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5ª Jornadas de Enfermagem Oncológica

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5ª Jornadas de Enfermagem Oncológica

A busca da esperança pode ser a busca da realização do que ainda pode ser feito.

5as Jornadas de Enfermagem, em Oncologia, promovidas pelo Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE

Com o envelhecimento da nossa população, é mais demarcada a importância do desenvolvimento da Enfermagem Oncológica. É calculado que em trinta anos, o aumento da incidência da doença Oncológica seja de cerca de 20% nos países desenvolvidos, o que torna premente a formação/especialização dos enfermeiros para o cuidado da pessoa com doença Oncológica. Sendo o enfermeiro o profissional da área da saúde que permanece mais tempo junto ao doente Oncológico, este tem a oportunidade de contribuir grandemente para o aumento do seu conforto e aliviar o seu sofrimento, através de cuidados específicos(1).

Nos passados dias 22, 23 e 24 de Janeiro, decorreram as 5as Jornadas de Enfermagem Oncológica, promovidas pelo Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE e subordinado ao tema Novas Abordagens. Com o objectivo de promover uma vasta troca de experiências e reflexão acerca da prática da Enfermagem Oncológica, o IPOLFG reuniu vários profissionais que deram o seu contributo através de trabalhos e da sua experiência. Os assuntos abordados foram variados e todos eles importantes para a melhoria da prática de Cuidados de Enfermagem de Qualidade.

A Sessão de Abertura ficou a cargo da Senhora Enfermeira Bastonária da Ordem dos Enfermeiros Maria Augusta de Sousa, do Presidente do Concelho de Administração do IPOLFG, Francisco Matoso, da Enfermeira Directora Cristina Lacerda e de um membro da Comissão Científica, a Enfermeira Cristina Fernandes, que congratularam o IPOLGF pela iniciativa.

Foi então iniciada a ordem de trabalhos com a conferência “Qualidade e Segurança dos Cuidados de Enfermagem” apresentada pelo Enfermeiro e professor Sérgio Deodato. Este, defende que os profissionais de saúde têm o dever de proporcionar Cuidados de Enfermagem de Qualidade cabendo às pessoas o direito de os receber. Os profissionais devem, no seu ponto de vista, de procurar a excelência e o conhecimento de modo a proteger a pessoa Humana, sempre que esta não seja capaz de o fazer por si.

Posteriormente, pode-se assistir a três Mesas Redondas, onde se voltou a abordar a Qualidade dos Cuidados de Enfermagem e também o tema “Sistemas de Informação em Enfermagem”.

Na primeira Mesa Redonda – “Melhoria Contínua da Qualidade dos Cuidados de Enfermagem” – moderada pela Enfermeira Prista Lucas, abordaram-se as questões da “Dor 5º Sinal Vital”, pela Enfermeira Fátima Naves; “Monitorização e Prevenção de Úlceras de Pressão” pela Enfermeira Vera Ribeiro e “Monitorização e Prevenção de Quedas de Doentes” pela Enfermeira Vanessa Machado. Tanto no tema “Dor 5º Sinal Vital” como na “Monitorização e Prevenção de Quedas de Doentes” foi realçada a importância da sua avaliação e registo sistemático, fazendo uso de Escalas adequadas. Relativamente à temática Monitorização e Prevenção de Úlceras de Pressão, pode-se constatar que o estudo apresentado desenvolveu-se com a finalidade de actualizar conhecimentos, intervir na forma de actuação dos enfermeiros e formular ou reformular padrões de Qualidade vigentes na Instituição. Por concluírem que apenas 32% dos doentes estudados tinham dispositivos preventivos e em poucos haviam posicionamentos programados, perceberam que era necessário rever as normas e padrões relacionados com esta temática.

A segunda Mesa Redonda, de tema “Caminhos da Qualidade” e moderada pela Enfermeira Alexandra Marques, apresentou quatro trabalhos – “Cuidar da Criança e Família, na perspectiva da Qualidade de vida na UTM”, pela Enfermeira Ana Luísa Graça; “A vivencia emocional dos Enfermeiros nos cenários da prestação de Cuidados ao Doente Oncológico” pela Enfermeira Dora Franco; “Da exigência do Cuidar em Oncologia à urgência de reflexão ética: vulnerabilidade e autonomia” apresentado pela Enfermeira Mara Freitas e “Programa de treino de competências de comunicação para Enfermeiros” pela Enfermeira Nádia Henriques. No primeiro trabalho foram apresentadas as maiores barreiras existentes ao se cuidar de uma criança transplantada e sua família bem como o esforço que tem sido feito para as quebrar e aumentar o número de situações de qualidade vividas pelas mesmas. Podendo a qualidade de vida traduzir-se por gestos pequenos que podem ser grandiosos. Ao falar das vivencias emocionais dos enfermeiros, a Enfermeira Dora Franco mencionou quais as emoções no cuidar encontradas numa amostra de enfermeiros desta Instituição, qual a influencia do Stress e do Burnout na vivencia emocional dos mesmos e quais as estratégias utilizadas na gestão de experiencias emocionais. A sua apresentação terminou mostrando qual a importância da valorização do capital emocional e referindo que deveria haver um suporte organizacional na prevenção de complicações emocionais nos enfermeiros, envolvendo os Serviços Ocupacionais. Quem é vulnerável no contexto Oncológico. Cuidar no fim de vida, torna-se muito exigente, mas devemos buscar sempre o caminho da Humanização, defende a oradora do terceiro trabalho apresentado nesta Mesa Redonda. Referiu ainda que, é importante que os doentes, face a uma doença do foro oncológico, devam ter o conhecimento dos factos e dos fundamentos do que é decidido (dentro das suas possibilidades de compreensão) para que possam decidir, recusar ou procurar outras opiniões. “A vulnerabilidade é a vida Humana”. È lançado o repto: Executamos da melhor maneira, ouvimos o que nos estão a dizer? O último trabalho, “Programa de treino de competências de comunicação para Enfermeiros” remete-nos para a dificuldade que existe em comunicar entre os enfermeiros e os doentes e suas famílias perante este contexto Oncológico. A Enfermeira Nádia Henriques falou-nos do trabalho desenvolvido com uma amostra de enfermeiros deste Instituto, que consistia na formação teórica e prática (metodologia role-play) acerca de, entre outros, dificuldades em comunicar más noticias, com doentes que expressam as suas emoções ou face a agravamentos do estado de saúde e/ou situação de final de vida e os seus resultados. Concluiu que, o impacto desta formação foi pouco significativo, no entanto este existiu e o seu feedback foi positivo. Os enfermeiros envolvidos neste estudo manifestaram interesse em que este programa decorresse ao longo das suas carreiras de forma mais regular.

Depois do intervalo, retomaram-se os trabalhos com a terceira Mesa Redonda, confinada ao tema “Sistemas de Informação em Enfermagem” e moderada pela Enfermeira Moz Carrape. O Enfermeiro Paulo Cruchinho abordou o tema “Planeamento de Estratégias de SIE”, o Enfermeiro Pedro Vivas a “Implementação da CIPE na Instituição” e a Enfermeira Ana Pereira de Campos “A utilização do SCD enquanto Instrumento de gestão”. Nesta Mesa Redonda pode-se perceber a importância da existência de Sistemas de Informação para se descrever e perceber de forma mais clara a intervenção da Enfermagem junto das pessoas doentes e suas famílias, quais as metas estabelecidas e os fins definidos para as alcançar. Estes permitem desenvolver o Processo de Enfermagem de forma individualizada através da formulação de Diagnósticos de Enfermagem e uma maior articulação com os recursos existentes na comunidade. Os SIE permitem então, de forma resumida dar visibilidade ao campo de intervenção de Enfermagem. A Implementação da CIPE, ou seja de uma classificação internacional que visa a descrição da prática de Enfermagem e promove uma linguagem universal teve, como descreveu o Enfermeiro Pedro Vivas, como reacções iniciais o questionamento acerca do que é que se tratava e, após as formações alguma inércia. Esta relacionada com as suas terminologias, com o facto de ser complicado de se entender e por se ter de passar mais tempo em frente ao computador. O sentimento de desânimo face à sua implementação foi descrito pelo orador e sentido pelo mesmo, como um dos factores mais dificultadores e, a par desta dificuldade encontra-se ainda o facto de não conseguir imaginar como será a sua aplicação informática e a transmissão da importância da CIPE. Por sua vez, a Enfermeira Ana Pereira de Campos apresentou a longa caminhada do SDCE que pretende identificar as necessidades de enfermeiros face à necessidade de cuidados. Referiu, com auxílio de alguns gráficos que as necessidades de horas de cuidados têm vindo a aumentar e que, face a este aspecto a Direcção de Enfermagem tenta adequar a dotação de enfermeiros dos serviços.

O primeiro dia de trabalhos termina com uma Sessão de Comunicações Livres moderada pela Enfermeira Cristina Corria de Lacerda, onde são apresentados três temas distintos. O Enfermeiro Tiago Cunha, apresentou o tema “As tecnologias de Informação como metodologia de formação contínua dos Enfermeiros”, onde apresentou algumas noções práticas e variadíssimas páginas da Internet importantes para uma melhor rentabilização do tempo dos enfermeiros aquando da pesquisa dos mais diversos assuntos. Falou ainda, de forma sumária acerca da importância e facilidade da utilização de smartphones e outros aparelhos portáteis como os PDA’s para a prática dos enfermeiros. O segundo trabalho, apresentado pela Enfermeira Filipa Baltazar, subordinado à temática “A comunicação com o adolescente com doença oncológica em período de hospitalização” teve como ponto de partida uma dificuldade pessoal. Esta oradora referiu que após a comunicação da existência de uma doença oncológica a um adolescente dá-se um momento de enorme stress e aprendizagem na sua vida. Este vê alterados todos os seus hábitos de vida, a sua imagem corporal, acontece uma separação dos seus pares e uma grande perda de controlo, isto sem mencionar a dor. É então, necessária muita confiança e disponibilidade na relação com o adolescente para que este verbalize o que sente. Sente-se sozinho e incapaz de comunicar, no entanto, é importante que o enfermeiro ultrapasse a sua relutância em perguntar ao adolescente o que este quer e sente e, que ultrapasse acima de tudo, o medo de “falhar” profissionalmente. O último trabalho apresentado, intitulado de “Comunicar para cuidar”, abordou essencialmente a comunicação acerca dos aspectos da sexualidade e da alteração da imagem corporal perante os doentes masculinos após uma Prostatectomia Radical. A Enfermeira Ana Sofia Barata enfatizou a importância de orientar e explicar os riscos perante esta cirurgia, fazer ensinos orientados para a Alta e incentivar à expressão de dúvidas e, aquando da mesma, a importância de incentivar a continuação dos ensinos feitos durante o internamento.

No dia 23, é novamente retomada a ordem de trabalhos, começando com a Mesa Redonda “Investigar em Enfermagem” onde se apresentaram trabalhos de investigação abordando os mais vastos assuntos, moderada pela Professora Maria José Paixão. O primeiro trabalho, apresentado pela Enfermeira Ana Albarracín e intitulado “Falando de morte com o doente oncológico em fase terminal: vivências dos enfermeiros”, trata objectivamente das questões saber ou não lidar com a morte enquanto enfermeiro e lidar com o doente em fase terminal. Através de uma entrevista a enfermeiros da Instituição, foram identificadas como dificuldades a própria morte, a família e enfrentar e o doente, a falta de preparação, a afectividade e a verbalização da morte eminente. A oradora refere que apesar de tudo, o enfermeiro deve de consciencializar a pessoa da proximidade da sua morte de modo a proporcionar uma morte mais serena e tranquila e, ajudar a tratar dos seus últimos preparos. Conclui, referindo que a Relação de Ajuda adquire um lugar de importante destaque, uma vez que só deste modo o enfermeiro pode ajudar o doente e a sua família perante a morte. De seguida, a Enfermeira Elsa Wong apresentou o tema “Cuidar da sexualidade do doente submetido a TMO” tendo iniciado a sua apresentação por referir que este é um tema de difícil abordagem pelas contradições e tabus a ele ligados. A doença oncológica e também a quimioterapia, afectam a expressão da sexualidade das pessoas, pelas alterações que estas provocam, como a alopécia a diminuição de peso e a alteração da pigmentação da pele. A oradora refere que bastante tempo após a cirurgia, 70% das mulheres e 20% dos homens ainda experienciam problemas na expressão da sua sexualidade, cabendo ao enfermeiro orientar a pessoa e o seu parceiro para uma maior abertura e encaminhá-los se necessário para outros profissionais especializados para um melhor acompanhamento. Termina então, referindo que é real a necessidade de formar e formalizar intervenções e ensinos com o doente de forma a minimizar este problema. O último trabalho desta Mesa Redonda foi apresentado pela Enfermeira Vânia Oliveira, que abordou a questão dos “Direitos dos Doentes”. Esta, realizou um estudo com o objectivo de conhecer a percepção dos profissionais de saúde e dos doentes acerca dos Direitos dos Doentes. Assim, com duas populações, uma composta por médicos e enfermeiros e outra apenas por doentes constatou que a maioria dos profissionais conhece a Carta e os doentes desconhece a mesma; todos os profissionais de saúde valorizam a Carta e refere enunciar/referir a mesma aos doentes, no entanto, os doentes referem que não ouviram falar da mesma; nem todos os doentes se sentem bem informados, conhecem o Livro Amarelo ou o Gabinete do Utente mas já fez reclamações ou pensou em fazê-lo. A oradora apresentou enquanto soluções, a divulgação aos doentes da existência da Carta dos Direitos dos doentes, sob forma de placas informativas e oralmente e, aos profissionais de saúde por meio de formações em serviço. Estas constatações geraram alguma discussão uma vez que foi afirmado por membros da Direcção de Enfermagem que há Cartas dos Direitos dos Doentes afixadas na Instituição e a mesma consta no Guia de Acolhimento da Instituição.

A segunda Mesa Redonda do dia, moderada pela Enfermeira Isabel Castanheira tratou do tema “Articular para Continuar a Cuidar”. O primeiro trabalho apresentado foi a junção de três perspectivas de uma só cirurgia. Assim o trabalho “Peritonectomia com quimioterapia: diferentes perspectivas” foi apresentado pela Enfermeira Ana Godinho que nos trouxe a perspectiva do Bloco Operatório, pela Enfermeira Ana Raquel Palma com a perspectiva da Unidade e, pela Enfermeira Joana Caboz que apresentou a realidade do Serviço de Internamento. A Enfermeira Ana Godinho contextualizou e descreveu a cirurgia, explicando o papel de cada enfermeiro presente no BO e terminou referindo que esta é uma cirurgia de alto risco, de elevado custo e com internamentos geralmente prolongados, no entanto os resultados positivos com os doentes são um factor positivo na sua prestação de cuidados. Relativamente à passagem destes doentes na Unidade, para além da descrição dos cuidados que aí são prestados, é de salientar que a sua taxa de mortalidade é de 33,3%. Quando chegam ao Serviço de Internamento é onde se acentua mais o apoio emocional aos doentes, uma vez que devido à sua condição, quando no BO e na Unidade, apenas é dado apoio psicológico às suas famílias. Aqui é também feita a promoção da autonomia e um follow-up dos doentes. As complicações são variadas, indo da desidratação e desnutrição a íleos paralíticos e deiscências das anastemoses. A Enfermeira Joana Caboz apontou também para um tempo médio de internamento destes doentes de 67 dias, tendo havido apenas 2 óbitos após a alta. Para finalizar esta Mesa Redonda a Enfermeira Ana Cristina Ribeiro apresentou-nos o “Protocolo de articulação Ginecologia/ Hospital de Dia/ radioterapia”. Foi aqui apresentado o circuito que o doente percorre, dando-se ênfase à consulta de Enfermagem onde se mostram as instalações e, após a consulta com o médico, se faz uma colheita de dados e se dão as informações acerca da quimioterapia e seus efeitos secundários. É também feito um follow-up por telefone pelo enfermeiro. A oradora apresentou os focos de Atenção da Prática de Enfermagem o Medo, a Ansiedade, o Conhecimento não-demonstrado e aprendizagem de capacidades, enquanto focos presentes nestes doentes.

Terminada esta Mesa Redonda e após a discussão, creio importante mencionar estas duas frases que me ficaram em mente e que fará todo o sentido para quem cuida de doentes do foro Oncológico.

Um doente Oncológico é um familiar.”

“A busca da esperança pode ser a busca da realização do que ainda pode ser feito.”

A terceira Mesa Redonda do dia tratou da realidade dos Cuidados Paliativos. Intitulada “Cuidados Paliativos, Que desafios?” e moderada pelo Enfermeiro Miguel Fausto, esta mesa procurou o enriquecimento com a prestação de três realidades distintas, havendo a colaboração da Enfermeira Ana Rocha do IPO de Coimbra e da Enfermeira Margarida Alvarenga do IPO do Porto, para além da contribuição da Enfermeira Sandra Neves em representação do IPO de Lisboa. Iniciaram-se as apresentações pelo tema “Cuidados Paliativos Domiciliários” apresentado pela Enfermeira Sandra Neves onde foi dado grande ênfase ao cuidador principal do doente, sendo este o “perito nos cuidados àquele doente”, pessoa que é normalmente a sua base afectiva e, na maioria das vezes, é mulher. Responsáveis por 80-90% dos cuidados prestados, a oradora refere que muitas das vezes estes cuidadores apresentam um aumento de stress com necessidade de recorrer a medicação antidepressiva. Perante a morte do seu ente querido, vêem-se ainda confrontados com sentimentos de frustração, tristeza e até revolta. Esta responsabilidade tem um grande impacto na saúde física e emocional dos cuidadores. Mas nem tudo é negativo, uma vez que 70% destes cuidadores refere sentimentos de felicidade ao cuidar dos seus entes queridos. Algo referido como fulcral pela Enfermeira Sandra Neves é a presença da equipa multidisciplinar junto dos cuidadores dos doentes oncológicos, uma vez que lhes proporcionam apoio emocional e um sentimento de segurança. Ver a família enquanto uma unidade, é o que pretende demonstrar a Enfermeira Ana Rocha ao apresentar o seu trabalho “A família cuidada e cuidadora”. É perceptível que a notícia de uma doença oncológica num dos membros da família se trata de um golpe violento para toda a unidade que é a família. Neste sentido, é importante que a equipa multidisciplinar cuide de uma “família doente” e não de um doente. Em 98% dos casos, os doentes comparecem acompanhados nas consultas e, em 33% dos casos os doentes são acompanhados nas 24 horas diárias pela família e, é deste modo importante englobá-los na continuidade dos cuidados. Cuidar da família, avaliando e intervindo nas suas necessidades e avaliando a estrutura familiar e as suas dificuldades torna-se crucial para um acompanhamento de qualidade. A apresentação do tema “O futuro dos Cuidados Paliativos: formação dos enfermeiros” a cuidado da Enfermeira Margarida Alvarenga vem remeter-nos para a necessidade de formação dos enfermeiros nesta área. Esta necessidade nasce da criação da Rede de Cuidados Paliativos, uma vez que são necessários conhecimentos científicos e técnicos específicos. De modo a garantir uma prestação de cuidados de qualidade, formação a nível pré e pós graduado é necessário, no entanto é também necessário que certificação nesta área seja dada.

A última Mesa Redonda do segundo dia das Jornadas remeteu-se ao tema “Prevenção e Rastreio” e deu a conhecer alguns dos projectos do IPOLFG que se encontram mais direccionados para a prevenção. Moderada pelo Dr. Pedro Lage, esta mesa iniciou-se com o trabalho “Projectos em Escolas” apresentado pela Enfermeira Sílvia Nunes. Esta mostrou-nos como o IPOLGF colabora com escolas de ensino básico ou secundário que procuram promover competências na área cientifica e/ou da saúde. As escolas fazem então um pedido de colaboração à Instituição sendo posteriormente organizada uma visita organizada. Pode, no entanto deslocar-se o enfermeiro ou outro profissional (consoante a área a trabalhar) à escola. A apresentação do “Papel do Enfermeiro na Consulta de Alto Risco” ficou a cargo da Enfermeira Paula. A consulta existe desde 1994, tendo começado por acompanhar apenas casos de risco familiar de cancro de cólon e recto e a partir de 2000 abrange também os casos de tumor de mama e ovário. Acompanha de momento 2 530 famílias provenientes do IPOLGF, de outras Instituições ou que chegam à consulta por meios próprios. O enfermeiro faz uma triagem da história familiar e posteriormente marca a primeira consulta se esta estiver indicada. Na consulta, são esclarecidas duvidas, são dadas informações acerca do rastreio adequado e são feitos os ensinos para exames diagnósticos. Quando o doente é positivo para mutações da família é-lhe prestado apoio psicológico e validada a interiorização do programa de rastreio. A Dra. Dina Matias veio apresentar-nos a “Consulta de Cessação Tabágica”. No IPOLGF esta consulta existe desde o ano de 2000 e é composta por uma equipa multidisciplinar de 3 médicos, 1 psicóloga e 1 administrativa. Esta aposta por iniciar a sua abordagem pela educação para a saúde e prevenção e, em ultima linha na cessação e tratamento. A abordagem é feita a nível da prestação de apoio comportamental, motivação, apoio farmacêutico, apoio psicológico, acompanhamento e apoio nutricional. Em suma, a oradora reforça que o cenário mais previsível é a recaída, no entanto, deve-se ter em conta a dependência, os stresses a que a pessoa está submetida, os baixos níveis de auto-confiança enquanto dificuldades e, deve-se ajudar a pessoa a levantar e a voltar a lutar. Esta Mesa encerra com a apresentação “Medidas simples evitam grandes Problemas” elaborada pela Enfermeira Cristina Nunes e que nos leva a reflectir que por vezes pequenos actos como o tão comentado lavar das mãos nos levam a prevenir infecções. A enfermeira trouxe-nos os resultados de um trabalho desenvolvido com os familiares de doentes de TMO. Por sentir que os familiares não adoptavam comportamentos adequados para a prevenção das infecções, fez uma sessão de formação teórico-prática tendo verificado que após a mesma, houve um aumento significativo, cerca de 37,5% para 81,25% na adopção de comportamentos adequados. Referiu ainda que todos os participantes acharam a realização destas sessões muito importante.

No último dia das Jornadas, dia 24, foram iniciadas os trabalhos pela Mesa Redonda “Feridas em Oncologia”, moderada pela Dra. Ana Cláudia Elias. “Retrato da evolução de um grupo”, apresentado pela Enfermeira Sara Cordeiro reflecte a formação de grupo multidisciplinar criado em 2003 composto por 27 enfermeiros e 1 farmacêutica, com o objectivo de uniformizar o tratamento de úlceras de pressão e outras feridas. Em 2005 foi criado o Projecto “Formar para cuidar” que deu formação, passou informação e identificou as necessidades dos vários serviços do Instituto. Posteriormente, em articulação com uma farmacêutica e com o grupo de feridas começou a ser feito um acompanhamento dos casos de úlceras notificadas, que permitiu resolver ou tentar dar uma maior continuidade de tratamento às feridas. Este grupo, mantém formações regulares, participa em investigações e divulga os seus resultados na intranet da Instituição, na Internet e através de publicações. A Dra. Lígia Ferreira, apresentou de seguida o trabalho “Perspectiva Médico-cirúrgica” que nos remeteu para a importância do trabalho multidisciplinar no cuidado de feridas oncológicas bem como a importância do tratamento da doença de base ou do tratamento paliativo para a erradicação dessas feridas. A Enfermeira Sandra Martins, continuou esta mesa redonda, apresentando o seu trabalho “Feridas em cirurgia oncológica: perspectiva da enfermagem”, que foi de encontro ao trabalho apresentado pela Dra. Lígia Ferreira. A oradora referiu que normalmente a ferida cirúrgica cicatriza bem mas por vezes, há cicatrizações mais complicadas. Neste sentido fez um estudo onde foram feitas formações, incentivadas as discussões de casos e aplicação de medidas preventivas de úlceras de pressão mais eficazes. A oradora referiu no entanto que ainda devem ser melhorados alguns aspectos como ser criada uma folha uniformizada de registos e a existência de formação contínua nesta área. “Prevenção e tratamento de radiodermites” foi o tema trazido pela Enfermeira Sandra Luz e que nos elucidou, através de um estudo de caso, que para cada grau de radiodermite deve ser aplicado um determinado tratamento, evitando sempre a utilização de pomadas metálicas (como o Halibut® ou iodopovidona pela presença de zinco). O último trabalho desta mesa redonda intitulado de “Feridas Malignas: implementação de um guia orientador”, foi-nos apresentado pela Enfermeira Helena Vicente. As feridas malignas desenvolvem-se em 5-8% dos doentes oncológicos em final de vida. Por haver uma dificuldade na resposta relativamente aos cuidados do doente e da sua ferida, foi feito um estudo onde foram definidas metas de tratamento de feridas baseadas no método TELLER. Foi elaborado um guia orientador para o tratamento local da ferida maligna, foi aplicado pelos enfermeiros intervenientes e feitas avaliações da sua utilização em dois momentos distintos. Para maior representatividade, este estudo deveria ter sido desenvolvido com uma amostra maior e com formação/informação prévia à sua aplicação, todavia, pôde-se concluir que é importante a criação de um protocolo de utilização de medicação de prescrição médica.

Experiência Fora de Portas foi a ultima Mesa Redonda apresentada no dia e nas 5as Jornadas de Enfermagem Oncológicas. Esta mesa, moderada pela Enfermeira Ana Pereira de Campos, teve como objectivo mostrar como três enfermeiros desta Instituição, vivenciaram a sua estadia noutro país, integrados no Programa Hope-Exchange. Este, com a finalidade de dar a conhecer aos métodos de Gestão dos Sistemas de Saúde de outras realidades permitiu ao Enfermeiro José Santos nos falar sobre a sua experiencia na Grécia, à Enfermeira Elsa Oliveira na Dinamarca e às Enfermeiras Ana Helena Martins e Catarina Cabral em Espanha. De formas diferentes É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem.todos nos presentearam com as suas diferentes estadias.

Antes de terminar e de serem encerradas as jornadas, ainda houve tempo de entregar prémios aos melhores trabalhos e/ou posters entregues e apresentados nesta quinta edição das jornadas. É de salientar que em simultâneo com as apresentações, podiam ser consultados os 23 posters seleccionados e expostos nas jornadas.

De grande riqueza em partilha de conhecimentos e saberes, estas jornadas foram um importante ponto de passagem para quem pretende cuidar com qualidade de doentes do foro oncológico e aprofundar os seus conhecimentos nesta área. Com igual qualidade ou ainda melhor, aguarda-se que para o ano o IPOLGF abra as suas portas para mais uma edição destas jornadas.

Referências Bibliográficas:

Artigo Dor Oncológica: os cuidados de enfermagem, retirado da Revista da Sociedade Brasileira de Cancerologia n.º 7 publicado na página da Web:

 http://www.rsbcancer.com.br/rsbc/7Suplemento.asp?nrev=N%C2%BA%C2%A07