A posição do Sindicato dos Enfermeiros sobre a farmacologia e os enfermeiros
"Não há muito a acrescentar à nossa posição acerca do papel dos Enfermeiros na Saúde, no capítulo da medicação a dar aos doentes, com ou sem prescrição médica.
Mas o que é verdadeiramente problemático é isto ser problema.
Às vezes temos dúvidas se é um problema real ou virtual.Com efeito os Enfermeiros têm estudos e conhecimentos suficientes sobre a farmacologia que usam no dia-a-dia.
Conhecem melhor do que qualquer outro técnico, no ramo da Saúde, os efeitos dos medicamentos, nos doentes, pois estão treinados na observação e habituados a fazerem relatórios, sobre a matéria, para outros lerem; quando lêem.
Se têm integrados no seu curso conhecimentos farmacológicos e na sua vida profissional um conhecimento circunstanciado sobre a matéria, que os impede de prescreverem?
Só a irracional linha de demarcação, a extremar preconceitos e práticas ostentadoras de poderio, sem qualquer significado, nos dias que correm, que não seja senão o de limitar fronteiras. Cães e gatos fazem o mesmo, mas de outra maneira. Animal que ultrapasse os limites é trucidado.
Esta prática passa para os humanos, para alguns humanos. É respeitada de forma pouco racional ou mesmo irracional, por outros humanos. Uns fazem o que querem e outros só podem fazer o que os uns querem. Neste caso a culpa é mais dos outros do que dos uns.Mais caricata é a prática constante dos Enfermeiros medicarem os doentes sem receita, ou prescrição médicas, sem assumirem que o fazem.
Mais triste é os médicos estarem a usar constantemente não enfermeiros para fazerem o que tradicionalmente é feito por enfermeiros (direito consuetudinário onde o hábito faz lei):
Pior do que isso: há exemplos gritantes de atropelo do campo dos enfermeiros, feito por médicos. Veja-se com alguma atenção reflexiva o que acontece com usurpadores do nosso conteúdo funcional de que bombeiros e tae e afins, balconeiros de farmácia, paramédicos são exemplos vivos. Todos eles têm, mais perto ou mais longe, um médico, mesmo mais, ou a própria Ordem a justificar e a caucionar o seu comportamento invasivo. Quando os Enfermeiros não tinham carência de emprego estes fenómenos passavam despercebidos; não eram captados pelos nossos sentidos.Hoje, contudo, já há quem se dedique, à apreciação destes casos; não nós, porque sempre estivemos despertos para estes abusos.
Vejamos, agora algumas causas:As parteiras têm uma lista de medicamentos da sua especialidade que podem receitar, por ordem da instituição máxima, não corporativa, como é a OMS. Não obstante, não receitam, abertamente; fazem-no veladamente como se estivessem a cometer alguma ilegalidade. Algumas não fazem mesmo e desculpam-se com a OE que não divulga e cauciona a lista. Desculpas de fragilidade, pois antes de haver Ordem já existia a lista. Em vez de serem as Enfermeiras parteiras a assimilarem um comportamento das só Parteiras, inclinam-se para o seu lado de Enfermeira e paralisam. Mas o governo não está isento de culpas, através das comparticipações exclusivas, na compra de medicamentos, mas que sejam prescritos por médicos e só, um favoritismo desajustado, como se vê, pela prática.
Que dizem os docentes nas escolas de Enfermagem, aos seus discentes, sobre a matéria?
Dizem, por exemplo, que é preciso ajustar a lei da receita ou como fazem com as suturas e quejandos, que isso é só com o médico, desprestigiando-se e desprestigiando os Enfermeiros descendentes de muitos instrutores de suturas de vários e ilustres cirurgiões; conselheiros de vários médicos nas opções da terapêutica mais ajustada. Todavia estas coisas passam-se no campo prático, onde os docentes de Enfermagem não aparecem muito, por uma questão de opção pessoal, que não profissional. Depois, dizem sempre, as mesmas coisas, com os mesmos erros intemporais e alguns, até extemporâneos, como é o caso típico das suturas, onde usam a desculpa da raposa; porque não chegava às uvas, dizia: estão verdes. Porque não sabem suturar, nem nunca quiseram aprender, atiram com isso para cima do médico e, o que é lastimável, como exclusivo.
É por um fenómeno semelhante, que os cuidados primários consomem fortunas incalculáveis sem os correspondentes benefícios, para as populações, porque os médicos estão a fazer muitas coisas que, ou já foram, ou de há muito deviam ser feitas por enfermeiros.
Também neste capítulo, os medicamentos que são essencialmente úteis e toleráveis, nesta área e nível, que em muitos países são já prescritos por enfermeiros, constituem, em Portugal a pequeníssima razão que mantém médicos como imprescindíveis, nos Cuidados Primários, indo ao cúmulo de importar Cubanos, para onde os Enfermeiros actuariam com vantagem.
Porém, os alunos que se formam em ambientes com modelos do sec. XIX, como é o caso da consulta médica do Centro de Saúde, retardam a assunção das responsabilidades mais alargadas, que as actuais.
Quando os Enfermeiros tiverem um motor que os impulsione, no sentido da correcção desta e doutras aberrações, conseguem-no.
Da nossa parte têm todo o apoio para legitimarem o que é da sua competência e capacidade e que a limitação corporativa não pode nem deve obstaculizar.
Não devemos estar à espera que sejam outros a resolver problemas, que só aos Enfermeiros dizem respeito, neste caso, organizados em Sindicatos, Ordem e Docência. Somos nós que temos de actualizar as potencialidades que temos: como diz Aristóteles, transformar a potência em acto, isto é; agir de acordo com o que estamos habilitados a fazer, quer se goste quer se não goste, pois a responsabilidade, que temos, de cumprir o nosso dever, de forma consciente, é superior à obediência cega e irracional.
Cordiais Saudações Sindicais,
O Presidente da Direcção do SE - José Azevedo"