maior índice de sinistralidade rodoviária.

Outros temas como o atendimento do doente com trauma grave e o funcionamento e constituição de um centro de trauma de nível I / II / III / IV e critérios de activação foram também discutidos.

Foi ainda apresentada a história do PHTLS em Portugal e a organização do trauma nos serviços de urgência, dando o exemplo do Hospital de São João.

No final foi apresentado um vídeo de sensibilização à alcoolémia.

“A vida desvanece-se em segundos, há quem se dedique a contrariar o destino há muito traçado”