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Os líderes da Enfermagem? O que queremos?

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Os líderes da Enfermagem? O que queremos?

Em tempos, chegava-se ao cargo de enfermeiro director através de eleições. Hoje, ocupa esse lugar a pessoa que foi nomeada… Foi nomeada por quem?
Segundo que critérios?                                                                                                                                                                     E nós, vamos continuar com o actual modelo?

 

Numa altura em que o país atravessa momentos conturbados, os enfermeiros vêem-se confrontados com determinadas medidas que colocam em risco a qualidade/segurança dos seus cuidados. Contrariamente a muitos outros profissionais de saúde, nós temos o “privilégio” de ter lugar nos Conselhos de Administração da maioria das instituições de saúde.

O que esperar dos enfermeiros directores?

As funções do enfermeiro director estão devidamente consagradas em lei, pelo que não é difícil apreciar se a pessoa A ou B está ou não a cumprir o seu dever.

Em tempos, chegava-se ao cargo de enfermeiro director através de eleições. Hoje, ocupa esse lugar a pessoa que foi nomeada… Foi nomeada por quem?
Segundo que critérios?
Quem faz a avaliação do trabalho dessa pessoa?
Sendo um lugar que de uma forma directa ou indirecta, representa uma classe, de que forma podem os membros dessa classe opinar/participar no processo directivo de uma determinada instituição?

Porque será que alguém que ocupou o cargo de director não pode regressar, no futuro, à prestação de cuidados?

É muito interessante observar que actualmente, há uma certa corrente (entre a classe política) que apela à participação dos cidadãos nas tomadas de decisão, seja ao nível do Governo (site para onde podemos reportar os problemas que desejamos ver resolvidos), seja ao nível das autarquias (assembleias “participativas”). Ora, nas instituições de saúde, parece que estamos a seguir o caminho oposto. As Direcções de Enfermagem parecem ser algo herméticas…

Não se sabe ao certo porque é que a pessoa X ou Y foi escolhida (há colegas nossos que nem sequer sabem o nome dessa pessoa).

Não sabemos que projecto tem para a instituição (há pessoas que vêm de outras instituições, como se fosse normal alguém de Faro ser Presidente da Câmara de Bragança).

Tomam-se decisões que interferem com as equipas de Enfermagem e ninguém se digna a prestar um esclarecimento aos enfermeiros (há até casos de transferências coercivas de elementos…).

Há presidentes de Conselhos de Administração a dar entrevistas na televisão, dizendo que há profissionais de saúde que não vão ao bloco operatório, e ninguém se interroga se os enfermeiros têm ou não conhecimento destas situações (interrogo-me se não sabiam ou sabiam, mas quiseram ficar em silêncio).

Há um hospital privado do país, em que a Sr.ª Enf.ª directora acha normal só contratar enfermeiros com experiência (como se não houvesse o dever ético de todas as instituições de saúde contribuírem para a formação profissional).

Não há muito tempo, numa AG da OE, um enfermeiro director colocou o dedo na ferida, abordando o tema dos “jobs for the boys” – Sindicatos e Ordem assobiam para o lado como se nada tivessem a ver com o assunto…

Numa das ARS do país querem criar uma urgência metropolitana nocturna e ninguém tem curiosidade em saber o que pensam os enfermeiros directores das duas instituições envolvidas.

Que acham os enfermeiros directores deste país sobre o tema “dotações seguras”?

Até o futebol, nem sempre bem cotado em termos de exemplo para a sociedade, nos mostra como andamos desorientados.
É frequente vermos o Sr. Pinto da Costa a acompanhar os treinos da sua equipa. Mais recentemente, Bruno de Carvalho, marca presença assídua no banco do Sporting.

Façamos o seguinte exercício: Quando foi a última vez que o enfermeiro director reuniu com a nossa equipa? Quando foi a última vez que assistiu a uma passagem de turno? Quando foi a última vez que fez uma visita “informal” a este ou àquele serviço?

Quem pensa que esta é uma visão narcisista da profissão engana-se redondamente. Se quem ocupar estes cargos estiver genuinamente preocupado com o atendimento aos cidadãos, perceberá que esta é uma forma muitíssimo útil de contacto com a realidade e aferir o que está a correr bem e menos bem.

Segundo a lógica da “empresarialização” das instituições de saúde, existe também a ideia de que quem está no Conselho de Administração deve ter um nível remuneratório bem mais elevado que os demais funcionários da instituição.
Considero isso um disparate!

Por um lado, ao contrário do que se verifica numa fábrica de sapatos, os gestores de uma instituição de saúde não são mais diferenciados (do ponto de vista da formação) que a maioria dos restantes funcionários (é frequente encontrarmos profissionais de saúde com mestrados e doutoramentos).

Também é preciso desmistificar a ideia da “gestão”. Muito do que se passa nas instituições de saúde está devidamente pré-estabelecido pelo Ministério da Saúde, pelas normas de orientação internacionais e pelos acordos laborais com as diversas profissões que intervêm no processo. Portanto, não estamos a falar de gerir a Google ou a Apple!
Indo novamente ao mundo do futebol, não sei se se aperceberam mas há umas semanas foi aprovado em Assembleia Geral do clube de Alvalade, que o salário do Presidente é de 5 mil euros. Muito abaixo da média de salários entre jogadores. Isto não nos diz nada?!

Não pretendo que imitemos o que se passa noutras profissões. Tenhamos a ousadia de olhar à nossa volta, e encontrar soluções sensatas, justas, que respeitem a dignidade profissional, e já agora, que estamos em crise, que sejam à medida da nossa carteira.

Para quem tem medo do “sistema eleitoral” aplicado às Direcções de Enfermagem, peço que olhe para o caso do Porto nas últimas eleições autárquicas. Os maiores partidos políticos “nomearam” os seus candidatos. Mas os cidadãos (não gosto da palavra “povo”), soberanos que são, fizeram a escolha que lhes pareceu mais acertada.
Tanto quanto se sabe, Rui Moreira é um homem que emerge de entre os portuenses, não vai ganhar pipas de massa, e creio que quando terminar o seu mandato, regressará à sua condição de cidadão.

E nós, vamos continuar com o actual modelo?