Para a colega que vai trabalhar na área da ocupação e lazer (perdoem-me mas gosto pouco da palavra "animação") alguns dados e humildes conselhos:
1. Primeira tentação dos técnicos nesta área: desenvolverem actividades que muita satisfação dão a eles próprios sem nunca reconhecerem os gostos dos idosos. Não cometas esse erro:
2. Segunda tentação: colectivizar as actividades de ocupação e lazer, sem respeitar os sinais claros de que a grande parte dos idosos não gosta de actividades colectivas e quando partilha, gosta de partilhar com quêm deseja e não com quêm lhe é imposto:Tenta impedir os ridiculos e patéticos bailes com muito barulho e demasiado movimento, com técnicos a "puxarem" e "empurrarem" os idosos para o centro da roda, com as velhas frases motivadoras: "Vá, ti manel, vamos dar uma perninha de dança!". Tenta impedir as excursões com 80 pessoas a acotevelarem-se, a cheirarem o suor umas das outras em camionetas estafadas e também idosas, com vómitos à mistura e os técnicos todos contentes a cantarem o bailinho da madeira.
3. Soluções práticas: respeitar os idosos. Todo o barulho demasiado não é do seu gosto; o movimento tem que ser cauteloso à sua volta, porque lhes aumenta a ansiedade e a insegurança. As actividades, respeitando minimamente as necessidades e manutençaõ motora, devem ser calmas e tranquilas. Não queiras fazer de idosos que nunca praticaram desporto, campeões de atletismo. Diversifica a oferta. Desenvolve mais actividades com menos idosos, de forma a que eles possam escolher: pintura, clubes de leitura e poesia, culinária, costura, moldagem e cerâmica, cinema, jogos florais, ciclo de debates, jogos de mesa,boletins informativos ou jornalinhos mas com coisas sérias e não cheios de anedotas e versinhos com rimas infantis, projectos como "concretização de desejo" em que duas ou tres pessoas concretizam um desejo de um idoso: ir ver o mar, um pôr do sol, fazer uma viagem de comboio. Mas só com um de cada vez ou no máximo dois. E nesta área, sobre a qual poderiamos falar durante horas, acima de tudo respeita a vontade de imobilidade (sem exagerar, é claro, mas penso estar a falar para pessoas inteligentes), a vontade de não fazer nada porque essa às vezes é a maior vontade do idoso e ninguém a respeita, agarrados a velhos preconceitos de "tem que se mexer, o senhor tem que se mexer, senão fica de cama e morre". Mortos já muitos estão psicologicamente com esta conversa.
Abraços e bom trabalho. Seremos sempre poucos para trabalhar com os nossos amigos da GRANDE IDADE