Há uma coisa que caracteriza os Profissionais (sejam eles quais forem) mal preparados ou com poucos conhecimentos: A busca incessante pelo milagre. E quando a decisão clínica se baseia na fé e na crendice e não na evidência científica, inventa-se e sai asneira.
1º A coisa mais importante na abordagem da ferida é o tratamento da CAUSA;
2º Não exitem pensos bons ou maus, mas sim bem ou mal aplicados;
Neste caso específico, e julgando apenas pelos dados que são fornecidos, a causa é à partida fácil de perceber (estase venosa): Provavelmente o membro apresenta coroa flebostática, edema, zonas despigmentadas, cicatrizes de outras feridas, etc e a ferida caracteriza-se por bordos irregulares e sobressaidos, tecido de granulação e/ou com fibrina.
À partida foi realizada uma avaliação do IPTB (obrigatório) com um valor superio a 0,8.
Se tudo isto se verificar, então a causa é venosa e o tratamento consiste na resolução dessa estase. Como? pela COMPRESSÃO.
Mas deixem que vos diga que os Enfermeiros Portugueses já realizam terapia compressiva há muito anos. Surpreendidos? Sim, com as famosas ligaduras de óxido de zinco.
Antigamente, o óxido de zinco era preparado (cozido em panelões enormes onde depois se embebiam as ligaduras de cambric) pelos enfermeiros e depois aplicadas. Mais tarde surgiram as actuais.
Estas são igualmente ligaduras de curta tracção e tem a mesma indicação que as outras têm pois funcionam da mesma forma: Obrigam o músculo gemelar a expandir (durante a contracção) para o interior do membro, facilitando o fluxo de retorno ao mesmo tempo que impedem o engurgitamento das veias periféricas e perfurantes.
Contudo, para que as ligaduras de curta tracção sejam eficazes, é condição que o músculo gemelar trabalhe. É por isso que não se usam ligaduras de curta tracção, mas sim média ou longa tracção nas pessoas com mobilidade reduzida. Nestes casos é a ligadura que substitui a função gemelar.
Ainda relativamante às ligaduras de óxido de zinco: O sucesso anterior destas ligaduras sempre foi muito limitado, e isto verificou-se porque o seu uso era sempre descontinuado em algum ponto do tratamento. A verdade é que estas ligaduras são muito dificeis de colocar e de remover, exigindo muito trabalho, perícia e mesmo desempenho físico de quem as aplica.
Convém referir que não se devem aplicar ligaduras de óxido de zinco em feridas muito exsudativas.
É por isso fácil de perceber que, com um diagnóstico correcto (a avaliação do IPTB é imprescindível) até com uma ligadura de óxido de zinco se faz terapia compressiva.
Eu sei que agora é moda os chuveiros e o diabo a 4. No meu Centro de Saúde isso também existe, mas quando eu insiste para que esse tipo de material fosse instalado era com o objectivo de o usar em todas as feridas crónicas e não apenas na terapia compressiva..... mas, por alguma razão, e como noutros Centros se usa só para a terapia compressiva, e como até já apareceram na televisão..... bem, a busca pelo tal milagre contínua.
E agora relativamente aos pensos.
Se a ferida tem infecção deve-se usar um antimicrobiano (penso com prata ou iodo de libertação prolongada).
Se é muito exsudativa um penso que controle o exsudado (hidrofibra, alginato, hidropolímero, hidrocelular).
Se a ferida esta infectada e tem muito exsudato, um penso que cumpra com as duas funções.
Humedecer hidrofibra com soro é o mesmo que impregnar um antimicrobiano com bactérias. Sinceramente, acham que tem lógica.
Ou melhor, aplicar hidrogel e depois uma hidrofibra por cima.
Aplicar colagenase numa necrose seca. Ou melhor, aplicar colagenase com soluto de dakin.
Meus senhores a colagenase é uma enzima. Como qualquer enzima tem condições óptimas de humidade (necrose seca?


??), ph (o soluto de dakin é extremamente básico) e temperatura (37º). Isto é matéria de 7º ano.....

Por favor não compliquem.