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Ensino e Atividades Académicas / CIPE... (mais vale ser mudo!)
« em: Fevereiro 09, 2009, 08:50:48 »
Chegou às Direcções de Enfermagem das Instituições de Saúde, uma nota, proveniente da Ordem dos Enfermeiros, para averiguações acerca da aplicação da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE).
Esta "invenção" (CIPE), que pretende ser um instrumento uniformizador da linguagem dos Enfermeiros é um descalabro. Pôs os Enfermeiros a falar francês, quando todo o mundo fala inglês! Até trocou as voltas ao dicionário!
O ímpeto em separar radicalmente a Enfermagem da Medicina e do resto do mundo da saúde, dá nestas preciosidades que ninguém entende e que castra a nossa profissão. Juntando a todo este bradar aos céus, temos os Enfermeiros formadores da CIPE fanáticos.
A conceptualização na CIPE é tão densa e baralhada que surgem verdadeiras pérolas. Basta ir à CIPE para observar estes rasgos de genialidade:
O que é o nascimento?
- "é um tipo de gravidez (...)".
O que é um aborto?
- "é um tipo de gravidez (...)"
Esta foi ao lado.
O que é uma ferida?
- "é um tipo de tecido (...)".
Depois de ler esta fiquei com uma ferida na alma (é um tipo de tecido?).
O que é a asfixia?
- "é um tipo de limpeza das vias aéreas (...)".
O que é uma hemorragia?
- "(...) é uma perda de grande quantidade de sangue num curto espaço de tempo (...)"
E se for uma perda de pequena quantidade de sangue num largo espaço de tempo? Já não é uma hemorragia?
O que é uma sesta?
- "(..) passar pelas brasas (...)"
Sim, é verdade, esta preciosidade científica está lá bem descrita.
O que é uma fecaloma?
- "é uma tipo de obstipação (...)"
Para a comunidade científica é uma massa constituída por um bolo fecal endurecido, de difícil eliminação intestinal.
O que é uma glândula mamária?
- "é um tipo de glândula com características esféricas: duas grandes glândulas discóides hemisféricas (...)"
E se um indivíduo só tiver uma? Já não tem cabimento neste conceito...
O que é a candidíase?
- "é um tipo de mucosa (...)"
Há muitos deficientes por aí. Falta-lhes uma mucosa.
Seria preciso uniformizar este conceito (entre tantos outros...)? Uma candidíase não será a mesma coisa para os Enfermeiros portugueses, chineses ou egípcios?
Estes são só pequenos exemplos, a CIPE brinda-nos com imensos. Alguns tão maus, que é vergonhoso colocá-los aqui.
Mas a CIPE também rivaliza com outras linguagens. Por lá também podemos ler o significado dos conceitos "edifício comercial", "prisão", "ponte" (pontes ou prisões não serão a mesma coisa em qualquer parte do planeta? Andamos a despender esforços para uniformizar o que já está uniformizado?), "caminho de ferro", "impostos", "furacão" etc.
"Impostos", por exemplo, é definido como... "tipo de prosperidade". Até o dicionário fica confuso!!
Para quem desconhece fiquem sabendo, por exemplo, que "deplecção", ou "desejo" são "fenómenos de Enfermagem". Nossos, só nossos e de mais ninguém. Quem usar estes conceitos terá de pagar direitos de autor.
E os diagnósticos de Enfermagem? É mais complexo entrosar os conceitos-base (foco, julgamento, características definidoras, etc), do que fazer o próprio diagnóstico! Obsessão pela complicação?
Por outro lado, os diagnósticos são básicos. Se nos depararmos com alguém que descreve "dores abdominais intensas", o diagnóstico imediatamente levantado é "dor presente em grau elevado"... "Mas porquê que tenho dores?" - pergunta furiosa e tristemente o utente. (será que a Enfermagem não deve evoluir de complexidade? Em pleno séc. XXI o paradigma não deve mudar? Reparem que qualquer dona de casa sabe fazer colocar em prática as nossas intervenções independentes - colocar gelo, calor, promover autocuidado, massagem, etc e até pode administrar fármacos (NSRM)...)
Já alguém pensou que, se fosse apenas pelas nossas intervenções independentes, os Enfermeiros eram dispensáveis e ninguém os contratava?
Porque havemos de colocar os Enfermeiros a falar numa linguagem diferente de toda a comunidade científica? Psicólogos, Sociólogos, Biólogos, Médicos, etc, todos falam a mesma linguagem... porque não falam os Enfermeiros também? Há conceitos inerentes apenas à Enfermagem? Óptimo, também as outras disciplinas do saber os têm.
Com esta ânsia canibalesca em separar a Enfermagem das ciências médicas ( não serão a administração de fármacos, suporte avançado de vida, etc, procedimentos demasiado "médicos?" É melhor desistirmos deles... só assim nos podemos separar em pleno do bio-médico e assumimos toda a nossa força no reino do bio-desinteressante!), a curto prazo deixar-se-á de leccionar saúde no curso de Enfermagem. Proponho que o curso passe para as faculdades de letras.
Continuem com a CIPE's e companhia, mas notem bem que:
... não faltam técnicos ansiosos por "deitar a mão" nas áreas que vamos deixando a descoberto.
Depois admiramo-nos que os Enfermeiros já não prescrevam dietas porque existem os nutricionistas/dientistas, já não façam intervenções do âmbito psicológico por existem os psicólogos, que a Enfermagem podológica tenha falecido porque já existem podólogos, que a Enfermagem geriátrica esteja a morrer porque já existem os gerontólogos, que a intervenção da Enfermagem nos meios de diagnóstico e terapêutica seja quase nula, porque os técnicos de diagnóstico e terapêutica disseminaram-se, que a reabilitação esteja a ser assumida na totalidade por fisioterapeutas...
in doutorenfermeiro.blogspot.com (http://doutorenfermeiro.blogspot.com/2009/02/cipe.html)
Esta "invenção" (CIPE), que pretende ser um instrumento uniformizador da linguagem dos Enfermeiros é um descalabro. Pôs os Enfermeiros a falar francês, quando todo o mundo fala inglês! Até trocou as voltas ao dicionário!
O ímpeto em separar radicalmente a Enfermagem da Medicina e do resto do mundo da saúde, dá nestas preciosidades que ninguém entende e que castra a nossa profissão. Juntando a todo este bradar aos céus, temos os Enfermeiros formadores da CIPE fanáticos.
A conceptualização na CIPE é tão densa e baralhada que surgem verdadeiras pérolas. Basta ir à CIPE para observar estes rasgos de genialidade:
O que é o nascimento?
- "é um tipo de gravidez (...)".
O que é um aborto?
- "é um tipo de gravidez (...)"
Esta foi ao lado.
O que é uma ferida?
- "é um tipo de tecido (...)".
Depois de ler esta fiquei com uma ferida na alma (é um tipo de tecido?).
O que é a asfixia?
- "é um tipo de limpeza das vias aéreas (...)".
O que é uma hemorragia?
- "(...) é uma perda de grande quantidade de sangue num curto espaço de tempo (...)"
E se for uma perda de pequena quantidade de sangue num largo espaço de tempo? Já não é uma hemorragia?
O que é uma sesta?
- "(..) passar pelas brasas (...)"
Sim, é verdade, esta preciosidade científica está lá bem descrita.
O que é uma fecaloma?
- "é uma tipo de obstipação (...)"
Para a comunidade científica é uma massa constituída por um bolo fecal endurecido, de difícil eliminação intestinal.
O que é uma glândula mamária?
- "é um tipo de glândula com características esféricas: duas grandes glândulas discóides hemisféricas (...)"
E se um indivíduo só tiver uma? Já não tem cabimento neste conceito...
O que é a candidíase?
- "é um tipo de mucosa (...)"
Há muitos deficientes por aí. Falta-lhes uma mucosa.
Seria preciso uniformizar este conceito (entre tantos outros...)? Uma candidíase não será a mesma coisa para os Enfermeiros portugueses, chineses ou egípcios?
Estes são só pequenos exemplos, a CIPE brinda-nos com imensos. Alguns tão maus, que é vergonhoso colocá-los aqui.
Mas a CIPE também rivaliza com outras linguagens. Por lá também podemos ler o significado dos conceitos "edifício comercial", "prisão", "ponte" (pontes ou prisões não serão a mesma coisa em qualquer parte do planeta? Andamos a despender esforços para uniformizar o que já está uniformizado?), "caminho de ferro", "impostos", "furacão" etc.
"Impostos", por exemplo, é definido como... "tipo de prosperidade". Até o dicionário fica confuso!!
Para quem desconhece fiquem sabendo, por exemplo, que "deplecção", ou "desejo" são "fenómenos de Enfermagem". Nossos, só nossos e de mais ninguém. Quem usar estes conceitos terá de pagar direitos de autor.
E os diagnósticos de Enfermagem? É mais complexo entrosar os conceitos-base (foco, julgamento, características definidoras, etc), do que fazer o próprio diagnóstico! Obsessão pela complicação?
Por outro lado, os diagnósticos são básicos. Se nos depararmos com alguém que descreve "dores abdominais intensas", o diagnóstico imediatamente levantado é "dor presente em grau elevado"... "Mas porquê que tenho dores?" - pergunta furiosa e tristemente o utente. (será que a Enfermagem não deve evoluir de complexidade? Em pleno séc. XXI o paradigma não deve mudar? Reparem que qualquer dona de casa sabe fazer colocar em prática as nossas intervenções independentes - colocar gelo, calor, promover autocuidado, massagem, etc e até pode administrar fármacos (NSRM)...)
Já alguém pensou que, se fosse apenas pelas nossas intervenções independentes, os Enfermeiros eram dispensáveis e ninguém os contratava?
Porque havemos de colocar os Enfermeiros a falar numa linguagem diferente de toda a comunidade científica? Psicólogos, Sociólogos, Biólogos, Médicos, etc, todos falam a mesma linguagem... porque não falam os Enfermeiros também? Há conceitos inerentes apenas à Enfermagem? Óptimo, também as outras disciplinas do saber os têm.
Com esta ânsia canibalesca em separar a Enfermagem das ciências médicas ( não serão a administração de fármacos, suporte avançado de vida, etc, procedimentos demasiado "médicos?" É melhor desistirmos deles... só assim nos podemos separar em pleno do bio-médico e assumimos toda a nossa força no reino do bio-desinteressante!), a curto prazo deixar-se-á de leccionar saúde no curso de Enfermagem. Proponho que o curso passe para as faculdades de letras.
Continuem com a CIPE's e companhia, mas notem bem que:
... não faltam técnicos ansiosos por "deitar a mão" nas áreas que vamos deixando a descoberto.
Depois admiramo-nos que os Enfermeiros já não prescrevam dietas porque existem os nutricionistas/dientistas, já não façam intervenções do âmbito psicológico por existem os psicólogos, que a Enfermagem podológica tenha falecido porque já existem podólogos, que a Enfermagem geriátrica esteja a morrer porque já existem os gerontólogos, que a intervenção da Enfermagem nos meios de diagnóstico e terapêutica seja quase nula, porque os técnicos de diagnóstico e terapêutica disseminaram-se, que a reabilitação esteja a ser assumida na totalidade por fisioterapeutas...
in doutorenfermeiro.blogspot.com (http://doutorenfermeiro.blogspot.com/2009/02/cipe.html)