Um bebé de 18 meses morreu em casa na madrugada do passado sábado, 13 de dezembro. A informação avançada pelo Jornal de Notícias dá conta de que “a mãe do bebé estava com a criança ao colo, a amamentá-la, e adormeceu”.
No momento em que acordou, no sofá, o bebé já se encontrava em “paragem cardiorrespiratória e sem sinais vitais“.
A síndrome de morte súbita do lactente, que, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Pediatria, significa “a morte súbita e sem explicação de um bebé durante o primeiro ano de vida”, surge associada também a este contexto.
Numa entrevista ao Lifestyle ao Minuto, a enfermeira Vera Lopes, consultora Internacional de Lactação (IBCLC – International Board Certified Lactation Consultant, uma certificação global de excelência que identifica profissionais com conhecimentos especializados em técnicas de amamentação) esclareceu o que pode estar a preocupar muitos pais.
No que diz respeito a riscos diretos da amamentação para a saúde, as mães estão muito mais expostas do que as próprias crianças, seja com dores ou infeções provenientes deste processo, explica Vera Lopes.
O aleitamento materno é reconhecido globalmente como o método ideal de nutrição infantil. Aliás, “o risco de morte súbita infantil é menor em bebés amamentados em comparação com bebés que são alimentados com leite artificial”. A especialista acrescenta que “só é contraindicado em situações muito raras”.
Leia abaixo a entrevista.
Em que situações a amamentação pode representar risco para o bebé?
O aleitamento materno só constitui risco em situações muito especificas. Geralmente requerem diagnóstico clínico. A amamentação é a forma mais eficaz de garantir a saúde e a sobrevivência infantil, pela forma fisiológica de alimentar a criança e por ser o alimento ideal para os bebés. As vantagens do aleitamento materno vão muito além dos primeiros meses.
O leite materno adapta-se às necessidades em constante evolução do lactente, com propriedades imunológicas, microbiológicas e bioquímicas que lhes confere proteção contra infeções, doenças crónicas, favorece o crescimento e desenvolvimento, e diminui as taxas de hospitalização e mortalidade. A amamentação não representa risco mas sim maior proteção e promoção de saúde.
Existe diferença de risco entre amamentar sentada, deitada ou em co-sleeping?
As necessidades e formas de posicionamento variam de acordo com o conforto da mãe e do bebé e com o desenvolvimento do mesmo. Um recém-nascido necessita de maior atenção e apoio a mamar do que um bebé que já anda e se mobiliza com autonomia.
A amamentação pode fluir naturalmente, outras vezes exige tempo e prática tanto para as mães quanto para os bebés e existem caminhos em que o aleitamento materno não é feito diretamente na mama. Existe sempre na parentalidade a individualidade a respeitar.
O co-sleeping pode ser feito tanto com bebés amamentados como com bebés que ingerem leite artificial, contudo existem medidas de segurança a ter em conta, sobretudo em situações de maior risco. A proximidade prediz a responsividade materna.
A asfixia é silenciosa e pode ter várias formas
Como pode ocorrer a asfixia durante a amamentação?
Tendo em conta o enquadramento infeliz do falecimento da criança de 18 meses, convém esclarecer que existem várias condicionantes em situações semelhantes.
A asfixia é silenciosa e pode ter várias formas. Pode decorrer da interrupção da respiração por causas não intencionais, como obstrução das vias aéreas, com secreções, vómito, objetos ou alimentos, intoxicação química, compressão que impede a respiração, entre outras causas.
Asfixia acidental é relativamente comum em acidentes domésticos. Contudo, o risco de morte súbita infantil é menor em bebés amamentados em comparação com bebés que são alimentados com leite artificial. Não existe evidência científica de que a partilha de cama e amamentação feitas de forma segura sejam fator de risco.
Pelo contrário, a amamentação é considerada uma forma protetora de morte súbita e promotora de um sono seguro. A forma como algumas entidades abordam o tema diferem. Será necessário esperar a avaliação dessa situação especifica.
Importa informar a população para diminuir o stress e medos associados ao alarmismo social criado. O que faz aumentar o risco é o desencontro entre a expectativa da sociedade e das famílias em relação ao sono e a realidade biológica dos bebés, que enfraquece a resiliência dos pais e compromete o bem-estar da família.
O caminho não passa pelo medo, pelo stress, ou pelo número de utensílios de puericultura comprados, mas sim pela segurança e promoção da normal fisiologia da criança e das relações familiares. Só assim se poderá promover saúde e comportamentos favorecedores de segurança e acolhimento.
Quando a criança está doente pede mais atenção, acolhimento e cuidados e a família também necessita de apoio e recursos para responder a esse contexto. O que faz aumentar o risco é a desinformação.
Quais são os sinais de alerta ou cuidados que se devem ter?
Ajudar os pais a entender a fisiologia normal e cuidar dos bebés de maneira responsiva. Se os pais percebem que o bebé está diferente devem investigar a causa e acolher o bebé no que ele pede. Seja através de contacto físico, colo e pele a pele. Essa estratégia deve ser conciliada com: hidratação, alimentação responsiva, cuidados de higiene e conforto.
Como assegurar que o bebé está em segurança?
Proporcionando um ambiente seguro, no mesmo quarto até aos 6 meses no mínimo, mas se partilhar cama não dormir ao lado de quem fuma ou está sob o efeito de álcool, drogas ou medicação.
- A partilha de cama requer um cuidador responsivo e consciente.
- Naturalmente adapta uma posição de proteção do bebé em “C” com o tronco e as pernas curvadas.
- Não é recomendado partilhar cama com outras crianças ou animais de estimação que não terão esta consciência ou comportamento instintivo de proteção do bebé.
- Cama firme e plana que permita a movimentação do bebé e de modo a assegurar uma boa comunicação com os pais.
- Onde não corra o risco de cair, de ficar preso contra alguma coisa ou tapado.
- Não dormir em sofás, cadeirões, berços com grades ou colchões inadequados que tenham espaços de 6 centímetros de acordo com a Norma Europeia EN 716.
Quais os erros comuns a evitar?
A exceção que acontece quando os pais estão mais cansados ou desinformados e fazem a partilha de cama “só aquela vez”. Ou quando compram um colchão desadequado para a cama deixando uma abertura potencialmente perigosa; quando está tanto frio que tapam a criança até ao pescoço.
A cama compartilhada facilita a proximidade noturna e a resposta aos pedidos de acolhimento da criança, ao acesso da criança à mama, favorece o descanso da mãe por períodos, a duração e a exclusividade da amamentação.
Por outro lado, a desinformação ou o julgamento levam a que as informações corretas não sejam difundidas e as famílias adotem comportamentos sem terem oportunidade de pensar sobre eles, e que aumentam o cansaço, risco de
desmame, queda, etc.
O que diz a ciência
Em 2014 o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados do Reino Unido (National Institute for Health and Care Excellence – NICE) apontou que não existia evidência científica suficiente para afirmar de forma inequívoca que cama compartilhada causa SMSL (Síndrome de Morte Súbita do Lactente).
Ainda assim, a ABM (Academy of Breastfeeding Medicine) aconselha a uma abordagem de minimização de riscos para a cama compartilhada e amamentação. Estes especialistas sugerem uma “separação noturna da mãe, mesmo em bebés com mais de 10 meses de vida”.
É importante que as mães estejam informadas sobre os prós e contras da amamentação, bem como do risco de asfixia durante a prática de co-sleeping.











