A Doença Oncológica: da prevenção ao tratamento.
Sérgio Ferreira Enfermeiro |
Realizou-se nos dias 23, 24 e 25 de Novembro, no Cine Teatro “Caracas” em Oliveira de Azeméis, o 6º Congresso Nacional de Enfermagem Oncológica, organizado pela SPEO (Sociedade Portuguesa de Enfermagem Oncológica). O congresso tinha como temática “A Doença Oncológica: da prevenção ao tratamento”.
A conferência inaugural, intitulada “A Enfermagem Oncológica no Contexto Actual” foi apresentada pela Maria Luísa Pinto da SPEO.
Seguiu-se a primeira mesa redonda sobre a “Epidemiologia do Cancro”. Nela participaram Maria José Bento em representação do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, EPE – Porto (IPO, EPE – Porto); António Morais da ARS Centro, responsável pelo rastreio do Cancro do Colo do Útero e João Carvalho da Liga Portuguesa contra o Cancro, responsável pelo rastreio do Cancro da Mama. Nesta mesa foi dito que em 2003 o cancro vitimou 22.711 portugueses, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), sendo a segunda causa de morte em Portugal, após as doenças cardiovasculares que atingiram 28.737 pessoas. A principal causa de morte por cancro é o cancro colorrectal, que representa 14% do total das mortes por cancro. O cancro do pulmão surge logo a seguir, com 13,9%, seguido pelo cancro do estômago com 11% e pelo cancro da mama, com sete por cento. O cancro do pulmão é o que mais afecta os homens (19%), enquanto que o cancro da mama atinge mais a mulher (17%). Segundo o INE, os distritos que apresentam a maior taxa de mortalidade por cancro são Beja, Setúbal, Lisboa, Porto e Viana do Castelo.
A conferência após o almoço foi realizada pela Aurora Pereira da Escola Superior de Enfermagem de Viana do Castelo e tinha como temática a “Comunicação de Más Notícias”. Geralmente a comunicação de más notícias é devido à perda de alguém, que leva a um estado de luto. Em oncologia, uma má notícia pode não ser pelo falecimento de alguém, mas sim pela «perda de parte do corpo», como por exemplo no cancro da mama, quando ocorre mastectomia.
A mesa redonda seguinte debateu o “Tratamento do Cancro” e contou com a presença de Alexandra Isabel Pereira do Hospital de Dia do IPOFG, EPE – Porto, de Conceição Mineiro do serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do IPOFG – Coimbra e de Amélia Machado do Serviço de Radioterapia do IPOFG – Lisboa. Falou-se da estrutura/ organização do hospital de dia, dos cuidados ao doente oncológico submetido a cirurgia da cabeça e do pescoço. O cancro da cabeça e pescoço tem uma incidência de 5% de toda a patologia oncológica. A abordagem terapêutica pode ser cirúrgica (preventiva, diagnostica, curativa e reconstrutiva), através de quimioterapia ou radioterapia. As zonas mais afectadas pela patologia oncológica de cabeça e pescoço são: cavidade nasal, oral, orofaringe, nasofaringe, laringe e hipofaringe. A seguir falou-se do “Cuidar em Radioterapia Oncológica”. O princípio da radioterapia é semelhante ao da quimioterapia: interfere nas moléculas de DNA, através dos raios ionizantes que bloqueiam a divisão celular ou determinam a sua destruição na tentativa de realizar esta divisão. Por isso, a sua acção é maior sobre células em processo de divisão. O efeito da radioterapia está restrito à área tratada, constituindo-se como um tratamento local. Os seus efeitos tóxicos são também localmente limitados, não havendo risco de lesão aos órgãos fora do campo de irradiação.
Para terminar o primeiro dia de trabalho foi realizada uma conferência sobre o “Projecto TITAN – Training Iniciative in Thrombocytopenia, Anemia and Neutropenia”, apresentada por M. Jorge Freitas da SPEO. Este projecto visa melhorar a prevenção, a detecção e os cuidados nas toxidades hematológicas em doentes oncológicos, melhorando os cuidados do doente, obtendo uma melhoria dos resultados no doente. Esta conferência antecedeu o Simpósio Satélite “AMGEN”. Assim, chegou ao fim o lucrativo primeiro dia do congresso.
O segundo dia de trabalhos teve início com a mesa redonda “Para além da Dor…A Pessoa com Dor”. Nesta mesa participaram Ana Leonor Ribeiro da Escola Superior de Enfermagem de São João, Henrique José de Oliveira Dias do Hospital S. Pedro, Vila Real e Thomas Bakk dramaturgo e actor. A dor oncológica foi definida como sendo “sensações concomitantes de dores agudas e crónicas com diferentes níveis de intensidade, associadas à disseminação invasiva de células cancerígenas no corpo; consequência do tratamento do cancro com quimioterapia, entre outros.” A dor crónica, severa e intratável é um dos aspectos mais temidos do cancro. Assim, a dor oncológica exige uma avaliação cuidadosa, terapêutica individualizada a cada doente e uma monitorização apertada. Foi ainda referido que apenas 5% dos europeus recebe tratamento com opióides para a dor severa, e 28% dos europeus acredita que o seu médico não sabe controlar a dor. Thomas Bakk brindou-nos em palco, utilizando o teatro e a música, com uma representação emocionante e divertida da sua vivência com a dor.
Seguiu-se o Simpósio Satélite da PFIZER. E o almoço chegou com a conferência “Unidade de Cuidados Continuados Domiciliários: um projecto”, apresentado por Sérgio Soares do Hospital José Luciano de Castro – Anadia. Foi dito que este projecto surgiu pois segundo estudos, a maioria das pessoas se lhes fosse dada a oportunidade de escolher onde quereriam passar os últimos tempos de vida escolheriam morrer em casa. O domicílio concede familiaridade, segurança e lembranças da vida ao doente. Assim, é importante trabalhar a tríade equipa multidisciplinar, doente e família, estabelecer uma relação de confiança e respeito.
O pós-almoço iniciou-se com uma conferência apresentada por Concepcion R. Crego da Sociedade Espanhola de Enfermagem Oncológica (SEEO), onde apresentou a estrutura da SEEO, as suas actividades, e onde foi dito que iria ser oficializada uma parceria com a SPEO.
A mesa redonda seguinte abordou a temática da “Preparação do Regresso a Casa”. Nela participaram Ana Maria Pinho do Hospital de São João da Madeira, Adília Sofia Pombeiro do Centro de Saúde de Espinho e Isabel Morais do Serviço de Estomaterapia do IPOFG – Coimbra. É na preparação para a alta que surgem as dúvidas e os medos, quer nos doentes, quer nas respectivas famílias. Assim, a preparação da alta deve ser iniciada no momento da admissão do doente e continua durante todo o internamento. Deve ser realizada por toda a equipa multidisciplinar. O plano inicial para a alta surge quando o doente está estabilizado. A alta clínica deve ser transmitida com uma semana de antecedência, e deve envolver a equipa de saúde do hospital e do centro de saúde.
O segundo dia de trabalhos terminou com a conferência “A Partilha de Informação em Enfermagem: um contributo para a continuidade de cuidados”. A apresentação esteve a cargo de Paulino Sousa da Escola Superior de Enfermagem de São João.
O terceiro e último dia do congresso iniciou com a mesa redonda “Como Lidar com a Doença Oncológica”. Moderada por Raquel Esteves da SPEO, participaram Manuel Rebelo, em representação da Associação Portuguesa dos Limitados da Voz, Ana Maria Cruz, da Liga Portuguesa dos Ostomizados e Maria Augusta Amado, do Movimento Vencer e Viver. Cada um dos participantes deu voz às suas experiências de vida, às suas vivências com o cancro, com as alterações físicas, psíquicas e sociais. Foi um importante momento de reflexão, em que a voz esteve do lado dos doentes.
O congresso terminou com a conferência “Representações, Coping e Qualidade de Vida dos Doentes com Cancro e suas Famílias”. Apresentado por Célia Samarina Santos da Escola Superior de Enfermagem de São João.
Assim, em oito conferências e quatro mesas redondas foram abordados temas como a enfermagem oncológica no contexto actual, bem como a epidemiologia do cancro, com enfoque no rastreio em Portugal do cancro do colo do útero e da mama, preparação do regresso a casa, entre outros temas. Este congresso organizado pela SPEO assentou numa temática transversal aos cuidados em oncologia, desde a prevenção até ao tratamento.