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1ªs Jornadas de Enfermagem da área de Medicina do CHLC, EPE

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1ªs Jornadas de Enfermagem da área de Medicina do CHLC, EPE

A actuação em saúde não se deverá restringir apenas à situação de doença, sendo igualmente primordial reconhecer atempadamente as alterações decorrentes da idade, para que se possam fazer as devidas adaptações, de forma a manter a actividade física, mental e sentimental, e retardar a deterioração.

A Associação Científica dos Enfermeiros do Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E. levou a cabo, nos passados dias 27 e 28 de Março de 2008, as 1ªs Jornadas de Enfermagem da área de medicina do CHLC EPE, subordinado ao tema «A Prática na Construção do Saber», que decorreram no Auditório do Complexo Escolar da Escola Superior de Enfermagem de Artur Ravara e Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, na Av. D. João II, no Parque das Nações, em Lisboa.

O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E. integra numa mesma organização quatro unidades hospitalares: Hospital de Santa Marta, Hospital de Dona Estefânia, Hospital de São José e Hospital de Santo António dos Capuchos, tendo sido criado pelo DL nº 50/07 de 28 de Fevereiro.

Com estas jornadas, a Associação Científica dos Enfermeiros quis promover uma partilha de saberes, permitir a aquisição/sedimentação de competências, analisar novas práticas diárias e novas perspectivas de agir em conjunto, com o objectivo de um melhor cuidar do doente/família.

O primeiro dia das jornadas começou com a discussão do painel “Parentalidade responsável: da articulação à integração”. Resumidamente, este painel centrou-se na articulação da equipa de saúde/pais e responsabilização parental no sentido de um aumento do potencial de recuperação dos filhos em situação de doença minorando o impacto da hospitalização e possibilitando um tratamento no ambiente mais seguro e natural que a criança conhece – a sua casa.

O segundo painel teve como tema “Singularidades (des)cobertas de gestos únicos” e ressaltou a importância da personalização do atendimento, identificando-nos com o doente, dando-lhe oportunidade de exprimir os seus medos/dúvidas e esclarecendo sempre os prós e contras do tratamento, de modo a dar sentido ao mesmo e possibilitando uma maior adesão do doente. Contudo, quando a adesão ao tratamento é difícil, existem programas implementados por forma a contrariar estes casos, como é exemplo o protocolo TAAD (terapêutica anti-retroviral administrada directamente) do Hospital de Dia Polivalente do Hospital de Santo António dos Capuchos e o acompanhamento à distância dos doentes com afecções respiratórias crónicas do Hospital de Dia de Pneumologia do Hospital de Santa Marta. O primeiro protocolo visa os portadores de VIH/SIDA uma vez que a terapêutica anti-retroviral exerce um forte impacto na morbilidade e mortalidade da infecção por VIH, sendo, no entanto, a adesão a estes regimes muito exigente e difícil de conseguir. Neste programa, são seguidos os portadores de VIH/SIDA que demonstraram uma má adesão terapêutica reincidente. O segundo protocolo decorre de uma articulação do serviço de pneumologia com os cuidados de saúde primários e a assistência social, uma vez que a maioria dos doentes com afecções respiratórias crónicas seguidos neste serviço apresentam uma dificuldade de aceitação da doença e adesão ao regime terapêutico, nomeadamente à terapêutica inalatória, bem como têm apoio familiar reduzido/inadequado.

O último painel do dia visou o tema “Envelhecimento saudável – uma prioridade hospitalar”. Estamos inseridos numa sociedade cada vez mais envelhecida, sendo a hospitalização do idoso uma situação cada vez mais frequente. Até há bem pouco tempo, havia falta de estruturas que possibilitassem um apoio mais alargado a este grupo etário em expansão. A 6 de Junho de 2006, pela Lei n.º101/2006, foi criada a RNCCI (Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados), a qual comporta, a nível nacional, quatro tipos de unidade:

  • Unidade de Convalescença – permanência até 30 dias, sem indicação para internamento hospitalar, com necessidade de reabilitação e cuidados de enfermagem 24 horas diárias.

  • Unidade de Média Duração – permanência até 90 dias, sem indicação para internamento hospitalar, com necessidade de reabilitação e cuidados de enfermagem 24 horas diárias, sem necessidade de intervenção médica.

  • Unidade de Longa Duração – permanência superior a 90 dias, sem indicação para internamento hospitalar, com necessidade de reabilitação e cuidados de enfermagem 24 horas diárias, possibilidade de intervenção médica e sem condições para permanecer no domicílio.

  • Unidade Paliativa – sem indicação para internamento hospitalar, com doença crónica terminal oncológica ou síndromas geriátricos, dependentes e com idade igual ou superior a 65 anos.

Para que esta rede funcione, existe uma coordenação hospitalar, a qual tem um gabinete de gestão de altas (constituído por médicos, enfermeiros e assistentes sociais), com os centros de saúde, possibilitando mais camas vagas nos hospitais para quem realmente delas necessita, redistribuindo os doentes sem necessidade de internamento hospitalar, segundo o seu grau de dependência.

A actuação em saúde não se deverá restringir apenas à situação de doença, sendo igualmente primordial reconhecer atempadamente as alterações decorrentes da idade, para que se possam fazer as devidas adaptações, de forma a manter a actividade física, mental e sentimental, e retardar a deterioração.

O segundo dia das jornadas iniciou-se com painel “Atempadamente vamos cuidar”, que se direccionou para as diferentes intervenções a um doente com Acidente Vascular Cerebral. O AVC é a maior causa de morte e de invalidez em Portugal, sendo que 30% das pessoas com AVC morrem no primeiro ano. A etiologia, território vascular e tempo de evolução determinam as intervenções que se podem efectuar perante um doente com AVC. A Via Verde AVC surgiu exactamente para que as pessoas possam obter o apoio necessário, o mais rápido possível, já que actuando nas três primeiras hora, é possível reverter os défices. As alterações da mobilidade devem ser o primeiro foco de enfermagem. A recuperação após AVC, caso não seja possível realizar trombólise, é mais rápida nos primeiros três meses e atinge o seu potencial máximo aos 6 meses. A cinesiterapia respiratória deverá ser implementada como medida profilática, uma vez que as doenças respiratórias, nomeadamente a pneumonia, são a principal causa de morte pós-AVC.

Neste painel, foi, ainda, destacada a importância do planeamento da alta como forma de evitar re-internamentos por más técnicas e potenciar a recuperação do doente. O painel foi encerrado com o seguinte pensamento: “Não importa o quão devagar você vá, desde que você não pare.” (Confúcio).

No painel seguinte foi abordada a “Comunicação de más notícias – uma vivência hospitalar”. Este cingiu-se à apresentação de protocolos implementados em diversas unidades e em diversos países, nomeadamente o protocolo SPIKES ou de Buckman, que visam capacitar os profissionais de saúde a transmitir de forma empática e eficaz as más notícias, uma vez que a falta de preparação, a pouca habilidade e a pouca reflexão são alguns dos muitos factores que vão quebrar a relação terapêutica numa altura em que ela é tão precisa. O protocolo mencionado baseia-se em seis passos cronológicos:

  • Setting (preparação) – preparar e escolher o local adequado à comunicação (onde, quando, com quem e quanto tempo);

  • Perception (percepção) – avaliar a percepção e conhecimento do indivíduo sobre o problema;

  • Invitation (convite) – obter a concordância do paciente para o tipo e quantidade de informação desejada (descobrir o que a pessoa quer saber);

  • Knowledge (conhecimento) – dar a noticia e partilhar informação de forma faseada. Dar esperança e toda a informação de que dispomos sem mentir;

  • Empathy (empatia) – atender às emoções e responder a perguntas;

  • Strategy (estratégia) – definir um plano terapêutico.

O último painel deu lugar ao tema “Projectos de melhoria: um caminho a percorrer…”. Neste painel foram descritas experiências e realidades, bem como escalas e protocolos que permitem uma avaliação contínua dos cuidados prestados a nível hospitalar e a garantir a segurança e bem-estar dos utentes e profissionais.

O programa destas jornadas foi ainda complementado com a apresentação de 10 posters e 9 comunicações livres.

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